Sepultura - 30Th Anniversary Tour
 
Praça Arautos da Paz em Campinas/SP
quinta, 21 de abril de 2016

    A mais bem sucedida banda do Heavy Metal Brasileiro, o Sepultura, está comemorando 30 anos de existência e os 20 anos do lançamento do cd Chaos A.D. com uma sequencia de shows especiais por várias unidades do Sesc do estado de São Paulo.

    Na passagem pela cidade de Campinas/SP, a apresentação foi especial, pois, fez parte do Campinas Chama Rock, um evento gratuito e realizado na Praça Arautos da Paz, que recebeu um expressivo público de mais de 20 mil pessoas, afinal, o apetite da região do interior de São Paulo para conferir um show do Sepultura era enorme e desde muito tempo, que não se ouvia falar de um show nas proximidades e ainda mais gratuito.  

    Assim que adentrei na Praça Arautos da Paz fiquei impressionado com o seu tamanho e contente por rever amigos e amigas de várias cidades da região como Amparo, Itapira, Mogi Mirim, Mogi Guaçú, que junto ao público de Campinas ocuparam praticamente todos os espaços disponíveis do grande local escolhido para o evento. Realizado pela primeira vez, o projeto Campinas Chama Rock contou com uma excelente estrutura de palco, iluminação, som e dois telões de alta definição para a exibição do show aos fãs que estavam mais para trás.

    Muito bom em poder conferir que a Prefeitura Municipal de Campinas proporcionou à população um evento de Heavy Metal, que foi bem organizado e direcionado aos sempre ávidos e ardorosos fãs, enfim, é gratificante ver que ao menos uma vez utilizaram o dinheiro de nossos impostos para algo que nos deixou contentes por presenciar. Infelizmente, não cheguei a tempo para presenciar os shows das bandas de abertura Mortage e RangaR.

Sepultura

    Programado para começar as 19:30, o show do Sepultura começou pouco depois das 19:45 com um dos organizadores avisando da importância para a cidade de receber Andreas Kisser na guitarra, Derrick Green nos vocais, Eloy Casagrande na bateria e Paulo Jr. no baixo, que aos vorazes gritos de "Sepultura... Sepultura..." entraram no palco impondo respeito e moral ao começarem o destruidor espetáculo com a explosiva Troops Of Doom ( do Morbid Visions de 1986 ), que já fez a grande legião de headbangers presentes sacudir seus pescoços e perceberem que o quarteto não estava para brincadeiras.

    A reação dos fãs foi de ovacionar à banda aos gritos de "Sepultura... Sepultura...", que naturalmente sentiu-se contente pela recepção e disparou a bordoada mais cadenciada e totalmente agressiva chamada Kairos ( título do cd de 2011 ) com o grandalhão Derrick Green vociferando com raiva cada verso, enquanto que os demais aumentaram consideravelmente a potência do peso de suas notas, graças - por exemplo - a distorção extraída da guitarra de Andreas Kisser e as notas opacas do baixo de Paulo Jr. e isso, obviamente, sem contar com o massacre de Eloy Casagrande em sua bateria.

Moedor

    A próxima foi a rápida Slave New World ( do Chaos A.D. de 1993 ) com o sempre empolgado Andreas Kisser expelindo seus poderosos riffs de sua guitarra e já neste princípio, pude reparar como e porque o jovem Eloy Casagrande pode ser considerado um 'monstro' na bateria, pois, a cada música, ele aplica muito peso e literalmente 'moe' seu kit com velocidade e técnica. Só então que Derrick Green conversa com os fãs um pouco dizendo: "galera... tudo bem? é um prazer tocar aqui em Campinas!" e anuncia a Breed Apart ( do Roots de 1996 ) com seu ritmo contagiante, onde pudemos ver o vocalista pegar duas baquetas e 'castigar' seu surdo montado próximo ao seu microfone, que auxilia na percussão desta pedrada sonora, que exala muito ódio a cada verso pronunciado por ele.

    Sempre comunicativo Andreas Kisser comenta: "Aee Campinaaas... Muito obrigado por terem vindo", claramente nos agradecendo da presença e deixando claro a satisfação do quarteto por estarem na cidade se apresentando para um público tão numeroso novamente ( que acredito que tenha sido maior ou no mínimo igual ao show realizado na Pedreira do Chapadão em 2004, leia resenha ) e então... hora de disparar mais um dos grandes sucessos da carreira da banda com a esmagadora Desperate Cry ( do Arise de 1991 ) e evidentemente, que várias rodas se espalharam pela Praça Arautos da Paz, pois, pense aí... existe como ficar parado diante de um clássico desta magnitude? Creio que não caro leitor(a). Aliás, nos solos, que foram um pouco estendidos por Andreas Kisser pude conferir de novo e com mais atenção o 'poder de fogo dos canhões sonoros' de Eloy Casagrande, que literalmente 'trucidou' sua bateria.

    Retornando aos tempos do cd Nation de 2001, o segundo com o 'predador' Derrick Green nos vocais, que após nos deixar respirar por um momento provocou pronunciando um "E aí.. todo mundo feliz?" para soltar um urro logo, que resultou em mais um dos hinos - e provavelmente uma das melhores de sua fase nos vocais da banda - com a Sepulnation, canção que convida ao 'headbanging' pelo seu andamento... e foi o que a galera fez para depois mais uma vez bradar "Sepultura...Sepultura..."  e vendo o 'estrago' que causou Andreas Kisser avisa: "quero ver levantar poeira aí..." para que ecoasse outra mortífera composição... a Ambush do Roots, com uma incursão em ritmos distorcidos e muita fúria, que foram executados de uma forma única e que somente o Sepultura consegue realizar, sendo que no final, isso resultou em aplausos e gritos firmes da multidão.

    Com o Sepultura não há descanso e eles continuam o show martelando com mais uma do Roots, agora a rápida Spit, que mostrou uma uma linhagem Punk mais visceral destacando os toques do baixista de Paulo Jr. e os riffs de Andreas Kisser, que logo trouxeram a destroçadora Dialog do Kairos, onde os ouvidos menos experientes foram literalmente dilacerados e nos prolongamentos feitos pelo guitarrista, sempre aumentando a distorção e também o peso, que serviram para construir a interligação para arrebentar com mais pescoços na seguinte do set, que assim que foi reconhecida pelos fãs e por se tratar de uma das mais famosas trouxe o inquieto frontman com a pedrada intitulada como Attitude do Roots e na hora do seu impactante refrão "Can You Take...", ele pode agitar freneticamente a multidão e pedir para que esta participasse gritando com ele violentamente.

Inflamando...

    Em seguida, Derrick Green se posiciona de frente ao seu surdo e começa enviar pancadas que resultam na colérica Convicted In Life do Dante XXI ( de 2006 ), cuja percussão inicial chama bastante a atenção, assim como a atuação do vocalista que exprime vários berros ao cantá-la.   

    Derrick Green pergunta a todos: "quem aí tem o cd Chaos A.D.?" e para intensificar o forte calor que estava forte neste início de noite, assim que eles executaram a Biotech Is Godzilla, que foi entremeada com a versão 'politicamente incorreta' de Polícia dos Titãs causando uma enorme participação dos fãs e marcando um dos pontos mais fervorosos do show, só superado na sequencia final. Naqueles instantes que antecedem a música seguinte, o Sepultura começou a brincar com as notas e no improviso que se seguiu tivemos um trecho de Moby Dick do Led Zeppelin - quem diria que uma das bandas mais extremas conhecidas nos proporcionaria um momento assim.... e executaram com a categoria necessária, pois, extraíram sorrisos e aplausos dos presentes, enfim, daqueles que conheceram de que música e banda se tratava...

    Entretanto, a próxima do set foi do Roots com a colérica Dusted, onde pudemos ver o 'bangueador' Andreas Kisser sustentando seus riffs e também Eloy Casagrande 'sentando a porrada' nas peças de sua bateria com uma destreza muito grande, que por muitas vezes fiquei olhando sua atuação e posso afirmar seguramente que ele é um dos melhores bateristas do mundo da nova geração.

Aniquiladores

    Do mais recente trabalho de estúdio do Sepultura, o The Mediator Between Head and Hands Must Be The Heart de 2013 tivemos a imponente The Vatican, onde palavras como ódio, fúria, cólera parecem não se adequarem para descrever o nível de agressividade que o quarteto nos passou, enfim, tivemos uma 'disgraceira' animal nesta música. Para respirar um pouco, Derrick Green pergunta: "E aí.. tão cansados?" e então arrebentam com tudo com o Thrash/Death Metal registrado em Beneath The Remains ( clássico que intitula o álbum de 1989, que influenciou muitas bandas brasileiras e internacionais desde então ) provocando rodas cada vez maiores, que é encerrada com um singelo "obrigado" do vocalista.

    Porém, o que viria a seguir seria a aniquilação em massa, pois, assim que Derrick Green brada "War... for..." para que nós completássemos "Territory..." e sentimos os seus primeiros exterminadores acordes, que trazem aquele andamento frenético que mexe com nossos corpos e cabeças... e na execução da conhecidíssimo clássico do Chaos A.D. eram socos no ar rolando, headbanging, rodas, enfim, um clima devastador comandado pelo Sepultura, que seguia as linhas de guitarra de Andreas Kisser sempre  metralhando com seus solos mantendo o peso e a distorção elevados.

    Derrick Green exclama: "I´m want you all..." para que o Thrash violento de Arise ( que intitula o álbum ) fosse exibido como um rolo compressor esmagando tudo que estivesse me sua frente causando um delírio da multidão, que correspondeu plenamente seja socando o ar ou abrindo mais uma nova sequencia de rodas com a interpretação estranguladora do Sepultura.

Final estraçalhador

    Pouco depois eles fuzilam com a eletrizante Refuse/Resist, também do Chaos A.D., que fez muitos pularem, chacoalharem seus pescoços, erguerem seus punhos para o alto e cantaem seus versos com o Sepultura em uma versão simplesmente soberba deste verdadeiro hino do Heavy Metal Brasileiro, que é energia em estado bruto e fechou a primeira parte do show, sendo que mais uma vez serviu para conclamar a galera para berrar o nome da banda.

    No retorno, o Sepultura nos enviou uma grata surpresa e que foi totalmente inesperada: uma versão de Satisfaction dos Rolling Stones, que começou com apenas alguns toques na guitarra de Andreas Kisser, mas por conta da euforia que causou e também da recente passagem da banda inglesa por aqui, eles até tocaram um trecho um tanto que grande da música e concluiu com Andreas Kisser brincando: "It´s Only Rock´n´Roll But I´m Liked...", pois, depois eles focaram a mira na assassina Sepultura Under My Skin ( do recente EP Under My Skin de 2015 ), que pode até ser um direcionamento que a banda irá explorar em seu futuro cd e meus amigos e amigas, que hecatombe extrema e técnica eles nos exibiram com riffs, vocais, baixo e bateria dilacerantes.

    Derrick Green pergunta: "Valeu ou não?" para medir o grau de 'contentação' dos fãs e então dispara a Ratamahatta do Roots, com sua percussão contagiante, que veio espancando raivosamente com ele e Andreas Kisser dividindo os vocais, além de receber palmas no ritmo de seus toques. E para terminar a histórica apresentação em Campinas, Derrick Green grita "Sepultura.. do Brasil.. um... dois... três... quatro..." - o tradicional anúncio para a avassaladora Roots Bloody Roots ( outra do Roots ), que mais uma vez foi executada com a crueza perfeita dos caras e finalizou o show do Sepultura no Campinas Chama Rock deixando a plateia alucinada, feliz e contente pela aula que puderam acompanhar de um dos maiores mestres do Heavy Metal Mundial. Nos agradecimentos finais, eles nos informaram que este foi o último show antes da gravação do novo disco e que a energia que passamos será aproveitada no vindouro trabalho, que será registrado na Suécia.

    Se os números de presentes estiverem corretos, creio que o Sepultura se apresentou para um dos maiores públicos de sua carreira, exceção feita a festivais como Rock In Rio e Wacken Open Air, porém, o que chama a atenção é que este numeroso público foi no interior e deixa claro a força que nós temos comparecendo em massa para assistir ao show.

    Foi relatado pelo portal G1 Campinas que dois grupos - possivelmente de Punks e Skinheads - resolveram 'discutir suas opiniões' resultando em uma briga generalizada envolvendo trinta pessoas, entretanto, os fatos ocorreram fora da Praça Arautos da Paz, e eu particularmente - de onde estava - não vi nada disso, mas, claro que existem pessoas que resolvem suas diferenças de forma e em momentos inadequados. No espaço destinado ao show, o que presenciei foram legiões de fãs de todas as idades e inclusive casais, amigos(as), pais com seus filhos(as) satisfeitos(as) com a espetacular apresentação do Sepultura em solo campinense. Obrigado Sepultura pelos trinta anos fazendo parte da história de nossas vidas e do Metal.

    Aguardamos o Sepultura novamente em Campinas em breve para a divulgação de seu vindouro cd e que esta iniciativa do projeto Campinas Chama Rock aconteça nos próximos anos com outras bandas de Heavy Metal, pois, além de nosso país possuir muitas bandas de alto nível, em tempos de crise como atravessamos e a alta cobrança de impostos que sofremos, nada mais justo que o dinheiro seja utilizado também para eventos gratuitos e voltados ao Heavy Metal para a população que aprecia o gênero e lota as arenas.

Texto: Fernando R. R. Júnior
Fotos: cortesia de Well Ribeiro e Wellington Penilha
Abril/2016

Set List do Sepultura

1 - Troops of Doom
2 - Kairos
3 - Slave New World
4 - Breed Apart
5 - Desperate Cry
6 - Sepulnation
7 - Ambush
8 - Spit
9 - Dialog
10 - Attitude
11 - Convicted in Life
12 - Biotech Is Godzilla / Polícia
13 - Dusted
14 - The Vatican
15 - Beneath the Remains
16 - Territory
17 - Arise
18 - Refuse/Resist

Bis:
19 - Satisfaction (The Rolling Stones cover)
20 - Sepultura Under My Skin
21 - Ratamahatta
22 - Roots Bloody Roots

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