David Gilmour - Pink Floyd´s David Gilmour
Rattle That Lock World Tour 2015/2016
Sábado, 11 de dezembro de 2015
no Estádio Allinaz Parque em São Paulo/SP

    Nos anos 60 fez parte e ajudou a mudar o som do Pink Floyd do Blues Psicodélico para o recém nascido Rock Progressivo, nos anos 70 levou à banda inglesa a se tornar um dos mais expressivos nomes do Rock da história e gravou com junto aos gênios Roger Waters, Nick Mason e Richard Wright álbuns fenomenais como The Dark Side Of The Moon ( 1973 ), Wish You Were Here ( 1975 ), Animals ( 1977 ) e The Wall ( 1979 ) conduzindo os shows do Pink Floyd em níveis colossais.

    Entretanto, isso serviu também para inflar demasiadamente o ego dos músicos levando à separação de David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright com Roger Waters, após uma complicada e desgastante disputa judicial pelos direitos do nome Pink Floyd com vitória dada à parte liderada pelo guitarrista.

     E os três lançaram ainda o ótimo A Momentary Lapse Of Reason ( 1987 ) e o excelente The Division Bell ( 1994 ), mas, nunca se apresentaram sob o nome de Pink Floyd no Brasil e nem mesmo David Gilmour passou por aqui em suas turnês solo até este ano, sendo apenas Roger Waters, que se aventurou no país por três vezes e a última em 2012 no antológico show The Wall Live ( confira cobertura ).

    Finalmente em 2015, os brasileiros conferiram alguns shows da Pink Floyd´s David Gilmour Rattle That Lock World Tour 2015/2016, que dá suporte ao quarto disco solo de estúdio do guitarrista, o Rattle That Lock, que foi lançado neste ano. O Rock On Stage esteve presente no segundo espetáculo realizado no Allianz Parque em São Paulo e a partir deste ponto você poderá saber mais detalhes de como foi este inesquecível show.    

     Ao adentrar o Allianz Parque, após o rápido credenciamento percebi que todos os espaços seriam tomados pelos fãs do Pink Floyd e de David Gilmour, afinal, este show de sábado estava "sold out" poucos dias após serem vendidos seus ingressos e levou a produção à realizar a data extra, que ocorreu na sexta feira.

    Além de David Gilmour, a banda era composta pelos seguintes músicos: o experiente ex-Roxy Music Phil Manzanera na guitarra, o parceiro de longa data Guy Pratt no baixo, Jon Carin nos teclados, Stevie DiStanislao nos tambores e percussão, Kevin McAlea nos teclados, Theo Travis no sax e clarineta, o talentoso brasileiro João Macedo de Mello no sax, Bryan Chambers e Louise Marshall nos backing vocals.

 

Começo introspectivo

    Assim que fui até ao gramado, pude observar o grande palco com o imenso telão circular característico dos shows do Pink Floyd, que o guitarrista incorporou entre aos seus adereços ao vivo. Programado para começar às 21hs, o segundo contato de David Gilmour com o público brasileiro iniciou com poucos minutos de atraso, por volta das 21:10hs.

    E foi discreto, de forma quase introspectiva com o cantar de pássaros durante os primeiros instantes de 5 A.M., que foi elevando-se como o despertar de quem madruga ao som de um Rock Progressivo, este criado por ele no novo álbum, o Rattle That Lock, e no instante em que ele chegou no palco, já deu a tônica do que seria o show ao dedilhar sua Fender Stratocaster preta de sua própria linha ( ou 'signature' se preferir ) e já quintuplicou o nível de energia e emoção em cada um de nós.

     Nem parecia que a primeira música havia sido executada e ativado as interações do telão circular, pois, ela foi interligada com as batidas mais Pop de Rattle That Lock, que foi cantada por muitos, em um claro sinal que os fãs estão atentos ao novo trabalho de David Gilmour e muito provavelmente pela ansiedade que todos tinham por vê-lo no Brasil.

    E o inglês, além de cantar seus versos nos enviou solos em sua guitarra, que deixaram claro porque ele pode ser considerado um 'guitar hero'. Na sequencia pudemos observar um mapa-mundí no telão circular e uma luz marcando o local do show ( no caso São Paulo ), que provocou um frisson na galera e seguiu com linhas um tanto de Blues e vocais mais graves na execução de outra recente com a Faces Of Stone, que trouxe viagens melancólicas em suas linhas de guitarras e o primeiro solo do saxofonista brasileiro de apenas 20 anos, João Macedo de Mello, que se apresentou com moral.

Primeiro mergulho no passado...

     Se as novas canções já estavam sendo muito bem recebidas pelos fãs, o que dirá então quando ouvimos aquela mudança do 'dial' do rádio de Wish You Were Here, com David Gilmour sozinho no violão? A reação para a canção título do álbum de 1975 foi incrível, pois, toda aquela multidão cantou apaixonadamente os versos deste hino que homenageia Syd Barrett de forma quase ensurdecedora. E confesso, estar exposto a um de seus criadores cantado-a com todo esse feeling que este senhor é possuidor é simplesmente algo de arrepiar!!!

...e olho no presente

    Com um simples "Thank You very much... good night", ele nos cumprimenta e nos agradece pela presença e nos envia solos que novamente mergulham em linhas progressivas e introspectivas em A Boat Lies Waiting ( outra do Rattle That Lock ), que passa uma calma muito grande no ar e nos deixou viajar em suas notas, graças a atuante guitarra de Phil Manzanera, aos belos toques de baixo acústico de Guy Pratt, aos eficientes teclados de Kevin McAlea e Jon Carin, e também, ao mais importante: os solos que David Gilmour com o slide de seu pedal steel guitar e nos seus vocais, que exibiram uma melodia vocal simplesmente linda.

     E sem delongas, esta canção que gerou sensações maravilhosas uniu-se a The Blue do On An Island, nos convidando para fechar os olhos e viajar em nossas mentes, mas, não foi possível fazer isso, pois, desta vez, todos queríamos olhar para ele no centro do palco e sentir cada toque de suas mãos nas cordas sua Fender Stratocaster, que foram causadores de uma quase parada no tempo e no espaço, que ao terminarem fizeram o guitarrista ser efusivamente aplaudido.

O melhor show de David Gilmour

     Contudo, todos nós também desejávamos reviver o gigante Pink Floyd nesta noite e David Gilmour nos atendeu com a flamejante Money do The Dark Side Of The Moon, com seu clipe exibido no telão e seu contagiante ritmo de baixo. Entretanto, entre sua pulsante melodia, novamente o brasileiro João Macedo de Mello detonou solando seu saxofone antes que David Gilmour realizasse aquele duelo de guitarra com ele resultando nos seus prolongamentos mais Rock´n´Roll em muitas palmas de cada um de nós, e detalhe, no tempo certo.

    São motivos como este que levaram o iluminador, diretor, produtor e desinger da turnê Marc Brickman escrever: "Foi o melhor show de David Gilmour já feito". E cá entre nós, se impressionou ele, imagine o que produziu em cada um de nós? Tentando descrever... em nós... emoções de uma gostosa volta ao passado, aos anos 70 e aos nossos velhos álbuns de vinil...

    E as vibrações positivas suspendem-se ainda mais com a tranquilidade de Us And Them, que foi executada como no disco The Dark Side Of The Moon, com um coral de 45.000 vozes juntos com David Gilmour nos seus versos e ouvindo atentamente suas notas de guitarras, que culminam naquele solo de saxofone executado com precisão pelo brasileiro, que garantiram outra sessão de muitas palmas dos felizes presentes, que corresponderam gritando "olê... olê... olê... Gilmour... Gilmour..." ganhando os sorrisos do músico.

Reflexão progressiva

    Aos assovios, ele inicia mais uma do álbum Rattle That Lock com a progressiva In Any Tongue, canção com vocais graves e com imagens no telão de soldados mirando uma pessoa com uma ovelha nas mãos, e pelo entender do clipe... atirando e matando ele; se a ideia era nos propor uma reflexão enquanto reparávamos em seus versos... David Gilmour conseguiu... afinal, estamos vivendo tempos muito violentos no planeta e não dando valor a coisas simples. Além disso, esta composição também teve direito a uma profunda viagem progressiva e pesados solos de guitarras, que cravaram o estilo que o guitarrista sempre aplicou em suas músicas.

    Com sons de ventos e as características marcações nos teclados de Jon Carin, que denunciaram qual seria a seguinte, que foram devidamente comprovadas assim que as imagens de seu clipe apareceram no telão, a sintomática High Hopes ( do The Division Bell ) mostrou David Gilmour no violão e uma imensa participação dos fãs a cada verso cantado por ele neste recuo ao considerado último álbum de estúdio do Pink Floyd.

 

    Na hora dos solos ele novamente utiliza a pedal steel guitar aplicando aqueles formidáveis solos que ouvimos desde o lançamento do disco em prolongamentos significativos e devidamente progressivos provocando uma viagem astral graças à atuação emocionante e com direito ao guitarrista se levantar, pegar um violão e tocar as últimas notas em conjunto com o piano finalizando de uma forma que sensibilizou a todos.

     Não parecia, mas a primeira parte do show já havia passado em um piscar de olhos e entre muitos aplausos e mais gritos de "olê... olê... olê... Gilmour... Gilmour...", o guitarrista nos agradece com um "Obrigado", complementa dizendo que somos lindos e anuncia a pausa de vinte minutos.

Impondo respeito

     No retorno de todos ao palco, sem falar nada... David Gilmour e banda retornaram a 1967 com a viagem psicodélica presente em Astronomy Domine, canção de peso que abre o álbum The Piper At The Gates Of Down, onde foram exibidas imagens no telão circular que remeteram aos primeiros shows do Pink Floyd, tempos que nem ele estava na banda ainda, quando com poucos recursos de produção os ingleses já levaram os fãs à viagens interplanetárias e praticamente extra-sensoriais, que somente os 'iniciados' em Rock Progressivo poderão ter essa percepção, pois, fomos expostos aos versos complicados como: "Blinding signs flap, // Flicker, flicker, flicker blam. Pow, bow. // Stairway scares Dan Dare who's there? // Lime and limpid green, the sound surrounds // The icy waters under // Lime and limpid green, the sound surrounds // The icy waters underground".

    Inclusive, não foram muitos que ousaram a cantar, apenas soltaram suas mentes e caminharam para outra dimensão, graças aos seus solos de teclados e guitarras, que foram executados com perfeição e disparado um dos momentos mais excepcionais do show.

Brilhe, louco diamante!!!

    Acredito que os fãs que mais antigos ( e olha que tínhamos muitos que já passaram dos 50 e 60 anos no Allianz Parque ) não acreditaram quando vivenciaram os longos solos de guitarras e teclados durante a admirável Shine On You Crazy Diamond ( Parts I-V ), uma das mais bonitas canções do Pink Floyd presente no álbum Wish You Were Here e que nos concederam uma viagem fenomenal com o sorridente David Gilmour dedilhando sua Fender.

    Quando ele cantou os versos, a plateia o acompanhou de forma tão intensa, que parecia que tínhamos aquele caldeirão, típico de um clássico do futebol brasileiro, que mexeu e vibrou cada coração dentro do estádio. E não posso deixar de mencionar nesta resenha o solo de João Macedo de Mello, que trocou rapidamente de saxofone do tenor para o barítono para as notas mais altas da música.

    Este segundo set deste show figura entre os melhores momentos, que pude presenciar neste ano de 2015 e certamente um dos melhores que presenciei na vida, pois, na continuação David Gilmour trouxe o clássico Fat Old Sun do Atom Heart Mother ( de 1970, gravada no 'disco da vaca' como ficou conhecido por aqui ) e a tocou sozinho no violão quase inteira, para uma verdadeira euforia de todos que adoram cada um de seus calmos, animadores e progressivos versos. Porém, antes do término pegou sua Fender Telecaster 'surrada' e a solou com a destreza única que possui trazendo um prolongamento que só pode ser definido em uma palavra: magnífico.

Brasileiro se destacou

     Embora todos nós quiséssemos mais músicas do Pink Floyd no show, David Gilmour deixou claro que o espetáculo não seria centrado apenas em sua ex-banda, e portanto, incluiu também muitas canções solos no set list do show, sendo quase meio a meio, desta forma, a canção que intitula o álbum de 2006, a melodiosa e excelente On An Island manteve com o clima Progressivo mais ameno no ar em seus versos e nos expos aos seus exuberantes solos de guitarra com o que posso dizer que é marca do guitarrista.

    Em um dos poucos momentos que falou com os fãs, David Gilmour novamente nos agradeceu em inglês com um "muito obrigado" e complementa dizendo que vai apresentar a banda, assim comenta um pouco de cada um dos competentes músicos presentes, que vão um-a-um ganhando muitos aplausos, afinal, a banda dele só tem feras...

    Então, em um ambiente mais voltado ao Jazz de cabaré e com o telão circular exibindo uma interessante história tivemos a The Girl In The Yellow Dress, mais uma do Rattle That Lock, que ele cantou de forma bastante empolgada seus versos mais lentos, que destacaram o saxofonista João Macedo de Mello, que dividiu seus solos ( e a atenção de todos ) com os extraídos pelo guitarrista.

Eletricidade pura!!!

    Com melodias vocais elegantes e bastante agradáveis - e a última do novo trabalho executada nesta noite - Today apresentou um ritmo Rock´n´Roll delicioso de se curtir, que comprovaram que se quiser, ele pode compor canções que terão destaque em sua carreira e nos surpreender muito.

    No retorno aos sons da banda que o consagrou na história do Rock, David Gilmour escolheu para a sequencia final desta segunda parte os estonteantes e poderosos riffs de Sorrow, do álbum A Momentary Lapse Of Reason e o primeiro sem Roger Waters, que nesta apresentação no Allianz Parque trouxe uma magia envolvente para os fãs que cresceram ouvindo esta música.

    E novamente ele utilizou de sua Fender Stratocaster preta e encantou com sua voz mais grave cada um de nós, que literalmente ficaram vidrados nos cativantes, eletrizantes e incendiários solos que foram tirados de sua guitarra e também nas incríveis iluminações e imagens do telão circular, que centraram suas luzes em David Gilmour fazendo-o quase desaparecer entre elas.

Puramente Surreal!!!

    Mas, se Sorrow impressionou bastante, o que viria a seguir só pode ser definido como descomunal, afinal, ouvir as notas de Run Like Hell tocadas por David Gilmour é de se deixar sem fôlego, ver as movimentações das luzes, sejam do telão circular ou da parte de cima do palco, era para ficar de boca aberta... com olhos e mentes alucinados, enfim... algo quase inimaginável mesmo... e poder estar presente no estádio, poder aplaudir no ritmo da música e participar dos versos cantados por ele e o baixista Guy Pratt é para não se esquecer jamais.

    Ahh... e uma curiosidade, nesta - que no The Wall marca uma perseguição do regime totalitário retratado no disco às pessoas normais - fez todos os membros da banda de David Gilmour ( e ele inclusive ) utilizarem de óculos escuros. Posteriormente, eles se reúnem no palco e nos agradecem finalizando a segunda parte do show de forma majestosa aos gritos frenéticos e quase incessantes de "olê... olê... olê... Gilmour... Gilmour..." para que retornassem para o bis. 

    Mesmo sabendo que eles voltariam, a felicidade de cada um era tamanha, que não sossegamos enquanto que eles não retornaram ao palco e qual seria a melhor forma de terminar esta histórica apresentação? Com a execução de mais alguns clássicos imortais e que deram honra e importância ao Rock Progressivo e foram gravados pelo Pink Floyd.

   Time ( do The Dark Side Of The Moon ) foi a primeira do bis com o seu clipe exibido no telão principal conduzindo a sedução de nossas almas para outra viagem que só poderia resultar em uma 'colaboração' de milhares de vozes com David Gilmour. É deslumbrante poder assistir e sentir os seus solos de guitarra com a habilidade que este mestre do instrumento desfilou no Allianz Parque.

     E assim como no álbum que ficou 903 semanas na parada da Billboard e vendeu mais de 50 milhões de cópias, Breathe ( Reprise ) foi tocada na sequencia para uma catarse coletiva, que praticamente encobriu a voz do guitarrista em um ápice Progressivo, que acredito que não foram muitas vezes que o Brasil tenha vivido.

    Para o encerramento do show faltava um dos hinos mais viajantes de toda a história do Rock: a emblemática Comfortably Numb, que contou com o tecladista Jon Carin cantando as partes de Roger Waters e manteve todo aquele mega coral de fãs interagindo e sendo expostos aos sensacionais 'lasers', que fizeram parte de sua execução durante seus espetaculares solos de guitarras, cuja maestria não queríamos que terminassem nunca... é um devaneio, porém, poderíamos estar até agora flutuando para cada vez mais longe com David Gilmour e seus solos memoráveis.

     Por fim, todos os músicos vão ao palco aos aplausos e gritos de extrema emoção e David Gilmour exclama: "Thank You very much... Good Night..." finalizando um dos mais aguardados shows no Brasil desde muito tempo, que com certeza será eternizado entre os melhores realizados no país, afinal, tivemos uma produção excelente, iluminação fabulosa e atuação excepcional dos músicos, só faltando telões laterais auxiliares para facilitar a visão de quem estava nos pontos mais longes do palco montado no Allianz Parque.

    E mesmo com espetáculo desta grandeza, com mais músicas do Pink Floyd no set em mais de duas horas e meia de show, existem muitos clássicos eternos que não foram incluídos e se fossem fariam ainda mais a diferença, mas, aí teríamos uma apresentação de quatro ou cinco horas... que fiquem para um retorno de David Gilmour ao Brasil.

Texto: Fernando R. R. Júnior
Fotos: Camila Cara e M. Rossi - Midiorama/Mercury Concerts
e Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à Denise Catto Joia e a equipe da Midiorama/Mercury Concerts pela atenção e credenciamento
Dezembro/2015

Set List de David Gilmour

Set 1:
1 - 5 A.M.
2 - Rattle That Lock
3 - Faces Of Stone
4 - Wish You Were Here
5 - A Boat Lies Waiting
6 - The Blue
7 - Money
8 - Us And Them
9 - In Any Tongue
10 - High Hopes

Set 2:
11 - Astronomy Domine
12 - Shine On You Crazy Diamond (Parts I-V)
13 - Fat Old Sun
14 - On An Island
15 - The Girl In The Yellow Dress
16 - Today
17 - Sorrow
18 - Run Like Hell

Bis:
19 - Time
20 - Breathe (Reprise)
21 - Comfortably Numb

 

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