Kreator - Gods Of Violence
 CD 12 Faixas e DVD 14 Faixas - Shinigami Records - 2017

    Surgido em 1985 na cidade alemã de Essex, o Kreator se tornou ao longo destes 32 anos de carreira um dos maiores nomes do Thrash Metal Mundial, além de ser um dos pilares fundamentais do estilo em seu país. Para isso, marcaram sua carreira com álbuns como Pleasure To Kill de 1986, Extreme Agression de 1989, Coma Of Souls de 1990 e no século 21, posso citar o Hordes Of Chaos ( 2009 ), o Enemy Of God ( 2005 ) e o Phantom Antichrist ( 2012 ). Para manter a tradição em gravar álbuns assim, neste décimo quarto registro de estúdio, que foi nomeado como Gods Of Violence, Mille Petrozza ( vocais e guitarra ), Sami Yli-Sirniö ( guitarra ), Christian Giesler ( baixo ) e Ventor ( bateria ) perceberam ( e se inspiraram ) nos violentos eventos ocorridos nos dias atuais ( como o ataque terrorista em Paris em novembro de 2015, aquele covarde que aconteceu no Bataclan e nas ruas vizinhas ).

    Este e outros infelizes momentos fez o líder do Keator, Mille Petrozza notar que existe um continuum da maldade humana através dos tempos e assim, ele ligou os acontecimentos recentes a histórias da mitologia grega, que resultaram na faixa título do cd. Aliás, ele inclusive explica mais detalhadamente o fato: "Atualmente, a religião recuperou um nível de importância que nunca tivesse considerado possível há 20 anos. Uma polarização extremamente perigosa está acontecendo, dando origem a um crescente ódio entre todos nós. Era sobre isso que que queria escrever".

    Sendo trabalhado desde 2015, Gods Of Violence foi produzido, gravado e mixado por Jens Bogren ( Opeth, Dimmu Borgir, Sepultura, Arch Enemy, Soilwork, Katatonia e tantos outros ) no seu aclamado Fascination Street Studios em Örebro na Suécia e a masterização é de Tony Lindgren e foi realizada no mesmo estúdio sueco. Os coros épicos são de Ronny Milianowicz e os de batalha contam com ele e também Björn Kromm, Fredrik Eriksson, Henrik Andersson, Matias Lövdahl, Lars Höjer e Jens Bogren, sendo gravados no Studio Seven em Örebro, também na Suécia. Os italianos Francesco Paoli e Francesco Ferrini do Fleshgod Apocalypse ajudaram nos arranjos orquestrados, que foram gravados no Midas Productions.

    A impactante capa, que mostra um cenário apocalíptico é de Jan Meininghaus e a versão lançada no Brasil pela Shinigami Records é embalada de 'digipack' triplo de luxo e conta com um DVD ao vivo no Wacken Open Air de 2017 valorizando ainda mais sua aquisição física e se tornando um item de colecionador.

    A instrumental Apocalypticon traz uma atmosfera beligerante e épica com uso de coros que estouram na veloz e esmagadora World War Now definida por Mille Petrozza da seguinte maneira: "Hoje em dia, as nossas armas de destruição em massa são chamadas de ódio e alucinação religiosa". E o quarteto alemão nos expõe a uma violência considerável nos vocais e no ritmo, mas também a riffs de guitarras que são possuidores de belas melodias, ou seja, logo de cara já percebemos que eles se superaram.

    Após alguns toques de sinos recebemos o andamento mais cadenciado e orientado pelas linhas de guitarras Satan Is Real, que vai te capturar graças ao impetuoso jeito que Mille Petrozza canta seus versos e como sola sua guitarra ao lado de Sami Yli-Sirniö em um ambiente de muito peso alicerçados pela bateria e baixo. Para Totalian Terror, o Kreator preparou uma dilacerante e rápida avalanche musical, que te inspira a berrar com o vocalista seus furiosos versos, além é claro de 'banguear' bastante nesta faixa que deverá ser executada ao vivo por conta de suas variações que provocam uma forte onda de choque, ouça-as e confirme quão belas são.

     A jovem harpista de 12 anos chamada Tekla Li-Wadensten faz os dedilhados iniciais da matadora Gods Of Violence, que deixa claro a potência praticamente incalculável que o Kreator aplicou na faixa título do cd, sendo que seu refrão não só vai para a memória como também nos faz querer gritar com o vocalista e socar o ar ( mesmo em casa ouvindo o cd ). E mais uma vez chamo sua atenção caro leitor(a) para os solos de guitarra de Mille Petrozza e Sami Yli-Sirniö. Em Army Of Storms sentimos a pegada Heavy Metal do Kreator se evidenciar para depois na marcação realizada pelo baterista Ventor, o seu mortífero Thrash Metal chegar e tomar de assalto com cólera nos vocais e uma aniquiladora aceleração nos solos de guitarras, que ficam mais melodiosos em alguns trechos enaltecendo assim o poder de fogo dos alemães, que terminam com um eficaz solo de bateria me levando a exclamar: uau... que sonzeira até aqui!!!. Na seguinte, a cadenciada e encorpada Hail To The Hordes, Mille Petrozza recebe Boris Pfeiffer do In Extremo na bagpiples, uma gaita de foles conferindo a garantia de outra 'dinamitadora' composição.

    Para Lion With Eagle Wings notamos o vocalista cantar com raiva em uma linha mais simples nos dedilhados iniciais até que os demais enviem um ritmo fulminante, que prendem o ouvinte e certamente, o farão 'banguear' em sua audição e outro detalhe importante: as linhas melódicas sempre inclusas, que elevam a categoria das músicas, como podemos sentir também neste caso.

    Depois, o baterista Ventor apresenta toques poderosos, que chamam os vocais coléricos de Mille Petrozza na cadenciada e emblemática Fallen Brother, que ele divide alguns versos com o cantor Pop Dagobert Jager e te faz querer cantar seu refrão. E sabe, acredito que temos aqui a mais Heavy Metal das canções de Gods Of Violence ( que solos de guitarras ), além de alguns versos em alemão.

   Side By Side, a décima do cd, é um Thrash rápido e devastador, que é vocalizado com a devida ira e é repleto de solos marcantes, entretanto, os dedilhados e os vocais mais calmos que existem na música dão um grau ímpar e posteriormente, chamam o seu final mais Thrash.  

    Na última do tracklist normal, a Death Be Comes My Light, o Kreator até começa mais lento, mas, quase instantaneamente dispara seus canhões sonoros em um robusto e rápido Thrash  de letra narrando uma experiência de quase morte através de 'riffleramas' saborosas de se ouvir em seus sete minutos de aromas épicos e claros flertes com o Heavy Metal. Inclusa como bônus para os brasileiros Earth Under The Sword chega firme consolidando o inabalável poder de fogo do Kreator com as sempre empolgantes vocalizações fortificadas repletas de solos eficazes. O DVD Live At Wacken 2014 acompanha esta versão de Gods Of Violence, conforme mencionei anteriormente e a partir deste ponto vou contar seus detalhes.

    O show foi registrado no dia 2 de agosto de 2014 no Wacken Open Air na turnê do excelente Phantom Antichrist e a instrumental Mars Mantra traz o Kreator já à noite no palco do festival, que estava todo ornamentado e com tonalidades vermelhas para que o clima proposto fosse executado com a demolidora Phantom Antichrist com o 'baixinho' Mille Petrozza pudesse despejar toda a sua cólera nesta acelerada composição, onde podemos ver os detalhes dos seus belos solos de guitarras.

    Com um grito From Flood Into Fire ( outra do Phantom Antchrist ), ele anuncia a segunda pedrada do show e que traz ares mais cadenciados, sendo que pela primeira vez nesta apresentação as tradicionais labaredas de fogo do festival são disparadas. Nos trechos de dedilhados, a multidão presente atende ao pedido do vocalista e bate palmas com ele.

  

    Aos gritos de "Kreator... Kreator...", o empolgado vocalista informa que são 30 anos do Heavy Metal da banda e assim executa a bombástica Warcurse ( do Horde Of Chaos ), que produz com seu ritmo vários "hey... hey..." e muitos socos nos ar. O baterista Ventor chama a galera com seus toques enquanto que Mille Petrozza pede a abertura de uma divisão na plateia para que assim que Endless Pain ( título do álbum de 1985 ) seja tocada uma gigante roda seja deflagrada e eles metralhem todos com seu veloz Thrash Metal, que segue mais insano para nossa satisfação com a voraz Pleasure To Kill ( que também nomeia o álbum de 1986 ), onde fico imaginando as rodas fervendo entre a galera. Como um maestro, Mille Petrozza gesticula em rápidos instantes em uma 'paradinha' para junto as demais detonar solos em sua guitarra. E pensa que eles aliviam? Não caro leitor(a), não ao vivo... e muito menos no Wacken... pois, continuam com a estonteante Hordes Of Chaos ( título do cd de 2009 ), que é uma de suas maiores pauladas de sua carreira.

    A roda que começara anteriormente não para mais e ganha para seu prosseguimento, ante a várias distorções, a cortante Phobia do Outcast de 1997. A reação dos fãs é medida pelo vocalista ao pedir para que eles gritassem o nome da banda e então agradece com um ruidoso "Thank You", inclusive dizendo que existem fãs de todos os lados do planeta para então anunciar a aniquiladora Enemy Of God, que intitula o álbum de 2005 e um dos Thrashs mais soberbos dos alemães, que neste show impressiona como o baixista Christian Giesler 'banguea' sem parar.

    A próxima é Civilization Collapse ( presente no EP de mesmo nome de 2012 ), que conserva o andamento devidamente feroz do Kreator no palco, onde o baterista Ventor simplesmente arrebenta, confira e me fale.

    Efusivamente aplaudidos, eles retribuem com The Patriarch ( do Violent Revolution de 2001 ) e a clássica Violent Revolution ( que crava o nome do álbum ), que não só poderia faltar neste histórico show bem como foi responsável por enlouquecer significativamente os fãs, que veem Mille Petrozza mirar sua guitarra Flying V neles. Aos dedilhados feitos por Sami Yli-Sirniö, o Kreator continua sua 'blitzkrieg' com a 'assassina' United In Hate do Phantom Antichrist.

    Fechando esta importante participação do Kreator no Wacken, Mille Petrozza segura uma bandeira inspirada na música Flag Of Hate para delírio dos fãs, além de homenagear ( ou zoar a galera? ) Michael Jackson com um trecho de uma de suas músicas e ao agitar a bandeira, mostra outra surpresa com um trecho de Painkiller do Judas Priest e o animado vocalista quer ouvir seus fãs para que finalmente a conquistadora Flag Of Hate do Endless Pain derrube seu Thrash Metal desmembrador nos presentes e em quem assiste a este DVD.

    Deu tempo para emendar a opressora Tormentor ( outra do Endless Pain ), que enalteceu e relembrou dos viscerais e antigos Thrashs do quarteto germânico.

    E vale sempre ressaltar que a iluminação, a captação de imagens e o som sempre são um show à parte quando se fala de Wacken, mas, nesta apresentação do Kreator, assim como na última vez que vi os alemães aqui no Brasil ( relembre neste link )... notei uma preferência pelos tons vermelhos no palco. Enfim, um showzão que nos faz desejar estar lá e assistir o Kreator o mais breve possível ou rever o DVD. Aliás, cabe um comentário extra - ao ver este show com todas estas músicas animais: fico pensando na 'dificuldade' que eles terão para incluir as novas deste formidável Gods Of Violence no setlist.

    O Kreator mantém com este Gods Of Violence o seu elevado padrão de Thrash Metal e além de soar pesado como sempre, soube adicionar neste trabalho levadas mais Heavy Metal nos solos das músicas, que as deixaram vigorosas e pulsantes o tempo todo te conclamando a ouvir o álbum novamente, pois, é bastante viciante e para mim já está na lista dos melhores dos alemães.
Nota: 10,0.

Sites: www.kreator-terrorzone.de.

Por Fernando R. R. Júnior
Agosto/2017

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