Iron Maiden - Somewhere Back In Time World Tour
Abertura: Lauren Harris
Domingo, dia 02 de março de 2008 no Estádio Parque Antártica - São Paulo/SP

    Se nos dissessem que 23 anos após o lançamento do álbum Live After Death ( cujo antigo vídeo é lançado agora em DVD e motivo da Somewhere Back In Time World Tour ) que o Iron Maiden retornaria ao Brasil e os 40.000 ingressos colocados à venda para o show de São Paulo esgotariam em poucos dias, eu poderia até duvidar. Mas quando estamos falando de uma das maiores bandas de heavy metal da história e uma das percussoras da NWOBHM, a conversa é outra. Desta vez o set list não era promovendo um novo trabalho como foi em 2004 ( leia resenha ) e sim com os grandes sucessos dos anos 80, do chamado "Iron Maiden nota 10", especificamente por causa dos  excelentes discos lançados neste período e claro, pela formação da banda. Desta vez, Bruce Dickinson nos vocais, Steve Harris no baixo, Adrian Smith, Janick Gers e Dave Murray nas guitarras e o indefectível Nicko McBrain nas baquetas trouxeram ao Brasil o palco inspirado na World Slavery Tour e todo o clima que permeou os golden years da banda.

Lauren Harris

    Com a árdua missão de preparar o terreno para o Maiden, Lauren Harris e banda, em pouco mais de 30 minutos, fizeram uma passagem por músicas de hard rock, surpreendendo os presentes tocando este estilo muito bem, dando uma ótima impressão. O som da Lauren é um Hard Rock com muito balanço, empolgante mesmo, lembrando muitas vezes bandas de glitter rock dos anos 70, como Alice Cooper. Além da filha de Steve Harris ter talento, ela estava acompanhada por excelentes músicos que deram toda a assistência necessária para a vocalista lançar um hard rock bem rock’n’roll.

    Lauren Harris sabe se portar muito bem no palco, tem carisma e se continuar neste caminho, saberá com certeza comandar uma platéia cada vez maior ( aliás, professor para isso ela deve ter um dos melhores de todos, não concordam? ). Deve-se ressaltar a qualidade do guitarrista Ritchie Faulkner que fez solos voadores, tocando muito bem. Lauren mostrou sua boa voz ao cantar músicas como Let Us Be e Steal your Fire. A beldade; agitou bastante, mostrou muita simpatia e arriscou algumas palavras em português tais como: " é muito bom estar em São Paulo pela primeira vez ". Enfim, seu hard rock é daqueles para ouvir com a namorada sem ela reclamar do som.

Iron Maiden

    Pouco antes das luzes se apagarem, um som familiar ( e muito bom ) é tocado no Parque Antartica, era Doctor Doctor ( do UFO ), um prelúdio do que estava por vir.

    Britanicamente no horário programado e aos sons da gravação de Transylvania, os telões do estádio exibem imagens da chegada do Iron Maiden no Brasil, com o Boeing 757 - o Ed Force One, pilotado por Bruce. Instantes depois, o discurso do primeiro-ministro da Inglaterra durante a 2a Guerra Mundial, Sir Winston Churchill, de forma igual ao aclamado álbum Live After Death. Então o sonho de milhares de fãs acontece: o Iron Maiden sobe no palco ( com adereços da Pirâmide do disco Powerslave ) e quando os primeiros acordes de Aces High são tocados, o êxtase é total e coletivo, garantido a cada verso cantado por Bruce Dickinson, que adentrou ao palco com um gorrinho na cabeça correndo para todos os lados. Nem a chuva que caiu durante parte desta música serviu para diminuir a empolgação dos headbangers e a Aces High, talvez foi o momento mais emocionante do show, além da banda entrar no palco com a moral digna de uma das melhores do mundo, o show foi também da platéia, que literalmente quase silenciou o Maiden, no refrão todos cantavam, talvez a cidade de São Paulo inteira estava ouvindo o refrão de Aces High, e quando o público cantava, levantavam o braço a cada palavra do refrão, o estádio inteiro sincronizado. Para quem não sabe, a Aces High é uma música de homenagem aos pilotos dos caças "Sptifires e Hurricanes"  na Batalha da Inglaterra, que impediram a invasão de Hitler na Inglaterra e que forçaria os Estados Unidos a buscar a paz; conseqüentemente, hoje viveríamos sob a influência de um regime totalitário, sem essa liberdade; no momento em que cantávamos “Fly to Live...” era de encher os olhos de lágrimas, tanto que a banda sofreu um baque com tamanha recepção do público.

    Mas o Iron Maiden interveio não nos dando chances de respirar, com Two Minutes To Midnight, tocada com o mesmo brilho da Aces High; as duas músicas do Powerslave saíram perfeitas, eles eram deuses no palco, que nos levaram a uma comunhão com a banda, afinal, ouvir Bruce gritando "Scream For Me São Paulo....", é algo indescritível. A terceira da noite é Revelations ( do Piece Of Mind ), mesmo com os problemas na regulagem das guitarras, ainda deu para perceber como o tempo fez que o Iron Maiden ficasse ainda melhor, pois nos shows mais antigos, faltava alguma coisa, e agora pudemos perceber como as linhas melódicas foram executadas perfeitamente nas guitarras, e nesta tenho de destacar Adrian Smith, detentor da alma da banda.

    Antes de anunciar a próxima, Bruce diz ao público que os ingressos esgotaram rapidamente, relata sua paixão pela América do Sul e o Brasil e claro, é ovacionado pela galera,  e mais uma vez o calor do povo brasileiro deixa o frontman da banda visivelmente emocionado. Na rápida mudança no plano de fundo ( que ao vê-la os fãs já 'adivinharam'  qual música seria a seguinte ) The Trooper (  outra do Piece Of Mind )  com Adrian e Dave tocando aquele inconfundível solo para que o carismático "tropeiro" ( e vestido com a farda vermelha ) vocalista do Maiden pudesse cantar, correr e agitar uma bandeira gigante da Inglaterra em mais um dos maiores clássicos da banda e com tanta emoção, nós não percebemos um dos problemas que acometeu quase todo o show do Iron Maiden, o som das guitarras estava baixo, , eu tentava ouvir a gritaria característica das guitarras do Maiden e elas não sobressaiam. Na pausa que antecede a música seguinte, Bruce fala da paixão que a banda criou com o Brasil desde 1985 no Rock In Rio I e somos levados para um dos riffs mais bonitos da história do Iron Maiden.... era tocada então Wasted Years ( do Somewhere In Time ), que além do refrão cantado plenamente pelos fãs, os solos eram muito bem realizados por Dave Murray, Adrian Smith e Janick Gers e desta vez, além da banda demonstrar um talento e carisma na execução dela, as guitarras não ficaram tão ofuscadas.

    As luzes são apagadas e reascendidas em tons avermelhados, e então inicia-se uma das músicas mais conhecidas da banda: The Number Of The Beast ( do álbum homônimo ), com aquela voz sinistra, e tudo, com aqueles solos imortalizados na mente de cada fã, e claro, Steve Harris mirando seu baixo no meio do povo literalmente disparando as precisas notas por todos os lados. Já o inquieto Bruce, ainda achou tempo para enxugar as poças de água que ficaram no palco. Em seguida uma das músicas do Maiden com um dos maiores punchs da história da banda: Can I Play With Madness ( do Seventh Son Of A Seventh Son ) em mais uma execução primorosa.

    Chega então, a canção que nós mais aguardávamos ouvir ao vivo: a longa Rime Of The Ancient Mariner inspirada no poema do escritor britânico romântico Samuel Taylor Coleridge, com pano de fundo próprio e Bruce Dickinson todo de preto simbolizando a morte, cantando com muita inspiração. A performance da banda foi ótima, eles a tiraram melhor ainda que na gravação original. Após esse momento inesquecível, somos levados na seqüência para outra das melhores de todos os tempos com Powerslave, com direito a Steve Harris repetindo o que faz sempre e novamente mira seu baixo na platéia, já Bruce usa uma máscara igual aos anos 80, trazendo uma reação fortíssima em todo o estádio e mais uma  vez o som das guitarras não apareciam, como a escala de contra baixo de Steve Harris após o refrão, show inferior que o virtuose show de 2004 que não acontecia essas coisas. 

        Com o baixão sendo atacado com toda a longa técnica acumulada ao longo dos anos, Steve Harris já mostra as primeiras notas de Heaven Can Wait ( do Somewhere In Time ), e como já acontecera em 1996 no Phillips Monsters Of Rock Festival, esta canção contou com vários convidados ( fãs que ganharam sorteios promocionais ) no palco para cantarem juntos com a banda no palco o refrão desta música. Em seguida o Maiden dispara Fear Of The Dark ( que intitula o álbum de 1992 ), uma das que os brasileiros mais gostam ( porém, na minha opinião Fernando R. R. Junior - ela deveria ter ficado de fora do set somente desta vez, afinal, no lugar poderia ter sido Phantom Of The Opera, Killers ou Flight Of Icarus ), mas Fear Of The Dark é também uma forte e excelente canção que causa uma energia enorme na galera que agita sem parar e canta todos os versos com o Bruce.

    Em seguida tivemos com a empolgante Run To The Hills  ( do The Number Of The Beast  ) um dos melhores momentos do show, e a banda estava com moral e carisma incrível no palco lançando magia e o solo de Dave Murray saiu perfeito, alto, finalmente como deve ser, devemos destacar Janick Gers também, tocando e fazendo todas as estrepolias que dão uma plástica ainda mais bela em sua performance. Encerrando esta parte do show, chega a vez da que já é um ponto alto da banda desde o começo: Iron Maiden com o Cyber-Eddie ( claramente inspirado no Somewhere In Time ) no palco andando com uma arma laser apontada para a platéia e enquanto nós ouvíamos o mais que tradicional e imortalizado grito de Bruce: " Scream For Me Brazil....The Iron Maiden...."

    Para o bis estavam reservados duas do Seventh Son Of A Seventh Son: Moonchild foi a primeira. Nesta, algo que com certeza marcará a banda - quando foi colocado o violão Gibson para que Dave Murray iniciasse a música, dando apenas uma nota, a galera matou qual era e cantou os quatro primeiros versos  e Bruce Dickinson parou e olhou não acreditando na devoção dos headbangers paulistas com a banda. Finalmente eles executaram Moonchild com toda sua agressividade e emendaram The Clairvoyant, com aqueles toques implacáveis no baixo de Steve Harris. Encerrando as duas horas de espetáculo voltamos ao The Number Of The Beast com Halloweed By The Name em mais execução "de primeira" com solos de todos os três guitarristas da banda e como na Wasted Years, The Number Of The Beast e Run To The Hills, os solos saíram altos e perfeitos. No final, Bruce avisa que em um ano eles estarão de volta com um show completo ( com efeitos, explosões e mais luzes - segundo consta, não cabia tudo no avião... ). Bem.. se sem ter todos esses efeitos citados pelo frontman da banda a apresentação já nos levou em algum lugar do passado, então imagine aí meu caro leitor(a) quando eles retornarem com todos os apretechos que estão prometendo!!! Quem viu retornará para rever e quem não viu, aí terá de ser mais rápido e garantir seu ingresso, afinal, shows desse porte não pode perder, mas não se preocupe, o Rock On Stage estará para conferir.

    Parabéns ao Iron Maiden, apesar de o show de 2004 ter sido melhor, estão de parabéns por que foi puro espetáculo, e como disse Sir Winston Chuchill, na Batalha da Inglaterra: “ Nunca tantos ( nós ) deveram tanto ( magnitude artística do metal ), a tão poucos ( Iron Maiden, Black Sabbath, etc ) ".

Valeu Iron Maiden!!!

Intro - Churchills Speech
1. Aces High
2. 2 Minutes To Midnight
3. Revelations
4. The Trooper
5. Wasted Years
6. The Number Of The Beast
7. Can I Play With Madness
8. Rime Of The Ancient Mariner
9. Powerslave
10. Heaven Can Wait
11. Fear Of The Dark
12. Run To The Hills
13. Iron Maiden
[bis]
14. Moonchild
15. Clairvoyant
16. Hallowed Be Thy Name

Por André Torres e Fernando R. R. Júnior
Fotos: Marcos Hermes
Agradecimentos à Media Mania www.mediamania.com.br

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