"YOU WANTED THE BEST, YOU GOT THE BEST!"
Parte 2 


     Os anos 80 começam "magrinhos" para a banda. Depois da saída do baterista original Peter Criss em janeiro e do lançamento do fraquíssimo "Unmasked" em maio de 80, a banda, agora com o poderosíssimo batera Eric "The Fox" Carr,  ( foto abaixo ) saí em turnê, que duraria de junho a novembro, quando Ace sugere à banda a gravação urgente de um novo disco de estúdio. Para isso eles chamam o produtor Bob Ezrin, que sugere a gravação de um álbum conceitual ( que andava na moda entre os grupos de Rock Progressivo, o que o KISS definitivamente nunca foi ). Gene e Paul gostaram da sugestão, vendo aí uma maneira de provarem à mídia musical que o KISS pode sim ser sofisticado e não somente uma banda adolescente pra sempre! Já Ace e Eric, torcem o nariz pra essa idéia esdrúxula, mas, fazer o quê?


    
Em julho de 1981 começam a gravar o disco "Music From the Elder"  ( trad."Música para os Mais Velhos" ), gentilmente chamado de "The Elder". Ace grava suas guitarras em seu estúdio no porão de sua casa, enquanto o restante da banda vai gravar no Canadá. O disco é baseado na história do Bem contra o Mal, tem letras legais escritas em sua maioria pela banda mesmo, com colaborações do produtor Ezrin, do baterista Anton Fig e até mesmo de Lou Reed, conhecido poeta-urbano e ex-vocalista do Velvet Underground. Na capa, que pela primeira vez não traz a banda, e sim, uma mão batendo em uma porta ( dizem que esta mão é de Paul Stanley ). A fórmula não deu certo, a crítica falou bem, mas os fãs... ah, os fãs odiaram do fundo de suas almas, relegando o KISS ao total desprezo por parte dos ardorosos fãs das guitarras ensandecidas que o KISS sempre trouxe...( hoje em dia, muitos destes mesmos fãs adoram o disco, mas é um processo natural de amadurecimento né?  ).

    "The Elder" foi o primeiro disco da banda a não ganhar disco de ouro, deixando a moral da banda em frangalhos, nem turnê de divulgação ouve, somente algumas aparições na TV e, pasmem, sem Ace Frehley, somente como um  trio, estranho! Mais do que imediatamente caíram na real e começaram a gravar um  disco verdadeiramente pesado, só que, em maio de 82 a gravadora européia desiste de trabalhar "The Elder", um fracasso sem precedentes e resolvem lançar uma coletânea com 4  inéditas, "Killers" é a coletânea em questão, um  belo apanhado de sons que não foi lançado nos EUA, mas no resto do mundo sim, inclusive no Brasil. Este disco traz a banda de cabelos mais curtos na capa, com o logotipo alterado, os "SS" não estão em forma de raio como sempre e sim, com um "Z" invertido, isso tudo porquê, a banda foi acusada erroneamente ( de novo ), nos anos 70 de serem simpatizantes do nazismo por causa da " SS Nazista ", mas, absurdos como esse sempre perseguiram o KISS. Raciocine, como uma banda que tem um judeu legítimo ( Gene Simmons ) que viveu na pele os horrores da guerra "Hitleriana" na linha de frente e um descendente  de judeus ( Paul Stanley ) poderiam simpatizar com tal atrocidade?

      Mas, continuemos, em julho deste ano a banda está gravando um discásso, mas Ace Frehley não aparece devido a inúmeros problemas familiares e  com álcool e drogas vividos por ele, sendo assim as guitarras do disco são gravadas por um carinha de nome Vincent Cusano ( nascido em Bridgeport, Connecticut em 06 de agosto de 1952 ), que já tinha tocado com Dan Hartman e também Bob Kulick que, de novo, entra na vida do KISS! E em 13 de outubro deste ano, o KISS estava de volta às lojas, às revistas, ao mundo do Heavy Metal com o belíssimo e único "Creatures of the Night", o melhor álbum deles desde 1977, ou seja, 5 anos! Esse play trás uma bateria altíssima e pesadona, a primeira contribuição verdadeira de Eric Carr ao KISS, ( foi considerada a bateria mais pesada da época! ), trazia também uma capa ótima, soturna, enigmática com os 4, Gene, Paul, Ace ( sim, ainda na capa por lances contratuais ) e Eric com olhares hipnóticos, e o som? 

   
     
 

    Clássicos mortais e definitivos como a faixa título, que trazia um Paul Stanley nunca antes conhecido gritando horrores no vocal, "War Machine", pesadona e arrastada, "Rock And Roll Hell", "Keep Me Coming", a baladona desesperada "I Still Love You" com uma bateria muuuuuuuito pesada e o hino "I Love It Loud", clássico imortal do KISS na América Latina! O clipe de "I Love it Loud" hipnotizava a todos nós, rodava o tempo todo nas TV's através do globo, mas nos EUA o KISS tava devagar, o que os trouxe ao hemisfério sul.  

    Em 83 o Brasil finalmente veria o KISS ao vivo, depois de Alice Cooper ( 73 - nota da edição: no meio da ditadura ), Queen (81) e Van Halen (82) agora o KISS viria colocar o Brasil de vez na rota dos grandes espetáculos! Já com Vincent Cusano, ops...agora ele era Vínnie Víncent ( com a maquiagem da cruz Ansata, símbolo egípcio da nova vida - foto ao lado ) no rosto, o KISS toca no Brasil pela primeira vez em três shows: Rio, Belo Horizonte e São Paulo.    

    O último show com maquiagem é em São Paulo dia 25 de junho e o maior da história da banda rolaria no Rio, no Maracanã com um público estimado de 180.000 pagantes ( não existe uma fonte que dê com precisão esses números,mas o que importa é que o Brasil está gravado na KISS-tória como o  país onde eles fizeram os 3 últimos shows com make-up e onde tem o maior público, isso ninguém pode contestar ).

     O palco dessa turnê tinha um tanque de guerra de verdade no palco que servia de base para a bateria de Eric Carr e de onde saíam vários tiros de fogos de artifício! Uma emissora de TV brasileira fez uma cobertura pífia e sensacionalista ( seria ela uma tal de "Vênus Platinada" sabe de quem  estou falando? ), entrevistando criaturas dantescas de QI abaixo do normal  para descreverem tais acontecimentos em Sampa e no Rio...Umas legiões de evangélicos patéticas criaram várias lendas sobre o KISS como o nome, seria uma abreviação para "Knights In Satan Service", eles também cometiam rituais satânicos sacrificando animais no palco e jogando suas vísceras para o público que assim estavam cedendo suas almas "ao Tinhoso", uns papos de que a banda esmagava pintinhos em determinados momentos do show com suas enormes botas e jogavam tijolos de maconha ao público através do tanque de guerra ( isso também dizem do AC/DC e seus canhões ), chegou aos ouvidos da banda que logo se prontificou a esclarecer tudo em suas entrevistas coletivas, mas de nada adiantou! As igrejas das cidades onde a banda tocaria se reuniram e foram ao encontro dos fãs nas portas dos estádios, alguns eram agarrados pelos evangélicos que faziam de tudo para não deixar ninguém entrar, o que era em vão. 

    Em Belo Horizonte um tal pastor foi até o governador do estado pedir o cancelamento do show, mas, o governador da época, o ( futuro presidente assassinado ) Tancredo Neves os ignorou! Como não poderia ser diferente, o nosso país foi envergonhado pelos nossos governantes perante uma banda gringa, o lance foi o seguinte: quase todo o equipamento e parte do palco do KISS ficou preso na alfândega brasileira por alguns meses ( sim, meses caro leitor ) por pura "burrocracia" vigente. Lamentável!

      De volta aos States, o KISS gravou um novo disco rapidinho e, depois de 10 anos tirou as maquiagens diante das câmeras da MTV no dia 18 de setembro de 1983 lançando o disco "Lick It Up" onde eles apareceram de "cara lavada" e roupas normais numa capa simples e branca que trazia uma foto normal do grupo e o logotipo bem pequenininho no canto direito. Esse disco vendeu sim muito bem, chegando a disco de platina, era isso que eles queriam, criar polêmica e trazer novidade aos fãs depois de 10 anos com uma fórmula que se mostrava desgastada a tempos...Discão esse, trouxe hits como "Lick It Up", com um clipe hilário, "All Hells Breakin'Lose" com mais um clipe impagável, heavys poderosíssimos e rápidos feito 'uma navalhada na cara', tipo "Gimme Moore", "Young And Wasted" e "Fits Like a Glove" e uma faixa que fechava o play com a letra definitiva, "And on the 8th Day", onde Gene dizia que "No oitavo dia, Deus criou o ROCK AND ROLL"! 


     
O resto da década só trouxe mesmo mudanças no line-up que mudava mais uma vez de guitarrista em 17 de março de 84, onde Vínnie Vincent chegou a desrespeitar toda a banda em palco, num solo de mais de 7 minutos, ao invés dos 4 previstos, rolou treta feia entre ele e Paul que o "chutou" ( como ele mesmo gosta de definir ) da banda e chamou um guitarrista velocíssimo, músico de Jazz conceituado, Mark Norton ( nascido em 07 de fevereiro de 1956 em Anaheim, Califórnia ) que grava o disco "Animalize" com o nome de Mark St.John, disco esse que é lançado em 13 de setembro e conquista ouro e platina trazendo em si os hits "Heaven's on Fire" ( até hoje executado ao vivo com grande êxito ) e Thrills in the Night".

    " Mark St.John só realizou 2 shows com a banda, logo que ele contraiu uma  doença degenerativa nos tendões das mãos chamado de "Síndrome de Reiter" que fazia suas mãos 'parecerem 2 balões', como Gene Simmons disse em uma entrevista.


Gene Simons e Bruce Kulick

    Logo para seu lugar foi chamado o guitarrista Bruce Kulick ( irmão de Bob Kulick, lembra-se? ) que já conhecia Paul superficialmente. Bruce nasceu com esse mesmo nome em 12 de dezembro de 1953 no Brooklin/NY e já tinha tocado em bandas sem expressão alguma como Black Jack, Good Rats e Billy Squire. Seu primeiro disco com o KISS foi o "da fase poser", "Asylum" ( certa vez em 99, depois de sua saída do KISS, Bruce foi perguntado por uma extinta revista brasileira se existia alguma passagem da qual se arrependia com o KISS, ele disse que só se arrependia das roupas que usava nesta fase...). Mais um disco inexpressivo só para fãs como eu, hehehe... Vale lembrar que a banda estava à mercê do Paul Stanley, pois Gene agora só queria saber de cinema, atuando em filmes patéticos e deixando o KISS de lado, que, se não fosse os esforços de Stanley, teria acabado.

    Se você assistir o vídeo da turnê do "Animalize", "Animalize Live Uncensored" poderá notar que o cabelo do Gene estava meio esquisito, tipo uma peruca, pois era uma peruca ( foto ao lado ), ele tinha cortado o cabelo para atuar em um filminho cretino. 

     Em 86 lançaram seu primeiro home-video, na era do vídeo cassete e MTV eram obrigatórios! "X-Posed" tem uma história besta, mas um acervo legal de vídeos promocionais. Vale a pena ser visto sim. 1987 é o ano que a banda lança seu disco mais fraquinho..."Crazy Nights" que teve uma baladinha chamada "Reason to Live" e um home-vídeo que trazia 3 clipes... Você é fã-nático pelo KISS, vai adorar, ah...você não é, ouça o disco, talvez goste. Não é de todo mal, eu gosto, muitos gostam também, ele atinge ouro  rapidamente, esse ano de 87 marca a época em que o catálogo do KISS chegava a 70 milhões de discos vendidos em todo mundo, fora os bootlegs...

      

             Em abril de 88 a  banda volta ao Japão, depois de 10 anos sem ir pra lá, tocam em 2 clubes  pequenos .. coisa que não faziam a muuuuito tempo, algo de errado tava rolando com a popularidade deles que em 20 de agosto tocaram no "Monsters of Rock" em Castle Donnington/Inglaterra, ao lado de bandas que estavam no auge, como o novato Guns and Roses, o ex-vocalista do Van Halen, David Lee Roth, que estava em plena forma, o pequeno, mas expressivo Queensryche e o estourado Bon JoviI, mas o KISS estava abrindo o show de uma banda que abriu seus shows em 81, era o Iron Maiden!!!! Foi nesse ano que morreram algumas pessoas esmagadas contra a grade de proteção...o que ocasionou o cancelamento do festival no ano seguinte. Sairia também uma coletânea de regravações, coisa vergonhosa, com bateria eletrônica, regravaram clássicos como "Rock And Roll All Nite" e "I Love it Loud", a novidade ficou por conta de 2 sonzáços inéditos, "You Make me Rock Hard" e a sexista "Let's Put the 'X' in Sex" ( que tem o clipe mais absurdo, positivamente falando, da banda ) e uma polêmica versão de "Beth" na voz de Eric Carr, que até ficou legal, mas desencadeou uma treta feia entre a banda e Peter Criss.

     Chega de decadência...a banda sacode a poeira e lança o melhor disco do KISS desde 82, "Hot in the Shade" sai em 17 de outubro de 1989 trazendo a banda de volta ao peso, roupas pretas de couro, óculos escuros e Gene de volta ao Rock And Roll ( em suas palavras: "...passei os anos 80 perdido, parecia um travestí ou algo assim. De repente me vestia como as garotas que eu comia..." risos ). Todos os sons valem a pena, é Hard Rock Puro: "Rise to it", "Betrayed", o clássico "Hide Your Heart", "Cadillac Dreams", "Street Giveth...", "Boomerang", Eric Carr aparece cantando em "Little Caesar" e o hit "Forever" que estrelou numa trilha de novela 'Global' no Brasil. 

     Mas, nem tudo são flores, em 1991 a banda entra em estúdio para gravar mais um belo disco, empolgados pela extensa turnê de 130 shows que acabavam de fazer, mas logo no começo as gravações são interrompidas, pois o baterista Eric Carr sentia fortes dores no peito. Em 09 de abril foi detectado um tumor maligno no coração dele. Eric chegou a se esforçar para gravar o disco, mas o produtor Bob Ezrin, de comum acordo com a banda e a família de Eric resolveu afastá-lo das gravações, seu último trabalho junto ao KISS, foi a gravação dos backing-vocals para a faixa "God Gave Rock And Roll to You II" e o clipe para este mesmo som ( versão de um som da banda Argent), gravado para a trilha sonora do filme "Bill & Ted Bogus Journey", no Brasil "Dois Malucos no Tempo". Para seu lugar, Paul Stanley trouxe o baterista que o acompanhou em alguns shows solos que realizou em 88, seu nome, Eric Mensinger ( nascido em Cleveland, em 2 de maio de 1958), Eric Singer ( seu nome artístico ) já tinha tocado com Lita Ford, Alice Cooper, Gary Moore, Badlands, Black Sabbath entre outros. Em 24 de novembro de 1991 vem a bomba que quase acabou com tudo! Eric Carr estava morto, justamente no mesmo dia que a voz do Queen foi calada pela Aids, Freddie Mercury morria no mesmo dia, ofuscando a perda de Eric na mídia mundial. Visite o site oficial de Eric Carr  ( foto abaixo ) e veja do que ele era capaz ( www.ericcarr.com  ) !!!!  

Por Alexandre Wild Shark
 

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