Entrevista com Dani Nolden do Shadowside

Assim que voltou da Escócia, dia 12 de junho, tive a oportunidade de conversar com Dani Nolden, a simpática, bela e excelente vocalista do Shadowside, que me contou como foram as gravações de Theatre Of Shadows, detalhes sobre a mudança de gravadora, suas expectativas do disco, mascotes, a recente abertura dos shows do Helloween pelo Brasil além, é claro, do projeto solo de Dani com o guitarrista escocês Garreth Neilly. Confiram abaixo como foi a nossa conversa:

Rock On Stage: Dani, para começar vou pedir para você contar um pouco da história do Shadowside, desde o seu início até os dias atuais. Aproveito também para lhe perguntar como e porque vocês saíram da Frontline Records?
Dani Nolden:
Eu tenho várias memórias do período com a Frontline, tanto boas quanto ruins. Eu tenho muito a agradecê-los, porque foram os primeiros que realmente acreditaram em nós. Mesmo não sendo como nós esperávamos, eles apostaram na Shadowside. Nós aprendemos muito naquela época e graças ao pessoal da Frontline, conhecemos todas as pessoas que participaram da produção do Theatre of Shadows, então definitivamente não foi uma experiência ruim para nós. Infelizmente, eles tiveram problemas de planejamento e todos os lançamentos da gravadora foram atrasados, incluindo o nosso. Eu adoraria ter continuado com eles, mas pouco tempo depois de nossa saída, a gravadora parou de funcionar, então não poderíamos ter lançado com eles de qualquer forma. Antes de fechar o contrato com eles, fizemos alguns shows com o Nightwish, Primal Fear e Shaaman e lançamos um EP, chamado Shadowside

Rock On Stage: Saindo da Frontline vocês assinaram com a Seven Music/Universal Music, este fato causa uma pressão maior sobre a banda? Quais vantagens e dificuldades aconteceram com essa mudança, e este contrato com uma “major” favorecerá para uma excursão para fora do Brasil?  
Dani Nolden:
Eu não me sinto mais pressionada e não vejo dificuldades por estar com eles, ao menos não imediatas, já que eles não nos ‘incomodam’ em relação ao processo criativo. Trabalhar em uma major nos deixa muito mais tranquilos, na verdade, porque podemos manter toda nossa atenção na música sem preocupações com negócios, porque sabemos que pessoas competentes e que sabem o que estão fazendo estão lidando com isso. Nós somos músicos, artistas, não empresários, então a única coisa que realmente queremos fazer é tocar. Nós não discutimos com eles a possibilidade de apoio em uma turnê, existem vários planos, especialmente para o segundo semestre...

    Temos a opção de uma turnê curta e entrar logo em estúdio, ou investir em um período mais longo na estrada, incluindo shows no exterior. Depois da turnê brasileira, vamos sentar todos juntos para discutir essas idéias e decidir o que será melhor no momento. A idéia agora é viajar pelo Brasil e demonstrar nosso carinho para nossos fãs aqui que foram tão pacientes, mesmo com todo o atraso em relação ao lançamento do Theatre.

Rock On Stage: A produção de Theatre Of Shadows é assinada por Fábio Haddad, a mixagem por Santiago Ferraz e masterização de Tommy Hansen. Conte-nos como foi trabalhar com eles e qual a importância de cada um para que Theatre Of Shadows tivesse a excelente sonoridade que tem.
Dani Nolden: Todos eles são incríveis no que fazem, fizeram um trabalho ainda melhor que eu imaginava! Fábio foi responsável por tirar a melhor performance possível da banda. Ele é muito criativo, divertido e é fácil trabalhar com ele no estúdio. Ele sabia exatamente o que podia tirar de cada um de nós, até melhor que a própria banda, porque durante a gravação, acabei fazendo coisas que não sabia que era capaz, mas ele sempre teve a confiança em nós como músicos. Sem dúvida, a produção dele foi fundamental para que chegássemos exatamente onde queríamos.

    A mixagem do Santiago ficou simplesmente perfeita, nós nem acompanhamos o trabalho, mas ele entendeu a sonoridade da banda desde o início e pediu para mixar o álbum. Isso me deixou honrada, porque ele disse que após mixar o DVD do Paul McCartney, não mixaria mais nenhum trabalho, porque nada poderia superar aquilo, mas ainda assim decidiu fazer nosso disco. Contar com alguém com tanta competência e experiência como ele, em uma situação assim, simplesmente me deixa sem palavras, não acho que teria alguém melhor que ele para assinar a mixagem.

    E sobre Tommy, eu sempre fui uma grande fã do trabalho dele. Ele é um ótimo produtor ( Nota da Edição: responsável por alguns trabalhos do Helloween, TNT, Jorn Lande ), adoro os sons que ele consegue, então foi a melhor forma de fechar uma equipe tão competente. Boas músicas não seriam suficientes, sem um som no padrão internacional, e eles certamente fizeram um trabalho maravilhoso. 

Rock On Stage: O disco Theatre Of Shadows tem correspondido a expectativa da banda e dos fãs? ( Particularmente eu gostei muito do trabalho ). E quais das músicas de Theatre Of Shadows você destaca mais e por quê?   
Dani Nolden:
Eu espero que sim! ( risos ). Eu estou realmente feliz por ver as pessoas reagindo tão bem ao disco, nós sempre tivemos consciência de nossa própria qualidade, mas música é algo muito subjetivo. Para nós, algo pode soar maravilhosamente bem, mas o público simplesmente não aceitar, então é mais que simplesmente saber tocar. Eu só tenho a agradecer a todos os nossos fãs, novos e antigos, por todo o carinho. Tudo que fizemos é por eles, demos nosso melhor e estamos muito satisfeitos com o resultado final.

    É difícil destacar algumas músicas, porque são como nossos filhos, estou apaixonada por todas as músicas, até hoje. Talvez uma música que me deixou especialmente orgulhosa foi Shadow Dance, porque parte da produção dela foi simplesmente jogada em minhas mãos, antes de Fábio assumir. Foi um período complicado, mas acho que ela se tornou uma das melhores músicas do CD e saiu exatamente como deveria ser, rápida, melódica e muito pesada.
 


Rock On Stage: Algumas das mensagens passadas nas letras são para se lutar pelos seus sonhos ( em Believe In Yourself ), não correr do destino porque temos a força em nossas mãos ( em Kingdom Of Life ) e que estamos diariamente num teatro e usamos máscaras ( em Here To Stay ). Concordo com essa posição e sabendo que os fãs de heavy metal sofrem uma discriminação perante a sociedade, e que, infelizmente temos que usar máscaras de “pessoas normais”, nos libertando apenas nos shows. O que você pensa sobre isso?
Dani Nolden:
Na verdade, Here to Stay não é exatamente sobre isso, ela é apenas uma auto-descrição. Ela fala sobre nossa história e que não vamos embora. Mas o tema de estar em um teatro, usando máscaras durante todo o tempo, foi abordado em Illusions. Todas as pessoas “diferentes” sofrem preconceito e eu estou tentando passar uma mensagem com outra música, We Want a Miracle: não tentem ser “normais”. Não usem as máscaras, porque a diferença deixa tudo mais divertido e interessante. Qual seria a graça do mundo, se todos fossem iguais?

    Em certos momentos, esse personagem que criamos pode ser um bom escape, mas é tão perigoso quanto uma droga. Depois de algum tempo, você pode não saber mais quem você é e ficar preso dentro de algo que deveria ser apenas um alívio momentâneo.

    Eu espero que todos se libertem, não apenas em shows. Espero também que nossa música sirva para inspirar as pessoas que precisam de alguma ajuda. Eu os entendo, sei como é ruim porque fui uma solitária na escola, porque estava sempre escutando meu heavy metal e escrevendo letras de música, enquanto todos estavam preocupados em serem populares e fazerem as coisas da moda. Mas nada disso importa, se você segue seu coração. Apenas faça o que você gosta e ignore quem não está disposto a aprender com as diferenças. Não vale a pena tentar colocar alguma coisa na cabeça de quem está afundado na própria ignorância.

Rock On Stage:  Dani, ouvindo Theatre Of Shadows vejo influências de Rob Halford nos vocais, já  nas guitarras, influências de Helloween como em Vampire Hunter e Highlight, momentos de puro prog metal como em Illusions e em alguns momentos até uma pegada mais pesada que me lembraram thrash metal como em Red Storm e We Want A Miracle ( especialmente no começo da música ). Sintetizando, ótimas canções heavy metal. Gostaria de saber quais são suas principais influências e quais discos você tem ouvido ultimamente para lhe ajudar nas futuras composições do Shadowside e na sua própria evolução como vocalista.
Dani Nolden:
É difícil dizer o que me influencia diretamente hoje, porque eu escuto desde Queen até Rammstein, passando pelo bom heavy metal, como Judas Priest. O que influenciou minha personalidade musical foram cantores como Sebastian Bach, Andi Deris, Rob Halford, Steven Tyler, Dave Lee Roth... Mas em minhas novas composições, acredito que absorvi naturalmente o que gosto e acrescentei tudo em minha própria identidade, para então combinar tudo isso com as idéias dos meninos. Nas músicas para o próximo álbum, todas as características da Shadowside estão lá, são melodias marcantes, guitarras pesadas e muita energia, não sei dizer exatamente que artistas foram responsáveis por essas idéias.  

Rock On Stage: As versões japonesa e americana de Theatre Of Shadows contarão com as músicas Don´t Change Your Mind da cantora nipônica Mari Hamada e Rainbow In The Dark do Dio, como bônus respectivamente. O Shadowside pensa em lançar para os fãs brasileiros esses covers de alguma outra forma, completando um single ou EP, por exemplo?
Dani Nolden:
Sim, com certeza! Me deram a idéia de lançar um EP com todos os covers que já fizemos, o que seria bem divertido. Talvez antes do próximo álbum, ou um pouco depois, vamos colocar isso em prática, se a gravadora concordar. Nós nunca esquecemos dos nossos fãs aqui e vamos encontrar uma forma de dar a eles esse material, mas sempre com algo inédito incluído. Não é justo fazer fãs pagarem por músicas repetidas, apenas por causa de uma versão diferente. Quando lançarmos essas músicas para eles, será da mesma forma que para os estrangeiros: em um disco cheio de novidades e não com várias versões apenas para encher espaço.

Rock On Stage: O mascote da banda Neo será como o Eddie para o Iron Maiden? Neo também aparecerá nos shows do Shadowside da mesma forma que o Eddie aparece no Maiden? Ainda neste tema, Dani você pensa em criar ares mais teatrais nos shows do Shadowside, assim como Bruce Dickinson sempre faz nos shows do Iron Maiden?
Dani Nolden:
Sim, com certeza! O público merece um espetáculo, claro que a música é o mais importante de tudo, mas eles também querem ver uma boa performance no palco, algo para criar o clima perfeito e funcionar bem com o tema... Nós estamos planejando transformar o palco em um grande teatro, reproduzindo o Theatre of Shadows ao vivo. Neo já está lá, mas não da mesma forma que Eddie... nosso fantasma também sabe tocar! ( risos ).

Rock On Stage: Sobre o show de abertura para o Nightwish, creio que um dos motivos que todos gostaram foi exatamente este: a platéia esperava ver uma banda que fosse nos moldes dos finlandeses, e então, vocês sobem no palco e mandam um heavy metal puro, bem diferente da expectativa da platéia. Estou certo? Dani, peço-lhe para contar um pouco como foi este dia.
Dani Nolden:
Esse dia foi inesquecível, sem dúvidas. Nós éramos um bando de garotos e fomos “jogados” em um palco, tocando para um público de 7.000 pessoas, ansiosos pelo Nightwish. Nós não tínhamos idéia do que esperar, como você falou, nosso estilo é completamente diferente e não sabíamos se seríamos bem aceitos.

   Eu só percebi o que estava acontecendo poucos segundos antes de iniciar o show, e naquele momento não tinha mais volta. Enfrentaríamos pela primeira vez um grande público e foi maravilhoso. Qualquer dúvida acabou no instante que as cortinas se abriram e as pessoas estavam gritando, curtindo e se divertindo. Foi um grande risco e acabou em uma noite muito melhor que esperávamos.

Rock On Stage: Como foram os três shows de abertura para o Helloween nesta pequena turnê conjunta com os alemães? Quais das cidades que vocês se apresentaram que sentiram que teve aquele feeling maior da platéia com a banda? E como é um show do Shadowside sendo headliner?
Dani Nolden:
Eu adorei todos os shows, senti uma ótima reação em todas as cidades que estivemos. Foi maravilhoso voltar para casa ( Nota da Edição: o Shadowside é uma banda de Santos/SP, onde o Helloween também se apresentou ), mas os shows no Rio e Curitiba também foram incríveis. Vi várias pessoas mostrando a capa do Theatre, na platéia, cantando as músicas, isso é recompensador.

    E tocar com o Helloween é uma honra, eles são divertidíssimos e uma grande banda. Foi uma boa forma de iniciar a turnê. Em nossos shows como headliners, vamos apresentar um set mais longo, nosso próprio cenário de palco, mas o principal será o mesmo que apresentamos com o Helloween, que é muita energia e prazer em tocar ao vivo.  

Rock On Stage: Nestes shows com o Helloween, quais músicas você sentiu que o público mais gostou? E quais músicas de Theatre Of Shadows você gosta mais de cantar?
Dani Nolden:
Isso é como escolher a favorita ( risos ). Adoro cantar todas as músicas, mas ao vivo, acaba sendo mais divertido cantar as músicas que mexem mais com o público. Mas não sei dizer qual foi melhor aceita, porque pareciam estar gostando de todas. Acho que Red Storm e Highlight funcionaram incrivelmente bem, por serem bem pesadas. Estamos planejando uma encenação especial para Red Storm em nossos shows... se realmente funcionar, vai ser um momento bem intenso, provavelmente vai fazer muitas pessoas voltarem para casa pensando um pouco sobre essa letra. 

Rock On Stage: Falando um pouco mais de você Dani, sei que está gravando um projeto com o guitarrista escocês Garreth Neilly, te peço para nos contar um pouco de como será esse projeto.
Dani Nolden:
Eu acabo de voltar da Escócia, ficamos gravando por mais ou menos duas semanas e eu não poderia estar mais satisfeita com o resultado! Gostaria de poder dizer a você o nome da banda, mas ainda estamos em dúvida (risos). Até o final dessa semana, vamos chegar a uma decisão.

    Nós gravamos um EP, com 5 músicas. Quem produziu foi Steve Reilly, que também produziu uma banda chamada Logan, excelente, por sinal. Todos nós acabamos nos tornando bons amigos, o que deixa o trabalho dentro do estúdio muito mais fácil. Essa gravação tinha tudo para ser estressante, já que nós tivemos muito pouco tempo para finalizar as músicas. Mas foi extremamente tranqüilo e divertido, porque sempre tínhamos uma piada em momento oportuno, isso sempre acaba com qualquer tensão ( risos ). A idéia inicialmente era fazer uma banda de metal moderno, mas acabamos misturando as guitarras pesadas e em afinação baixa com alguma melodia oitentista e algumas coisas “gritadas”, ficou algo muito interessante. Ainda não sabemos se vamos lançar o EP, ou apenas usá-lo como demo e então lançar o álbum completo, mas devemos iniciar a turnê no Reino Unido ainda este ano. 

Rock On Stage: Os planos para o presente são, com certeza, a tour de divulgação de Theatre Of Shadows. Gostaria de saber se o sucessor dele já está sendo composto ou se ainda é muito cedo para falar disso? Se sim, quais surpresas que você pode nos antecipar Dani?
Dani Nolden:
Se depender de mim, o disco está pronto! Eu tenho 12 músicas praticamente finalizadas, faltam apenas os solos, que obviamente são escritos pelos meninos, exceto quando são solos de teclado, que até o momento, planejei apenas em uma música. Tenho certeza que eles também tem idéias para novo material, então vamos ter o suficiente para escolher e trabalhar assim que decidirmos sentar para compor e mostrar o que já fizemos.        

Tudo sempre precisa ser feito em equipe na Shadowside. Fazemos a estrutura sozinhos, geralmente, mas todos sempre participam dos arranjos finais, assim podemos colocar um pouco de nós em todas as músicas, talvez essa é a fórmula do nosso som. Não sei o que eles estão escrevendo, mas posso falar sobre o que fiz:  acredito que é a evolução do Theatre of Shadows, segue basicamente a mesma linha, mas é ainda mais visceral, mais intenso. Tem alguns riffs bem nervosos, outros bem pesados. 

    Estou trabalhando em uma música que, na verdade, deveria ter sido lançada no Theatre of Shadows, mas eu não estava satisfeita com muitas coisas e decidimos deixá-la de lado temporariamente. Acabei mudando a música completamente e hoje ela está como eu queria desde o início, mas ainda estou em dúvida se faço dela uma música objetiva ou mais trabalhada e longa. Talvez vamos fazer as duas versões e ver o que fica melhor... se as duas ficarem boas, lançamos as duas ( risos ). Ainda não sei se vamos gravar esse material este ano, tudo depende da duração da turnê, mas estamos prontos, com certeza.  

Rock On Stage: Dani, muito obrigado pela entrevista, o espaço é seu e fique a vontade para dar a sua mensagem aos fãs do Shadowside e aos leitores do Rock On Stage.
Dani Nolden:
Obrigada a vocês pelo espaço! Eu não teria como mostrar minha músicas e idéias malucas sem o apoio de pessoas como vocês. Obrigada a todos os nossos fãs pelo carinho e por todas as mensagens positivas em relação ao nosso trabalho! Espero que gostem também de nossos shows como headliners, mal posso esperar para continuar a Dancing in the Shadows Tour. Abraços a todos, vejo vocês em breve!

Mais do Shadowside e Dani Nolden: www.shadowside.ws e www.dani-nolden.com
E veja a resenha de Theatre Of Shadows.

Agradecimentos a Costábile Jr.
Fotos: www.universodorock.com e site oficial do Shadowside.

Por Fernando R. R. Júnior

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