Entrevista com o Seventh Seal

A banda de Heavy Metal Seventh Seal lançou em 2013 seu terceiro cd, o excelente Mechanical Sous, e o Rock On Stage conversou com exclusividade com os guitarristas Tiago Claro e Thiago Oliveira sobre este trabalho, sua temática e gravações, o novo vocalista, convidados e muito mais. Confira logo abaixo. 

Rock On Stage: O Seventh Seal surgiu em 1995, bem como foi o começo e quais as influências principais da banda?
Tiago Claro:
O começo foi como a maioria das bandas amigos de escola que curtia Metal e que resolveram montar uma banda para fazer o som que gostávamos. Já tínhamos tocado em outras bandas, então quando resolvemos montar o Seventh Seal tínhamos em mente que levaríamos mais a sério, mas, não esperávamos chegar até aqui. Nossas influências no começo eram Judas Priest, Metallica, Megadeth, Iron Maiden, hoje em dia ouvimos essas bandas, bandas novas como Protest The Hero, Pain Of Salvation, In Flames, Soilwork e Rock Progressivo também, ou seja é uma salada realmente, hahaha.

Rock On Stage: Normalmente as bandas apontam o último cd como o melhor, mas no caso do Seventh Seal, isso realmente acontece, bem, como foi o processo de composição do cd e até que ponto a entrada de Leandro Caçoilo ajudou para que o álbum chegasse neste nível? E aproveitando gostaria que definissem a discografia de vocês álbum por álbum em poucas palavras.
Tiago Claro:
Com certeza ajudou, acredito que ele fez um grande trabalho neste álbum, e muitos consideram um dos melhores trabalhos que ele já gravou, fico muito feliz com isso. Sobre a discografia temos o Premonition de 2001, que é um álbum direto, meio cru, mas com toda aquela raça, para mim os riffs de guitarras são os destaques do álbum, o Ricardo Busato era ( é ) um grande compositor.

    O segundo, Days Of Insanity ( leia aqui ), já é um álbum que estávamos numa transação do Heavy Metal para ouvir outras coisas também como o Progressivo, Thrash, Death e etc. e foi um álbum que praticamente todos participaram, gosto bastante deste álbum também.

    Já o Mechanical Souls ( confira resenha ) é um álbum mais experimental, algo que caminhávamos após o Days Of Insanity, chegamos numa fase de querer fazer algo diferente, um álbum mais ‘trampado’, mas sempre mantendo as raízes e acho que conseguimos.

Thiago Oliveira: O Leandro trouxe uma abordagem mais Jorn, Dio, Russel Allen. Que foi a coisa de trazer melodias marcantes e um vocal mais agressivo, mais rasgado, com mais drive, isso muda muito a cara das composições. Quando de se tem um vocalista experiente, você tem que ficar de lado e deixar ele fazer o que sabe. Eu só posso falar do Mechanical Souls, que é um álbum que traz a pegada mais moderna, mais agressiva, mas, ao mesmo tempo com as melodias marcantes e que ao mesmo tempo houve um cuidado especial com os arranjos, as coisas sutis.

Rock On Stage: Aliás, falando nisso, a troca de vocalistas muitas vezes é bem problemática, como foi a saída de Ricardo Perez e a entrada de Leandro Caçoilo?
Tiago Claro:
Com certeza, foi uma fase difícil, estávamos gravando as prés do álbum e o Ricardo estava sem tempo para conseguir fazer o que precisávamos e também achou a nossa proposta diferente do que ele queria fazer, então resolveu sair. O Leandro eu já conheço há muitos anos, fizemos vários shows juntos, jams então foi fácil, o Thiago Oliveira o encontrou fez o convite e ele aceitou!

Thiago Oliveira: Quando a saída do Ricardo foi oficializada houve um convite para o Leandro fazer um show com a gente como convidado. Ele abraçou a causa e também apresentamos uma música nova em que ele trabalhou as melodias junto comigo. A ‘vibe’ foi muito legal e ele ficou. Muita gente convidou ele antes, algumas bandas mais estruturadas e de renome. Acho que a qualidade do material aliada à liberdade que ele teve pra criar em cima foi o diferencial para fazer a coisa acontecer.

Rock On Stage: Que pontos vocês acreditam de Mechanical Souls é melhor que Days Of Insanity? E como tem sido a resposta do álbum? Esta dentro do esperado pela banda?
Tiago Claro:
O principal é a produção, desta vez contamos com o Brendan Duffey e o Adriano Dagga trabalhando conosco então acho que conseguimos tirar o som que queríamos. Sobre as músicas é meio particular cada um tem seu gosto então é melhor deixar para os ouvintes comentar sobre o álbum.

    O que posso dizer é que estou muito feliz com o resultado. E sobre a resposta tem sido maravilhosa, ficamos algumas semanas entre os 5 mais vendidos da loja Die Hard, e as críticas todas foram favoráveis, sinceramente, não esperava toda essa repercussão.

Thiago Oliveira: Bom, eu tive um envolvimento muito grande com a produção e composição do cd como um todo então acho que eu posso apontar que, além do peso extra houve um cuidado muito grande para que não houvesse nenhum furo em nenhuma das etapas.

    Isso sem contar que os arranjos estão mais elaborados, houveram orquestras arranjos eletrônicos, corais, as melodias são marcantes. Acho que esse disco surpreendeu muita gente. Eu também sinceramente não esperava nenhum tipo de repercussão e felizmente eu estava errado.

Rock On Stage: Mechanical Souls teve sua inspiração em “Blade Runner: O Caçador de Androides” e no livro “Do Androids Drean If Ekectric Sheep” de Phillip K Dick, bem quais relações vocês apontam no álbum e no nosso dia a dia?
Thiago Oliveira:
Cara, se você andar por São Paulo, você pode observar que aos poucos estamos cada vez mais próximos ao futuro distópico que é retratado nessas obras. Temos caos, super população, degradação urbana, caos, violência, muitas tribos urbanas, vigilância estatal, controle e o poder gigantesco exercido pelas grandes corporações, manipulação genética. É muita tecnologia para pouca qualidade de vida.

    Outro dia eu vi um documentário chamado Prophets Of Science Fiction falando justamente do Philip K Dick e mostrava justamente o quão próximo as obras dele eram da nossa realidade atual. Acredito que o nosso modelo político e econômico atual é insustentável, auto destrutivo e está à beira de um colapso.

Rock On Stage: Vocês levaram as gravações para a mixagem e masterização de Brendan Duffey e Adriano Dagga, bem o que eles acrescentaram e o porque da escolha destes dois profissionais?
Tiago Claro:
O Brendan e o Adriano são excelentes pessoas e profissionais e ouvimos muita coisa do Norcal e achamos que eles saberiam tirar o som que esperávamos e foi isso o que aconteceu. O Thiago Oliveira já havia feito uma mixagem com eles então ficou fácil o contato.

Thiago Oliveira: Acredito que hoje em dia no Brasil a qualidade de gravação se equipara às principais produções internacionais. Eu escuto muitos trabalhos e acredito que nesse aspecto não devemos nada ao que é produzido lá fora. No caso do Adriano e Brendan, além dessa master que eu fiz com eles em 2010, eu escutei muita coisa boa vinda do Norcal: King Of Bones, Almah, Torture Squad, Fúria Inc, etc. Então, foi uma escolha que foi direcionada para o tipo de som desse cd.

Rock On Stage: Quais faixas do novo trabalho que vocês destacam como as preferidas e que já foram executadas ao vivo que vocês perceberam que os fãs agitaram mais?
Tiago Claro:
Meio complicado falar a preferida, acho que "Back To The Game", "Sleepless", "Imprint Memories", "Virtual Ego" e "Dark Chant", se puder coloco o álbum inteiro, hahaha. Já tocamos sete músicas deste álbum e todas foram muito bem recebidas, acho a que eu ouço bastante o pessoal falar é a Dark Chant pela variação, os guturais, mas o pessoal tem agitado em quase todas.

Thiago Oliveira: Acho que é um disco bem homogêneo em termos de composições e eu sempre ouço comentários sobre diferentes faixas. Eu ainda quero tocar a 334 ao vivo, é a faixa mais insana do disco e tenho muita curiosidade para ver as reações das pessoas com uma faixa assim ao vivo.

Rock On Stage: Foram seis anos entre Days Of Insanity e o Mechanical Souls, bem porque demoraram tanto entre um lançamento e outro?
Tiago Claro:
As malditas trocas de formações, elas são as culpadas de tudo isso, hahaha!

Rock On Stage: Mechanical Souls traz alguns convidados ( Affonso Jr., Thomaz Oliveira, Raphael Dantas e Kayser Carvalho ), gostaria que comentassem o porque da escolha de cada um deles e o que cada um agregou à sonoridade do cd.
Tiago Claro:
Posso falar do Affonso Jr, que é um grande amigo, pouca gente sabe mas antes de ir para Europa saíram todos integrantes ficando somente eu na banda, o Ricardo eu não sabia se tinha saído ou não, hahhaa, enfim, eu recebi o convite para ir a Europa e eu remontei a banda, chamei o Ricardo Peres e o Afonso foi o escolhido para a outra guitarra, fizemos alguns ensaios, só que ele teve um problema na mão ( tendinite ) e teria que operar impossibilitando de continuar na banda, então encontrei o Thiago Oliveira através de uma amiga e chamei ele para entrar na banda. Mas em 2012, o Thiago não pode fazer um show e o Affonso o substituiu, então, nada mais certo chamar ele para fazer um solo conosco.

Thiago Oliveira: Na Beyond The Sun tem uma parte com uns gritos como se fosse uma multidão protestando, então eu precisava de muitas vozes. Eu acabei chamando o Raphael, que é vocal do grande Andragonia, e o Kayser que eu estou produzindo o projeto solo dele. Então foi um berreiro dentro de casa, ehehehe. No caso do Thomaz, que é meu irmão, ele toca piano clássico, lapsteel.

    E como eu senti falta de um certo swing da levada de tecladista em duas músicas mais calmas, eu pedi para ele gravar alguns órgãos Hammond e Rhodes. Em outra música, que foi a Soulless Reality, ele trouxe uma pegada totalmente inusitada, que foi um solo de slide em cima de um Thrash Metal bem insano. Acho que é legal você ter convidados para dar um tempero extra no álbum. Uma das coisas felizes desse cd foi entrar em contato com o Affonso, que além de ser um grande guitarrista, se tornou um grande amigo.

Rock On Stage: Logo o Seventh Seal estará fazendo 20 anos, vocês pensam realizar uma turnê, um show especial com convidados, ex-integrantes e gravar tudo um DVD ao vivo comemorativo?
Tiago Claro:
Caramba, boa ideia acho que farei isso então, hahhaa. Brincadeiras a parte, já pensei em algo sim, mas ainda é cedo para definirmos algo, no final do ano completaremos 19 anos, então temos um tempo ainda para definir isso, pois tem que ser algo muito pensado para fazermos algo com qualidade.

Rock On Stage: Tiago você está produzindo vários eventos de Heavy Metal em sua cidade, como você avalia a cena atual e na sua opinião o que você acha que mudou em relação quando o Seventh Seal começou?
Tiago Claro:
Na verdade produzo eventos tanto no ABC Paulista quanto em São Paulo e outras cidades do Brasil, já fiz evento até no Chile. Acho que hoje com a quantidade de shows, o fã escolhe e vai no que quer e acabou, não adianta forçar. Tenho amigos que sei que curtem a minha banda, mas só vai no nosso show ( às vezes ) e do Iron Maiden, no Dream Theater e assim vai, não estão preocupado com a cena, vai sair de casa para ver o que ele quer e acabou, se ele quiser pagar 600 reais para ver o Black Sabbath, ele vai... e não paga 15 para ver uma banda underground porque ele acha que não tem obrigação de ir, é muito louco isso.

    Então, eu não reclamo mais, eu não forço nada, simplesmente vou fazendo o que eu posso. Antigamente não, saímos em vários amigos para ver as bandas tocando, íamos de ônibus, trem para curtir o show, era um lance muito especial, que nunca vai voltar, então mesmo no nosso início do Seventh Seal ainda tinha um pouco disso, o que hoje em dia se perdeu.

Rock On Stage: Mechanical Souls foi lançado pela Shinigami Records, como foi o contato com a gravadora e como está ajudando na distribuição do cd e no crescimento do Seventh Seal?
Tiago Claro:
Eles foram vender cd's no shows do Orphaned Land em São Paulo que abrimos, após o show conversamos com eles, mandamos material e fechamos o contrato, foi simples. Eles estão nos ajudando bastante, então, estamos muito felizes com a parceria, esperamos poder trabalhar juntos nos próximos álbuns.

Rock On Stage: Nesta era de Mp3 / Facebook / Internet como a banda vê os downloads ilegais e com tudo isso, particularmente eu gosto de cd´s físicos, pois o ritual de se colocar o álbum para ouvir, ler o encarte é algo mágico, bem o que vocês pensam sobre isso tudo?
Tiago Claro:
Eu também gosto bastante do físico, sou até meio atrapalhado com algumas ferramentas de downloads e etc, hehehe. Acho que a Internet ajuda muito para você poder conhecer uma banda e etc, hoje a quantidade de bandas é absurda, só que com muita porcaria no meio e algumas coisas boas, então a Internet facilita essa distinção, mas eu ouço, se gosto vou atrás do cd.

Thiago Oliveira: Eu acabei entrando de cabeça na era digital e tanto o meu trabalho como produtor e professor de música como a minha vida social e profissional mudaram drasticamente com o lance do MP3 e Internet. Eu sinto uma nostalgia com relação ao passado. É aquela coisa, o passado parece cada vem mais brilhante e o futuro cada vez mais sombrio.

Rock On Stage: Quais foram os momentos mais marcantes da banda? E um que rolou um momento engraçado?
Tiago Claro:
Olha tenho vários momentos marcantes, é muita coisa, mas posso destacar a nossa primeira e única tour na Europa, realmente eu nunca esperava que chegaria lá tocando nossas músicas, sem pagar Booking e tocando em pelo menos 3 casas para 1.500 - 2.000 pessoas lá e mais umas 10 de médio porte ( 400 - 800 ).

    Hoje você vê um monte de banda indo para lá pagando Booking, tocando em lugar para 50 - 100 pessoas e volta para o Brasil com o status de que tocou na Europa, eu não tenho nada contra, eu acho que tem que ir mesmo, mas, quando conto nossa experiência para quem foi e até os caras de lá, muitos ficam surpresos com o que conseguimos, então isso foi realmente especial. Momento engraçado, tivemos vários, só entrar no Youtube e coloque Seventh Seal na Europa que você irá ver cenas bizarras, acho que se colocássemos em um DVD ganharíamos vários prêmios, hahaha.

Rock On Stage: Quais diferenças vocês apontam da galera ( fãs e produtores ) na Europa e por aqui?
Tiago Claro:
É tudo muito organizado, equipamento de primeira, lá o Metal funciona, infelizmente, estamos muito atrás deles, a começar o preço que pagamos no equipamento aqui, cerca de 3x mais que lá, como vamos chegar a eles assim? é até vergonhoso. Sobre os fãs tem uns que vão para prestar a atenção no show, tem outros que vão para bangear, enfim, depende dos países que você está tocando.

Rock On Stage: É realmente difícil citar cinco melhores álbuns, mas se você tivesse que escolher apenas cinco de todos os tempos quais seriam?
Tiago Claro:
Cara... já fiz essa escolha para uma revista há anos atrás e até hoje me questiono sobre os álbuns, mas vou tentar:
1 - Judas Priest - Painkiller
2 - Pain Of Salvation - The Perfect Element
3 - Led Zeppelin - IV
4 - Dream Theater - Images And Words
5 - Metallica - And Justice For All

Thiago Oliveira:
1 - Queen - A Night At The Opera
2 - Jesus Christ Superstar Original Concept Album
3 - Iron Maiden - Piece Of Mind,
4 - Dream Theater - Awake,
5 - Angra - Holy Land.

Rock On Stage: O que mudariam no Heavy Metal hoje?
Tiago Claro:
Eu mudaria esses promotores que cobram fortunas das bandas para abrir shows, acho que deveríamos juntar as bandas e denunciar ao público, tudo o que ouvimos destes caras, propostas absurdas e etc. Eu sou produtor de shows e nunca cobrei de banda para tocar, e também nunca paguei com o Seventh Seal, acho que tem diversas formas para os três ganharem, banda, produtor e o público, então acho isso um absurdo.

    E tem alguns produtores, que não colocam nenhuma banda nacional para abrir um show gringo, por exemplo, dizem que é para não ter trabalho a mais, ou seja, só querem saber em encher o bolso, infelizmente, são poucos que vão em shows que se preocupam com isso, por isso eles agem assim, querem ver as bandas principais mesmo, mas, tente prestar atenção nisso, que vai entender o que estou falando. Eu tinha que desabafar pelo menos uma vez, hahaha.

Thiago Oliveira: Eu apertaria a tecla 'delete' para as bandas e músicos que fazem mais pose que música.

 

Rock On Stage: Qual seria o sonho do Seventh Seal hoje?
Tiago Claro:
Eu gostaria de viver exclusivamente da banda, felizmente tenho outras atividades ligados ao Metal que faço com muito prazer, mas estar em turnê frequentemente com a banda, tocar em grandes festivais, seria um sonho para mim. Quem sabe um dia chegamos lá!

Rock On Stage: Agradeço a vocês pela entrevista e peço-lhes para deixar uma mensagem para os fãs do Seventh Seal e aos leitores(as) do Rock On Stage.
Tiago Claro:
Muito obrigado a todos que vem nos apoiando, eu sei que tem um monte de produtores ou amigos de produtores que leem o Rock On Stage, queremos tocar em vários lugares, estamos disponíveis para tocar em sua região, só mandar email para sevenstarsmanag@ig.com.br, que eu mesmo respondo e armamos isso. Muito obrigado Rock On Stage. Valeu.

Por Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à Karina Somacal
da Shinigami Records
Fotos: Erika Beganskas ( Rock On Stage )
no show de abertura para Warrel Dane
 no Hangar 110 em São Paulo/SP
Maio/2014

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