Hypocrisy - Worship
11 Faixas - Shinigami Records/Nuclear Blast - 2021

    Durante este interminável período de pandemia, que ainda estamos enfrentando suas consequências, vários governos mundiais admitiram finalmente a existência de Ovnis. Se era um desvio de foco para não se falar sobre temas importantes e de impacto imediato como os efeitos da pandemia na economia, o número de mortos pela demora na compra de vacinas, no controle do aumento de casos do vírus ou ainda uma forma de obscurecer os muitos erros na gestão da condução do país contra o Coronavirus é difícil dizer, mas que o tema serviu de inspiração para que a tradicional e porque não dizer... histórica... banda de Melodic Death Metal sueca Hypocrisy criar seu mais recente álbum, ahh serviu e como...

    O Hypocrisy teve sua formação em 1990 na cidade de Ludvika e lançou em 2021, após oito longos anos longe do estúdio, o álbum Worship, o décimo terceiro da longeva carreira. Logo em sua capa temos um grande número de seres humanos horrorizados ante à uma invasão alienígena com várias naves cruzando o céu noturno, sendo que eles estão próximo à pirâmides Maias. Este imponente desenho é de Blake Armstrong ( Kataklysm, In Flames, Carnifex e outros ), que na visão do líder da banda, o vocalista e guitarrista Peter Tägtgren significa o seguinte: "Eles estão voltando para pegar [os humanos]".

    E sobre a inspiração para compor um novo material, ele afirmou: "Acho que estávamos em turnê de um outro projeto quando comecei a ficar com 'fome' novamente. Comecei a cuspir alguns riffs novos e quando tive 7 ou 8 músicas prontas, chamei o resto dos caras para se juntarem a mim e colaborar e, a partir daí, começamos a reunir tudo. Nós tivemos uma pausa por alguns meses, continuamos gravando, voltamos para a turnê... nunca parando. Houve muitas idas e vindas, então a COVID apareceu e as coisas ficaram muito estranhas".

    Inclusive, o isolamento causado por este maldito vírus ajudou a composição deste álbum, pois, Peter Tägtgren costuma isolar-se no seu Abyss Studio AB ( que é o seu estúdio caseiro localizado em Pärlby nos arredores de Ludvika ), onde ocorreram as gravações e mixagem de Worship entre 2018 a 2020. A masterização é assinada por Svante Försback ( que já produziu Amorphis, Delain, Evergrey, Finntroll, Korpliklaani, Lordi, Sonata Arctica e muitos outros ) e realizada no Chatmakers Audio Mastering em Espoo na Finlândia. E a presença brasileira em Worship ficou por conta de Marcelo Vasco ( Slayer, Válvera, Kreator, Crowbar, Venom Inc., Testament, etc. ) que cuidou do layout do cd.

    Ao lado do citado Peter Tägtgren ( vocais guitarra ) estiveram ao seu lado os músicos Mikael Hedlung ( baixo ) e Reidar Horghagen ( bateria, cuja saída da banda foi anunciada recentemente ) e desta forma convido você caro leitor(a) para saber mais deste lançamento da Shinigami Records em parceira com Nuclear Blast no Brasil.

    A faixa título Worship abre o cd com ótimos dedilhados, que em poucos instantes dão lugar aos pesados e contagiantes toques de guitarras e ao Death Metal feroz do Hypocrisy, que traz a música o seu ritmo avassalador e portador de vocais agressivos, porém, o trio soube como exibir evoluções altamente criativas, que deixam ouvinte totalmente ligado à cada trecho deste início que já está simplesmente matador.

    De linhas sinistras e melodiosas apresentando um excelente crescente, Chemical Warfire é mais cadenciada em seu andamento de vocais raivosos e um tanto agonizantes trazem uma letra que é sobre a dependência farmacêutica, conforme o vocalista atesta: "Somos todos prostitutas químicas. Consumimos prescrições e medicamentos regularmente porque pensamos que precisamos; usamos uma pílula para curar o dano causado por outro medicamento... é um ciclo vicioso".

    Em Greedy Bastards, a ordem foi de trazer um Death Metal colérico, pulsante e que é orientado nos solos de guitarra feitos for Peter Tägtgren, que sempre mantém o vigor das linhas instrumentais através de uma letra relacionada com a ganância e a forma que os governos recorrem para controlar as pessoas, ou seja, dividindo-as. Aliás, se observamos com atenção... praticamente todos os governos do mundo operam com esta técnica e pasmem... para nossa desgraça, eles alcançam ótimos resultados.

    Para a insípida Dead World, o Hypocrisy dispara a sua mais destruidora faixa até aqui, ao menos em seu início, porque depois eles aplicaram trechos caóticos, um estilo moderno, muitos urros em seus vocais e um ritmo que fica cada vez mais encorpado e, isso tudo resultará em uma canção que só posso definir como aniquiladora, cuja letra vale uma atenção aos seus versos. We're The Walking Dead apresenta um clima melancólico em seu princípio, que dá lugar a riffs poderosos e que se transformam em um Death Metal arrasado de vocais lamuriantes, cuja letra também merece aquela olhada no enquete do cd ( inclusive de muitas páginas ) para verificar os questionamentos feitos por Peter Tägtgren.

    Quando álbum é tão bom quanto este Worship, nem notamos a passagem das faixas, tanto Brotherhood Of The Serpent já é a sexta do disco e o trio nos coloca diante de um Death Metal fortíssimo, porém, mais cadenciado e muito envolvente, principalmente pelo ritmo feito na guitarra e pela forma enraivecida que Peter Tägtgren canta seus versos até culminar em um final puramente apocalíptico. Talvez propensa acalmar um pouco, Children Of The Gray começa exibindo linhas acústicas que recebem uma adição de potência em seu decorrer e que é possuidor de um andamento revolto de perturbadoras melodias, que é vociferando com absoluta fúria por Peter Tägtgren e devidamente bem amparado por solos melódicos cativando com muita facilidade aos fãs do estilo.

    A devastação acontece mesmo na brutal Another Day, um Death Metal rápido de alma Thrash, que e ótimo para abrir uma roda com o Hypocrisy atuando com brilho a cada momento da música e garantido os punhos cerrados e ao alto dos fãs. A nona de Worship é a intensa They Will Arrive, que retorna ao tema de alienígenas em sua letra e cujas variações instrumentais somadas ao ódio presente em seus vocais - que te atingem em cheio - farão você exclamar imediatamente: "cara eles conseguiram fazer um discão!!!!"

    Não parece, mas, a penúltima já é a Bug In The Net, que começa lenta e mostra solos melódicos em uma atmosfera entristecida, vocais urrados e um atraente padrão consideravelmente denso ( que mesmo entre ira nos vocais, eles fazem um convite para viajar especialmente em seu final ). Para finalizar o álbum Worship temos a Gods Of The Underground, que contem um padrão robusto e marcante, além de conceder muita raiva à composição, que salvo em seus solos de guitarra é deveras esmagadora.

    Por fim, devo citar que em Worship, o Hypocrisy nos brindou com onze faixas de um dos melhores álbuns de 2021 ( confira o especial aqui ) e, certamente, um dos melhores da carreira da banda, que nos trazem o seu Melodic Death Metal voraz e implacável de ares clássicos que estão adequadamente aliados a sonoridades modernas provando que a banda está antenada ao momento atual e formidavelmente afiada ( mesmo - conforme informei no começo desta resenha - precisando encontrar um novo baterista ). Em suma, parabéns aos suecos e saibam caros leitores(as) do Rock On Stage que temos mais um esplêndido álbum para ser incluso em nossas coleções.
Nota: 9,5.

Por Fernando R. R. Júnior
Abril/2022

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