The Rolling Stones  - A Bigger Bang World Tour
Praia de Copacabana -  Rio de Janeiro/RJ
sábado dia 18 de fevereiro de 2006

    No sábado dia 18 de fevereiro, o Brasil, e em especial o público carioca, acompanharam um show que definitivamente entrou para a história do rock´n´roll e que será lembrado por todas as gerações futuras: os Rolling Stones fizeram uma apresentação gratuita nas areias escaldantes da praia de Copacabana no Rio de Janeiro para mais de 1 milhão e 200 mil pessoas. A estrutura para que todos pudessem acompanhar o show foi composta de um palco de 24 metros de altura ( equivalente a um prédio de 8 andares ) e ficou em frente ao Hotel Copacabana Palace, além de dezesseis torres de som e imagem espalhadas pela praia ( com telões de alta definição para aqueles que estavam mais para trás, o que não era o meu caso... ).

    Essa apresentação foi gravada e deve se tornar um DVD ao vivo, registrando a performance da banda na turnê A Bigger Bang World Tour ( que tem lançamento previsto para o primeiro semestre de 2006 ). Mas como todo show de rock, nós, os meros e mortais fãs da banda chegamos antes, e desta vez, bem antes. Tempo suficiente para aproveitar o forte dia de calor que fazia no Rio e curtir a mais famosa praia carioca. Assim sendo, desde a nossa chegada por volta do meio dia, estávamos naquela maravilhosa " rotina " : praia, cerveja e ver as "belas paisagens cariocas".... Bem, o que fazer até a hora que o maior show de rock´n´roll da história começasse?  ( Aceito sugestões....rs )

Abertura

   Pouco mais de 7 da noite, o Afroreggae entrou no palco e mostrou aquilo que todo mundo já sabia: eles foram uma péssima escolha para a abertura da do show da maior banda de rock de todos os tempos. O show deles não foi nem um pouco o que os milhares e milhares de fãs presentes esperavam, ou seja, tirando alguns míseros momentos onde eles tiraram covers de grandes nomes do rock nacional, praticamente ninguém gostou do show deles.  

    Passado esse infortúnio desta primeira banda de abertura, agora sim, nós fomos brindados com uma das melhores bandas do rock nacional dos anos 80, que comandando muito bem a galera com toda sua vasta experiência de palco - estou falando dos Titãs, fizeram uma apresentação com os clássicos da banda como Estrangeiro, AA...UhUh, Polícia, Homem Primata, Aluga-se, entre outras. Os Titãs mostram que estão novamente em grande fase.

Ponto Negativo

    A única coisa negativa que tenho que colocar neste texto é o fato da divisão entre os pouco mais de 3.500 convidados da área vip e os  centenas de milhares de pessoas na praia de Copacabana. Esses convidados vip´s não lotaram o espaço reservado a eles e nós que estávamos logo após  deles, não tivemos a visão que gostaríamos de ter do palco. Tudo bem, foram as operadoras de celular e uma "certa rede de televisão", que pagaram o show dos Rolling Stones e por isso os melhores lugares foram destinados a seus convidados e aos "famosos atores" ( que sinceramente são pessoas que em sua maioria entendem de Rolling Stones tanto quanto eu de Física Quântica ), mas, se tivesse sido aplicado o bom senso, eles poderiam deixar nós, os reais fãs da banda, aqueles que compram os cd´s, DVD´s, camisetas, posters, revistas e outros materiais promocionais, se aproximar mais e ter uma visão melhor do show. Talvez por questões de segurança desses famosos, nós, os fãs mesmo, fomos prejudicados.

Ladies And Gentleman The Rolling Stones....

    Independente disso, a nossa tarefa era apenas de esperar pelo show dos Rolling Stones, que entram no palco britanicamente no horário programado e sem atrasos ( às 21:47, dois minutos para ser exato, bem o show seria transmitido ao Brasil inteiro pela televisão além dos Estados Unidos e Canadá ). Só introdução já foi um grande momento pelas imagens do telão que mostraram a trajetória deles através destes 43 anos de banda, até que numa explosão, bem de acordo com o título desta nova tour - A Bigger Bang, o momento mais aguardado acontece: os sessentões dos Rolling Stones sobem ao palco e já começam a nos alegrar com os acordes maravilhosos de Jumpin´Jack Flash ( lançada em apenas single em 1968 ) e mostram que o tempo não passa para eles ( afinal Mick Jagger e Keith Richards tem 62, Charlie Watts está com 64 e o "caçula" Ronnie Wood tem 58 ). E quer saber, a cada dia que passa me convenço ainda mais que o rock é sem dúvida nenhuma o caminho para a fonte da juventude, é só ver a enorme vitalidade desses ingleses.

    O show prossegue como uma grande festa e aos cumprimentos do inquieto Mick Jagger com o público ( ele ficou dançando, rebolando e andando durante todo o show e mostra uma forma física que dá inveja a muitas pessoas mais novas ), temos a segunda da noite, o clássico It´s Only Rock´N´Roll ( do álbum de mesmo nome de 1974 ), que brilhantemente voltou ao set dos Stones e destaca-se como outro grande momento do show. Ver novamente os Rolling Stones ( a primeira vez que vi foi em 1998 ) é algo que é de certa forma indescritível e que ficará marcado na memória, ainda mais em um show desta magnitude, com muito mais de 1 milhão de pessoas. O talento da histórica dupla de guitarristas da banda é fenomenal, afinal desde 1976 que Keith Richards está em parceira com Ronnie Wood ( que a cada música, os dois trocavam de guitarras ).

    Mick conversava bastante com o público, arriscando várias palavras em português e aos riffs empolgantes da guitarra de Keith Richards, é iniciada uma excelente canção dos anos 90, com You Got Me Rocking que figurou no Brasil na histórica primeira tour dos Rolling Stones por aqui, promovendo o álbum Voodoo Lounge.

    O sempre comunicativo Mick Jagger fala que o show está sendo transmitido para vários países do mundo e emenda Tumbling Dice, um clássico de um dos melhores discos dos Rolling Stones - o álbum Exile On Main Street, nem preciso falar que adorei e cantei junto. E os Rolling Stones ao vivo são muito melhores, enquanto os riffs de Keith Richards e Ronnie Wood "comem soltos", os metais fazem sua participação deixando o show ainda mais interessante.

    Dizendo que é a melhor festa do mundo em português, o set segue com Oh No Not You Again, que é a primeira do disco novo A Bigger Bang executada nas areias da Princesinha do Mar, que não chega a empolgar tanto como as que o público conhecia mais, mas ainda assim é uma ótima canção de rock´n´roll. Seguindo com Wild Horses ( também de Sticky Fingers ), temos uma balada bluesada no violão de Keith -  um momento emocionante ao se ouvir os versos dessa música. Bem, para quem é fã da banda, fica arrepiado mesmo.

    Empunhando uma guitarra e fazendo aquela tradicional "média", Mick fala com o público perguntando se tem gente de São Paulo, Bahia, Porto Alegre e Rio. Claro que com isso, recebeu uma grande ovação e diz que nós somos fantásticos. Com isso, iniciam-se os primeiros acordes de  Rail For Down, que mostra que os sexagenários estão ótimos para compor novas canções de blues ( afinal essa música também é do A Bigger Bang e Mick Jagger também fez alguns solos  durante a música ). Outro ponto marcante foi a performace de Darryl Jones, fazendo um excelente solo em seu baixo e mostrando porque foi a escolha certa para o lugar do Bill Wylman ( que abandonou o posto no final de 1993 ).


    Pegando Fogo

    A noite foi regada a muitos Blues e um deles, Midnight Rambler do disco Let It Bleed, música que conta a história de um assassino serial, incendeia todo mundo e foi sem dúvida um dos melhores momentos da noite. Ver Mick Jagger aos 62 anos, tocando brilhantemente a harmônica, é demais mesmo, é de se marcar na memória. Quem merece um destaque é Charlie Watts que comanda perfeitamente sua enxuta bateria na idade que tem. A interação de público e os 4 ingleses é fantástica e maravilhoso de participar. Eu estava em êxtase completo por curtir nessa música que adoro - uma verdadeira aula de Rock´n´Roll.
 

    Night Time Is The Righ Time, uma grata surpresa do set da banda é um cover de Ray Charles, que resgata toda a magia do blues e soul, que de início o público não conheceu de quem era, mas quando apareceram no telão imagens de Ray Charles ( e outros mestres do Blues ), a histeria foi coletiva e Lisa Fischer realizando um impactante dueto com Mick Jagger.

    Depois disso é a hora de apresentar todos os músicos que acompanham os Rolling Stones e olha que tem gente como Bobby Keys, Chuck Leavell, Bernard Flower, Darry Jones, Michael Davis, Bernad Flower, Lisa Fisher que já são "veteranos" nas tours com Stones. Com isso, Mick sai para o seu tradicional descanso e deixa Keith Richards, nitidamente emocionado, com seu violão comandar a multidão de fãs da banda. Ele começa com seu vozeirão grosso com This Place Is Empty ( uma grande canção do álbum A Bigger Bang ), um blues lento onde o destaque foi ver Ronnie Wood na slide acústica como nos tempos de Faces.  Continuando a aula de blues e rock, Keith Richards, para alegria dos fãs ( que gritavam "olê olê olê...Richards Richards" ), canta uma de suas melhores canções, a empolgante Happy ( também do clássico do Exile On Main Street e assim como muitos fãs, cantei com ele ), realmente espetacular curtir um rockão desses nas areias de Copacabana e novamente com Ronnie fazendo um majestoso solo na slide.


   Indo para junto do público e a sequencia implacável...

    Na volta do incansável Mick Jagger ( novamente com uma guitarra ), tivemos Miss You, fazendo a galera dançar e nesta canção com influências de disco music do álbum Some Girls ( que teve no refrão pequenos trechos que me lembraram Harlem Shuffle ), foi a hora que a banda vai para junto dos fãs, ao se deslocar por 60 metros no palquinho por um trilho - sem dúvidas, serve para aproximar os fãs da banda, que é uma novidade dessa turnê  ( pena que quem curtiu mesmo, foram apenas os convidados vip´s.... Ainda bem que teve pelo menos isso,,já que desta vez não tivemos os efeitos pirotécnicos, bonecos infláveis e cenários mirabolantes comum aos shows dos Stones. Confesso que senti falta disso, quando assisti em 98 no show do Ibirapuera  em São Paulo/SP, na tour Bridges To Babylon teve isso e foi maravilhoso  ).

   E após essa chegada para frente no " trenzinho ", sem parar respirar, tivemos mais uma bela canção de A Bigger Bang com Rough Justice, cujo destaque fica para a capacidade de tocar guitarra de Keith Richards, que melhora a cada ano que passa. Depois tivemos um clássico dos clássicos com Get Off My Cloud do álbum December Children And Everybody´s, para mim sem dúvida o melhor momento do show ( e o que mais agitei ). Sem deixar a peteca cair e com o público nas mãos, mais outro clássico é apresentado com Honky Tonky Women, do álbum Let It Bleed, ahh!!! - como é bom curtir numa praia os clássicos dos Rolling Stones. Honky Tonk Women, marca a volta do trenzinho para o palco principal e lá eles tocam a polêmica Sympathy For The Devil do álbum Beggars Banquet, com Mick Jagger com roupa preta e cartola, numa versão bem diferente e mais bluesada, com muito piano e sem tantos efeitos de palco ( como bonecos se mexendo de shows anteriores ), que também deixa sua marca nas areias cariocas.

    Notadamente contente e brincando com o público, Mick Jagger inicia Start Me Up ( hino dos anos 80 do álbum Tattoo You ), outra clássica do set que levanta a galera fazendo mais uma vez todos cantarem juntos ( neste hora, derrubei a lente do meu óculos e a achei em seguida nas areias de Copacabana, é mole? ). Ver os os riffs de Start Me Up, feitos pela dupla Ronnie e Keith depois te tanto tempo, ainda emocionam pela perfeição e são maravilhosos!!!. A sequencia implacável de clássicos prossegue com Brown Sugar de Sticky Fingers, que novamente não deixa ninguém parado, o destaque fica para o solo de saxofone de Bobby Keys.


Virando mais uma página da história do rock

    Após avalanche de sucessos, que é para nenhum fã botar defeito, chega a hora da parada para o bis, que não foi exatamente um bis, porque quase ninguém notou a saída da banda do palco e sua volta, que foi com You Can´t Always Get What You Want ( do álbum Let It Bleed ), cantada pelo número colossal de fãs presentes e acompanhada nas palmas no final. E para fechar a noite com chave de ouro, tivemos os mais que tradicionais e clássicos acordes de I Can´t Get No  Satisfaction ( do disco Out Of Our Heads de 1965 ), talvez o maior clássico do rock ou pelo menos o maior dos Rolling Stones, música altamente apreciada pelo público carioca -  e porque não brasileiro? Todos cantaram juntos numa grande explosão de alegria ( até os " notáveis entendidos de música" da área vip ).

    E quando o show realmente terminou, exatas quase duas horas após o seu início ( precisão quase cirúrgica dos sexagenários ) aí sim, todos acharam que fosse a hora do bis e ficaram pedindo para ter o bis, mas aí já era tarde demais.

    A Bigger Bang World Tour passou pelo Rio de Janeiro deixando uma grande e feliz lembrança nessa imensa "população de fãs" presentes na praia de Copacabana, deste show que definitivamente entrou para a história do rock mundial.

     Alegria essa que estava estampada no rosto de quem ainda se aguentava em pé,  por ter estado presente nesta apresentação da banda, pois eram tantos e tantos deitados na praia que parecia que um "desembarque anfíbio" de grandes proporções havia acontecido e centenas de corpos estava tombados pela batalha. Além da alegria, o cansaço também era gigante, tanto que muitos dormiram por ali mesmo.

 O maior show da história.... mas não o melhor

    Em resumo, a auto-intitulada maior banda de rock´n´roll do mundo se consolida no maior show de rock que este planeta já presenciou, com o maior público reunido só para vê-los, só não foi o melhor show devido ao fato que, como mencionei no começo, existia a "ala vip", para os patrocinadores do evento e os grandes fãs dos Rolling Stones, como este que vos escreve, não puderam curtir de perto a banda que mais gosta. Mas tudo bem, ainda assim, se tivesse outra apresentação dos Rolling Stones nestas condições, eu voltaria ao Rio novamente.

    E após esse desfile de clássicos, em sua maioria com mais de 30 anos de idade, que balançaram pessoas de todas as idades, os senhores ingleses chamados Mick Jagger, Keith Richards, Ronnie Wood e Charlie Watts que são os Rolling Stones, embora muitos falem que esta seja última turnê, que eles estariam parando após ela, eles nos deixaram uma certeza: os Rolling Stones não pararão de tocar enquanto estiverem tendo total e plena satisfação no que fazem melhor, ou seja, rock´n´roll. Então caro leitor(a), saiba que as pedras continuarão rolando por muito tempo ainda....

Por Fernando R. R. Júnior

Set List:

Jumpin´Jack Flash
It´s Only Rock´n´Roll
You Got Me Rocking
Tumbling Dice
Oh, no, Not You Again
Wild Horses
Rain Fall Down
Midnight Rambler
Night Time Is The Right Time
This Place Is Empty ( Whitout You )
Happy
Miss You
Rough Justice
Get Off My Cloud
Honky Tonk Women

Sympathy For The Devil
Star Me Up
Brown Sugar
Bis:
You Can´t Always Get What You Want
I Can´t Get No Satisfaction

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