São Paulo Trip - Concert Series: Terceiro Dia
Com: Aerosmith e Def Leppard

Allianz Parque - São Paulo/SP
Domingo, 24 de Setembro de 2017
   

Blues de primeira e muito Hard Rock

    O terceiro dia do São Paulo Trip - Concert Series era para mim um dos mais aguardados, óbvio, que depois do primeiro dia, que contou com o The Who ( confira aqui como foi ), e isso, não tanto pelo Aerosmith, que já assisti ao seu empolgante show no mesmo Allianz Parque no ano passado ( confira matéria ) e também em outras oportunidades ao longo dos últimos anos, porém, minha maior expectativa pessoal estava centrada na banda de abertura, se é que pode-se chamar o Def Leppard desta maneira, enfim, no co-headliner, pois, a primeira e única  passagem dos ingleses no país foi há mais de vinte anos em uma fase não muito boa de sua carreira, onde infelizmente, os shows receberam poucas pessoas e fatalmente desanimou aos empresários ( e até aos músicos ) a apostarem em uma nova turnê deles por aqui.

    Entretanto, a história desta noite seria diferente, aliás, muito diferente. Os dois gigantes do Hard Rock foram responsáveis por outra multidão no estádio e por dois shows altamente elétricos, animados e que me lembrarei por muito, muito tempo.

Def Leppard

    Logo após sua formação, o Def Leppard se tornou um dos principais nomes do New Wave Of British Heavy Metal ( para situar quem não conhece movimento que trouxe aos holofotes nomes como Iron Maiden, Saxon, Venom, Tygers Of Pan Tang, Grim Reaper e tantos outros ), mas, logo depois dos primeiros álbuns eles foram caminhando para o lado do Hard Rock se transformando um dos mais importantes nomes do estilo. Além do sucesso que o Def Leppard alcançou na carreira com mais de 100 milhões de álbuns vendidos, especialmente graças aos álbuns Pyromania de 1983 e Hysteria de 1987, o quinteto enfrentou dois grandes e graves problemas: o acidente de carro que cortou um braço do baterista Rick Allen e a traumática morte do guitarrista Steve Clark.

    Com o mesmo line up desde 1992, a saber Joe Elliott nos vocais, Phil Collen e Vivian Campbell nas guitarras, Rick Savage no baixo e Rick Allen na bateria ( sim, ele mesmo, com um braço só em um exemplo de superação ), o Def Leppard retornou ao Brasil para três shows ( sendo um no Rock In Rio, um nesta noite e outro em Porto Alegre/RS ao lado do The Who ) como parte da divulgação do álbum autointitulado lançado em 2016 ( leia resenha ) causando uma alegria sem tamanho em gerações de fãs de Hard Rock, desde aqueles que conhecem a banda dos anos 80 ( meu caso ) como muitos garotos, que nasceram nas décadas seguintes.

40 anos em uma noite

    O palco montando para o Def Leppard chamou a atenção pelos vários painéis de 'led' colocados atrás dos músicos e abaixo do telão principal, bem como o posicionamento mais elevado do baterista Rick Allen. E antes da banda entrar às 19:40  ( e cinco minutos antes do programado ), o logotipo aumentou no telão principal para pouco depois o quinteto aparecer tocando a nova Let´s Go, que é um Hard Rock firmado nos fundamentos do estilo, ou seja, bons riffs, refrão contagiante e uma capacidade de funcionar de forma excelente ao vivo ( conforme previa quando resenhei o cd ). E Jon Elliot deu seus primeiros passos em direção da passarela e mirou seu microfone para nós, enquanto que os demais o auxiliam nos backing vocals desta música nos levando a aplaudir no seu ritmo durante os inflamados solos de Phil Collen e Vivian Campbell.

    A balada Hard Animal do Hysteria com seus solos de primeira grandeza ajudaram a chacoalhar os fãs que estavam contentes por estarem vendo pela primeira vez o Def Leppard diante de seus olhos e responderam cantando seus versos com Joe Elliot, que demonstrou estar tão empolgado quanto seu público. A iluminação do show foi algo que não é muito costume ver por aqui e também conferia mais emoção ao espetáculo. Bem contente com a recepção, Joe Elliot faz a saudação para os fãs e pede para que façamos mais barulho diante dos solos certeiros da entrosada dupla de guitarristas Phil Collen e Vivian Campbell para a clássica Let It Go, Heavy registrado no álbum High'n'Dry de 1981, que contou com uma ótima movimentação dos músicos pelo palco do São Paulo Trip - Concert Series e um solo impactante do magrelo - e sem camisa Phil Collen em sua guitarra.

Apaixonado

    Joe Elliot solta um "obrigado" com sotaque para que a balada Love Bites, que foi regravada aqui pelo Yahoo e fez um enorme sucesso também, marcasse a quarta do show criando um enorme coro que participou com o vocalista. E não tem como ouvir esta música e não relembrar-se de quando ela saiu à bordo do Hysteria nos anos 80, aliás, quantos casais se conheceram ( e até casaram ) com este som de fundo?

    Acredito que a grande maioria dos presentes cantou e adorou por estar no set desta noite, pois, tiveram uma exibição de gala da música, que resultou em um novo "obrigado" dito pelo vocalista seguido por uma fala: "Thank you São Paulo.... Are You Doing? All Good?" e a ordem: "Make some noise!!!", que trouxe a Armageddon It, outra do Hysteria ( álbum que alcançou a marca de diamante por suas vendas ) nos levando a pular e socar o ar se divertindo bastante com a atuação cheia de energia do Def Leppard no palco, que contou com um solo efervescente de Vivian Campbell em sua guitarra e também com alguns prolongamentos puramente Rock'n'Roll.

    Man Enough - outra do último lançamento de estúdio, que o baixista Rick Savage brilha em seus encorpados toques iniciais - foi recebida nas palmas convocadas por Joe Elliot, que graças ao grande frontman que é nos inflamou... assim como os telões e os painéis, que exibiram imagens alucinantes e também seus solos de guitarras mais 'sujos'.

 

    O álbum Hysteria está completando trinta anos de seu lançamento e por conta disso foi o mais lembrado neste show do Def Leppard e desta forma, Rocket com suas percussões, ritmo infectante, batidas que parecem eletrônicas e vocalizações de Joe Elliot sendo divididas nos pontos corretos com a gente também manteve o pique do show em alta, cujos solos de Phill Collen e Vivian Campbell continham aquela 'melosidade' Hard Rock que sempre aumentam a nossa vibração no show. Antes de acabar esta canção, o vocalista foi mais ao final da passarela para capitanear agitação dos fãs de lá e dispara um "Obrigado... São Paulo" em português.

    Falando em melodia, ele anuncia do High'n'Dry a Bringin' on The Heartbreak, que foi uma balada pesada muito marcante deste álbum, cujo refrão procuramos cantar tão alto quanto o Joe Elliot, que depositou muita emoção em seus versos, como também olhar atentamente seus excelentes solos de guitarras, que aliás, seguiram com a Switch 625, também deste disco e o trio de cordas nos enviaram um ritmo Rock'n'Roll cheio de harmonia e impressionante, que pouco depois exibiram com um solo de bateria de Rick Allen trajando uma elegante camisa da Inglaterra brilhante, que bate forte mesmo com um braço a menos ( ele teve que adaptar sua bateria fazendo muitas partes com os pés ). E uma curiosidade interessante: havia um girassol como ornamento de sua bateria.

    Com Joe Elliot no palco após esta sequencia instrumental, hora da balada Hysteria, que causou um delírio imenso ao combinar suas melodias com imagens antigas da banda e tanto ele, como Phil Collen e Vivian Campbell - com seus solos - querem compartilhar estes bons sentimentos que esta música desperta o mais próximo do público ao caminharem pela passarela. E pensa que não cantamos muito com eles? Ahh cantamos cada verso em uma grande euforia e ficamos vidrados na belíssima iluminação e nos telões desta formidável e marcante produção do Def Leppard.

     Eles foram bastante aplaudidos e em retribuição, o vocalista grita um "Obrigado... São Paulo..." e pergunta: "Do Wanna Get Rock" para que Let's Get Rocked, canção de abertura do Adrenalize de 1992 faça o Allianz Parque cantar, pular e aplaudir intensamente com o quinteto, este verdadeiro clássico do Hard Rock em que confesso, a sensação que foi produzida por estar vendo o Def Leppard interpretar esta só não foi maior que nas últimas do set. Inteligentemente, eles fazem um prolongamento para que pudéssemos interagir mais ainda com a banda, coisas que os grandes nomes do Hard Rock nos proporcionam.

Explosivo

    Depois, enviaram a pulsante Pour Some Sugar On Me, outra do Hysteria, que também serviu para evidenciar a voltagem que é um show do Def Leppard e a falta que eles fizeram por não passarem no Brasil outras vezes, pois, nesta noite, nos levaram a transbordar de felicidade. Aliás, o público cantou tão forte que é bem provável que os ingleses tenham ficado contentes com nossa atuação.

    Joe Elliot apresenta o baterista Rick Allen e este dá os primeiros toques em sua bateria, que nos trazem um dos maiores sucessos da banda com Rock Of Ages, do fundamental álbum Pyromania e um 'formador musical' deste redator, que foi simplesmente uma das que eu mais esperava presenciar em um show do Def Leppard em minha vida com todos os seus solos e seu refrão altamente contaminante, pois, como não cantar "Rock of ages, rock of ages // Still rollin', keep a-rollin' // Rock of ages, rock of ages // Still rollin', rock'n'rollin' // We got the power, got the glory // Just say you need it and if you need it // Say yeah" com um sorriso gigante no rosto?

Quase perfeito

    É pena que o tempo do Def Leppard era obviamente menor e com os telões e os painéis exibindo filmes de máquinas fotográficas com a história da banda, a sensacional Photograph do Pyromania também contou com um coral de vozes do tamanho do estádio, além de sentirmos seus solos e as atuações dos músicos, enfim, sentirmos realizados por assistirmos à este show, que durou por volta de uma hora e quinze minutos terminando com os agradecimentos da banda e gritos de "one more song...one more song...". Vale mencionar no período em que o estádio seria inaugurado foi dito que o Def Leppard faria o primeiro show, bem, demorou um pouco mais, mas a promessa foi cumprida em um excelente espetáculo.   

    Esta apresentação marcou o retorno do Def Leppard ao Brasil e os ingleses aproveitaram para nos mostrarem músicas do novo álbum autointitulado mesclando algumas das melhores composições dos 40 anos de história da banda e vários de seus clássicos em uma apresentação irretocável, onde reinaram absolutos e deixaram saudades nos fãs. A única que faltou e para mim era imprescindível que fosse tocada foi a Foolin', mas, tudo bem, esta fica para quando o Def Leppard aportar aqui novamente. E que missão o  Def Leppard deu para o Aerosmith ao realizar um dos melhores shows de todo o São Paulo Trip - Concert Series... tanto que pensei: "será que os americanos conseguiriam superá-los?" Entretanto, isto você saberá mais abaixo...

Setlist do Def Leppard

1 - Let's Go
2 - Animal
3 - Let It Go
4 - Love Bites
5 - Armageddon It
6 - Man Enough
7 - Rocket
8 - Bringin' on The Heartbreak
9 - Switch 625
10 - Hysteria
11 - Let's Get Rocked
12 - Pour Some Sugar On Me
13 - Rock Of Ages
14 - Photograph

Aerosmith

    O Aerosmith já vendeu mais de 150 milhões de álbuns em seus 47 anos de carreira e faz parte do Hall da Fama do Rock e em todas as vezes que se apresentou no Brasil, sempre garantiu espetáculos com muito vigor, animação 'à milhão' e um grande público acompanhando. Entretanto, ano passado, os Bad Boys Of Boston anunciaram que a Aero-Vederci Baby! será sua turnê de despedida dos palcos, que pela idade dos músicos e seus longos anos de diversos abusos, um certo temor já existe nos fãs.

    Programado para começar as 21:30, o Aerosmith foi a única banda que atrasou em todo São Paulo Trip - Concert Series, pois, todas as demais respeitaram o horário de início dos shows ou até começaram antes do programado, enquanto não chegava a hora, uma certa impaciência aumentava nos fãs, bem como algumas dúvidas e acrescento aqui: depois da forma que o Def Leppard esquentou a galera, a tarefa do Aerosmith se elevou mais e eles conseguiriam superar nossas expectativas mais uma vez?

Blues Time

    Às 22:00hs, o palco que estava escuro e com os telões exibindo apenas uma 'proteção de tela' com o logotipo do Aerosmith sendo repetida por várias vezes, até que as luzes foram acesas e o vídeo de introdução ao som do clássico do Blues Mannish Boy do Bluesman Muddy Waters foi tocado nos P.A.s de certa forma direcionando o que seria o show do Aerosmith nesta noite.

    E com imagens das capas dos discos, fotos de shows, estúdio, enfim, uma retrospectiva da carreira do norte-americanos ao som da instrumental The Movie vemos Steven Tyler nos vocais ( com todas suas roupas espalhafatosas, echarpes coloridos, óculos escuros, anéis, unhas pintadas, enfim todo seu estilo Glam ), Joe Perry ( com chapéu, óculos escuros ) e Brad Whitford ( com chapéu e um blusão ) nas guitarras, Tom Hamilton ( mais discreto ) no baixo e Joey Kramer ( de regata ) na bateria, finalmente estávamos diante de uma das poucas bandas que mantém sua formação original até hoje, pronta para começar seu show no palco do Allianz Parque com o vocalista dizendo: "All Right São Paulo", sendo que ele e Joe Perry apareceram no meio da passarela e eletrizaram com o Blues Rock de Let The Music Do The Talking, gravada no Done With Mirrors de 1985, que esclareceu a sensação que tive na abertura, não seria um show de Rock, apenas, mas um show de Blues com Joe Perry neste princípio ( e depois também ) abusando dos solos de guitarra com o seu 'slide' e com Steven Tyler não parando quieto por um momento sequer, sendo que os dois já passearam pela passarela logo neste princípio.

    Do aclamado Pump de 1989, eles tocaram a Love In An Elevator, cujos riffs denunciaram a alta voltagem musical que estávamos sendo submetidos, que somados ao suingue que este sucesso contém, a reação não foi outra além de participar com a banda a cada verso e dançar com Steven Tyler, que ia cantando e andando pela passarela incontrolavelmente, chegando em algumas vezes a rolar no chão, enquanto que Joe Perry e Brad Whitford disparavam seus efervescentes riffs de guitarras, que colocam todo mundo para cima. Os prolongamentos realizados por eles, acompanhados pelo baixista Tom Hamilton e pelo baterista Joey Krammer amparados pelo tecladista Buck Johnson enalteceram ainda mais a linhagem Blues Rock adotada nesta noite.

Garotos

    Com a animação em alta, Steven Tyler usa seu carisma repetindo "Yes... baby..." para pouco depois junto com a banda tocar a Cryin', que resultou em um poderoso coro dos milhares de fãs em um momento de grande felicidade, pois, muitos deles ouviram até furar o disco Get A Grip de 1993 ( sim, expressão dos tempos do vinil ) e se relembram do seu clipe, porém, quem impressiona é Joe Perry solando sua Fender Stratocaster preta e vermelha e depois o vocalista solando sua gaita... dá para acreditar que eles tem 67 e 69 anos, respectivamente?

    Ainda deste mesmo disco, eles inflamam a plateia com o seu maior sucesso, Livin' On The Edge em um ritmo mais lento e totalmente repleto de Blues, que foi comandado por Joe Perry e sua Gibson preta enquanto que Steven Tyler, que já havia se jogado no chão, mexeu seu pedestal de microfone para todos os lados, desta vez foi para o fundo, próximo a Joey Krammer na bateria e o fez - após os prolongamentos mais viajantes - dividir os vocais com ele, e claro, conosco, que berrávamos o verso "Livin' on the edge // You can't help yourself from fallin'" seguidamente. Quem era mais novo e não estava ligado na influência que o Blues tem no Aerosmith deve até ter assustado com o mergulho que fizeram nesta música deixando suas guitarras fluírem livremente solo após solo.

Porque o Blues é o Blues

    Com uma pegada na bateria de Joey Krammer altamente transmissível e com Joe Perry sentado com uma steel guitar hora de chacoalhar com Rag Doll, que durante os solos, o 'sem sossego' Steven Tyler vem à frente, volta para o fundo, pega o celular de uma fã, que estava o filmando da lateral do palco e se filma para ela por alguns instantes enquanto canta os versos desta música do cd Permanent Vacation de 1987 e por fim vai para a ponta esquerda do palco. Que irrequieto não!!!

    O guitarrista Joe Perry agora empunha uma Gibson Les Paul e foi anunciado por Steven Tyler, que falou: "São Paulo, como vão vocês estão esta noite", complementa dizendo que todos estes anos com o Aerosmith foram grandes anos e que vai tocar um Blues. Ele escolheu e cantou um dos melhores possíveis, pois, Stop Messin' Around do Fleetwood Mac é um daqueles que aprecia-se na hora ao sentir suas notas penetrarem na alma e causarem aquela vontade de curtir cada riff e cada verso, que tiveram uma presença marcante do tecladista Buck Johnson e de Steven Tyler, porém, solando sua gaita e me lembrando porque eu adoro também solar a minha. E como faz bem para a alma ver um Blues desta magnitude ser tocado por uma das mais clássicas bandas de Rock em um estádio com milhares de fãs.

    Para retribuir a agitação da galera, Steven Tyler diz em bom português: "Vocês são foda..." e emendam outra pedrada Blues, porém, agora mais Rock, do Fleetwood Mac com Oh Well, que por ser rápida, dotada de riffs de guitarras flamejantes e um estilo frenético... foi impossível fica parado ao ver ( e sentir ) as atuações de Joe Perry e Brad Whitford em suas guitarras, sendo que o 'guitar hero' da noite solou até com a guitarra nas costas. O aumento de energia que isso se transforma, que foi acompanhado nas palmas dos fãs se intensifica de uma tal maneira que para você entender o que quero dizer ou precisa conhecer de Blues ou será necessário conferir um vídeo do show, pois, não acaba, fica cada vez mais forte e conta com improvisos que fazem do Blues ser diferenciado de tudo e um dos 'pais' do Rock'n'Roll, onde todos os instrumentos pulsam juntos e as guitarras 'voam' em solos sensacionais.

Acalmando os corações e aumentando as emoções

    Ao término deste momento que para mim é o que separa o Aerosmith dos anos 70 para o das décadas posteriores, Steven Tyler com a plateia em êxtase Steven Tyler grita: "Joe Perry In The House" vai para a frente da passarela e pergunta: "Cadê as minas do Rock?" e então, se enrolou em uma bandeira do Brasil no pescoço para a balada Crazy do Get A Grip, que é bastante conhecida e amada por todos suavizasse o calor provocado anteriormente, embora, coloco isso em dúvida, pois, a plateia cantou a plena força cada verso com o vocalista enquanto que Joe Perry foi até o canto direito para solar sua guitarra com o brilho que extrai dela.

    Ainda nesta linha mais calma, e até romântica, a balada I Don't Want A Miss a Thing, que saiu em single em 1998 e foi tema do filme Armageddon estrelado por Liv Tyler ( filha do vocalista ) foi cantada em uníssono pelos presentes pelo enorme hit que é, onde deu para perceber que Steven Tyler a cantou com a alma e no verso final mirou o microfone para uma fã e a deixou ter seu momento de maior contentamento, provavelmente o maior de sua vida.

     O Rock Blues de Mama Kin, uma das primeiras criações do Aerosmith gravada no longínquo álbum autointitulado de 1973 foi a seguinte nos levando a pular novamente por seu estilo estremecedor e era uma que não poderia faltar, sendo que nesta tanto Steven Tyler quanto Joe Perry dividem seus os versos no mesmo microfone em um gesto tradicional das bandas de Hard Rock e que sempre adoramos quando vemos, que quando tratam-se de dois ícones deste porte, aí é sintoma de muita satisfação como foi nesta noite de domingo. Em tempo, pouco antes do final de Mama Kin uma fã subiu no palco e registrou sua foto com Steven Tyler.

    Regravada pelo Aerosmith, Come Together dos Beatles também contou com uma grande participação dos fãs e com uma versão puramente Rock'n'Roll deste clássico do álbum Abbey Road dos ingleses datado de 1969. Na hora dos solos, Joe Perry e Brad Whitford aplicaram sua eficiência neste tributo deles à Lennon/McCartney, que resultou em muitos aplausos.

À capela, Steven Tyler puxa um trecho de Hole In My Soul entre dedilhados e anuncia "On The Bass Guitar Mr. Tom Hamilton", que postado à frente da passarela realiza seu solo para em seguida trazer as melodias de Sweet Emotion ( do Toys In The Attic de 1975 ), isso com Joe Perry já no 'talking box' e Steven Tyler com as maracas nas mãos começando a cantar sua letra, que acertam os fãs de primeira e estes respondem cantando e pulando com a banda, que direcionou - assim como praticamente o show todo - no Blues.

    Nos solos Joe Perry subiu em cima do piano ( como sempre faz ) e utilizou da técnica do 'volume/delay' para amplificar a potência que sacou de sua guitarra ( com alguns efeitos até espaciais ). Quando Joe Perry saiu de cima do piano e foi solar mais à frente, foi a vez de Steven Tyler cantar seus versos lá de cima. Depois tivemos aquele final puramente Rock'n'Roll, é... o Aerosmith nesta noite estava entregando os 110% para nós.

    O sempre transloucado Steven Tyler na frente da passarela mostra sua barriga para uma fã e o Hard Rock explosivo e divertido de Dude ( Looks Like a Lady ) do Permanent Vacation voltou a colocar a galera para pular nesta que finalizou a primeira parte do show Aerosmith com todos os músicos saindo lá do fundo e vindo na parte frontal da passarela ( exceção é claro do baterista ).

    Os minutos que antecediam o bis foram o tempo necessário para que o piano fosse levado para o final da passarela e no telão era mostrado: "São Paulo você é o número 1" em um agradecimento para os fãs e ao voltar Steven Tyler puxa: "Olê... Olê... Olê..." onde a rivalidade dos clubes de futebol apareceram, mas, sumiram instantaneamente quando ouvimos as notas melancólicas de Dream On, outra do álbum de estreia da banda que era muito aguardada por todo mundo, recebeu os solos de Joe Perry e foi cantada por todos com longos sorrisos estampados em seus rostos para depois... muita fumaça saindo de onde eles estava aumentando o grau da festa.

    O Funk de Mother Popcorn de James Brown foi uma grata surpresa do set do Aerosmith e com o estilo que este quinteto é possuidor ficou deveras provocadora, até porque o inquieto Steven Tyler é o mais adequado para cantar uma música assim, pois, brinca com sua voz de forma que parece que é simples. Para fechar a noite Walk This Way, que apareceu primeiramente no Toys In The Attic, mas, que estourou mesmo em 1986 quando Joe Perry e Steven Tyler apareceram ao lado dos Rappers do Run D.M.C..

    Entretanto, a versão desta noite no Allianz Parque foi um misto de Funk, Rock e Blues para fã nenhum colocar defeito pela adrenalina que foi exibida, seja nos solos de guitarras, nas linhas de vocais, baixo ou bateria nos levando a sair dançando com eles.  Enfim, era o Aerosmith desejando marcar este imenso público com a sua Aero-Vederci Baby!

    Antes do término Steven Tyler apresenta cada um dos músicos, que juntos com ele foram todos ao final da passarela para receberem os aplausos e ao anunciar Joey Krammer, o vocalista quase o derruba de lá ( o que deve ter gerado um puxão de orelhas nos bastidores... ), mas, o que importa é que se mostraram tão felizes quanto nós e foi Joe Perry que apresentou o vocalista em um estilo de locutor de lutas de boxe em uma nuvem de fumaça e papéis picados.

Empate apertado

    Durante pouco mais de 1:40 nesta noite creio que o Aerosmith realizou um dos melhores shows de sua carreira no Brasil e se eles estiverem mesmo pendurando as chuteiras, neste dia no São Paulo Trip - Concert Series eles quiseram evidenciar a importância que o Blues exerceu para que pudessem ser a banda que são. E pelo magnífico show Blues/Rock, onde as guitarras foram mais prestigiadas, tanto que não digo que superaram o Def Leppard ( pois, meu coração não deixa ), mas cravaram sim uma apresentação que não será esquecida, em resumo, tivemos um empate, onde o 'adversário' jogou melhor.

     A turnê seguiria por mais duas datas no Brasil e outras na América do Sul, porém, foi suspensa para que Steven Tyler pudesse viajar urgente para os Estados Unidos para um procedimento médico, que só poderia ser realizado lá e não informado o que era, de forma que muitas especulações das mais diversas surgiram. Que não seja nada de mais grave e que brevemente vejamos o Aerosmith reluzindo novamente.

Texto: Fernando R. R. Júnior
Fotos: Ricardo Matsukawa/Mercury Concerts
e Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à Denise Catto Joia, Simone Catto Joia e para a Mercury Concerts
pela atenção, oportunidade e credenciamento
Outubro/2017

Set do List Aerosmith

1 - Let the Music Do The Talking
2 - Love In An Elevator
3 - Cryin'
4 - Living On The Edge
5 - Rag Doll
6 - Stop Messin' Around
7 - Oh Well
8 - Crazy
9 - I Don't Want A Miss A Thing
10 - Mamma Kin
11 - Come Together
12 - Sweet Emotion
13 - Dude (Looks Like A Lady)
14 - Dream On

Bis:
15 - Mother Popcorn
16 - Walk This Way

 Voltar para Shows