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Entrevista com Edson Zacca do Seu Juvenal
"Um Rock mais
visceral que não se preocupa em nada com o mercado e as amarras
que atualmente prendem as bandas a um tipo de cartilha que
valoriza mais a cópia."
A banda
Seu Juvenal simboliza o Rock politicamente incorreto,
simboliza um resgate nas raízes do estilo e liricamente distante
da mesmice que toma conta do Brasil. Seu penúltimo disco de
estúdio chama-se Rock Errado (
leia
resenha ) e eles estão preparando um novo show
intitulado Maldito Rock, que visa relembrar
dos 'malditos' compositores da Música Popular Brasileira. Para
explicar sobre estes álbuns e muitas outras curiosidades, o
Rock On Stage em parceria
com o Som do Darma conversou com o guitarrista Edson
Zacca e o resultado você confere nas linhas abaixo.
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Rock On Stage: Como e porque nomear a banda de Seu Juvenal? De quem
foi a ideia e como foi apresentada aos demais membros?
Edson Zacca:
Juvenal é um nome muito mineiro. A ideia era fugir de um
nome clássico de banda de Rock. Algo meio roceiro mesmo. Tem muito
segredo não.
Rock On Stage:
Sou um grande apreciador dos discos no formato de vinil, pela magia,
qualidade do som, enfim, quais motivos levaram o Seu Juvenal a lançar o
álbum "Rock Errado" em vinil?
Edson Zacca: Todos temos idades em torno dos 40. Então vivenciamos a era
clássica do vinil. Quando fomos gravar o álbum Rock Errado
começamos uma
parceria com o selo Sapólio Rádio e foi iniciativa deles a prensagem em
vinil. Mas o disco também foi lançado em cd, está em Streaming
nas
principais plataformas e liberado pra download no site da banda.
Rock On Stage:
No release está declarado que "fazem Rock do jeito errado para os
padrões politicamente corretos". Esta mesmice que vivemos no Brasil onde
tudo não pode, tudo é incorreto ou preconceito e na política sempre
vemos notícias... onde eles fazem tudo errado, ou seja, roubam
descaradamente, o que você pensa a respeito deste momento da vida no
Brasil? Edson Zacca: O Brasil é um país ultra preconceituoso. Um país que ainda pensa
como colônia. A escravidão aqui apenas mudou de nome. Vide a reforma da
previdência proposta pelo governo. A violência contra a mulher é uma
realidade cotidiana encarada como algo normal por grande parte da
população. E é claro que isto tudo tem gerado uma tensão enorme.
Vivemos um momento de tolerância zero. E no
Rock Nacional o efeito disto
tudo tem sido o inverso do que eu imagino para um estilo musical que tem
na sua raiz a defesa dos direitos das ditas minorias. Para nós da banda
Seu Juvenal sempre soou muito estranho alguém que se diz Rockeiro ser
racista e homofóbico, por exemplo.
Logo dentro do Rock que tem um preto
gay chamado Little Richard como um de seus principais criadores. Toda a
nossa raiz esta no Blues e na luta por direitos iguais. Somos uma banda
de proletários. E é por estas e outras que percebemos que o tal
"politicamente correto" veio na verdade para impedir que a arte
realmente contestadora possa ter voz. É mais uma das amarras do sistema
para coibir e diminuir o que vai contra a sua lógica capitalista. O Seu
Juvenal sempre mandou um foda-se para isto.
Acredito que hoje em dia o Rap Nacional consegue ser muito mais livre
destas regras do 'politicamente correto' do que o Rock Nacional. O Rock
está muito burguês. Falta sangue.
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Rock On Stage:
No álbum "Rock Errado", eu notei influências de estilos como Indie, Punk,
Rock Alternativo, Stoner, Rock'n'Roll, Psicodélico, enfim, é uma mistura
bem diferenciada, como funciona o processo de composição e da criação
das letras do disco?
Edson Zacca: Nosso processo de composição é totalmente livre de estilos. Tudo
sai de uma forma bem natural. Cada um apresenta uma ideia de som ou
letra e vamos montando o quebra cabeça. A junção do estilo de cada um é
que é o segredo do estilo do Seu Juvenal.
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Rock On
Stage:
Em "Rock Errado" tivemos a presença de vários convidados, como Manu Joker
do Uganga, Guilherme Demente, Ronaldo Vilela, Pameli Marafon, entre
outros, como foram os convites e o porque da escolha de cada um deles?
Edson Zacca: Manu Joker é amigo de longa data. Quando fizemos a música
Rock
Errado já imaginamos a voz dele. Guilherme Demente é do selo
Sapólio
Rádio e participou ativamente das gravações do disco. Pamelli Marafon
é
uma pianista amiga da banda, que inclusive já tocou ao vivo com a gente.
Euler Alves
é um percussionista, que já trabalhou inclusive no nosso
disco Guitarra de Pau Seco e tem um trabalho solo chamado
Alívio da
qual parte do Seu Juvenal participa. Guite Congo Power tem um projeto chamado
Desmanche do qual também participo. É um grande
amigo e um guitarrista de muito timbre e criatividade. Ronaldo Vilela
é
um baixista violonista do Underground do Clube da Esquina,
músico da
cidade de Caeté, que nos anos 60 e 70 tocou muito em bandas que de certa
forma deram base para todo um estilo. Todos são nossos ídolos.
Rock On Stage:
Das dez faixas de Rock Errado, quais são as suas preferidas e porque?
Edson Zacca: Tem uma que atualmente temos tocado ao vivo e tem feito a
diferença. É a primeira do lado B do disco... a Um Dia de Fúria. Pesada e
grave como o momento atual brasileiro.
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Rock On Stage: O mais
recente disco do Seu Juvenal chama-se "Rock Errado". Agora vocês
anunciaram o novo show, "Maldito Rock". Como e o que é ser um roqueiro
do tipo errado e maldito? Edson Zacca: Este "errado" diz respeito a uma forma de
se fazer Rock que anda um pouco esquecida. Um Rock mais visceral que não
se preocupa em nada com o mercado e as amarras que atualmente prendem as
bandas a um tipo de cartilha que valoriza mais a cópia. Isto tem tornado
o nosso Rock Nacional uma cópia rascunhada do Rock gringo. Como
costumamos falar, na estrada do Underground o que mais existe no momento
são os "Los Strokes".. bandas brasileiras que são um misto de
Los
Hermanos com Strokes.
Já o "Maldito" que trouxemos para o nosso Rock vêm de um termo que sempre
perseguiu a contra-gosto alguns compositores de nossa Música Popular. A
imprensa insistia de chamar assim vários artistas geniais brasileiros,
que sempre negaram esta alcunha. Nós então, sabendo que nenhum deles
acharia ruim, roubamos o termo nesta homenagem a estes "benditos" da
MPB.
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Rock On Stage: Existe diálogo entre o disco "Rock Errado" e a
proposta do novo show, "Maldito Rock", onde o Seu Juvenal tem como
proposta apresentar versões Rock para clássicos dos compositores tidos
como malditos da MPB? Como surgiu essa ideia, aliás?
Edson Zacca:
Desde o começo da banda, há exatos 20 anos que
a gente insiste em falar que temos influências muito profundas destes
geniais compositores. Porém, aos ouvidos mais desavisados é um pouco
difícil perceber esta característica brasileira em nosso som. A ideia é
uma forma de mostrar o quanto somos influenciados por esta tipo de MPB
Underground. Difundindo e divulgando a um novo público alguns clássicos
desconhecidos em versões extremamente Rock erradas!!!
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Rock On Stage: De que forma a MPB e esses compositores interferem,
como referencias e influencias, no processo criativo do Seu Juvenal que
é, convencionalmente, mesmo sendo errada e maldita, uma banda de Rock?
Edson Zacca: Principalmente na atitude, no conteúdo das letras e
no jeito de se colocar a melodia nos vocais. Escutando caras como Walter
Franco e Itamar Assumpção nós entendemos como poderíamos fugir do estilo
USA de se cantar Rock.
Rock On Stage: Quais são alguns dos compositores e composições que
vocês pretendem revisitar com o show "Maldito Rock" e o porquê da
escolha? Edson Zacca: Walter Franco ( Feito Gente
), Jards Macalé ( Let's
Play That ), Itamar Assumpção ( Chavão Abre Porta Grande
), Nelson
Cavaquinho ( Tatuagem ), Arnaldo Baptista e Patrulha do Espaço
( Sunshine ), dentre outros. Os motivos são variados mas, tem uma coisa que realmente
resume tudo. Escutamos muito toda a obra de todos eles e suas canções
nos influenciam em todos os nossos trabalhos. Acho que só isto, já é o
suficiente para a gente querer fazer um tributo.
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Rock On Stage: Quais foram os critérios que vocês se valeram para
rearranjar as músicas escolhidas?
Edson Zacca: O principal critério é fazê-las soar como
Seu Juvenal. Para uma música de Walter Franco isto é simples, pois, a
influência é muito óbvia. Mas, em uma canção de Nelson Cavaquinho, que a
influência está mais na temática das músicas e na forma "macabra" de
abordagem, foi um desafio maior fazer a versão.
Rock On Stage: Haverá algum elemento cenográfico que venha compor
o show "Maldito Rock"?
Edson Zacca: Em torno de 2011, logo depois do lançamento de
nosso disco Caixa Preta, fizemos um show no Festival Jambolada em
Uberlândia/MG, onde trabalhamos com um video maker e também com sons
eletrônicos manipulados no palco. Faremos isto novamente, porém, desta
vez manipulando imagens e sons originais dos mestres homenageados.
Rock On Stage: O circuito de bares e casas de shows continua
restrito como sempre foi, agora ainda mais por dar espaço apenas para
bandas intérpretes e/ou covers. O Seu Juvenal, se não bastasse ser uma
banda autoral, decide agora fazer um show com releituras de músicas da
MPB que são pouco conhecidas do próprio público que gosta e consome esse
tipo de música, quiçá do público de Rock!!! Isso chama-se suicídio
comercial ou o Seu Juvenal tem uma estratégia mirabolante por trás?
Edson Zacca: Como você mesmo disse em outra pergunta,
somos assumidamente errados e malditos!!! Só que agora, depois de todos
estes anos, aprendemos que até este estilo de arte pode sim possuir uma
estratégia não mirabolante, mas, bastante consciente, capaz de fazer
destas características inicialmente suicidas, fontes de divulgação e de
interesse tanto para mídia quanto para o público.
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Rock On Stage: Aliás, "Maldito
Rock" será um show para o público
do Rock ou da MPB?
Edson Zacca: É claro que ambos serão muito bem vindos. Mas,
essencialmente estamos fazendo as canções pensando no público de Rock,
que necessita urgentemente escutar e conhecer mais as raízes Rockeiras
de nossa Música Popular.
Rock On Stage: O show "Maldito
Rock" provavelmente vai ocupar a
agenda de vocês por algum tempo. Mas, e com relação a novas músicas para
um próximo disco de estúdio?
Edson Zacca: Paralelamente elas estão vindo. Já temos quase um
disco inteiro composto. Só precisamos acabar de arranjar. Nossos 20 anos
de banda estarão impressos neste novo trabalha de inéditas. Logo
receberão notícias.
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Rock On Stage: Certamente existiu um Seu Juvenal antes de "Rock
Errado" e existe agora uma nova banda depois desse disco. O que esperar?
Vocês sentem ou se auto-pressionam por conta disso? Edson Zacca: Desde o começo da banda ser um dos
'Juvenais' é sentir uma certa pressão. Ela vêm aumentando à medida que
nosso público também aumenta. As pessoas querem saber qual o
próximo passo e cobram e criticam. Isto é fantástico.
Acho que estamos preparados e seguros para
o nosso novo show e nosso 'Vol.4' ( N.E.: em clara referência ao
quarto álbum do Black Sabbath ).
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Rock On Stage:
Para fechar: Rock ou MPB? Por que?
Edson Zacca: Neste caso eu não posso falar pelos outros
elementos da banda. Para mim é muito difícil isolar um dos dois estilos.
Ambos são minha raiz. Sempre escutei Sonic Youth e Clara Nunes ao mesmo
tempo. E atualmente os estilos estão bem misturadas. Uma banda como o
Meta Meta para mim é uma banda de Rock. Mas, por outro viés também é MPB.
Então acho que o que mais escuto são as bandas que misturam os estilos.
Se vou escutar um som tradicional eu escuto os sons clássicas das
antigas tanto do Rock quanto da MPB.
Por Fernando
R. R. Júnior e Som do Darma
Agradecimentos a Susi dos Santos - Som do Darma
Abril/2016
Mais Informações:
www.seujuvenal.com.br;
www.facebook.com/seujuvenalmg;
www.twitter.com/seujuvenalmg;
www.soundcloud.com/seujuvenal;
www.youtube.com/seujuvenalmg e
www.sapolioradio.com.br.
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