Gravação do DVD do Garotos Podres
Sábado, 12 de novembro de 2011
no Hangar 110 em São Paulo/SP

    Algo que eu pensava há alguns dias antes do show, era no aspecto de segurança fora do Hangar 110, já que a banda Garotos Podres é apreciada por muitos skinheads e talvez poderia haver algum confronto na frente do Hangar 110, como houve semanas antes na frente do Carioca Club no show da banda inglesa Cock Sparrer ( leia mais aqui ). Mas ao me aproximar do Hangar 110, notei viaturas de polícia e pensei que não haveria nenhum problema na rua e de fato não houve.

    Eram mais de cinco viaturas, totalizando bem mais de quinze policiais, que ficaram perto de um bar a caminho do metrô, em frente ao local do show e no sentido oposto do metrô cobrindo todas as saídas por assim dizer. Excelente! E tanto lá fora quanto dentro do show não houve problema algum.

    Dentro do Hangar 110, mais de 250 pessoas estavam ali para participar da gravação do DVD e até colaborar com ela, afinal, o público do Garotos Podres sabe agitar e, ainda por cima, sendo no Hangar 110, a coisa era certa: muito entrosamento, presença de palco dos músicos e diversão garantida. A banda entra no palco tocando o clássico Garoto Podre e os ajustes no som ainda estavam sendo feitos. A plateia foi se aquecendo agitando pacificamente sem muito empurra-empurra, apenas com mãos ao alto e cabeças balançando. Ao final da música uma pausa para ajeitar o retorno do som para o palco, pois os músicos não ouviam seus instrumentos.   

  O tempo de espera deu uma pequena esfriada e uma boa desanimada nos fãs mais eufóricos, mas, com quase tudo certo, o vocalista Mao comentou sobre os famosos almoços de domingo, com aquela macarronada de sempre da família, que sai de sua casa longe para ir na casa dos parentes comer e ainda por cima pegam trem para fazer isso. Era a deixa para Vomitaram No Trem!, e lá vai o público agitando e cantando junto, mas um fã que estava ao meu lado disse que o andamento estava fora do tempo e de fato era isso, mas era algo sutil, nada gritante. Na música seguinte, Agente Secreto, o fã ainda gritava que estava fora do tempo, mas mesmo assim agitava. Resolvi sair dali para ver se a música melhorava e se eu não o ouviria, e não é que deu certo! A ironia de sair de perto de quem grita para que o som melhore é claro que é uma brincadeira, mas cada um procura ficar aonde se sente bem para um show.

    A banda dá sua breve parada esperada, pois problemas técnicos nunca são esperados e o baixista Sukata conversa com o público falando que se sentem em casa tocando no Hangar 110 e é sempre bom tocar em casa, cumprimenta a plateia e pergunta para o vocalista Mao dizendo: "Oi Mao, tudo bem?" e instantaneamente, as pessoas se tocam que é a deixa para a música Oi, tudo bem?, que quase faz o Hangar vir abaixo. O vocalista Mao passou por graves problemas de saúde no ano passado e parecia mais barrigudo do que costume do que já vi antes em vídeos e fotos, pois, eu nunca tinha visto um show da banda desde que a conheci no final dos anos 80.

    Mas, Mao parecia em forma e recuperado para ser o mesmo de sempre com sua voz rouca, que deflagra discursos politizados de forma humorada e que prende a atenção de todos. As vezes Mao fala como um adolescente do final dos anos 80 e começo dos 90, coisa que não se vê mais por aí, mas ele ainda adota o estilo. Os jeitos e trejeitos dele não mudaram e o público conhece bem a banda e sabia o que esperar do quarteto, que também é formado pelo baterista Leandro, também conhecido como Capitão Caverna e pelo guitarrista Cacá que está na banda desde 2008, substituindo o antigo guitarrista Mauro.

    Eu soube que o nome do baterista era Leandro, pois alguém ao meu lado comentava com os amigos que ele era ex-namorado da mãe dele e ficou gritando o nome dele no final do show, enquanto ele ia para a bateria até que ele ouviu e cumprimentou o jovem levantando a punho cerrado. Tirando os detalhes do 'Forrest Gump' aqui, o setlist continuou com músicas que tem que se mostrar em uma gravação de um DVD de uma banda que possui uma longa trajetória. Assim, Mao fala da opressão que o trabalhador brasileiro sofria ( e sofre ) e então se segue  com “Ditador”, “Alistamento Militar” e “Johnny”, que fez o público delirar. Johnny, a única música da banda que foi censurada durante os "anos de chumbo" que o Brasil passou. Sim, estou falando da época da ditadura militar.

    Ah, como já era de se esperar, os fãs subiam ao palco e se jogavam na plateia ou simplesmente arrumavam uma brecha para descer pulando, mas, muitos deles faziam questão de passar por Mao e dar um beijo em sua careca, coisa que foi se repetindo durante todo o show, ainda mais quando Mao se deitava no palco deixando a cabeça para fora dos PAs e o público se amontoava para tirar uma lasquinha da careca do vocalista.

    Mao é professor de história e autor de pelo menos um livro e banda toca então as músicas A Internacional e Aos Fuzilados da CSN, com letras bem politizadas. Mas logo depois, volta o bom humor e ao colocarem narizes de palhaço e fazerem piadinhas sobre suas capacidades musicais e executam a música Ainda Vamos Tocar Bossa Nova. Logo a seguir vem um dos maiores clássicos da banda e um dos hinos Punks, que em breves momentos fala do materialismo e do capitalismo focado na figura do Papai Noel, ou seja, era hora de Papai Noel, Velho Batuta, que foi tocada em alto e bom som e cantada a plenos pulmões por quase todos e Mao não esqueceu de vestir o gorro vermelho, que é um dos símbolos do Natal. Mao fala para os fãs que o som que eles fazem não é Oi!, não é Ska ou Punk e nenhum outro rótulo comum que tem por aí e que eles apenas fazem Rock do subúrbio, que foi a deixa para outro clássico da banda, a saber: Rock do Subúrbio.   

    Sem parar emendam com O Ocidente É Um Acidente e Subúrbio Operário. Mas, a loucura geral viria a seguir com os acordes iniciais de Anarquia Oi com mais de dez pessoas no palco agitando e tentando cantar junto com eles. O pior nessas horas são os que sempre sobem no palco, mas não olham por onde andam e quase bagunçam os pedais do guitarrista Cacá e quase o derrubam. Sukata mudou de posição para que não ficassem esbarrando no braço de seu baixo. Quem não conseguiu seu lugar no palco ficou 'pogando' na pista e olha que a coisa estava fervendo com gente agitando de forma ensandecia.

   É hora de deixar o público respirando um pouco e os Garotos tocam O Mundo Não Para De Girar. Logo em seguida, Mao avisa a todos que eles estão ali para destruir dois clássicos do Rock, que segundo eles tem suas versões literalmente traduzidas para o português. As músicas foram Nasci Pra Ser Selvagem, uma versão conhecida de todos para a música Born To Be Wild do Stepenwolf e Fumando Na Água, uma versão mais do que avacalhada para o clássico do Deep Purple Smoke On The Water. Muitos ali conheciam a primeira, com uma levada de Ska, mas Fumando na Água, não ficou tão interessante em minha opinião e nem era para ser levada tão a sério.

    O interessante e o bom do show era o repertório da banda, que estava quase no fim. O público achava que o show terminava ali pois todos se despediram e as luzes se acenderam parcialmente, mas não foi o fim e eles vieram para o famoso bis, que retornou ao som de "Escolas", "Verme"” e com a letra mais do que atual de Vou Fazer Cocô.

    E assim, termina um show que na minha opinião faltou músicas como "Eu Não Sei O Que Quero", "Eu Não Gosto do Governo" e "Fernandinho Viadinho", se bem que essa última é mais um saudosismo da minha parte e não se aplica a nenhum Fernando atualmente, se bem que contradizendo a letra da música, em alguém deve servir a carapuça da tal letra. E em menos de 90 minutos lá se vai a festa de gravação do DVD, agora só resta saber como irá ficar, pois não vi nenhuma câmera perto do palco para pegar eles de outros ângulos. O que se nota na banda é que eles tem um pique para mais anos de vida e que criem mais hinos para as próximas gerações de fãs desse tão alegre e sério Rock do Subúrbio que eles inventaram.

Por Hamilton Tadeu
Fotos: J. Ramonny
Dezembro/2011

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