G3 com Joe Satriani, John Petrucci e Steve Morse
Sexta, 12 de Outubro de 2012
no Credicard Hall em São Paulo/SP

    Está aí um show que nunca vi e que queria ver um dia, para ver o que fazem e como fazem. Eu não tinha ideia do que era a apresentação de três guitarristas no mesmo palco dividindo o show e achava que os três ficavam ali o tempo todo tocando ao mesmo tempo músicas diversas produzidas especialmente para o show e só!

    sso era o máximo que eu pensava do G3, seja com quem guitarristas fossem e depois que assisti o show pensei que um deles fazia a base numa das músicas, e os outros dois solavam... e nas músicas seguintes iam se revezando, fazendo solos individuais, ou intercalando base de guitarra e solo de guitarra na mesma música. Mas não, não é nada disso até certo ponto.

    São três shows distintos, para no final uma jam entre eles tocando clássicos do Rock e sim, tem um duelo de guitarras ou dueto, coisa até que comum e esperado para quem já tinha visto o show ou sacado que no Rock tem dessas. Mais para o final da resenha eu comento sobre isso.

Steve Morse

    Devido a um problema na linha do trem de São Paulo, na penúltima estação do meu caminho que iria me deixar perto do Credicard Hall acabei me atrasando para pegar a credencial e a pessoa do credenciamento estava lá dentro. Para minha sorte, a pessoa da produtora apareceu logo no final do show do primeiro guitarrista, que era um dos que eu mais queria ver, o Steve Morse e registro aqui um agradecimento especial para ela por sua atenção comigo.

    Mesmo não estando dentro do Credicard Hall, fiquei em frente a uma das portas que dá acesso a pista e via o show lá de fora e o som me parecia bom. Conhecia músicas de duas fitas-cassetes que tenho gravadas há mais de quinze anos de discos solos do Steve Morse, provavelmente da época que ele entrou no Deep Purple. Ah sim, antes dele tocar no Purple, Joe Satriani - dos três guitarristas da noite - também tocou na lendária banda de Hard Rock. 

    Steve Morse começou tocando Name Dropping, uma música que tem uma base muito comum, sem muita agitação e o que se destaca na música é a linha de baixo mais para o final dela. Depois veio Highland Wedding, de uma dessas fitas cassetes que tenho, que é uma música mais no dedilhado, mas não é lenta. É uma música para se curtir, mas, sem muita animação.    

    On The Pipe é da mesma época da anterior e está numa de minhas fitinhas. Ela segue com um dedilhado que lembra banjo e continua com uma base pesada, mas não muito grave e com diferentes solos acompanhando-a seguindo uma certa métrica. Gostei de ouvir algo que me lembra uma boa e despreocupada fase da minha vida em que estava querendo conhecer mais guitarristas que não fossem Satriani, Malmsteen e Vai.

      As frases musicais dessa música são interessantes e a cadência dela não podia ser outra, terminando de forma anunciada, de uma forma como músicas de comerciais com músicas que seguiam o Blues tradicional, afinal os riffs finais remetem a outras músicas. Vista Grande segue a mesma linha da segunda música do setlist do Steve Morse. O show prossegue com John Deere Letter e Baroque 'N Dreams e como sugere o nome dessa última, segue uma linha barroca na composição e é praticamente acústica, com dedilhados de guitarra que lembram violão.

    Rising Power vem a seguir e o importante nessa música não é a evidência da guitarra, mas a música e todos os instrumentos. Ela oscila com melodias que emocionam e aconchegam que são abruptamente quebradas por uma base repetitiva, onde guitarra e bateria cadenciam-na, eventualmente com um slap do baixo e seguindo um solo de guitarra para retomar ao aconchego supracitado. Essa música é do começo dos anos 90.

    Ah, não tem como não voltar os olhos para Dave LaRue ‘solando’ nesta música e também na seguinte: StressFest do álbum homônimo. Música que parece previsível na introdução da guitarra, mas espere lá... é Steve Morse tocando ali, então a coisa não segue nada previsível. As ‘oscilações’ lembram riffs de bandas progressivas dos anos 60 e 70, deixando essa música a mais trabalhada e com mais pique da noite no setlist dele. O set se encerra com Cruise Control, cover do Dixie Dregs, ex-banda de Steve Morse. Ah sim, essa acabou tomando o lugar de música com mais pique da noite do set do Steve Morse com muita gente acompanhando com a cabeça o ritmo da música, ainda mais os mais velhos.

    Alguns mais animados mexiam os ombros ou se arriscavam a dançar de algum modo que eram atingidos pela música, que apesar de ter décadas, é universal. Se o público estivesse vestido como os hippies em Woodstock, a combinação de roupa e dança caberia bem nessa música. É claro que ao final dela o público gritou horrores. Steve Morse e banda se despediram e saíram do palco por volta das 22:50 e o pessoal começou a debandar em busca de toaletes e bebidas.

    Enquanto esperava o segundo guitarrista entrar passei numa das lanchonetes do Credicard Hall e notei o preço de 10 pãezinhos de queijo por R$8,00 e pensei que o preço estava igual a das barraquinhas de terminal de ônibus e trem que vejo em São Paulo e grande São Paulo, mas daí lembrei que são 8 pães de queijo por apenas R$1,00. Sim, oito por um e no Credicard é 10 por oito. Olha o que um zero faz, hein. Confunde! Não, nada de comer e beber lá. Como não tomo cerveja, para minha alegria há agora um bebedor de água instalado na porta lateral, que dá acesso a pista, perto da lanchonete maior e de uma das saídas e de um dos banheiros. Ótimo. Fica a dica para quem não bebe e sente sede no show.

John Petrucci

    Adentrando a pista para ver de perto o show do John Petrucci notei muitos jovens por ali, alguns em média de 17 a 18 anos e um baixinho de cabelo liso e rosto comum tentando dar pulos para ver o palco, já que ele devia ter menos de 14 anos e menos de 1,50 metros de altura. O pai ou familiar estava junto, o que mostra de demonstra o gosto pelo Rock passado de geração para geração em algumas famílias. Não sabia o que esperar do John Petrucci e ele abre o show com Damage Control, ainda com o som não muito bem regulado, mas mais alto do que o do Steve Morse.

     Eu mudava de lugar para acompanhar o show e notar como chegava o som em certos lugares do Credicard Hall e de fato, certas horas parecia melhor na Pista Vip mesmo, aonde eu tinha acesso. Dave LaRue acompanhava Petrucci no baixo e a bateria ficou a cargo de Mike Mangini, o novo baterista do Dream Theater. O show segue com Cloud Tem, num ritmo mais animado, divertido e também aconchegante, que te deixa bem. A guitarra de John  Petrucci soa mais pesada do que a de Steve Morse e do que viria a ser a da Joe Satriani.

    Quando eles faziam acordes usando o timbre de guitarra que ele usa no Dream Theater, os fãs se animavam e os fãs que apreciam um som mais pesado, sentiam-se mais felizes. Notava isso em alguns leves sorrisos e brilhos nos olhares de algumas pessoas a minha volta. E era comum as pessoas olharem para um dos telões para acompanhar o show.

    Antes de começar a terceira música, John Petrucci vai ao microfone falar com a plateia dizendo que é muito bom estar de volta ao Brasil e anuncia Jaws Of Life, com uma introdução bem pesada. Jaws é o nome em inglês da famosa franquia Tubarão e ao ouvir esse som cadenciado e pesado mudando logo depois para uma base solada com pedal wah wah ( aquele criado pelo Jimi Hendrix, sabe? ) percebe-se que a música tem um tom de suspense e terror. É Dream Theater total! A quarta música do setlist é a pesada e quase 'stevemorsiana' Zero Tolerance com aquele baixão em destaque e a bateria integrada a música, não apenas acompanhando o som. Logo depois vem Glassy-Eyed Zombies, mas, antes ele apresenta seus músicos e diz algo sobre Mike Mangini, que ele pensa que Mike não é humano.

 

    A plateia grita concordando com ele e aplaudindo! O setlist de poucas, mas longas músicas, se encerra com Glasgow Kiss, bem animada, forte e com o espírito de um Guitar Hero, que lembra muito Vinnie Moore, Steve Vai, Joe Satriani, Steve Morse, Eddie Van Halen e tantos outros. E lá se vai a segunda apresentação terminando um pouco mais de meia-noite. Ah, postaram um vídeo na internet dizendo que o John Petrucci caiu no palco, levando um tombo ou um chão, mas, não foi isso. Ele tropeçou e caiu ajoelhado e se apoiando no chão, porém, continuou a tocar e dois segundos depois estava de pé sem perder uma nota. Nessa hora eu não vi, pois tinha gente mais alta na minha frente e eu procurava um ângulo melhor para assistir, mas não foi tombo nenhum. Esse povo exagera! 

Joe Satriani

    Uma pausa de quase 20 minutos e tudo é preparado para o último guitarrista da noite e talvez o mais esperado, Joe Satriani. O mestre que já foi professor de Kirk Hammet do Metallica e que já surfou com um alienígena começa seu setlist com a famosa Ice 9 do disco Surfing with The Alien. A pegadinha cadenciada cheia de acompanhamento solado e com suas viradas tradicionais para repetir tudo de novo, acolheu os fãs ali presente.

    Satch Boogie, outra do Surfing With The Alien, mais animada e ‘dançante’ anima a plateia. E animou mais ainda quando Joe Satriani fez um duelo com o tecladista, que seguia no teclado as notas que ele tocava na guitarra, até que Joe Satriani tocou com os dentes. Bem-humorado e expressivo o tecladista Mike Keneally se ajoelhou no teclado e tocou as notas com o nariz ou algo do gênero. Joe Satriani riu, a plateia também e tanto o mestre das seis cordas quanto o pessoal ali presente aplaudiu o tecladista que acenou agradecendo.

    Não gostei do som até o momento para o Joe Satriani e creio que o som começou a ficar bom na terceira música, a aguardada Flying In A Blue Dream, entretanto notei algumas notas estranhas na introdução da música. Para mim, que não a ouço há anos, mas a ouvia direto e ficou na minha memória, Joe Satriani pulou uma ou outra nota ou emendou-as rapidamente.

     Claro que as notas prolongadas que dão o charme a música e te faz prestar atenção nela e apreciar estavam ali, mas a performance foi boa, apesar de não me agradar 100% por causa dessa versão. Ou será que ele tocou ‘certo’ mesmo? Seria uma nova versão?

 

     Quem gostava de agitar ou chamar atenção era o baixista do Joe Satriani, o senhor Allen Whitman, que chegava sempre a beira do palco de braços abertos e olhos arregalados falando algo para a plateia, mas, a atenção se voltava para o Joe Satriani, claro. Coitado! Há! Há! Há! Não reparei o público olhando pra ele e sim para o Satriani.

    E nem pro tecladista Mike Keneally, que agitava como podia no teclado com uma roupa mais de turista em beira de piscina do que de roqueiro. Esse já era 'tiozinho' com cavanhaque e cabelos brancos, mas era bem simpático. Ao fundo e discreto estava o baterista Jeff Campitelli. O show prossegue com a agitada e rítmica Crystal Planet, seguida pela por God Is Crying, ambas com feeling e cadências diferentes.   

     Always With Me, Always With You vem para aconchegar a noite e animar os ânimos. Embora seja uma música mais lenta, uma espécie de balada, é um dos maiores hits do guitarrista e parte da plateia que estava do lado esquerdo do palco acompanhou o ritmo com um coro de “ô ôô ôôô, ô ôô ôôô, ô-ôôôô”. Ótimo! Crowd Chant vem a seguir e o set list de Satriani se encerra com Surfing With The Alien.

G3

    Ao término do seu show ele chamou os músicos para uma jam tocando alguns clássicos do Rock. Joe Satriani fala que a música será cantada por Mike Keneally e eis que surge You Really Got Me da banda The Kinks. A música é do The Kinks e não do Van Halen, viu? Logo em seguida vem White Room do Cream, e já que queria aparecer, o baixista Allen Whitman também cantou junto com Mr. Keneally.

    Por último vem Rockin' In The Free World do veterano Neil Young, mas esta, foi Joe Satriani que cantou. Notei que a postura de Steve Morse e Joe Satriani são parecidas para segurar a guitarra, enquanto que John Petrucci segura ela de outra forma, mais para cima e com a correia mais curta, além de que o modo que a segura é diferente. Num dos solos dessas músicas, Joe Satriani e Steve Morse completavam e enfeitavam para o outro seguir e John Petrucci também estava na jogada, mas, parecia meio perdido não sabendo o que fazer! Será?

    Creio que eles já ensaiaram o que iriam fazer e depois de dezenas de shows não iriam aprontar um com o outro para deixar alguém na mão, mas... enfim, a cena me lembrou o solo de bateria do Carl Palmer, que resenhei para o Rock On Stage e que você pode ler aqui, onde digo que ele deixava as baquetas caírem no solo de bateria o que me deixou desapontado, afinal, ele toca há décadas e deve fazer isso sempre.

    Porém, esses erros dele eram propositais e a plateia vaiava-o moderadamente, portanto, não acho que John Petrucci estava perdido ali. Termina o show cerca de 1:30 h da manhã e praticamente quase todo mundo que estava dependendo de condução foi logo apressando o passo para o ponto de ônibus. A garoa tinha passado, o tempo estava menos cinzento e agora o retorno pra casa em segurança era a meta de todos. Alguns comentavam o show no ônibus que peguei e mencionavam outros shows que os emocionaram. Eu, cansado e com fome só queria saber de um banho quente e cama. Agora sei o que é um show do G3 e o que esperar caso veja outro show com outro time de guitarristas. E que venham de novo!

Por Hamilton Tadeu
Fotos: Rafael Koch Rossi e Lucas Halle
Agradecimentos especiais para Guilherme Oliveira
e equipe da T4F pela atenção e credenciamento
Novembro/2012

Voltar para Shows