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Os cutucões
que os governos de Brasil e Canadá vêm trocando desde o
fim do ano 2000, a partir de conflitos de interesses
comerciais nas áreas de aviação, carne e produtos
agrícolas, podem estar chegando ao fim. Pelo menos é o
que garantiu, com bom humor, o guitarrista Alex
Lifeson,
do grupo Rush. “ Estamos aqui para tornar tudo melhor.
Vamos construir aviões a partir de carne e resolver essa
parada ”, brincou o músico, ontem, em entrevista coletiva
no Hotel Sheraton, em São Paulo.
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O trio que Lifeson
integra com o baixista e cantor Geddy Lee e o baterista
Neil Peart começa hoje, no estádio Olímpico, em Porto
Alegre, uma histórica turnê sonhada e esperada pelos fãs
nacionais há mais de duas décadas. “Foram ao todo dez
anos de negociações”, contabilizou José Muniz
Neto,
da
Corporación Interamericana de Entrenimiento ( CIE
),
produtora que viabilizou o projeto, na série Kaiser
Music. “ É uma arte negociar com esse dólar louco do
jeito que está ”, completou Júlio Pedro, diretor de marketing da cervejaria que patrocina os shows no
Olímpico, no Morumbi ( sexta-feira ) e no
Maracanã ( sábado
). Sobre as protestos e preocupações de
dirigentes esportivos em relação ao estado do gramado
carioca para o jogo de domingo entre Fluminense e São
Caetano, Alex Lifeson gozou: “Tudo bem, podemos fazer o
jogo e o show ao mesmo tempo”.
A
descontração demonstrada pelo guitarrista e por Geddy
Lee no encontro com a imprensa pode ser surpresa para
quem conhece superficialmente o trabalho do Rush,
marcado pela sobriedade em temas e postura. Mas o trio,
acostumado a entrar em palco ao som do tema do seriado
Os Três Patetas, sempre se mostrou mais rico e
contraditório do que os preconceitos reducionistas da
porção da crítica que o persegue desde os anos 80. Leia
abaixo os trechos mais interessantes da entrevista e se
prepare para o show, que vai ter três horas de duração e
uma música especialmente (re)incluída no roteiro:
"Closer to the Heart".
Por que
vocês demoraram tanto para vir ao Brasil? Geddy
Lee: Não fomos muito espertos. Não sabíamos que tínhamos
tantos fãs no Brasil. E não somos muito de excursionar
mesmo, a última vez que tínhamos tocado na Europa foi há
dez anos. Achamos mais importante levar uma vida normal,
ficar com a família, do que estar na
estrada.
Por que
os shows duram três horas? Alex
Lifeson: Porque
temos muitos discos. Nosso show não tem banda de
abertura, é baseado só em nós mesmos. E, pensando nos
fãs, tentamos cobrir o máximo do que já
lançamos.
Onde
está Neil Peart? Geddy: Depois do que passou nos
últimos seis anos ( perdeu a filha em um acidente de
carro e, meses depois, a mulher, vítima de um câncer ),
Neil não se sente confortável para responder sobre fatos
de sua vida pessoal em ocasiões como
esta.
Alex: Mas
nós dois somos muito mais interessantes
[risos]
Vocês
prepararam alguma surpresa para os shows no
Brasil? Geddy: O set list é o mesmo, mas
colocamos uma música especial para o
Brasil.
Qual? Geddy: “Closer to the
Heart”.
Alex:
Tínhamos decidido não tocar mais essa música, faz 47
anos que a gente a toca... Mas em consideração aos
fãs...
Em que
disco se deu a ruptura com o estilo que vocês tinham nos
anos 70 e o que vocês adotaram a partir dos anos 80: Power Windows (de 1985) ou
Signals
(de 1982)? Geddy: Ninguém sabia, especialmente nós
mesmos, que iríamos ter uma carreira tão longa. Acho que
Moving Pictures (1981 ) marca o fim de um período.
E Signals foi realmente o disco que mudou a
arquitetura básica da banda. Power Windows foi
outro passo, é a conclusão dos experimentos que já
vínhamos fazendo em busca de um novo
som.
É
verdade que a banda não tinha vindo antes porque os
produtores não ofereciam as condições técnicas que o
padrão de qualidade sonoro dos shows do Rush
exige? Alex: Não, isso não é
verdade.
Como foi
a trajetória do Rush até desenvolver seu estilo, que é
tão único? Geddy: Quando começamos, tentávamos
imitar o blues inglês de John Mayall, Cream e
Jeff Beck.
Depois veio o Led Zeppelin e tudo ficou mais pesado e
mais alto. Depois ficamos fascinados pelo progressivo
britânico: Yes, Genesis, Van der Graaf
Generator. A
partir daí, dessas bases, achamos o nosso estilo. E o
processo nunca pára, na verdade. Até hoje, o Alex ouve
muita coisa nova, da linha de frente do rock. Eu também,
escuto coisas contemporâneas do Radiohead e digo “uau,
que brilhante!”.
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