A História do Rush

 

Primeira Fase    

    Quem não reconhecer no Rush um trio de excelentes instrumentistas e compositores também não será capaz de distinguir entre um instrumento musical e um cabo de enxada. Com quase 30 anos de carreira, esses canadenses mostram que tocar bem é uma arte - para poucos - que eles exercem com extremo bom gosto, inteligência e maestria.

   A  primeira formação acontece em 1969. Eles brindaram o rock com muitos álbuns, porém, não produziram apenas álbuns de hard-rock, mas verdadeiras obras primas, que chegaram a fazer com que a banda fosse caracterizada por muitos como rock progressivo.

      
     Essa formação contava com o baixista e vocalista Geddy Lee ( Gary Lee Weinrib nascido no dia 29/07/1953 em Toronto - Canadá ), o guitarrista Alex Lifeson ( Alex Zivojinovich nascido no dia 27/08/1953 em Surnie - Canadá ) e o baterista John Rutsey, companheiros de escola. Esta formação tocava covers de bandas de hard rock como Led Zeppelin e Cream no circuito de clubes de Toronto. O nome Rush foi sugerido pelo irmão do baterista John Rutsey.    

      Com a turma reunida em 1969, o trio, formado em Sarnie, Ontário ( Canadá ) tentou conseguir uma gravadora. Isso só foi possível em 1973, e já em 1974 estava pronto o álbum de estréia Rush pelo selo independente do grupo, o Moon Records. A repercussão do primeiro álbum independente nas rádios americanas chamou a atenção da gravadora Mercury. Seguiu-se o relançamento do primeiro álbum e turnês por toda a América como banda de abertura para o Kiss e o Uriah Heep.
   
     Logo após a gravação do primeiro álbum o baterista John Rutsey saiu da banda ( alegando diferenças musicais e possíveis problemas de saúde ) e em seu lugar acontece a única mudança na formação do Rush até hoje. É a hora e vez do inigualável Neil Peart ( nascido no dia 12/09/1952 em Hamilton - Canadá ) assumir a bateria e mudar de vez o som do Rush.
 
       Neil Peart é para os mais crédulos, uma genuína " intervenção " divina sobre o mundo dos humanos. A verdade é que a classe internacional dos bateristas saúda até hoje o responsável pela feliz substituição. A troca conferiu ao Rush um som ainda mais peculiar. Além disso, a excelente dupla Lee/Lifeson ganhou não só um gênio dos tambores, pratos e percussão mas também um letrista excepcional e suas letras casavam perfeitamente com as composições dos outros dois.
       
        Em 1975, saí o segundo disco Fly By Night, que chega rapidamente as 100 mil cópias vendidas no Canadá. Com Fly By Night a banda finalmente começou a definir o estilo que a acompanharia, afastando-se do hard-rock-blues zepelliniano e passando a fletar com o progressivo em arranjos e principalmente letras mais complexas.  

   A banda chegaria ainda mais próxima do progressivo a partir do terceiro álbum, Caress of Steel (1975), conceitual. Com músicas divididas em partes, sendo que a faixa The Fountain of Lamneth subdividida em partes ocupa todo um lado da "bolachona" além de petardos como Bastile Day. Também vendeu no Canadá 100 mil cópias. 

        Então saí em 1976 o álbum 2112  ( também conceitual ), no qual composições de Peart são baseadas na obra Anthem  da romancista Ayn Rand considerada pelo patrulhamento ideológico como uma escritora "de direita" resultado: a banda foi acusada de Neofacista!!!

     Esse disco  tornou a banda mundialmente conhecida, 2112, mostra ainda um grande salto da banda no quesito letras, com o conceito mais bem explorado até então ( abordando o domínio do sistema sobre uma pessoa ). Para a crítica, os desenhos pintados nos bumbos de Peart  ( um homem lutando contra uma estrela vermelha, esta associada ao símbolo do comunismo ) era mais uma prova da guinada à direita. Mas para os fãs, que é quem interessa, a analogia não passou de forçação de barra.
    
      Para fechar a primeira fase do grupo, saí ainda em 1976, o álbum All The World's Stage o primeiro ao vivo da banda. Neste disco além de músicas sensacionais dos quatro primeiros álbuns podemos observar uma das marcas registradas do Rush: o solo de bateria de Neil Peart!!! Tendo tudo o que um power trio de hard rock pode oferecer. Desde essa época já era interessante notar ... a perfeição destes três ao vivo.

Segunda Fase

     
    Em 1977 tem o lançamento de A Farewell to Kings, considerado como um disco de transição. Comum em outras passagens - A Farewell guarda elementos de hard rock, mas dá sinais claros que muita elaboração e virtuosismo viriam pela frente. A entrada dos teclados é definitiva. E Mr. Lee comandaria os  teclados desde então tornando-os parte obrigatória do som. É a chegada do rock progressivo. 

    1978 ano de lançamento de Hemispheres, considerado por muitos seu melhor e último grande trabalho conceitual. A faixa-título ocupa todo um lado do vinil dividida em subpartes típico do rock progressivo e a letra altamente elaborada sobre ficção científica. Neste álbum tem também The Trees e a clássica instrumental La Villa Strangiato.
     

     Em 1980 saí o disco Permament Waves com forte pegada progressiva, mas com a onda que imperava no mercado da época com forte caça as bandas progressivas ( Yes, Genesis, Pink Floyd ) feita pelos punks. O Rush simplifica o som porém sem perder qualidade, ou seja, não teremos mais grandes músicas utilizando todo um lado do vinil. Neste disco Neil Peart,  já é o letrista oficial e começa a largar os temas siderais e escreve mais sobre a realidade terrestre. 

       Moving Pictures, lançando em 1981 é o disco, talvez mais conhecido no Brasil por causa de Tom Sawyer música tema do seriado de TV Profissão Perigo - aquele do McGiver ( quem tiver mais de 25 anos tenho certeza que já assistiu ). Mas este discaço tinha muitas outras músicas clássicas com ele : Limelight, The Camera Eye, Red Barchetta, enfim, este é um excelente trabalho.

   A turnê de Moving Pictures rende o próximo álbum ao vivo Exit... Stage Left, que saí em 1981 com a capa fazendo referência a todos os outros discos anteriores e com a tradicional perfeição sonora vista na banda. Detalhe não parece que é um disco ao vivo.

   
    Vale lembrar ainda nesta segunda fase que a habilidade entre os três atinge o impensável, o maior salto qualitativo em termos de domínio do instrumento. Os arpejos - palhetadas que tocam corda por corda - ou dedilhados dos violões de Lifeson conferem um ar medieval às composições. As letras de Peart tratam de mitologia, viagens interplanetárias, federações estrelares, etc. Lifeson nesta segunda fase pesquisa os primeiros acordes com guitarras sintetizadas. Entram em cena o ataque inconfundível de uma Fender Stratocaster e o som exótico das doze cordas de sua  Gibson Double Neck. Uma Howard Roberts, também Gibson, acústica e mais comum entre jazzistas garante o timbre mais intimista. Lifeson busca outras partes do braço direito da guitarra para digitar suas pentatônicas e várias outras escalas.
   
    Lee se torna demoníaco. Consagra-se como multiinstrumentista. Toca baixo como poucos, canta letras longas complicadíssimas ( mesmo sem estrofes ) e de quebra maneja com os pés um teclado. E o que é pior ( para ele, que para nós fãs é maravilhoso ) : tudo ao mesmo tempo!!
   
    Para ver tudo isso veja o vídeo do show Exit... Stage Left. Lee canta, mexe os dedos e pés com o olhar no horizonte, sem pôr os olhos nas cordas ou na pedaleira. É de causar inveja. Bestial seria o adjetivo mais próximo para definir tudo isso.

Terceira Fase

     Signals de 1982 marca mais um disco de transição do Rush. Agora chega a tecnologia dos seqüenciadores e dos samplers. O grupo mostra-se não só progressivo mas também progressista, atento à evolução eletrônica da música. Os teclados tomam conta, jogando muitas vezes a guitarra de Lifeson para o segundo plano.  O trio estanca o virtuosismo em busca de novas relações com seus instrumentos. As composições ficam mais curtas. Lifeson alterna pequenos riffs e largas palhetadas em acordes sustentados pelos efeito de seus inumeráveis pedais. 

    Troca solos longos pôr intervenções mais curtas. Mesmo assim é no  Signals  que está um dos seus solos preferidos, o de Chemistry . Assume definitivamente os arpejos como base de sustentação para Lee. Nos anos 80, a sobriedade se sobrepõe ao virtuosismo. E a lição vale para os três. 

   Este disco emplaca New World Man que é o hit do disco e chega nas 20 mais da parada americana.

    Grace Under Pressure é o disco de 1983 e a eletrônica cada vez mais presente na banda e vai apagando um pouco o trabalho de Alex Lifeson e Neil Peart, mas não deixa de ser um excelente disco, porém diferente como todos os discos do Rush.

   Power Windows é lançado em 1985,  mostrando nesta época não havia descanso para o Rush e apesar do forte domínio dos teclados e bateria com nuances eletrônica tem canções fortes com The Big Money e Manhattan Project esta com a letra sobre a bomba atômica lançada no Japão.

     Hold Your Fire mais um discaço que foi lançado em 1987 e apresenta o hit "Time Stand Still". Na introdução de Lock and Key Neil Peart dá uma amostra do que é capaz de fazer com a bateria. 

     Pode-se dizer que A Show of Hands o terceiro álbum ao vivo da banda lançado em 1989 encerra a terceira fase que foi marcada por arranjos mais simples e muito mais tecnológicos, chegando até a ter agradecimentos para a NASA  ( leia o encarte de Signals ) !!! Falando de A Show of Hands, mais excelente álbum ao vivo que tem no início a música tema dos seriado antigo de TV dos Três Patetas e que se torna uma marca do Rush. Outro ponto forte é o solo de baixo de Geddy Lee em Closer To The Heart.

 
   O vídeo de A Show of Hands tem em torno de 90 minutos, com 14 faixas e o laser, a iluminação e a animação são um espetáculo à parte. Vale ver.

Quarta Fase

      Também em 1989, em dezembro chega às lojas Presto,  que marca a transição para a quarta fase do Rush, mas não foi um grande salto como foram A Farewell to Kings e Signals. As letras voltam a temas mais humanísticos, como em Permanent Waves e Signals. É mais roqueiro e incorpora  novos elementos já presentes em Power Windows e Hold Your Fire. Segundo Lifeson, em entrevista concedida a Music Express, " Presto é a volta ao rock mais básico ". Segundo ele, o Rush deve ter recuperado agora alguns fãs perdidos durante a fase mais eletrônica.   


          1991 chega a hora de Roll The Bones que traz o Rush para o 14o lugar das paradas americanas. Também com Dreamline, Bravado e Roll The Bones em seqüência!!! As letras continuam mais humanas e emocionais. Tem espaço para o hard rock e para as tecnologias. Este álbum mostra o Rush para uma nova geração de fãs e desta vez até a crítica rasgou elogios para a banda. E bandas como Primus e Faith No More citam o Rush como influência.
         
        Counterparts
lançado em 1993 outro grande disco, porém, sem a grande repercussão alcançada com Roll The Bones, traz a banda com um peso de guitarras não visto desde a época de Moving Pictures, ou seja Alex Lifeson está de volta. E com faixas que nos anima ao ouvi-las como é o caso de Alien Shore.

        Mais alguns anos de descanso e turnês e chega o álbum Test for Echo de 1996, um disco bastante aplaudido pela crítica e público. A guitarra de Alex Lifeson continua com forte presença, a percussão de Neil Peart aparece com  a perfeição tradicional e Geddy Lee com os vocais eficientes. Quem some um pouco são os sintetizadores. Veja o solo introdutório de Driven para entender o que estou falando, e preste atenção no baixo também. Outro ponto forte deste álbum é Resist, uma canção maravilhosa. Deste disco vale notar que existem viradas de pesado para suave em questão de alguns segundos, é, só o Rush faz isso.

       Em 1998 chega a hora do quarto disco ao vivo do Rush o excelente Different Stages, um álbum triplo dividido da seguinte forma: dois cds das turnês de Counterparts e Test for Echo, e outro de um show no Hammersmith Odeon em Londres  de 1978, no encarte do disco uma menção às perdas Neil Peart, de sua filha em acidente de carro e meses depois sua mulher para o câncer. Falando de Different Stages nos dois primeiros cd's só sabe-se que é um disco ao vivo pelos "Thank You" e as palmas da platéia porque a perfeição é tanta que nem se percebe que está ao vivo. 2112, Limelight, The Trees, The Spirit of The Radio, Roll The Bones  ao vivo são fantásticas, apenas para citar algumas faixas.  No terceiro cd além de faixas como Xanadu, Cyguns X -1, tem uma seqüência de  tirar o fôlego e passa sem pausa para palmas, que começa com Working Man, Fly By Night e fecha com In The Mood.

 

Quinta Fase???

 

     Com as perdas de Neil Peart, surgiram boatos que o Rush iria acabar, eles ficam longe dos palcos e das gravadoras por um longo período que só foi quebrado em fins de 2001 quando voltaram para estúdio e começaram os trabalhos para um novo disco. Durante esse período, Neil Peart vagou por mais de um ano, com sua moto BMW pelo Canadá e Estados Unidos. Essas viagens renderam um livro e ajudaram em muito para a temática do novo disco lançado em maio de 2002.       
   

    Vapor Trails é o nome do mais recente trabalho do Rush, e como não poderia deixar de ser é mais um clássico,  mostra que mesmo parado por alguns  anos eles não perderam o virtuosismo presente nos anos anteriores de banda. Ghost Rider uma das faixas de Vapor Trails foi inspirada nas andanças de de Neil Peart  pelos E.U.A. e Canadá

       E é claro Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart vão continuar a ser o Rush por muito mais tempo para a nossa alegria e felicidade, pelo menos é o sonho de nós meros mortais que os deuses continuem a gravar mais discos para a nossa alegria e voltem a excursionar e passem novamente no Brasil.

Por Fernando Júnior

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