O Sepultura está completando 25 anos dedicados ao Heavy Metal, e no finalzinho de dezembro de 2010 o colaborador Hamilton Tadeu conversou com exclusividade com Andreas Kisser ( guitarra ) e Jean Dolabela ( bateria ) sobre vários temas, tais como: evolução tecnológica, o inédito show em Cuba,  sobre a banda paralela Hail, o álbum A-Lex e de seu vindouro sucessor, as farpas ditas pelo ex-vocalista Max Cavalera, o show no Manifesto Bar com a execução do álbum Arise na integra, a participação em programas como Altas Horas e Programa do Jô, além da abertura para o Metallica em janeiro de 2010 e muito mais.

Rock On Stage: O Sepultura completa 25 anos de carreira e você está há 23 anos na banda. Qual o balanço que você faz da época do vinil e das fitas-cassetes para os dias de hoje que tem CD e mp3, das turnês nacionais e internacionais, da época em que todos pegavam ônibus pra tocar por aí e hoje em dia vocês viajam de avião ( Andreas começa a rir ) afinal o pessoal ia em caravanas acompanhando o Sepultura e vocês falando “Vamos aí, vamos tocar e o caramba!”...
Andreas Kisser:
Ah sim! O Sepultura sempre foi isso. Essa junção da galera desde a primeira turnê onde íamos eu, o Paulo, o Max e o Igor sem roadie, sem empresário, sem porra nenhuma e nós sempre se seguramos no palco. Acho que o Sepultura é banda de palco, de estar no palco na frente do público, por isso que a gente toca tanto em tudo quanto é lugar. A gente faz acontecer, né meu.

    Que nem aconteceu em Cuba, pois fomos para lá sem cachê e deixamos o equipamento por lá. Nós gostamos de tocar e ver as pessoas principalmente em lugares onde nunca fomos e o balanço acho que é positivo 'pra caralho' apesar das mudanças, dos Cavalera terem saído, do lance do vinil pra CD, do CD para pendrive, donwloads. Quando o Sepultura começou só existia fax e hoje tem tudo de tecnologia de comunicação, de tudo. As diferenças são várias, mas o que continua mesmo é a paixão que nós temos por fazer música, e essa formação da banda está fantástica. Fizemos dois anos de turnê com o A-Lex, que foi muito bem aceito e entramos numa gravadora nova que é a Nuclear Blast, então temos uma motivação muito forte de fazer esse disco novo. Então o balanço é estar vivo e curtindo o que está fazendo.

Rock On Stage: Entendi. E como foi esse lance em Cuba?
Andreas Kisser:
Foi há cerca de dois anos e fomos convidados pelo governo cubano para fazer um show lá e foi o primeiro show de Heavy Metal na história do país e a gente foi pois era um sonho antigo nosso, de conhecer Cuba, de tocar em Cuba, pois é um país tão musical como o Brasil, ou até mais musical. É um país muito melhor que o Brasil e tem coisas fantásticas que saem de lá, não só na arte quanto no esporte, etc. É um país que pela história que tem, pela atitude política, nós fizemos questão de ir para lá e fomos muito bem recebidos. Tocamos para mais de 60.000 pessoas ao ar livre, num evento gratuito para todo mundo e foi um lance histórico, que para mim foi uma experiência de vida parecida com o lance que a banda teve com os índios Xavantes, de ir num outro mundo, de conhecer uma outra cultura, e foi uma experiência linda.

Rock On Stage: Mas vocês mesmo que pagaram a passagem de avião?
Andreas Kisser:
Só tivemos uma ajuda de custo, mas nada muito expressivo e eles facilitaram o máximo da nossa ida. Só não teve o cachê, que era o nosso salário, vamos dizer assim. Mas nós não ganhamos só dinheiro não é! Ganhamos a experiência de estar num país como Cuba e conhecer músicos fantásticos e conhecer um pouco mais da história do povo cubano de perto. Não nos arrependemos nem um centavo do não ganhamos de ter ido para lá e ter passado por essa experiência fantástica.

Rock On Stage: Como foi o encontro com o pessoal de lá? Os headbangers ficaram super-felizes...
Andreas Kisser:
Os headbangers! Um dia antes de tocarmos, fizeram um show só para nós, meu! Armaram um lugar nós tocarmos, nós fomos lá e ficamos sentados numa mesa vendo o show deles, de seis bandas cubanas de som próprio. Foi uma coisa fantástica. Eram grandes bandas. Como eu disse, o cubano é muito musical e são grandes músicos. Eu fiquei impressionado com o nível técnico da galera e o conhecimento.

     Você vê uma ditadura ali... socialista, comunista... e eles conhecem tudo de Heavy Metal, de Rock, de Jazz, Blues, do clássica, etc. De música eles sabem de tudo e você sente a musicalidade nas bandas de lá. É fantástico!

Rock On Stage: Você chegou a conhecer O Comandante?
Andreas Kisser:
Infelizmente não ( risos )!!! Conhecemos alguns ministros, como o ministro da cultura, e um povo poderoso que fez questão de nos conhecer, pois todo mundo sabia que nós estavamos lá, inclusive O Comandante. Assinamos uma pele de bateria para ele depois do show e espero que ele tenha recebido essa pele.

Rock On Stage: E você sabe o marco que é isso para o Metal brasileiro e para o Metal mundial por ser a primeira banda de Heavy a tocar lá? Falo isso porque tem muitos países que nunca teve nada de show, que são fechados para esse tipo de música, por exemplo países do Oriente Médio de cultura Islã, que não sei se permitem o Rock...
Andreas Kisser:
Já fomos em alguns países assim. O Sepultura já tocou na Indonésia que tem a maioria muçulmana. Tenho um projeto chamado Hail! que toca Heavy Metal e fomos para Líbano, tocamos em Beirute, que foi fantástico também. E o Heavy Metal está em tudo quanto é lugar, independente do sistema político e do credo religioso. Já fomos para os Emirados Árabes Unidos, tocamos em Abu Dhabi, fizemos um clipe em Israel e fomos tocar em Marrocos também. Então não é tão fechado assim. Acho que o lance da religião e da política é que alguns países são mais abertos e aceitam outras tendências culturais.

Rock On Stage: Você mencionou Israel e é por causa da gravação do clipe de Territory e parece que tinham lugares que não podiam ser filmados como o caminho que Jesus Cristo passou quando ia ser crucificado. Eu ouvi alguma coisa sobre isso.
Andreas Kisser:
Ah sim, tinha lugares que não podia mesmo, dentro de Jerusalém, ali no 'meião' só foi a equipe filmar meio que escondidos, mas fora da cidade a gente filmou em tudo quanto é lugar, como em Massada, no Mar Morto e nos desertos. Foi uma experiência incrível também.

Rock On Stage: E esse projeto que você mencionou, o Hail!, que tem o Dave Eleffeson do Megadeth e o Ripper Owens. Qual é mesmo o nome do baterista?...
Andreas Kisser:
Agora é o Paul Bostaph, que era baterista do Forbidden e do Slayer, e que agora toca com o Testament. Mas enfim, foi a ideia de um empresário norte-americano que me convidou pra fazer parte dessa banda. Fizemos alguns shows no Chile e foi um puta de um sucesso legal que espalhou pelo Mundo e a gente tocou em Beirute como eu disse, na Escandinávia, em festivais na Finlândia e fizemos o Rock in Rio Madrid, no Palco Sunset. É um projeto muito legal, muito saudável, que leva o Heavy Metal para lugares que geralmente 'neguinho' não consegue ver. Só na Noruega foram oito shows em cidades pequenas. É muito gratificante, muito legal!

Rock On Stage: O que os músicos mais comentam do Brasil? Eu lembro que numa entrevista do Ripper Owens no programa Stay Heavy, ele disse que se sentia no paraíso quando foi a uma churrascaria e vinha aquele monte de carne pra ele servida pelos passadores de carne. Ele disse “só vinha carne atrás de carne, mas é claro que os fãs também eram legais...”, mas o cara se impressionou com as churrascarias e ele não foi o único.
Andreas Kisser:
Todo gringo se impressiona apesar de churrascaria ser algo mais popular hoje em dia. Nos Estados Unidos você acha em vários lugares e na Europa também. Não só apenas as brasileiras mas como as churrascarias argentinas que tem um sistema um pouco diferente, mas está ficando um pouco mais conhecido, mas quem não conhece pira. Nós mesmos piramos! Brasileiro pira nas churrascarias (risos).

Rock On Stage: Você falou de Cuba e Chile e lembrei agora daqueles meninos, que devem ser da Argentina, e que ficaram conhecidos na internet por causa de um vídeo no Youtube. Você chegou a viajar para lá para tocar com eles...
Andreas Kisser:
Ah sim, sei quem são. Infelizmente eu não conheci eles. Eu tenho o contato deles, mas nunca falei com eles. Seria legal encontrá-los. Foi um sucesso estrondoso a versão deles da música Refuse/Resist com milhões de acessos. Mas sei lá, vamos ver se na próxima vez, se der para nos encontrarmos, vai ser legal 'pra caralho'!

Rock On Stage: Você, falando como músico, gostou da performance dos garotos?
Andreas Kisser
( animado e feliz ):  Ah meu!!! Gostei sim! Como músico e como pai, né (risos)! Foi muito legal ver os moleques juntos. É bem assim que o Sepultura começou mesmo. O Max e o Igor eram mais ou menos aquilo. Os dois fazendo barulho e quem sabe eles sigam uma carreira de músicos. A Argentina tem uma musicalidade muito forte e espero que eles consigam.

Rock On Stage: Falando em Argentina também. Eu lembro que alguém disse uma vez que existe mais livrarias em Buenos Aires do que em todo o Brasil, ou algo assim. E aqui estamos nós após você ter se apresentado num Pocket Show na Livraria Cultura. O que você acha dessa correlação já que Cuba também é um país muito musical e artístico.
Andreas Kisser:
Eu acho muito interessante já que o próprio Sepultura usou livros para se inspirar para fazer música e letras. Acho que o livro é uma fonte fantástica de informação e você exercita sua imaginação ou seu poder de fantasia e até coisas mais sérias, mais reais... psicologia, fisiologia, coisas técnicas ou não. Poesia, filosofia, etc. eu acho que isso é a magia de um livro. Quando você vai ao cinema todos tem a mesma visão que o diretor tem, mas no livro não. Cada um que está nessa sala pode ler o mesmo livro e cada um vai ter uma imagem totalmente diferente e única daquela história, do personagem e tudo. Eu acho que a literatura tem tudo a ver com a música, uma belíssima fonte de inspiração.

Rock On Stage: Você falou da literatura e o A-Lex foi baseado no livro Laranja Mecânica e nessas declarações que o Max vem dando depois que saiu do Sepultura veio falar que vocês nunca gostaram desse livro e que já tinha dado a ideia de fazer um disco baseado no livro enquanto ele estava na banda. O que você comenta disso?
Andreas Kisser
( balançando a cabeça negativamente e rindo ): Cara, eu não tenho nada o que comentar das coisas que o Max fala! É realmente triste essas coisas. Cada hora ele fala uma coisa e eu já gostava do Laranja Mecânica antes de conhecer o Sepultura. Sempre foi um cult e não preciso ficar me justificando para as idiotices que ele fala, sabe.

    Ele está preso numa bolha parado no tempo e acha que sabe o que tá acontecendo no mundo hoje. Ele está totalmente perdido e cada hora inventa uma história, e acho melhor ele parar com isso e trabalhar, usar o talento que ele tem e todos sabem que ele tem, e fazer coisas relevantes, pois ultimamente ele não tem feito nada de interessante.

Rock On Stage: Quando o Max se separou do Sepultura todo mundo falou que era por causa da Glória, ex-empresária da banda e mulher do Max, e até o Igor que é irmão dele deixou de falar com ele por causa disso. Agora cada hora vem um fato novo como o da Patrícia, sua esposa, que falou para enterrar o filho da Glória que tinha morrido antes de ela chegar no velório. É uma coisa que fica aumentando e não acaba. Se for para falar do Sodom até entendo, pois foi uma turnê que teve muitos problemas, mas ficar falando de uma coisa que todos sabem que foi por causa da empresária e ficar criando muita história eu não sei para que isso. Como você mesmo disse, cada hora ele vem com um papo e parece que não vai terminar...
Andreas Kisser:
Cada hora ele fala uma coisa e todo mundo acredita. Você mesmo está perguntando uma coisa relacionada ao que ele falou. Eu acho que ele não merece ter mais credibilidade e ninguém mais acredita no que ele fala por que ele tá completamente perdido. Ele vem com argumentos e histórias que não tem nada e ver com a realidade. Acho que ele tem que ser deixado de lado realmente e não ser levado em consideração porque ele não tem nada a dizer que é interessante para ninguém.

Rock On Stage: Quando ele saiu do Sepultura a discussão durou só um dia? Ele falou que queria a Glória como empresária, que queria renovar o contrato...
Andreas Kisser
: Não, não! É muito difícil de falar nesses detalhes pois foi um processo muito longo. Não foi um dia, uma só situação ou a empresária. Tem muita coisa envolvida e não é tão simples assim. É uma coisa que não acho tão relevante e interessante para comentar, pois isso foi em 1996 que aconteceu. Hoje a gente está com a cabeça para frente. Se o Max não tivesse falando todas essas merdas a gente nem estaria falando disso, sabe! Isso é atraso de vida e a julgar pelo visual dele e pelo que ele tem feito, ele está bem atrasado.

Rock On Stage: Eu comentei do Sodom também e quando teve aquele encontro aqui com você, Eric de Hass ( ex-fotógrafo e diretor da Dynamo Records ), Ricardo Batalha ( Roadie Crew ) e o Silvio Golfetti ( ex-Korzus, e dono do selo Voice Music ) você comentou coisas do passado, no caso, um lance com o Sodom e isso me fez lembrar que um dia comentei com o Toninho do fã-clube do Sepultura dizendo para ele “Por que será que ainda ficam perguntando para eles sobre os desentendimentos com o Sodom?” e daí ele me disse “Você tem que ver que hoje o Sepultura tem uma nova geração de fãs e ele não sabem tudo o que aconteceu.”...
Andreas
Kisser: Com certeza. É isso mesmo...

Rock On Stage: E o pessoal do Sodom só conversava em alemão por exemplo. Que coisas você pode falar a mais do que foi dito sobre essa época?
Andreas Kisser:
Hoje em dia tem como se pesquisar sobre isso. Isso já foi falado tantas vezes, até na televisão em programas como o do Jô Soares e se você pesquisar no Youtube, encontra depoimentos que são mais autênticos pois são da época! O que vou falar aqui é relembrar e não vai ter a mesma energia do que rolou na época. Eu acho que por serem jovens ele tem até o privilégio de ter a fonte de informação que eles tem hoje na Internet, no Youtube, Twitter e etc, onde você acha de tudo lá. Então, quem quiser saber, pesquise (risos)!

Rock On Stage – Você mencionou o Programa do Jô e lembro de ter lido uma mini-biografia tua das coisas que você gosta como comida e programas de televisão e o Jô Soares Onze e Meia era um deles, numa época que o Sepultura ainda não tinha sido entrevistado. Um tempo depois vocês deram uma entrevista e surgiu um tempo depois, uma entrevista com a banda Sepultura de Brasília e o Jô ficou zoando com vocês durante a entrevista. Você chegou a ver isso? Ficou magoado ( Jean se aproxima para participar da entrevista )?
Andreas Kisser:
Sim, eu vi, mas não fiquei chateado não. De maneira alguma. Acho que a banda se aproveitou da época que o Sepultura estourou, foi pra fora do Brasil e ficou muito conhecida...

Rock On Stage: Estou falando da gozação dele com vocês...
Andreas
Kisser: Mas essa gozação dele faz parte do estilo do programa. Nós temos um carinho muito especial pelo e ele também tem carinho pelo Sepultura. Ele sempre foi muito simpático, aberto a nos receber. Já apresentamos todos os discos lá e não peguei trauma não. Ele tem o estilo dele lá, e é isso!

Rock On Stage: E o Altas Horas?
Andreas Kisser:
O Altas Horas também, melhor ainda. O Serginho é fantástico, uma pessoal legal! O Altas Horas é mais livre, mais musical, o Programa do Jô é mais para entrevistas, mas os dois são fantásticos.

Rock On Stage: Teve um show que o Sepultura fez nos Estados Unidos, acho que foi em 1994 e que o James Hetfield e o Lars Ulrich apareceram no camarim...
Andreas Kisser:
Isso foi em 1989.

Rock On Stage: Ah, acho que foi esse. O pessoal disse que você ficou de boca aberta quando o James entrou no camarim depois do show elogiando vocês...
Andreas Kisser
( surpreso e rindo ): Claro, meu ( risos )! Você vai para Meca e vê Maomé descendo da escada você não ia ficar assim ( risos )? Nós fomos para São Francisco e ver o James Hetfiled foi inacreditável.

Rock On Stage: E o Paulo quando viu o Steve Harris por exemplo, já que ele é fã do Iron Maiden? Você sabe e pode me dizer qual foi a reação dele?
Andreas Kisser:
Eu prefiro não comentar sobre o Paulo (risos). Eu sei que ele teve uma decepção muito grande com o Paul Stanley do KISS, quando encontramos ele num VMA ( Vídeo Music Awards ) em que o Sepultura ganhou um prêmio com a música Orgasmatrom e nós fomos para Los Angeles receber o prêmio e tal. O Paulo ficou super-feliz em ter visto o KISS e quando ele foi cumprimentar o Paul Stanley, e o Paul deu aquela mão mole, assim ( Andreas faz um gesto de como foi esse cumprimento bem afrescalhado ) e virou a cara para o ouro lado enquanto cumprimentava o Paulo. O Paulo ficou super decepcionado, mas isso é raro de acontecer. A grande maioria de nossos ídolos é como um sonho mesmo. Eles sabem que nós somos uma banda do Brasil, conhecem o Sepultura e sempre nos respeitaram. Não tivemos problemas nenhum, só o Paulo que teve essa decepção com o Paul.

Rock On Stage: E por falar em VMA, você recebeu uma homenagem há dois anos, né? Como foi isso, cara?
Andreas
Kisser: Ah bicho! Eu toco com todo mundo. É mais do que merecido (risos)! Eu sou o arroz de festa da galera. Eu acho legal esse reconhecimento. Eles fizeram uma coisa meio cômica, mas foi uma homenagem muito séria, e eu aceitei como uma coisa muito especial que não acho que é qualquer um que tem esse privilégio e essa capacidade. Acho que querer fazer as coisas é muito diferente de FAZER as coisas não é? É uma experiência fantástica em tocar com vários músicos em vários estilos diferentes. Isso só ajuda a minha música, a minha pessoa, a música da banda e a todos que estão em volta. Acho que música é união, educação e não um monte de separação. Eu fiquei muito honrado com a homenagem e achei muito classe tocar sozinho com o ventilador no cabelo, foi fantástico ( risos )!

Rock On Stage: Você ganhou o respeito de muitas pessoas com o sucesso que o Sepultura fez e penso que o pessoal olha mais pra você como um cara de sucesso do que um músico de qualidade. Você sente uma certa hipocrisia pela simpatia das pessoas que aparecem com aquele sorrisinho amarelo?
Andreas Kisser:
Eu não sinto isso. Acho que se eles vissem só celebridade eles não me chamaria para gravar disco ou compor. Eu compus junto com o Tony Bellotto uma música no último disco dos Titãs, gravei com o Paralamas do Sucesso, gravei com o Skank, toquei com o Ronnie James Dio e com o Deep Purple... Acho que celebridade é coisa de foto, não de ação.

    E eu sou um cara de ação, tanto é que eu saio muito pouco. Apareço muito pouco e quando apareço é em eventos de música ou relacionado a isso, mas eu não vejo dessa forma não. O Sepultura é famoso, tem o seu peso e disso eu tenho certeza por que nós fizemos o Sepultura ter peso. Não foi o Sepultura que fez nós sermos famosos, foi ao contrário, não é! O nome, a música, fomos nós que fizemos. Então acho que não tem nada a ver isso aí, meu! Se não tivesse o conteúdo eu não estaria tocando com tanta gente aí, só estaria aparecendo do lado da pessoas na fotos fazendo assim ( Andreas faz um sinal de positivo com a mão )!

Rock On Stage: Bom, agora vamos falar do Metallica! Como foi o show com eles no começo do ano ( veja cobertura )? ( Andreas sai para guardar suas guitarras mas fica por perto ouvindo a entrevista)
Jean
Dolabela: Foi 'do caralho', velho! O Metallica sempre foi referência pra todo mundo quando a gente começou a tocar.

Rock On Stage: O James Hetfield ficou assistindo o show atrás de você...
Jean
Dolabela (rindo): O James Heatfield estava comendo um lanche atrás de mim e minha mulher filmou isso.

Rock On Stage: Eu vi o vídeo dele sentado na bateria do Lars curtindo o show!
Jean
Dolabela: Minha mulher estava filmando o show lá de trás e aí ele apareceu e sentou na bateria do Lars para assistir o nosso show lá de trás e estava curtindo o som. Esse vídeo é muito legal!

Rock On Stage: Você sentiu alguma coisa e falou “Tem alguém atrás de mim aqui!”?
Jean
Dolabela: Não. Não fazia a mínima ideia.

Rock On Stage: Recentemente vocês deram um show no Manifesto Rock Bar e o Vitinho, vocalista do Torture Squad comentou comigo que nunca viu uma roda tão devastadora quanto a de lá, embora não coubessem muitas pessoas no lugar que é um bar.
Jean
Dolabela ( com o olhar distante lembrando do dia do show ): Foi insano, velho! Foi insano mesmo!!! Tinha muita gente, estava 'sold out', pois a parada é pequena e a gente fez esse lance do aniversário do Manifesto junto com o aniversário do Arise também, o lance de tocar o Arise inteiro. Cara, foi muito insano!

Rock On Stage: Agora vocês pretendem fazer um show especial para cada disco que já foi lançado ou para um disco novo?
Jean
Dolabela: Não, não! Isso foi de última hora, meio que uma ideia pois a gente está fazendo muita coisa ao mesmo tempo. Tem tantos shows acontecendo, gravação do disco novo, pré-produção, fazendo um milhão de coisas. Na verdade foi meio que uma correria o aniversário do Arise com a festa do bar. Daí fomos 'linkar' as duas coisas e acabamos fazendo. Fui um puta trampo pegar as músicas de novo, inclusive músicas que o Sepultura nunca tinha tocado ao vivo e eu nunca tinha tocado antes. A gente teve que ensaiar e tal, mas foi muito foda.

Rock On Stage – Lendo o encarte do “Arise” vejo que a capa tem o nome de “Nightmare In Red” ou seja, “Pesadelo Em Vermelho”. Esta foi, pelo que eu soube a primeira ilustração a receber um nome.
Andreas
Kisser: Ele deu um nome mesmo!

Rock On Stage: Essa pintura foi feita justamente para o “Arise” ou já existia e vocês a usaram?
Andreas
Kisser: Ele fez esse desenho especificamente para nós, para a capa do Arise.

Rock On Stage: Mas a arte é daquele jeito mesmo apenas do nome ser “Pesadelo Em Vermelho” e predominar as cores marrom e laranja na capa? Não tinha nada em vermelho que foi alterado?
Andreas Kisser:
Não, era aquela arte mesmo.

Rock On Stage: E como foi a tua entrada no Sepultura?
Jean
Dolabela (rindo): – Há Há! Isso foi há cinco anos! Ah velho, foi ótimo. Eu estava vindo de uma outra história lá nos Estados Unidos, onde morei por cinco anos. Morei em Los Angeles e me formei em música lá. Eu estava em outra sintonia e voltei para cá com nada, pois saí de uma banda em que eu tocava lá. Depois de dois meses no Brasil recebi uma ligação do Andreas, que foi uma coisa meio inusitada. Foi meio foda. Sabe aquelas coisas de fechar ciclo na vida? Eu lembrei por um segundo de eu indo no show do Sepultura com onze anos de idade pedindo a palheta do Andreas e ele me dando a palheta. E daí, não sei quantos anos depois, estou eu lá fazendo ensaios com os caras. 'É du caralho velho!'

Rock On Stage: Isso lembra a história do Ripper Owens. Acho que foi com ele o que aconteceu para inspirar o filme Steel Dragon, você viu não é?
Jean
Dolabela: Não lembro, cara!

Rock On Stage: Tanto é que tem vocalistas que dublam o cara cantando...
Jean
Dolabela: Ah sim, sim! Eu lembro sim. O cara cai no palco no primeiro show. Ele rola escada a baixo (risos)! Pode crê!

Rock On Stage: Foi mais ou menos assim o que ocorreu com você?
Jean
Dolabela: Ah, meu! Acho que sim. Foi aquilo que te falei. É mais um lance de fechar um ciclo. É muito louco! Você fica a infância inteira, desde quando era moleque curtindo a banda 'pra caralho', fazendo bandas em homenagem a banda e anos mais tarde sua trajetória de vida vai para um lado completamente diferente e você volta pro Brasil e toca com os caras. É muito louco.

Rock On Stage: E das bandas que você já conheceu lá fora. Teve alguma reação igual a do Andreas quando ele viu o pessoal do Metallica?
Jean
Dolabela: Ah cara! Sempre foi muito legal. É como o Andreas estava falando. A galera lá fora tem um respeito muito grande pelo Sepultura e é legal que a gente chega com um peso na hora de apertar a mão do cara e o cara fala: “Olha o cara do Sepultura. Que legal!”. Entendeu? Não é aquela coisa de... é muito difícil acontecer algo chato. Eu não lembro de ter sido maltratado ou alguma coisa do tipo, mas a gente é sempre muito bem-vindo com um sorriso no rosto da outra pessoa. É legal!

Rock On Stage: E as suas participações nesses álbuns que o Andreas vem lançando. O que você acha desses trabalhos dele?
Jean
Dolabela: Eu acho muito foda, velho! Eu acho que o Andreas é um cara que... bom, eu falei isso pra ele outro dia num show que a gente fez em Belo Horizonte com a participação de um monte de gente como Lenine e Flávio Venturini... ele é um cara que tá fazendo algo que ninguém faz. Ninguém tem coragem de fazer isso, sabe! Todo mundo fica metendo pau, principalmente a galera que curte Metal que é um público mais fechado. Mas ele tá fazendo uma coisa que é colocar a cara lá e fazer as coisas que ele curte, e fazer essa união pela música, que é uma coisa super-positiva que é tocar por tocar, porque você gosta, por amor a música e não uma pretensão, entendeu. Acho que é uma coisa muito positiva e fico feliz de poder participar de projetos como esse.

Rock On Stage: Dias antes desse show de aniversário do “Arise” teve um show em Belo Horizonte que era uma homenagem ao Pantera ou algo do gênero...
Jean
Dolabela: Não era uma homenagem. Foi um festival da música que estava tendo e era uma homenagem a música mineira na verdade com a presença de cantores como Milton Nascimento, que fechou no show de domingo. Nós tocamos na quinta mas teve as participações do Lenini, do Flávio Venturini e de uma galera lá como o PJ, baixista do Jota Quest, o Tonico que é tecladista do Skank... foi uma galera, lá. Nós tocamos de Milton Nascimento até Pantera. Fizemos uma parte do Metal, tocamos duas músicas do Sepultura e tal. Foi bem, bem...tipo... (pausa) foi o show mais louco que eu já fiz na minha vida na verdade. Imagina você tocar músicas do Milton Nascimento com o Lenine, tocar músicas do 14-Bis com o Flavio Venturini e Walk do Pantera com o Bozó, vocalista da banda Overdose cantando. Foi espetacular (risos)!

Rock On Stage: Digamos que estavam todos em casa, pois a origem do Sepultura foi em Minas Gerais, depois vieram para São Paulo e tem você que também é de Minas...
Jean
Dolabela (sorrindo): Totalmente, o cast era todo mineiro. Espetacular!

Rock On Stage – Os fãs do Sepultura ainda ficam pensando se o Sepultura ainda vai morar fora do Brasil, pois no começo da década de 90 eles foram morar nos Estados Unidos e os fãs se sentiram um pouco órfãos. Eu era molecão e não gostava disso. Você era criança e a gente pensava “Putz e agora? Eles ficam mais fora do país do que aqui!”
Jean
Dolabela: Não rola, cara! Eu acho que não! É muito difícil de acontecer isso! Hoje em dia todos tem família.

Rock On Stage: Quais são suas influências na bateria e o que você ouve de música!
Jean
Dolabela: Ah, cara! Eu escuto muita coisa, ainda mais pelo fato de eu ter estudado música. Eu ouço muito Jazz, Bossa Nova, Rock, Metal... eu escuto tudo. Eu nunca tive um ídolo, saca? Difícil falar disso para mim. Eu nunca tive um cara que representasse tudo para mim. Eu gosto de muitos caras como o Dave Grohl, David King, que toca numa banda chamada The Bad Plus. Gosto de dois saxofonistas, um chamado Brian Blade e o outro é o Joshua Redman. Ah, gosto de muita gente, cara! Gosto de muita coisa diferente, distinta, sabe!

Rock On Stage: O que você pode falar do novo álbum do Sepultura que vocês estão compondo?
Jean
Dolabela: Cara, eu acho que ele tá muito brutal para te falar a verdade! Bem diferente do A-Lex, está com mais sangue no olho, eu acho! É bem mais direto do que o A-Lex e está sendo uma experiência maravilhosa!

Rock On Stage: O “Dante XXI” e o “A-Lex” são álbuns conceituais e esse novo também vai ser?
Andreas Kisser:
O conceito é vai ser baseado na gente, nas nossas vidas!

Rock On Stage: E os preparativos para Setembro de 2011, quando terá o Rock in Rio e vocês voltarão a tocar de novo com o Metallica?
Jean
Dolabela: Nossa, ainda falta muito até lá (risos). Vai ter muita coisa acontecendo. Não sei ainda o que vai ser. A gente está montando essa ideia aos poucos.

Rock On Stage: Teve aquele show teu no Centro Cultural São Paulo, que marcou...
Andreas Kisser
(pensativo): – Qual foi esse, mesmo?

Rock On Stage: Foi o “Nas Pegadas de Andreas Kisser”.
Andreas Kisser:
Aquele evento foi muito legal, precisamos fazer outro que nem aquele de novo! Você lembra desse show, Jean? 'Foi Du caralho!'
Jean Dolabela:
Foi o primeiro, né? Foi o primeirão!
Andreas
Kisser:  Foi o primeiro de TUDO!

Rock On Stage: Ouvi falar que antes de você entrar no Sepultura, você tocava numa banda que tinha uma sonoridade parecida com a do Schizophrenia e que por isso o disco saiu daquele jeito quando você entrou na banda...
Andreas
Kisser ( balançando a cabeça fechando um dos olhos pensando no passado ): – Ah cara, o som do Sepultura era uma porrada só e eu cheguei fazendo solos em escala assim ( Andreas gesticula com os dedos como se estivesse subindo e descendo a mão no braço da guitarra ) e daí o disco ficou daquele jeito!

Rock On Stage: Mensagem para os leitores e o espaço para fazer algum comentário ou declaração é teu.
Jean Dolabela:
Eu queria agradecer a todos, principalmente os fãs do Sepultura por me aceitaram na banda até hoje, e terem me recebidos de braços abertos, sem preconceito. Eu acho que no começo foi um pouco difícil, mas acho que a galera confiou, acreditou, estamos aí e queria mandar um abraço pra todo mundo. Valeu demais!
Andreas Kisser:
Um abraço para os fãs e votem em mim!

Por Hamilton Tadeu
Janeiro/2011

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