Distraught - Locked Forever
9 Faixas - Voice Music - 2015

    Somente o conceito por trás do sexto álbum de estúdio da banda de Thrash/Death Metal da capital gaúcha Distraught, que recebeu o título de Locked Forever já recomenda você ouvir este disco atentamente e com o encarte nas mãos, pois, André Meyer nos vocais, Everton Acosta e Ricardo Silveira nas guitarras, Nelson Casagrande no baixo e Mauricio Weimar na bateria decidiram colocar o dedo em uma das muitas feridas abertas do Brasil: a situação drástica, terrível e lamentável das pessoas que foram internadas, sofreram maus tratos ao extremo, que foram torturadas até a morte e esquecidas no manicômio localizado em Barbacena/MG, cujo nome é Colônia e foi considerado como o maior hospício do país. Para isso, compuseram nove faixas com letras baseadas no livro Holocausto Brasileiro ( de 2013 ) da escritora Daniela Arbex.

    Pesquisando um pouco sobre este livro, tenho que ressaltar aqui que este capítulo horrível e deplorável de nossa história recente é sempre maior ( e pior ) do que parece, pois, de acordo com o livro, o interesse de muitos dos funcionários - além de inúmeras outras atrocidades cometidas - eram que os internos fossem à óbito, para que seus corpos fossem vendidos para as universidades com cursos na área de medicina ( e se a procura fosse pouca, seus corpos eram dissolvidos em ácido ) e desta maneira... mais de 60 mil pessoas foram mortas arrecadando em torno de 600 mil reais com a venda de corpos em um - segundo a autora - genocídio ou holocausto brasileiro, que ocorreu entre os anos de 1903 e 1980. Inclusive, o nome Colônia foi dado pelos atos de brutalidade ocorridos idênticos aos acontecidos na Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

    As gravações de Locked Forever receberam os cuidados de Renato Osório do Hibria, sendo os vocais, as guitarras e o baixo registrados entre abril e junho de 2015 no Hibria Studios em Porto Alegre/RS e a bateria registrada no Monostereo de Audio por Juliano Rodriguez, também na capital gaúcha em março de 2015. Os processos de mixagem e masterização ficaram por conta dos experientes Benhur Lima e Adair Daufembach, respectivamente, e a elaborada capa é mais um trabalho do caprichoso do renomado artista Marcelo Vasco da P2RDesing ( que já desenhou para o Slayer, Krisiun, Machine Head, Astafix, Nervochaos e outros ) está embalada em um luxuoso digipack, que confere mais qualidade ao formato físico.

    Como já era esperado e naturalmente aguardado pelos fãs, Between The Walls Of Colônia realiza uma introdução sinistra e adequada o que teremos a seguir: a avalanche sonora do seu contagiante Thrash Metal sendo vocalizada com muita fúria por Andre Meyer em um ritmo cheio de vários solos de guitarras, sempre altíssimos e dilacerantes, que estão ligados a uma massacrante atuação do baterista Maurício Weimar. Em Lost, o Distraught continua com muito peso, ímpeto e técnica na alucinante parte instrumental, que ganha posteriormente algumas variações de andamento e toda a cólera do vocalista em seus versos. Não se esqueça de dispensar uma atenção aos solos de Everton Acosta e Ricardo Silveira nas guitarras.

    O estilo caótico, beligerante e revoltado prossegue na faixa título do cd, a Locked Forever, que entra mais rápida em linhas de Heavy Metal, que no momento em que André Meyer começa a cantar temos seu nível de ódio elevado ao limite ao expressar sua letra traçando um real convite para se abrir uma roda e socar o ar, afinal, é impossível não apreciar esta música logo na sua primeira audição.

    Para Dehumanized temos toques mais opacos no baixo de Nelson Casagrande, que trazem linhas melódicas quase introspectivas, que são suplantadas por uma vibrante sequencia de riffs de guitarras para a chegada dos vocais de forma que a partir do  instante que André Meyer cante seus versos, o Distraught direcione e aumente consideravelmente o peso desta quarta canção de Locked Forever provocando o fã a desejar sair 'bangueando' ao ouví-la. Em tempo, nesta Eduardo Balbo do Hibria comandou as baquetas e o fez primorosamente.

 

    Além de curtir as músicas deste cd enfatizo que você deve também se concentrar em suas letras, pois, elas estão lotadas de críticas ao sistema de saúde mental e carcerário brasileiro, como por exemplo, na seguinte, a Brazilian Holocaust, que começa vigorosa através de uma evolução de guitarras, baixo e bateria para depois tornar-se uma impiedosa canção em suas vocalizações feitas com toda a garra de Andre Meyer, que teve um brilho maior em seus solos de guitarras, graças a participação de Ezequiel Catalano da banda argentina Witchhour. Disparando violência e habilidade por todos os lados, a envolvente Shortcut To Escape marca a sexta de Locked Forever e a mais furiosa até aqui para impressionar aos fãs do Sepultura em um eficaz trabalho do baterista Maurício Weimar. E não posso deixar de chamar sua atenção novamente para a letra, leia e me fale.  

    Blacktrade começa mais melódica até que o caos reinante deste cd tome conta da música através de um ritmo veloz em sua parte instrumental e muita raiva nos vocais de André Meyer, que passa por trechos cadenciados, mas, sempre destrutivos e sustentados com muita categoria pelo baixista Nelson Casagrande. Com um início firme e deveras fortificado, The Blind Vision Of Enemy chega notadamente com a intenção de arrasar com tudo em um andamento notável e poderoso, que é vocalizado com tenacidade e ódio por André Meyer, e isso, claro, sem pensar em discutir os riquíssimos solos de Everton Acosta e Ricardo Silveira em suas guitarras.

  No término de Locked Forever ouvimos breves vozes aterrorizantes, solos de gaita capitaneados pelo convidado Estevan Prieto, que abrem espaço para a carregada e mortífera The Last Trip, que em seu decorrer exibe evoluções sensacionais, seja no jeito que sua letra é cantada ( com dosagens significativas de raiva ) ou nas variações exuberantes dos solos de guitarras, que estão embasados por incansáveis toques na bateria.

    E as vozes desconexas ( representando os internos dos manicômios ) e os solos de gaita do princípio retornam mostrando que ainda existem sanatórios pavorosos espalhados pelo Brasil.

     Locked Forever será lembrando com um dos melhores álbuns que ouvi em 2016, um dos mais matadores de Thrash/Death Metal e que contém um proeminente patamar de conquistar o ouvinte logo de cara em suas nove explosivas composições, que estão em igualdade com muitos nomes lá de fora. Parabéns ao Distraught pelo magnífico álbum que levantou a bandeira para um tema absurdamente sério, que as autoridades responsáveis preferem deixar cair no esquecimento e que obviamente, sem punir ninguém, como é o famigerado costume de nossa nação, que espero que um dia se modifique.

    Locked Forever não é álbum pesado apenas pela produção por sua excelente ou pelo o que os gaúchos fizeram na sua afiada parte instrumental, que estão aliadas ao poder de fogo seus vocais, é muito mais brutal pelos temas de suas letras, que retratam a situação extrema vivida pelas pessoas esquecidas e trancadas até a morte em Colônia, inclusive recomendo você pesquisar mais sobre este tema e se surpreender tanto quanto eu. É... a missão de criar um álbum ainda melhor que o ótimo The Human Negligence Is Repugnant  ( confira resenha ) foi cumprida com sucesso e comprova a coesão deste novo line up da banda.
Nota: 10,0.

Sites: http://www.distraught.com.br/, https://www.facebook.com/distraughtband
e http://www.youtube.com/BandaDistraught.

Por Fernando R. R. Júnior
Setembro/2016

Voltar para Resenhas