Sepultura - Celebrating Life Through Death Tour
Campinas Hall em Campinas/SP
Sábado, 20 de julho de 2024
   

Celebrar a Vida através da Morte através de um Heavy Metal de perfeita qualidade

    Desta maneira que a histórica banda de Heavy Metal Brasileira Sepultura decidiu nomear a sua turnê de despedida dos palcos, que começou em março desde ano e seguirá por 2025 com muitas datas pelo Brasil e pelo mundo. E o conceito implícito no título desta turnê do Sepultura de 'morte' foi programada pelos seus integrantes para que nós lembrássemos dos seus grandes feitos em 'vida'.

   E isso, é algo para se pensar até no aspecto pessoal de cada um, como nós seremos lembrados no futuro? Quais os nossos feitos mais relevantes e que merecem terem suas histórias contadas?

    Ficamos sabendo das primeiras datas desta turnê pouco depois do anúncio oficial do encerramento das atividades da banda em uma entrevista coletiva, um fato que pegou todos de surpresa. Aliás, outra surpresa e que ocorreu ainda em fevereiro foi a saída do baterista Eloy Casagrande ( que foi para o Slipknot, que foi demasiadamente comentada nas redes sociais e ficamos sabendo oficialmente algum tempo depois ) e desta forma, o Sepultura providenciou imediatamente o seu substituto com a inclusão de Greyson Nekrutman ( ex-Suicidal Tendecies ).

    As datas aumentaram até que a cidade de Campinas/SP foi inclusa na turnê na ótima casa de shows Campinas Hall no sábado 20 de julho, o que nos alegrou bastante, afinal, as duas datas na capital paulista esgotaram rapidamente ( e levou à uma terceira data ). E a partir de agora conto como foi esta marcante apresentação do Sepultura em Campinas/SP.

    A última vez que assisti o Sepultura também foi em Campinas/SP em 2016, na Praça Arautos da Paz ( confira matéria ), quando comemoravam 30 anos de banda e 20 anos do álbum Chaos A.D., ou seja, muito tempo ser ver a banda que impulsionou Heavy Metal do Brasil no mundo, então vontade de rever a banda não faltava.

    As portas do Campinas Hall foram abertas às 19hs, conforme o programado e logo após o meu rápido credenciamento vi que a casa já estava bastante cheia e mais pessoas estavam chegando. Era para a banda Allen Key realizar a abertura, todavia, ficamos sabendo posteriormente através das redes sociais, que infelizmente eles tiveram problemas de logística e cancelaram sua apresentação.

Gênese do Chaos

    Por conta disso tivemos uma lacuna entre a hora em que chegamos na casa até o momento que o Sepultura subiria no palco e vários clássicos do Rock e Heavy Metal foram executados enquanto isso, até que às 22:40 às luzes foram apagadas, vimos no telão atrás da bateria o logo de 40 anos com os nomes de todos os discos de estúdio da banda ( e na sequencia em que foram lançados ) até que ecoou a música Polícia dos Titãs em versão bastante Punk deixando evidente que estava na hora do show, que respondemos gritando "Sepultura... Sepultura..." por várias vezes.

    Interessante que Andreas Kisser na guitarra, Paulo Xisto Jr. no baixo, Derrick Green nos vocais e o 'novato' Greyson Nekrutman na bateria entraram no palco sem alardes, até discretos, apenas com sonoridades sombrias convocando eles, tanto que antes de iniciarem a primeira música, o guitarrista bateu no peito saudando os headbangers presentes nesta celebração marcante, sendo que a demolição começou com a Refuse/Resist do Chaos A.D. de 1993 explodindo os "heeeey" dos fãs, que fizeram questão de cantar com Derrick Green. E como faz bem conferir toda a crueza de Refuse/Resist em um palco novamente ao comando do Sepultura, que provocaram as primeiras rodas no Campinas Hall.

    Ovacionados por uma motivada plateia que gritou novamente seu nome, o quarteto enviou outra pedrada do Chaos A.D. ( o seu quinto disco de estúdio ) com a conhecidíssima Territory, que também contou com toda a polivalência contida em suas robustas notas de guitarra executadas por Andreas Kisser, todo o peso fornecido pela bateria de Greyson Nekrutman e toda a raiva de Derrick Green ao cantar seus versos, cuja nossa reação não poderia ser outra de banguear freneticamente, emitit vários "hey... hey...", socos no ar e abertura de rodas, aliás, que esmagadoras elas foram.

    A trinca inicial centralizada no clássico Chaos A.D. teve também a pedrada Slave New World vocalizada com agressividade por Derrick Green e exibiu os seus riffs matadores de guitarra capitaneados por Andreas Kisser. Aos gritos de "Sepultura... Sepultura..." que em poucos instantes foram suplantados pela sonoridade robusta da banda, o passeio em sua discografia seguiu para o ano de 2017 com a rude Phantom Self do Machine Messiah em que pudemos conferir como Andreas Kisser usou habilmente o seu pedal de distorção para extrair notas ainda mais altas em sua guitarra.

Raízes

    Somente depois de mais de vinte minutos de show foi que Derrick Green disparou um "Muito Obrigado... boa noite Campinas... tudo bem?" e continuou: "É incrível estar aqui e vamos tocar várias músicas..." enquanto que os fãs fizeram vários pedidos, porém, eles dispararam outra trinca, agora com três do Roots de 1996, primeiramente com a feroz Dusted, que eleva a quantidade de sua fúria à maneira que seu tempo passa com uma enormidade de gritos vorazes por parte de Derrick Green, mas, foi na hora dos solos que vimos Andreas Kisser aplicar uma 'brabeza' sem piedade.

    No som de berimbau e que foi acompanhado de palmas unidas a distorções fortes na guitarra tivemos a ríspida Attitude, outra do Roots que colocou muitos pescoços para serem quebrados com seu andamento intenso muito bem trabalhado na cozinha de Paulo Xisto Jr. e Greyson Nekrutman, entretanto, fizemos questão de participar com Derrick Green no refrão "Can You Take It?" berrando junto com ele. A destruição prosseguiu com Spit, que assim como várias outras exibidas foi um deleite para a galera, que abriu rodas e seu formato áspero serviu para deixá-la ainda mais imponente no show.

    A mortal Kairos, que intitula o décimo segundo disco de estúdio do Sepultura e que foi lançado em 2011 fez a maioria chacoalhar seus pescoços com a devida determinação só parando para gritarem com Derrick Green ou olharem os solos de Andreas Kisser em sua guitarra e vale um comentário extra... como ele sente à vontade e curte cada momento do show conosco.

    Em uma nova conversa com os fãs, agora chefiada por Andreas Kisser, o guitarrista bradou: "Beleza Campinas.... " e comentou sobre os quarenta anos de banda e da importância de celebrar conosco, apresentou Greyson Nekrutman, que teve seu nome aclamado pela plateia e por fim, anunciou a primeira do último e excelente disco de estúdio do Sepultura com a Means To An End do Quadra de 2020, onde o baixo de Paulo Xisto Jr. ficou mais em evidência assim como os vocais de Derrick Green, que se movimentava bastante enquanto Andreas Kisser expelia solos dinamitadores. Entretanto, o meu destaque fica para a parte do meio da música que é dotada de uma eletricidade única e as suas modificações que demonstram a grandeza que ela é.

    Sem dar chance para respirarmos, o Sepultura seguiu o show com a acelerada e arrasadora Convicted In Life do Dante XXI de 2006 em que pudemos presenciar como Greyson Nekrutman foi uma escolha acertada para as baquetas da banda, pois, ele bate 'sem dó e nem compaixão' em seu kit de acordo com o que pede a música.

    Entre mais gritos de "Sepultura... Sepultura..." vemos a equipe posicionar um violão para Andreas Kisser dedilhar as melodias da esbelta Guardians Of Earth, que desde quando ouvi pela primeira vez me tornei um grande fã dela e ao saber que sua letra é sobre a Amazônia e sobre os  seus verdadeiros guardiões ( os índios ) que tentam preservá-la da extinção perpetrada cotidianamente pela humanidade. Voltando às sensações do show, assim quando Derrick Green cantou seus versos sentimos o potencial ao vivo que esta canção do Quadra é possuidora e como a tornaram um momento exterminador do set quebrado apenas pelos solos e dedilhados feitos por Andreas Kisser.

    Sorrindo Derrick Green falou com o seu sotaque 'gringo': "E aí cansados... vamos fazer uma música do disco Roorback..." e claro que dissemos que não estávamos, pois, queríamos mais... muito mais... e desta maneira a aniquiladora Mind War relembrou nono álbum de estúdio lançado em 2003 com toda a sua rispidez. False, mais uma do Dante XXI foi exibida a plena potência de seu formato embrutecido, ou seja, muitas distorções e um estilo deveras colérico que permeou esta fase da banda.

    E do álbum Against de 1998, que marcou a estreia de Derrick Green e que não foi tão bem recebido pelos que sentiram-se 'viúvas de Max Cavalera', o quarteto nos colocou diante da certeira, brutal e acelerada Choke, que repetíamos seu título com o empolgado vocalista grandalhão e socávamos o ar intensamente.

    Derrick Green mandou um "Muito obrigado..." e Andreas Kisser pegou microfone para nos dizer: "Do álbum Schizophrenia... Escape To The Void...", que era da época que o Sepultura despontava no mundo com seu Thrash/Death Metal sedento e a roda que explodiu no Campinas Hall foi daquelas que muitos acordaram com os pescoços e os corpos com dores.... pois, não eram para qualquer um entrar nela. Andreas Kisser aproveitou esse 'Thrashão' para inserir solos de guitarras com voltagem estourada do jeito que apreciamos.

    No microfone novamente, Andreas Kisser disse "esta música é do Chaos A.D. de 94, e nós fazíamos 'jams' na turnê e vamos convidar algumas pessoas para tocarem com a gente"; e desta maneira Kaiowas teve Derrick Green, dois convidados ( imagina a alegria deles!!! ), Paulo Xisto Jr. e Andreas Kisser tocando nos tambores trechos da música até que Andreas Kisser pegou o violão e foi dando sequencia à canção, que flertou demasiadamente com os ritmos brasileiros, característica que fez a diferença para o Sepultura quando os americanos, europeus e japoneses assistiram à banda no início de sua carreira.

    Os caras lá de fora literalmente piravam com o peso e essa brasilidade do Sepultura. E nós em Campinas adoramos e acompanhamos nas palmas este soberbo momento, que resultou em muitas palmas e quase incessantes gritos de "Sepultura... Sepultura...".

Devastadores

    A sequencia final da primeira parte não poderia ter sido melhor e mais mortífera, pois, contou com a Dead Embryonic Cells do Arise de 1991 e um Thrash Metal desta magnitude executado com a primazia que eles fizeram nesta noite criou rodas por vários lados da casa, e mesmo não querendo se envolver, não tinha jeito, você estava nela, porém, totalmente feliz com a sonzeira que vinha do palco.

    Andreas Kisser berrou "Biotech... Biotech..." para que nós completássemos "Is Godzilla..." e então esta bordoada do Chaos A.D. veio como um trator para cima de todos com seus numerosos riffs, vocais brutais e bateria fervorosa. Uma pausa nos clássicos antigos para uma excelente canção recente com a Agony Of Defeat do Quadra em que a música te pega logo nas primeiras notas dedilhadas por Andreas Kisser em sua guitarra, que revelaram Derrick Green cantando com mais calma até transformá-la junto com Paulo Xisto Jr. e Greyson Nekrutman em uma pauladaça repleta de ira, enfim, outro momento ímpar do show.

    Claro que reagimos com mais gritos de "Sepultura... Sepultura..." para a que a banda nos brindasse simplesmente com Troops Of Doom do primeiro registro, o Morbid Visions de 1986 em que agitamos tanto quanto pudemos, inclusive com Derrick Green solicitando rodas com gestos com as mãos, e caro leitores(as) do Rock On Stage, o que aconteceu foi a maior roda do show na minha opinião com até mulheres 'descendo a porrada'.

    A penúltima da primeira parte do set foi a Inner Self do terceiro disco, o Beneath The Remains de 1989, que foi precedida por um "Are You Ready? Are You Reeady?" pronunciado por Derrick Green até seu andamento Thrash Metal tomar conta do Campinas Hall e como é saboroso sentir sua adrenalina metálica percorrendo nossas células nesta composição Old School executada com brilhantismo pela banda que só podíamos socar o ar, vociferar "Hey... Hey... Hey..." ou tal como muitos outros... se espatifar nas rodas.

    Finalizando a primeira parte do show com uma breve fala em inglês do vocalista Derrick Green tivemos o estrondoso Thrash Metal Arise, que intitula o quarto álbum da banda e sempre que é exibida é aquele arrasa quarteirão único que fez do Sepultura o que ele é e que não deveria acabar ( embora... compreenda os motivos de seu fim ).

    Foram poucos instantes até que o Sepultura retornou para o bis com a galera basicamente chamando a banda nos já costumeiros gritos de "Sepultura... Sepultura..." com Andreas Kisser mandando beijos para a galera e com apenas outro "Are You Ready?" do vocalista tocaram duas do Roots com a Ratamahatta com o guitarrista interagindo com os fãs, que de certa forma serviu como abertura da vigorosa e inexpugnável Roots Bloody Roots com todo o seu ímpeto quase inumano, que consagrou este sensacional show do Sepultura em Campinas.

    Antes de partirem jogaram palhetas para os fãs, baquetas, tiraram a já tradicional foto com todos de fundo e obviamente que deixaram já saudades em todos nós, que não queremos que a banda acabe.

    Bem... tudo bem um fim, e mesmo não querendo, o fim do Sepultura chegou... lógico que ainda vai demorar mais um pouco para que as 'chuteiras sejam penduradas', até lá todo fã de Heavy Metal - se puder - tem a 'obrigação' de assistir a banda nesta Celebrating Life Through Death Tour ao menos uma vez, e se possível mais de uma...

    Em Campinas tivemos quase duas horas de seu imenso Thrash Metal repassando seus 40 anos de carreira com toda a destreza acumulada em sua história neste evento muito bem organizado pela Live Stage.

Texto e fotos: Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos para a equipe
da Live Stage e da Multi Produtora
pela oportunidade, atenção e credenciamento
Agosto/2024

Set List do Sepultura

Intro: Polícia (Titãs song)
1 - Refuse/Resist
2 - Territory
3 - Slave New World
4 - Phantom Self
5 - Dusted
6 - Attitude
7 - Spit
8 - Kairos
9 - Means To An End
10 - Convicted In Life
11 - Guardians Of Earth
12 - Mind War
13 - False
14 - Choke
15 - Escape To The Void
16 - Kaiowas
17 - Dead Embryonic Cells
18 - Biotech Is Godzilla
19 - Agony Of Defeat
20 - Troops Of Doom
21 - Inner Self
22 - Arise

Encore:
23 - Ratamahatta
24 - Roots Bloody Roots

Galeria de 145 fotos do show do Sepultura
no Campinas Hall em Campinas/SP

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