Rush - Time Machine World Tour
Sexta, dia 08 de Outubro de 2010 no Estádio do Morumbi em
São Paulo/SP
Quando foi anunciado que o Rush entraria em turnê novamente e tocaria o clássico álbum Moving Pictures na integra, a vontade de rever o trio canadense aumentou ainda mais, afinal, eram oito anos da última e até então, única passagem deles pelo Brasil. Algum tempo depois, foram anunciadas as duas datas da Time Machine World Tour no Brasil e a imensa legião de seguidores do Rush se alvoroçou toda, pois nas duas últimas turnês, R 30 e do disco Snakes And Arrows, nada de apresentações em solos brasileiros, a saudade do inesquecível show de 2002, confira aqui, ficou maior a cada dia e aumentou a nossa expectativa para revê-los este ano.
Nesta atual turnê o tema é uma viagem no tempo através criação de uma "máquina do tempo" e o palco é todo estilizado simbolizando uma daquelas malucas invenções a vapor cheias de válvulas, relógios, algo semelhante à jukebox, engrenagens, chaminés, enfim, todos os apetrechos que são foram abordadas em alguns filmes antigos ( mais progressivo impossível ). Programado para começar a funcionar às 21:00hs, a 'máquina', digamos o espetáculo começou com um pequeno atraso de 30 minutos, tempo o bastante para que os mais de 38.000 presentes estivessem devidamente acomodados nos seus lugares. No inicio ficamos assustados um pouco, pois assim que entramos no Morumbi, este estava razoavelmente vazio, vários setores, inclusive pista, tinham poucas pessoas e pensamos ":...Meu Deus, na hora que os caras entrarem no palco e ver o pessoal eles nunca mais vão querer voltar aqui...", mas felizmente não foi o que aconteceu, aos poucos o estádio foi lotando mas não totalmente e setor das cadeiras vermelhas estava praticamente vazio, mas isso não afetou a banda.
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1ª Parte: Uma viagem pelo tempo e espaço
Com as luzes do estádio apagadas, tem inicio um vídeo muito engraçado com os integrantes do Rush atuando de forma cômica ( no estilo que fizeram nos DVD´s R 30 e Snakes And Arrows Live ), esta abertura intitulada "The Story Of Rash" mostra Geddy Lee ( baixo, vocais e teclados ) como dono de uma lanchonete, Neil Peart ( bateria e percussão ) como um policial e Alex Lifeson ( guitarras ) como um empresário muito malandro de um trio que está tentando o sucesso tocando uma versão bisonha de The Spirit Of The Radio com uso de sanfona. Alex é pelo que se vê o mais 'pastelão' dos três, pois seu personagem é um empresário totalmente obeso que é o responsável por acionar acidentalmente a tal "máquina do tempo" e fazer o trio chamado Rash ( estampada na camiseta de Geddy Lee ) viajar no tempo e espaço. Assim, começou um dos maiores shows vistos no Brasil até hoje.
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A primeira música da noite foi The Spirit Of The Radio do Permanent Waves e seu ritmo contagiante fez a multidão cantar com o vocalista. Além da energia vista em cada instante, era notória a alegria de todos por rever o trio novamente, para muitos, beirava um dos maiores sonhos que tinham em suas vidas, há muito tempo. Os riffs desta música e a voz inconfundível de Geddy Lee, começaram soberbos, equalização do som perfeita, e a banda teve uma pegada totalmente fiel ou melhor que do álbum de estúdio, um dos grandes clássicos que consagrou o nome do Rush na história do Heavy/Rock.
Era muito interessante que a "máquina do tempo" indicava o ano que a música foi composta, e quando a excelente Time Stand Still ( do Hold Your Fire ) iniciou-se, rapidamente se mostrou o ano de 1987 no telão e aí caro leitor(a), tome outra dose de precisão técnica empolgante. Por todos os lados sentia-se que os fãs estavam com seus corações "à mão" e felizes da vida com este show. Avançando um pouco mais Presto, título do disco de 1989, foi a seguinte, e sua linda melodia mais suave trouxe um clima de mais alegria por todo o estádio. E por esses três números, concordamos plenamente com o vocalista Geddy Lee quando disse que estão tocando melhores agora do que antes.
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Em seguida tocam Stick It Out, do álbum Counterparts de 1993, e o que deveria ser uma canção mais desconhecida da banda, para os fãs presentes, é outro sucesso que fez todos cantarem juntos, especialmente o refrão. O telão exibia a cada instante imagens do clip da música ou dos três no palco, mas com uma roupagem antiga, o que representou um grande trabalho da competente equipe produção que acompanha o Rush há tantos anos. Foi nesta hora que o vocalista agradeceu polvorosamente a presença de todos e que estavam muito contentes por se apresentarem por aqui novamente.
Como foi dito acima, a tour do álbum Snakes And Arrows não passou no Brasil e a "máquina do tempo" do Rush nos convidou a viajar pelas quatro décadas que o conjunto possui em sua bagagem, afinal, as quatro primeiras eram do passado, faltava a viagem ao presente da banda, que foi obtida com a vibrante Workin´ Them Angels representando os anos 2000, já que as anteriores representaram as décadas de 70, 80 e 90; e o seu refrão foi gritado com força máxima pelos milhares de presentes.
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Os sorrisos de alegria dos fãs aumentaram com Leave That Thing Alone, a excelente instrumental do álbum Counterparts, que provou a exímia capacidade do trio ao vivo, essa musica quase foi feita para Geddy Lee, o contrabaixo sobressai, e Geddy faz solos que são sua pura característica, sem duvida um dos melhores baixistas do mundo, nesta bela música Alex Lifeson faz um solo com uma melodia simplesmente maravilhosa. E como esta canção mexe com os fãs que praticamente cantavam com "oooooo" seus trechos.
Durante a execução de Leave That Thing Alone, um roadie entra no palco com um 'carrinho de supermercado' pega algumas coisas e volta ao backstage. Antes de acionar a 'máquina' e viajar ao presente Geddy Lee nos presenteou com um curto, mas espetacular, solo de seu Fender Jazz Bass e depois disse apenas um: "Obrigado". E do tempo presente eles tocam a ótima Faithless do Snakes And Arrows com uma harmonia de qualidade e nuances progressivos que ficaram perfeitas ao vivo.
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Bem falamos do passado, do presente, mas e do futuro? É... o Rush está com duas músicas novas nesta turnê e que estarão no seu 20º álbum de estúdio intitulado Clockwork Angels, a primeira dessas duas foi BU2B ou ( Brought Up to Believe, se preferir ) com um peso implacável que são a prova que o potencial do trio permanece inabalável e está pronto para o que deverá ser chamado de "anos 10" do século 21, ou seja, o futuro do Rush está garantido, e porque não dizer, o nosso também, pois no atual momento do Rock, precisamos de bandas de qualidade, e isso os canadenses tem de sobra. Os fãs mostraram que conheciam a música, pois cantaram a letra juntos e como Alex Lifeson usou a alavanca de sua guitarra nos solos.
Depois do mergulho no futuro, é hora de voltarmos no tempo ao clássico Freewill, canção do Permanent Waves ( de 1980 ) que prega o livre arbítrio, essa excelente composição, quanto tocada em 2002 Alex Lifeson sobressaiu apoiando com um arpejo fantástico a voz de Geddy Lee, mas desta vez na Freewill, o destaque foi para o vocalista Geddy que esta em sua melhor forma como baixista, que teve uma regulagem para timbre mais agudo, as notas em que ele tirava no baixo era como uma técnica slap, mas na verdade ele dedilhava saindo timbre agudo do baixo perfeito, sem contar o bom senso do arpejo feito por ele provavelmente improvisado na hora, não é a toa que revistas conceituadíssimas como a americana Bass Player sempre o cita como um dos melhores do mundo. O solo de baixo da Freewill foi um deleite à parte; Valeu Geddy por este momento!!!. A reação da platéia foi gritar "Rush...Rush...Rush!!!" seguidamente, e os três tocam Marathon do Power Windows ( de 1985 ) com o coro sendo cantado pelo estádio todo e a excelente Subdivisions do álbum Signals ( 1982 ) que encerram esta primeira parte do show.
E não é que mais uma situação hilariante aconteceu: Geddy Lee pegou o microfone e avisou que eles estão com a idade avançada e então seria realizada uma pausa para que eles descansassem e fossem ao banheiro? Mais uma piada, e os músicos do Rush, além da imensa técnica que possuem, estão tornando-se mais humoristas ( bom para uma banda que foi acusada de ser séria no palco e não falar quase nada, não é mesmo ? ). Mais incrível ainda foi um locutor que veio ao palco instantes depois para traduzir que a banda faria uma breve pausa de vinte minutos e retornaria em seguida!!! Durante o intervalo que se seguiu, o Fernando R. R. Júnior teve a felicidade de encontrar com o gente boa Derrick Green, vocalista do Sepultura que estava curtindo o show e tirando fotos com os fãs.
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2ª Parte: Viagem ao Moving Pictures
Para a volta do Rush no palco, o telão estava exibindo um contador progressivo que havia iniciado em 1974 e estava chegando ao ano de 1981 ( ano de lançamento do álbum Moving Pictures ) e quando finalmente chegou, o segundo filme foi exibido com o mesmo estilo de comédia do primeiro, só que agora uma banda estava tocando músicas do Rush e com o acionamento do botão da "Máquina do Tempo", eles mudavam ritmos, estilos do trio ( até alguns macacos tocando músicas apareceram e também bebês ) além de uma mudança de posições ( como Geddy na bateria, por exemplo ) em uma verdadeira confusão, até que finalmente Geddy, Alex e Neil retornaram com uma das música mais conhecidas e aguardadas: Tom Sawyer - e sua execução causou uma agitação sem tamanho por todo o Morumbi pode se dizer que essa musica é dos maiores clássicos do Hard/Progressive Rock, foi uma presença indescritível, Neil Peart parece que se dá melhor quando faz investidas e solos no meio das musicas em comparação aos seus solos individuais, na Tom Sawyer, foi uma artilharia de bateria, do muito provável, melhor baterista do mundo.
O telão juntamente com a "aranha de iluminação" - sim, isso mesmo leitor(a) - interagiam com a banda nesta parte do show de forma que Red Barchetta foi a seguinte além da execução perfeita, a nostalgia tomou conta do Morumbi, e era evidente muita gente que pegou o Rush nessa época muito emocionados, dava para se ver lágrimas nos rostos de muitas pessoas, em seguida tocaram a YYZ, talvez foi esse momento que Neil Peart fez o principal solo diríamos individual, a combinação rítmica da bateria e o baixo surpreendeu demais, para quem não vai em show e acha que ouvir o álbum é suficiente, que pobre engano, pessoalmente ( André Torres ) não gosto tanto da YYZ, acho que o Rush tem muitas melhores a exemplo da Leave That Thing Alone e outras, mas essa música ao vivo mudou completamente meu conceito, que instrumental animal, e essa musica é considerada, um heavy metal instrumental que figura entre as melhores criações do rock, que em sua execução evidenciou-se ainda mais a perícia técnica do Rush.
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A "aranha de iluminação" começou a se mexer e, vez ou outra, parecia que uma nave alienígena estava pairando acima da banda. Em Limelight, música que provocou uma euforia gigante na platéia, ela ficou com suas garras dobradas, abaixando muito e criando efeitos visuais espetaculares. Alex Lifeson solou, tocou os riffs desta música, acho um injustiça não ser ele citado como um dos maiorais da guitarra, junto com tantos outros, a venerável guitarra Gibson Les Paul, que tem ponte convencional sem alavanca tira timbres inigualáveis, muitos guitarristas acham que ela com alavanca, desfiguram a sua natureza, e Alex Lifeson tocou um inúmeras Les Paul com alavanca, micro-afinação, mas ele pode, é um guitarrista super experimental nessa música os fãs cantaram com Geddy Lee cada verso dela.
A próxima era uma das músicas que foi poucas vezes tocada pelo Rush em sua história: a progressiva The Camera Eye fez para a plena satisfação dos fãs de Rock Progressivo, movimento que eles fizeram parte e contribuíram adicionando fortes dosagens de Heavy Metal ( alguém citou origem do Prog-Metal? sim, o Rush foi a primeira banda do que chamamos hoje de Prog Metal ). Geddy Lee fez a introdução nos teclados de forma perfeita e foi acompanhada por Alex e Neil essa fantástica composição mostra o quanto o Rush na época do álbum Moving Pictures, estava fulgurante no talento da criatividade para fazer essa musica que tem uma estrutura moderníssima, no telão apareciam cenas de Manhattan e Londres sendo outro momento muito bonito da banda. Mantendo o momento progressivo Witch Hunt foi tocada com muita destreza e a citada "aranha" se movia por cima do palco e criou um show dentro do show do Rush.
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Em Vital Signs Geddy Lee produziu efeitos memoráveis nos teclados que deixaram a música igualzinha ao estúdio, só bandas no porte do Rush conseguem isso. E assim, Geddy Lee agradece e diz que presenciamos a execução de Moving Pictures, um dos melhores álbuns da história que completou 30 anos de gravação, e viajando novamente ao futuro o Rush disparou nova e pesada Caravan com efeitos visuais psicodélicos no telão.
Depois, chegou a hora de Malignant Narcissism ( do Snakes And Arrows ) com o solo do mestre Neil Peart que durou coisa de oito minutos, ele é sem duvidas um 'deus na bateria', um dos melhores do mundo, em todas as músicas ele não deixa de ser uma das atrações principais com sua única técnica e pegada em seu enorme kit de bateria, que tem dois formatos de percussão um mais tradicional e um mais exótico de menor dimensão que dá um timbre mais agudo. Podemos considerar que o seu magnífico solo foi dividido em três partes: a primeira mais Rock, a segunda mais percussão e a terceira puramente jazz, mas praticamente todo o seu solo foi feito na base no Jazz, muito influenciado por Gene Krupa. No telão um robô com muitos braços "tentava" acompanhar a velocidade e capacidade de Neil Peart, mas nem preciso comentar quem foi o melhor.
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Alex Lifeson volta ao palco após o solo de Neil com um violão 12 cordas e realizou uma introdução grandiosa e nos presenteia com Closer To The Heart ( do espetacular A Farewell To Kings de 1977 ) que fez todo mundo se emocionar e cantar com muita garra seus versos juntos com o vocalista Geddy Lee que trouxe um ritmo bem rock´n´roll diferenciando do original.
Em seguida, o telão parece nos convidar para uma viagem interplanetária com imagens de constelações até que a imagem da capa do álbum 2112 surgiu na tela, aí amigos(as), uma das mais pesadas e melhores músicas do Rush de todos os tempos entrou em cena: 2112 - Overture emendada com The Temple Of Syrinx e as surpreendentes, grandes e espantosas labaredas de fogo atrás dos músicos que serviram para não deixar ninguém esquecer do mega-espetáculo que estavam assistindo. Aliás, não podemos deixar de comentar um detalhe muito curioso do show: durante parte de 2112 entraram no palco dois roadies com uma escada que deram a impressão que foram arrumar a bateria de Neil Peart ( como se fosse necessário ) e ficaram jogando algumas coisas atrás da mesma, momento completamente surreal.
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A ideia da atual tour é atravessar do passado para o presente e para o futuro em um segundo, e então, o trio nos leva novamente para 2007 com a pesada Far Cry também do Snakes And Arrows e neste momento Alex Lifeson estava empunhando a Gibson ES335, uma guitarra que parece de velho, mas na verdade ela foi a mais imperativa de todas, devido ao peso tremendo que ela emana, e com essa guitarra Alex usou até o fim, improvisou, fez inúmeros solos e mostrou que a ponta de lança do Hard/Heavy Rock é a guitarra, quando solava ele mostrava para todos nós o que foi o Heavy Rock dos anos 70, e também o que sempre significou a banda Rush.
Hora do Bis:
Com muitos gritos de alegria por parte dos fãs e um ritmo circense, eis que eles retornam para a consagração do completa do show com La Villa Strangiato, a instrumental de nove minutos do Hemispheres ( de 1978 ) que manteve o público nas mãos. Finalizam com Working Man do primeiro registro da banda de 1974, o álbum com apenas nome da banda na capa, só que eles colocaram um andamento de reggae que chamou bastante a atenção, e só Rush poderia fazer isso trazer tanta qualidade, mas claro, sem esquecer do peso Heavy Metal, afinal, o que manda é o Rock.
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Parecia que tinha terminado, mas restava ainda mais um filme para ser exibido com os atores Paul Rudd e Jason Segel, personagens do filme "Eu Te Amo, Cara" ( que o Rush participa tocando Limelight ) que invadem o camarim e começam a mexer nas coisas, comem um sanduíche de Neil Peart e são surpreendidos pelo trio, muito divertido. E show durou três horas, mas foi de um grau superior tão grande que nem foi percebido pela maioria dos presentes que o tempo passou. Foi tão maravilhoso que mesmo com a quantia de músicas que poderiam ter sido inclusas no set, nem conseguimos lembrar-se disso naquele momento, ao final do show, tenha certeza caro leitor(a): o único sentimento em nossas almas era de pura e completa felicidade por ter assistido um show dessa magnitude novamente. Quem não viu ainda aguarde... pois é muito provável que o Rush ainda retorne ao Brasil e com certeza o Rock On Stage estará lá novamente.
Por Fernando R. R. Júnior e André Torres
Fotos: Marcelo Rossi - Time For Fun e Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à Carolina Lopes e Juliana Siqueira
e a toda equipe da Time For Fun
Outubro/2010
Set
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