MaYaN - Dhyana
11 Faixas - Shinigami Records - 2018

    O líder do Epica, o vocalista e guitarrista holandês Mark Jansen, criou há dez anos o projeto MaYaN ao lado de seu amigo Jack Driessen e ex-tecladista do After Forever com o objetivo de forjarem músicas em um estilo único e pessoal, que pode ser considerado como Symphonic Death Metal. O projeto ganhou forma com a entrada de - a convite de Mark Jansen - do guitarrista Frank Schiphorst e o caminho para se tornar uma banda mesmo passou pela inclusão de Arien Van Weesenbeek e Issac Delahaye ( ambos do Epica ) na bateria e teclados, respectivamente.

    A primeira formação do MaYaN contou ainda com Henning Basse ( Firewind ), Laura Macri, Simone Simmons ( Epica ) e Floor Jansen ( Nightwish ) nos vocais, que juntos gravaram o álbum Quarterpast ( leia resenha ) em 2011, que recebeu ótimas críticas na mídia especializada e uma boa aceitação dos fãs.

    Não demorou para que o segundo álbum fosse lançado e em 2014 conhecemos Antagonise, cuja temática foi centrada na constante vigilância que sofremos em nosso dia a dia, acabando com nossa privacidade, sendo que muitas vezes isso acontece por nossa causa.

    Para o terceiro álbum do MaYaN, que recebeu o nome de Dhyana, Mark Jansen contou com George Oosthoek ( Orphanage ) nos vocais urrados, Laura Macri ( Divas e Andrea Bocelli ), Marcela Bovio ( Ayreon e Stream Of Passion ), Henning Basse ( Firewind ) e Adam Denlinger nos vocais, Frank Schiphorst ( Symmetry e Christmas Metal Symphony ) na guitarra, Jack Driessen nos sintetizadores, gritos e arranjos orquestrais, Roel Käller ( Skullsuit ) no baixo, Ariën Van Weesenbeek na bateria e Merel Bechtold ( Delain ) na guitarra. Também fazem parte do MaYaN os músicos Arjan Rijnen ( Revamp ) e Jord Otto ( Vuur e My Propane ), quando Merel Bechtold não pode tocar com o MaYaN.

    Dhyana teve seu financiamento através de uma campanha de crowdfunding na plataforma IndieGoGo em 2018 para que pudesse contar uma orquestra ao vivo com seus músicos e mais de 40 mil euros foram arrecadados, ou seja, os fãs acreditaram nas ideias de Mark Jansen e garantiram sua concretização, sendo que desta forma todos os custos foram cobertos e renderam ainda o EP Undercurrent. A orquestra escolhida por eles foi a tradicional Orquestra Filarmônica da Cidade de Praga da República Checa com mais de 60 anos, que é uma das mais respeitadas no mundo e já trabalhou na trilha sonora de filmes da saga Star Wars ( que Mark Jansen é muito fã ), Hannibal ( 2001 ), A Chegada ( 2016 ) e foi responsável pelas partes orquestradas do cd Death Cult Armaggedon do Dimmu Borgir.

    Nas onze músicas de Dhyana, o MaYaN nos exibe temas conceituais sobre como nos mantermos cientes de nosso pensamentos, remover as tendências egoístas e descobrir o que somos na verdade. É sobre como a mente individual é incorporada pelo coração e se une à mente universal. A produção de Dhyana é de Joost Van Den Brock ( Epica ) e do MaYaN, já a mixagem também recebeu a assinatura de Joost Van Den Brock e as suas gravações foram realizadas entre janeiro e junho de 2018 no Sandlane Recording Facilities e no Rijen e MaYaN Studios, sendo ambos localizados na Holanda. A masterização teve os cuidados de Darius Van Helfteren e foi realizada no Amsterdam Mastering em Amsterdã na Holanda em junho de 2018.

    Já a Orquestra Filarmônica da Cidade de Praga foi conduzida pelo maestro Jan Chalupeky e gravada no Smecky Music Studio em Praga com o engenheiro de som Jan Honzer. A capa de Dhyana é de Stefan Heilemann com uma mulher bonita exibida em uma formidável paisagem, porém, seu rosto é envolto na escuridão.

    E é justamente com esta linha orquestrada e de ares cinematográficos, que Dhyana é aberto com a rápida, tensa e pesada The Rhythm Of Freedom com uma abrangência maior dos vocais urrados, porém, sem esquecer dos limpos e dos femininos, onde todos seguem por um estilo grandioso e com elementos de Power, Symphonic e Black Metal em seu decorrer e muito bem harmonizados contribuindo para deixar a música ainda mais interessante. Depois em Tornado Of Thoughts ( I Don't Think Therefore I Am ) sentimos influências árabes aliadas ao seu andamento intenso e consideravelmente fortificado, que está repleto de vocais urrados, onde também aparecem com importância os limpos e também os femininos, ambos pontualmente encaixados e assumindo o destaque, além de enriquecer consideravelmente a melodia da música.

    Após as duas pedradas iniciais, o MaYaN, apresenta nos toques de piano e nos vocais femininos, que estão líricos e épicos temos a dramática e até sinistra, Saints Don't Die, que pouco depois ganha sua adição de robustez em um ritmo cadenciado altamente orquestrado e sinfônico, além de também vários vocais guturais, que contracenam com a formosura dos líricos.

    Na canção título, a Dhyana, o MaYaN optou por uma composição mais lenta e deveras bonita com os vocais líricos de Laura Macri e de Marcela Bovio, e isso, sem pensar na presença dos convidados Elianne Anemaat no violoncelo e Roman Huijbregh ( Navarone ) no violão nesta que é a mais impactante até aqui. A quinta do cd é a Rebirth From Despair e é totalmente direcionada para o lado 'rosnado' e orquestrado, exceção feita apenas ao seu refrão, onde seus vocais femininos ficam em evidência, inclusive, quando garantem as partes viajantes da composição que antecedem as linhas velozes e furiosas que foram aplicadas pelo MaYaN.

   The Power Process exibe orquestrações logo em seu início, porém, nos instantes seguintes os holofotes miram para as vocalistas, que nos empolgam com o poderio de seus vocais com suas carismáticas atuações até duelarem com os vocais urrados de Mark Jansen e George Oosthoek, sempre embasados por linhas instrumentais robustas e cativantes.

    A sétima é a The Illusory Self e após seu princípio devastador, o MaYaN exibe momentos calmos e épicos com vocais limpos masculinos e líricos femininos alternando este clima com trechos extremos por vezes e melódicos em outras durante os seus mais de nove minutos, que estão sempre dispostos a impressionarem o ouvinte, como é possível perceber nos toques de piano e também na variação dos vocais. De ares entristecidos temos Satori aos toques esbeltos de piano unidos com as partes orquestradas e puramente cinematográficas em emocionantes vocalizações femininas, em outra atuação de gala de Laura Macri e Marcela Bovio. Logo depois desta música de calma e singular beleza, o MaYaN dispara a encorpada, acelerada e urrada Maya ( The Veil Of Delusion ), que é ideal para a abertura de rodas e dotada de toda pompa e circunstância de um Symphonic Metal como é o caso.

     De início sereno quebrado poucos segundos depois, The Flaming Rage Of God é a penúltima de Dhyana e a dualidade costumeira ocorrida entre os vocais urrados masculinos e os líricos femininos acontece novamente em uma condução feita com primor pelo MaYaN, onde saliento os solos de teclados executados por Joost Van de Brock e muitas modificações de andamento, que sempre desafiam nossa percepção ao que vai acontecer em seguida. E para finalizar o álbum temos Set Me Free, que nos mostra linhas cadenciadas e vocais limpos até suspender-se ao Symphonic Metal que é... hora que percebemos os vocais urrados tomarem conta ante a um verdadeiro caos instrumental praticamente Black Metal, que tem sua intensidade rompida apenas pelos vocais femininos e fazem o encerramento grandioso que o álbum merece após quase uma hora de audição.

    Podemos dizer que o 'Dream Team' do Heavy Metal Holandês ao comando do talentoso 'capitão' Mark Jansen nos brindou mais um excelente álbum onde explora fortemente suas influências sinfônicas transitando com precisão pelos caminhos extremos e retirando de lá um ótimo golaço da carreira do MaYaN, que no Brasil saiu pela Shinigami Records graças a sua parceria com a Nuclear Blast. Quem acompanha a carreira de Mark Jansen no Epica verá que Dhyana é indicado para tanto os fãs do Epica quanto os amantes de Death Metal e também de nomes como Nightwish e Within Temptation.
Nota: 9,0.

Por Fernando R. R. Júnior
Junho/2020

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