Entrevista com Daniel Ayrosa Galvão do Nominalistas

    Considerado um fenômeno da Internet, os amigos que formam a banda independente paulistana Nominalistas, se agruparam em 2013 e desde então foram produzindo conteúdo para o seu canal do Youtube, com uma música nova lançada a cada quinze dias. Consequentemente, em pouco tempo, o sexteto disponibilizou seu primeiro cd em todas as principais plataformas digitais, que recebeu uma boa repercussão dos fãs, da imprensa especializada e levou a banda a participar de mais shows.

    Confira neste bate papo exclusivo com Daniel Ayrosa Galvão, a interessante história do nome da banda em seu primeiro show, os processos de composição e produção do primeiro cd, os sonhos e anseios da banda, o direcionamento do próximo cd, enfim, conheça mais do Nominalistas nas palavras de seu vocalista.

Rock On Stage: Quais as origens do Nominalistas?
Daniel Ayrosa Galvão:
O idealizador da banda foi o Bruno ( Bruno Bock - gaita e flauta ). No início de 2013, após conhecer a música “Caminhos” do Peter ( Peter Carcavallo - baixo ), resolveu utilizá-la em seu canal ( do Youtube ) Vida de Bruno como trilha de um episódio! A repercussão foi muito positiva e totalmente inesperada; muitas pessoas começaram a perguntar de quem era a música, se estava disponível para download.... enfim... Foi em função dessa repercussão que o Bruno resolveu reunir alguns amigos ( alguns com os quais, ele já havia tocado ) e apresentar a ideia dessa banda... e foi assim, algumas horas conversa, ideias jogadas, muitos caminhos percorridos e uma provável direção iniciamos os Nominalistas.

Rock On Stage: E a escolha do nome... de onde e porque vocês escolheram este nome para a banda?
Daniel Ayrosa Galvão:
O nome surgiu como uma brincadeira em nossa primeira apresentação, ainda em 2013 em junho, para ser mais exato. Fomos tocar em um bar em Santo Amaro/SP, onde a nossa única preocupação para a apresentação eram os "nomes na lista"... quais iríamos colocar?! Quantas pessoas convidar?! A partir dessa apresentação surgiu o nome Nominalistas! Quando o criamos não tínhamos ideia do movimento filosófico "Nominalismo"; se bem me lembro, foi uma amiga que nos enviou um link sobre o Nominalismo, quando já havíamos criado o canal da banda. Só então fomos pesquisar sobre o assunto... e ficamos felizes ao saber que algumas de nossas crenças vão de encontro ao que se define o Nominalismo.

Rock On Stage: Conte-nos mais sobre a Blues ( a agência e a produtora de conteúdo da banda ).
Daniel Ayrosa Galvão:
A Blues trabalha com produção de conteúdo para marcas e empresas e também produz o Pipocando, canal de cinema e Cultura Pop: www.youtube.com/pipocando. E acredito que a banda só aconteceu por causa da Blues, pois, o Bruno apresentou seus amigos de infância: Roger ( Roger Lemm - guitarra  ), Peter e eu ( Daniel ), para o Samuel ( Samuel Costa - guitarra ), que é sócio da empresa com o Bruno desde 2008. E em 2013, a banda surgiu de conversas e encontros a noite pós-expediente ( lá na Blues ).

Rock On Stage: Quais são as principais influencias musicais dos membros da banda?
Daniel Ayrosa Galvão:
De extensa variação! Acho que não é possível definir exatamente as influências!!! Talvez o Samuel diga que o Red Hot Chili Peppers é a sua principal influência. O Bruno que sempre foi chegado em sons mais “cabeçudos” como Hermeto Pascoal e Jethro Tull, diria que algo nessa linha foi sua principal influência... eu ( Daniel ) sempre fiz um mix de Soul e Rock Nacional e Internacional, e talvez, essa linha seja a minha principal influência!

    Mas, ao certo mesmo, acredito que ninguém tenha isso muito claro. Somos todos muito ecléticos! Em nossas conversas e “orelhadas” em sons que cada um escuta, vamos de Willie Brown ( raízes do Blues ) ao Eletrônico Progressivo numa boa; passando por Marvin Gaye, Mutantes, Tom Jobim, Jimmy Hendrix, Novos Baianos, Tim Maia, Stevie Wonder, Creedence, Michael Jackson... Jethro Tull, Nação Zumbi, John Buttler Trio,  Los Hermanos... Cada um tem seu estilo preferido, mas sempre nos esbarramos em canções de gosto mútuo ( independente do estilo ). O mais legal, é que essa miscigenação deu resultado, e aparentemente é positivo.

Rock On Stage: E como surgiu essa ideia de produzir uma nova música a cada quinze dias? Ainda neste tema, como funciona o processo de composição do Nominalistas?
Daniel Ayrosa Galvão:
A ideia da produção quinzenal veio pela necessidade de alimentar o canal do Youtube. O nosso canal estava muito parado, os conteúdos não tinham uma frequência estabelecida... era na onda do “Tem?! Sobe! Não tem?! Deixa pra depois!”. Então, nos forçamos a esse desafio! Que foi produzir um novo álbum, quase do zero ( pois, já tínhamos algumas músicas prontas ) lançando todas as suas treze faixas, com um vídeo a cada quinze dias.

    O processo de composição não tem uma fórmula definida. O Bruno é uma máquina de letras, escreve muita coisa e também já tem muita coisa escrita. Às vezes chega com a música inteiramente pronta, outras vezes encaixa suas letras em músicas do Samuel, do Roger e/ou do Pete; aliás, esses três também escrevem. O Victor ( Victor Ballestré - bateria ) e eu, somos os únicos que não compõem. Mas também não faz falta, pois, temos parceiros da banda ( Fernando Motolese e Danilo Galvão ), que nos apresentam algumas composições e nos dão liberdade para deixá-las com a nossa cara. Ex:. Viagem Atípica ( do Fernando Motolese ) está no primeiro álbum e Nada Por Acaso ( do Danilo Galvão) será do segundo álbum.

Rock On Stage: Em tempos de download ilegal, a galera não está se interessando muito pelos cd´s, os fãs estão mais ligados nas mídias sociais e outras plataformas de execução das músicas como o Spotify e outros, enfim, como vocês lidam com todo esse novo leque tecnológico, que abre portas para o bem e outras nem tanto.
Daniel Ayrosa Galvão:
Nós disponibilizamos todas as nossas músicas no Soundcloud para download gratuito. Não temos a pretensão de conseguir dinheiro com a venda de disco, e sim conquistar um público maior, por isso, disponibilizamos em todas as plataformas que consideramos de grande alcance. O nosso primeiro álbum está no Spotify, iTunes, Deezer, etc... e o segundo ( álbum ), também irá para as mesmas.

    Mas, o ganho dessas vendas é ainda muito baixo e não é essa possibilidade de ganho que nos motiva, mas, o público que por ali circula. Queremos um empresário ( investidor ) que nos possibilite passos maiores, ou ainda, um produtor que nos coloque no circuito de shows... que nos “link” com alguma grande banda e possamos abrir os shows dos caras.

Rock On Stage: Como tem sido a recepção do cd pela imprensa e pelos fãs?
Daniel Ayrosa Galvão:
Estamos com um pouco mais de 2.000 seguidores no Spotify, o que é um número considerável para uma banda nacional ainda pouco conhecida. Então, vemos com bons olhos a aceitação desse primeiro disco pelo o público. Em relação a imprensa, é difícil avaliar... até por sermos uma banda independente, não fizemos uma grande divulgação do nosso primeiro trabalho.

    Estivemos com a Assessoria Márcia Stival por três meses e foi período muito legal. Participamos de alguns programas de Rádio, TV e Web, onde a avaliação destes foi bem positiva. Durante esse período, algumas rádios de outros estados, que não receberam nosso material, pediram que gravássemos suas vinhetas e tocaram nossas músicas durante a programação. Mas, mesmo assim, é muito difícil avaliar a recepção da imprensa.

Rock On Stage: Na capa do cd observamos uma certa confusão, a ideia é de mostrar como é a vida em uma metrópole?
Daniel Ayrosa Galvão:
A capa foi criada pelo o Vitor Rolim, baseada nas faixas do cd. Sim, tem o ponto da vida na metrópole, mas, não só em uma metrópole e sim no mundo. Vivemos em um caos total! Já parou para observar a vida que levamos?!

    As pessoas vivem em uma bolha do seu próprio cérebro... grande parte não sabe se relacionar consigo próprio, quiçá com os outros. Isso, somado a produção e consumo desenfreado, mais crise econômica, que é uma consequência dos fatores anteriores.... aquecimento global, fato que não é de hoje, mas parece coisa recente para muitos.... falta d'água ( e não estamos falando de São Paulo ).... blá, blá, blá.... BOOM! Hoje, vivemos um CAOS! Foi isso que tentamos representar na capa.

Rock On Stage: Vocês mesmos cuidaram das gravações, da mixagem e da masterização do cd, esse é um objetivo da banda, cuidar de todos os processos? E a experiência musical de cada um contribuiu para que vocês mesmos pudessem gerenciar estes processos?
Daniel Ayrosa Galvão:
Sim, mas, sempre em parceria com o engenheiro de som, pois, ninguém da banda é técnico o suficiente para “tirar o som da mesa”.

    Na segunda parte da pergunta posso dizer: Sim e não! Sim, pois é essencial a presença em todas as etapas para aquilo que está sendo mixado e masterizado não perca sua essência. Porém, a ideia de ficar 100% responsável pela produção do disco é perigosa, pois, não tendo um olhar de produtor ( um coringa ), que não está emocionalmente envolvido, podemos nos perder completamente e deixar o disco sem pé, nem cabeça.

    Então, o objetivo é, daqui para frente, sempre ter um produtor que nos oriente e dê a sua visão sobre aquilo que está sendo executado, para não ficarmos somente com as nossas opiniões.

Rock On Stage: As letras deste primeiro trabalho são um pouco introspectivas e narram situações do cotidiano, isso foi intencional?
Daniel Ayrosa Galvão:
Não! Mas sim! As composições veem das experiências, inspirações... inspirações vivenciadas, outras experiências nem tanto inspiradas... enfim.... tudo vira música na mão de um compositor; e quando demos conta, o disco havia tomado essa forma. Não paramos para planejar sobre o que falar em cada música, as canções foram chegando, fomos curtindo seus dizeres e melodias e tocamos/produzimos/gravamos.

Rock On Stage: Dentre todas as treze canções do cd, para vocês quais se destacam mais? Particularmente apreciei mais as faixas “Terapia”, “Desunião”, “Amigo Imaginário” e “A Noite”.
Daniel Ayrosa Galvão:
Acho que desse primeiro álbum, as “mais mais” são “Caminhos”, “Modernidade”, “Você Não Vai Acreditar” e “Sabia Viver Só”. Mas isso, considerando a participação do público nessas músicas durante os shows. Agora, se analisarmos o gosto de cada integrante, certamente teremos algumas variações, entretanto, inevitavelmente nos “encontraremos” em uma dessas quatro músicas!

Rock On Stage: Como estão os trabalhos para o segundo cd? Que direcionamento ele vai ter?
Daniel Ayrosa Galvão:
O segundo disco está inteiramente produzido e suas faixas disponíveis em nosso canal ( Youtube ) e no Soundcloud. Claro, ainda falta a mix final e masterização, isso está em produção. Subimos em nosso Canal e disponibilizamos no Soundcloud apenas a pré mix das faixas; pois, é suficiente para a geração do conteúdo e para os ouvidos mais atentos.

    O direcionamento?! Isso é difícil definir! Bom, acho que assim como no primeiro disco, não planejamos o rumo, as músicas foram chegando, fomos ouvindo.... enfim. Acho que continua introspectivo... talvez, até mais que o primeiro. Analisando tecnicamente, as músicas estão com mais pegada, com arranjos cheios de Break! Esse disco está com mais swing que o primeiro. Algumas pessoas até o categorizaram como um disco mais Pop. Mas nós discordamos! Mais comercial?! Talvez! Mas, não significa mais Pop!

Rock On Stage: Gene Simmons do KISS afirmou que o Rock está morto, que não veremos um novo Beatles ou Rolling Stones, o que vocês pensam desta afirmação?
Daniel Ayrosa Galvão:
Que não veremos um novo Beatles e/ou Rolling Stones?! Acho que ele está certíssimo, não há nem o que discutir nesse ponto! Que o Rock está morto?! Concordo em partes!

    Sim, realmente o estilo de vida Rock 'n'Roll, aquela coisa subversiva... a rebeldia declarada ( mas NÃO sem causa ), não se vê mais!  Agora, bandas boas continuaram aparecendo pós esses DOIS ÍCONES... e acredito que continuarão a surgir sempre. Por isso, nesse ponto, não concordo totalmente com a morte do Rock.

Rock On Stage: Quais os planos para o futuro?
Daniel Ayrosa Galvão:
Como dito anteriormente, queremos um empresário ( investidor ) que nos possibilite passos maiores ou um produtor que nos “link” com alguma banda renomada e esta, nos permita abrir seus shows. Além disso, continuamos trabalhando para produzir o terceiro disco, e ano que vem iniciaremos mais uma maratona de lançamentos quinzenais das faixas do terceiro álbum.

Rock On Stage: Muito obrigado pela entrevista, deixo o espaço livre para você e também para enviar uma mensagem aos leitores(as) do Rock On Stage e aos fãs da banda.
Daniel Ayrosa Galvão:
Muito obrigado pela oportunidade dessa entrevista e também pelas opiniões descritas na resenha do nosso primeiro disco ( confira aqui ) tornando possível aos leitores da Rock On Stage conhecer o nosso som!

    Aos fãs da banda, não temos palavras para agradecer a companhia/sugestões/elogios e críticas ( que sempre são bem vindas e bem vindos )! E fiquem ligados que dia 1º de dezembro, o segundo álbum será lançado nas principais plataformas digitais. Abraços!

Por Fernando R. R. Júnior
Novembro/2015

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