Deep Purple - Live in London - 2002
CD Duplo - 16 Faixas - Shinigami Records/Ear Music/Sound City Records - 2021

    O segundo álbum da The Soundboard Series - que chegou às minhas mãos - da icônica lenda do Hard Rock e Heavy Metal mundial conhecida como Deep Purple é o Live In London 2002, sendo que estes discos que anteriormente só eram encontrados em raras edições de fã clubes e ainda assim limitadas, estão disponíveis agora para os colecionadores também no Brasil, graças ao resgate feito pela Shinigami Records em parceria com a EarMusic e a SoundCity Records.

    Assim como o Deep Purple - Live In Wollongong - 2001 ( leia resenha ), sua capa tem apenas o nome da banda, a formação e o local do show, que foi o respeitado Hammesmith Apollo em Londres na Inglaterra em um espetáculo realizado no dia 22 de fevereiro de 2002. E este show inédito para a grande maioria dos fãs marca também o último feito pelo saudoso Jon Lord ao lado de Ian Gillan, Roger Glover, Ian Paice e Steve Morse, que deixou a banda ainda nesta noite. O set list destes dois cd's é semelhante ao outro disco, afinal, o Deep Purple encontrava-se na turnê do cd Abandon.

    Este Deep Purple - Live In London 2002 teve o seu áudio original remasterizado em abril de 2021 e possui a capacidade de nos fazer viajar ao passado para 19 anos atrás e nos fazer sentir como um dos muitos espectadores desta singular noite no Hammersmith Apollo. Assim sendo, caro leitor(a) do Rock On Stage... vamos juntos para o show.

    Woman From Tokyo também ficou como a canção responsável pela abertura e seu contagiante ritmo que conhecemos desde que 'debutou' no álbum Who Do We Think We Are de 1973 é apresentada em uma versão como sempre marcante deste clássico, que contém linhas de teclados relativamente leves na parte do meio da música nos impactando positivamente na cortesia do mestre Jon Lord.

    Durante os agradecimentos, cumprimentos e palmas iniciais percebe-se que Ian Gillan está um bastante rouco ( por culpa de um vírus de gripe, que acometeu toda a banda e embora os outros estivessem sentido os efeitos, quem tem a voz como instrumento era ele.. e aí... já viu... ), porém, isso não impediu de disparar a graciosa Ted The Mechanic ( do Purpendicular de 1996 ) com seu andamento pulsante, que abre espaço para os solos fervorosos de Steve Morse e depois de Jon Lord nos conquistarem, aliás, eles foram estendidos, característica mantida na maioria das músicas para ajudar Ian Gillan. Durante a introdução da seguinte notamos de vez a rouquidão de Ian Gillan, apesar disso, podemos reparar também a determinação que ele canta a vibrante Mary Long, que foi gravada no Who Do We Think We Are e nesta noite como é o padrão do Deep Purple, os seus improvisos são garantidos nos "diálogos" de Steve Morse na sua guitarra com Jon Lord nos seus teclados sendo devidamente amparados pelo peso obtido por Ian Paice em sua bateria ( se curte o uso dos pratos, aqui é o momento ).

    Antes da magnífica Lazy ( registrada no Machine Head de 1972 ), Ian Gillan faz a plateia sorrir contando uma rápida história sobre ela e depois Jon Lord pratica a sua magia com suas evoluções nos teclados, que logo são acompanhados por Ian Paice na bateria e depois pelos demais destacando-se aí Steve Morse, que sola sua guitarra duelando com Jon Lord até que o 'constipado' Ian Gillan cante seus versos e sole sua gaita. E te pergunto caro leitor(a) do Rock On Stage... imagine ele 100%... pois, assim mesmo nesta condição, ele bradou alguns de seus berros tradicionais ( com menos potência é verdade, mas bradou ).   

    Em No One Came do Fireball de 1971, o baixista Roger Glover, que aparece e muito em todas as canções começa os toques mais opacos para que este Hard Rock denso, que marca a quinta do cd e do show com um set até aqui exatamente igual ao Live In Woolongong 2001 em que não é demais salientar os solos de Steve Morse e Jon Lord até quando chega a hora de uma nova sessão dos versos cantados por Ian Gillan, a música seja totalmente dominada por estes envolventes solos.

    Rapidamente e posteriormente aos agradecimentos aos muitos aplausos do público, o esforçado Ian Gillan informa que a seguinte é The Aviator, essa do Purpendicular em que nos colocam diante de um ritmo simplesmente fascinante e ambientado na sonoridade única alcançada com o Hammond de Jon Lord e na forma esbelta que o vocalista faz a sua atuação, bem como nos repiques militares exibidos pelos toques nos pratos de Ian Paice.

    Provocando risos em seu breve discurso, Ian Gillan avisa que a próxima é a exuberante instrumental The Well-Dressed Guitar ( composição que seria parte do Bananas, mas que só saiu no Raptures Of The Deep em 2005 e ainda assim na Special Tour Edition do disco ). E se alguém tinha alguma dúvida sobre o talento, a virtuose de Steve Morse e porque ele foi escolhido para o lugar de Ritchie Blackmore para a banda, esta música prova instantaneamente como a questão foi sanada. Na sequencia, Up The Wall ( que só apareceu na turnê e foi gravada como I Got Your Number no Bananas de 2003 ), que traz toda a conhecida ginga do quinteto com suas impactantes composições e que são dotadas de reluzentes melodias nos solos de guitarra que abrem o caminho para os longos solos de Jon Lord em seus teclados, sendo que estas duas músicas foram gratas surpresas do set list.

    Steve Morse envia pouco depois dedilhados e solos até que inesperados em uma Jam com os demais no palco antes de chegar no ritmo da conhecidíssima e repleta de adrenalina Black Night ( single lançado em junho de 1970 ), hino que não pode faltar nos shows do Deep Purple com toda a sua robustez e seus encantamentos, tais como expressos nos solos de Steve Morse e de Jon Lord, sustentados através da eletrizante base concedida por Ian Paice e por Roger Glover. Nesta noite no Hammersmith Apollo, Ian Gillan poupou sua voz e não bradou os seus costumeiros agudos quando o Deep Purple deixa a música fluir livremente em seus improvisos, todavia, fomos brindados com Steve Morse e sua usina de solos fazendo as partes de Ian Gillan em parceria com os fãs, que mesmo não sendo o estilo habitual também ficaram formidáveis, aliás, muito utilizado este duelo de guitarra e fãs nos shows dos anos seguintes, conforme presenciei algumas vezes.

    Feliz, o vocalista agradece aos aplausos e a lenta Fools entra em cena com suas linhas viajantes, psicodélicas e que pouco depois recebem sua carga à maneira que Ian Gillan canta seus versos culminando na parte mais viajante do show com Jon Lord conduzindo a viagem nos teclados até que a composição do álbum Fireball atinja o deleite meu, seu e de todos os presentes no Hammersmith Apollo. E isso, sem mencionar os solos feitos por Steve Morse que se completam na atuação de Jon Lord e claro, à excepcional cozinha de Ian Paice e Roger Glover, que seguram e orientam o ritmo da música até trazerem Ian Gillan para cantar seus versos finais constatando como o Deep Purple - mesmo em condições de saúde adversas - sabe ser insuperável.

    Na sequencia do set após esta épica versão de Fools e já no segundo cd temos Jon Lord's Key Solo em que o fantástico músico realiza seu solo ímpar e inigualável ( e pela última vez!!! ), que devemos apreciar de olhos fechados nos lembrando de quando vimos a banda ao vivo ( com ele nos teclados tive a honra de assistir o Deep Purple apenas uma única vez ) e sentir a conexão com a esplendorosa Perfect Strangers, canção que marcou a volta do Deep Purple em 1984 com sua formação clássica ( a Mark II ) e que desde então frequenta os sets da banda garantindo momentos sensacionais nas apresentações com este magistral clássico do Rock Mundial em que a atuação do quinteto diante de seus conterrâneos está estupenda. Comprove admirando com atenção aos solos feitos por Jon Lord e nos sons vigorosos de Ian Paice ao socar suas baquetas em sua bateria.

    O sempre animado Ian Gillan agradece as palmas e deixa Steve Morse brilhar com Steve Morse's Riff Parade em que o guitarrista demonstra sua habilidade ao tocar com precisão trechos de solos de canções como Won't Get Fooled Again do The Who, Sweet Home Alabama do Lynyrd Skynyrd, Voodoo Chile do Jimi Hendrix, Oh Well do Fleetwood Mac, Here Comes The Sun dos Beatles, Stairway To Heaven do Led Zeppelin e finalmente, já com os demais prontos, unem tudo isso à outro sucesso demasiadamente conhecido por todos... os solos de Smoke On The Water, clássico máximo do espetacular Machine Head de 1972, que foi exibido em mais uma apresentação de gala pelo Deep Purple com direito a todos os solos libertadores que adoramos ouvir há tantos anos e que levam à uma participação mais calorosa do público.

    Na parte final temos uma das mais pesadas da história do quinteto com a veloz Speed King do In Rock de 1970 que mesmo não estando no melhor de suas forças Ian Gillan procura cantar com firmeza seus versos, porém, rende-se ao duelo de guitarra de Steve Morse com os teclados de Jon Lord, que vão cada vez mais longe e deixam claro porque o Deep Purple é o Deep Purple, porque é uma banda diferenciada das demais e porque é lendário. E eles passam a bola para Roger Glover também deixar sublime o seu solo de baixo e logo em seguida é a vez de Ian Paice, que controlou o ritmo o tempo todo - também cravar toda sua maestria em seu solo. E tem muitos que dizem que solos assim não cabem no Rock de hoje em dia... é claro que sim, ainda mais se feitos por nomes como o Deep Purple, que depois de tudo isso retomam Speed King e finalizam os seus deslumbrantes quinze minutos com toda a sua poderosa voltagem resultando em muitas palmas.

    Para terminar o disco e o show, a escolhida foi a emblemática Hush, versão da composição de Joe South feita pelo Deep Purple no Shades Of The Deep em 1968 e que é perfeita para curtir e agitar em seu andamento divertido, e aqui, observar Ian Paice na bateria, Steve Morse na guitarra e Jon Lord nos teclados conferindo à canção aquela aura especial característica dos ingleses.

    E mesmo com o vocalista longe das suas melhores noites, o Deep Purple é capaz de nos entregar um baita showzão em que os muitos gritos de Ian Gillan foram recompensados por seções rítmicas unicamente incríveis, que fizeram os ingleses presentes no Hammersmith Apollo saírem plenamente satisfeitos, tais quais como nós após a audição desta verdadeira sonzeira contida neste Deep Purple - Live In London 2002.
Nota: 10,0.

Por Fernando R. R. Júnior
Dezembro/2021

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