Deep Purple - ...To The Rising Sun In Tokyo
 CD duplo - 18 Faixas - Shinigami Records - 2016

    Consagrando a Now What?! World Tour, o Deep Purple, de longe a banda com mais cd´s ao vivo na história do Rock, disponibilizou mais dois álbuns duplos: um no lendário Wacken Open Air na Alemanha no ano de 2013 ( confira resenha ) e outro no Japão no também lendário Nippon Budokan, que segundo o baixista Roger Glover: "é um templo de paz", onde o histórico Made In Japan ( de 1971 ) foi parcialmente registrado e onde eles sempre tocaram desde então. Enfim, um lugar em que Ian Gillan nos vocais, Roger Glover no baixo e Ian Paice na bateria se sentem em casa, e claro que Don Airey nos teclados e Steve Morse na guitarra também já se acostumaram a se apresentarem por lá.

    O lançamento ...To The Rising Sun In Tokyo em DVD já teve sua resenha publicada aqui no Rock On Stage ( leia neste link ), mas a ideia deste texto é centrar nas emoções que são sentidas na audição de um álbum ao vivo de uma das bandas que são consideradas como os mestres do Rock.

    O cd duplo ...To The Rising Sun In Tokyo, que contém um um encarte de muitas páginas foi gravado no dia 12 de abril de 2014 no citado Nippon Budokan e teve seus processos de mixagem e masterização capitaneados pela dupla Eike Freese e Alexander Ditz com a importante colaboração do 'cigano' Roger Glover e foi realizada no Project Mayhem no Chamaelon Studios em Hamburgo na Alemanha. A capa toda em vermelho com ideogramas ( letras ) japoneses é de Antje Warnecke da Groothu´s GmBh.   

    Aos acordes cinematográficos, os japoneses recebem o Deep Purple ao som de Aprés Vous do novo Now What?! de 2013, que provoca suas naturais boas sensações ao ouví-la e também as primeiras viagens nos improvisos de Don Airey nos teclados e de Steve Morse na guitarra em uma base enfeitiçante de Roger Glover no baixo e Ian Paice na bateria. Mas, seja no Japão ou no Brasil, os fãs querem os célebres clássicos da banda e com menos raiva que na versão original do álbum In Rock ( de 1970 ) Into The Fire foi a segunda da noite com linhas instrumentais delirantes.

    O clima 'seventies' prossegue nos eficazes e pesados toques do baixista Roger Glover aliados àquela atmosfera única dos teclados, agora pilotados por Don Airey no Heavy Rock Hard Lovin´Woman, a segunda do álbum In Rock na sequencia, que trouxe um deveras empolgado Ian Gillan nos vocais e até agressivo eu arriscaria. Nos solos de teclados e seus improvisos sentimos o estilo 'fantasmagórico' que o Deep Purple sempre utilizou, que sempre serviu para nos deliciar, ainda mais com a atuação sempre marcante de Steve Morse, que neste caso recomendo ouvir de olhos fechados.  

    Strange Kind Of Woman ( do Fireball de 1971 ) continua ... To The Rising Sun In Tokyo com todo o seu ritmo pesado e que te causa aquela vontade de dançar ao ouvir Ian Gillan cantar seus versos, e nesta versão no Japão, o vocalista até ousou realizar aquele duelo de voz e guitarra com Steve Morse do alto de seus mais de 70 anos, porém, claro que sem aquela potência de outrora, quando desafiava o guitarrista Ritchie Blackmore com seus altíssimos agudos.

    Claramente contentes com a vibração do público japonês, eles conversam um pouco e continuam com a excelente Vincent Price do Now What?!, que homenageia o ator de vários filmes de terror dos anos 50 em um andamento bem Rock´n´Roll, mas, um pouco "assustador" nos teclados de Don Airey, que destacam também os longos solos de Steve Morse na guitarra, que provoca emoções ao tocar Contact Lost ( do Bananas de 2003 ), pois esta canção lembra dos astronautas à bordo da nave Columbia ( em especial à indiana Kalpana Chawla - fã declarada da banda ) que explodiu no ar e ao ouví-la é impossível não se arrepiar com os harmônicos incríveis que o guitarrista executa em uma nova saborosa viagem instrumental, que se conecta praticamente sem que se perceba a emblemática Uncommon Man ( outra do Now What?! ) com os vocais de Ian Gillan fundindo-se perfeitamente na melodia, que está cheia de categoria dos demais em uma nova rodada de improvisos, particularmente nos teclados de Don Airey.

    A próxima do set de ... To The Rising Sun In Tokyo é a contumaz 'rifflerama' presente em The Well-Dresseg Guitar, que chega pesada e envolvente enaltecendo a capacidade de Steve Morse, que prepara o terreno para que a clássica The Mule do Fireball nos conquiste logo nos seus primeiros acordes, onde podemos perceber toda a exuberância de Ian Paice na bateria ao cravar um reluzente solo para que as gerações mais novas saibam porque ele é considerado como um dos três maiores bateristas da história. Pouco depois, ele retorna para as linhas mais pesadas da composição junto aos demais e no término Ian Gillan grita o nome de seu baterista.  

    Dedicada ao tecladista Jon Lord Above And Beyond marca a décima faixa do primeiro cd e a canção do Now What?! transborda emoção e também apetitosas viagens nos teclados durante as vocalizações de Ian Gillan. Aliás, falando disso, Don Airey exibe uma atmosfera setentista nos seus toques de teclados, que se intensificam e chegam ao hit Lazy, do mitológico álbum Machine Head ( de 1971 ) acompanhado nas palmas dos japoneses no ritmo que "chamam" os solos do guitarrista Steve Morse resultando em um início belíssimo que só nomes do naipe do Deep Purple são capazes de fazer. E em Lazy, além de cantar, Ian Gillan sola sua gaita e solta alguns gritos, que incluem na canção linhas de Rock´n´Roll e de Blues terminar o primeiro cd te inspirando a colocar o outro logo para tocar.

    A recente Hell To Pay, considerada um hit do Now What ?!, abre o segundo cd com sua vibrante energia, onde sentimos o Deep Purple contente com o show e também percebemos os vários improvisos característicos  da banda, que traçam um crescente delicioso e que mais tarde retoma ao ritmo de seu princípio, assim que Ian Gillan canta sua parte final.

    Após ser introduzido pelo vocalista, Don Airey começa o seu solo impressionante de teclados que a cada show recebe aromas diferenciados e que sempre são incríveis de se ouvir ( e viajar ), e neste caso, apresentou linhas mais tristes, clássicas e que como costuma acontecer, a chamada Don Airey´s Solo tece a ligação para a calorosa Perfect Strangers ( título do disco de 1984 ), que mais de 30 anos depois, ainda é uma das melhores criações do Deep Purple e do Rock, sendo que neste show no Nippon Budokan ela foi executada pelo quinteto com todo o glamour que contagiou os fãs e a nós que ouvimos o cd.

    Space Truckin' ( do Machine Head ), que é disparada um dos maiores sucessos dos ingleses veio impondo a moral e respeito que merece com suas notas, onde cada um dos cinco membros nos entrega uma verdadeira sonzeira, confirme sentindo - por exemplo - o peso que Ian Paice aplica na sua bateria.

    E o hino máximo do Deep Purple, a Smoke On The Water apareceu entre solos cheios de eletricidade de Steve Morse, que trouxeram aquele início conhecidíssimo e envolvente desde que foi composto no Machine Head, que ganhou as palmas dos presentes em mais uma atuação marcante dos ingleses, que abrem o espaço para que os fãs japoneses participem do refrão ( e duvido que você também não cantarole estes versos ao ouvir o cd ) terminando a primeira parte do show.

    No retorno temos o Blues de Green Onions ( cover do Booker T. & The M.G.´s ) só nos teclados, baixo, guitarra e bateria, que se unem na animada Hush ( gravada no Shades Of Deep Purple de 1968 ), que provoca novamente uma vontade de sair dançando aos solos de teclados de Don Airey, que recebem uma 'tonelada' de improvisos, além de duelar com o guitarrista Steve Morse. Quem gosta deve reparar nas batidas de Ian Paice, que muda toda hora o estilo de seus toques e em Roger Glover, que sustenta o andamento para logo depois emendar um brilhante solo de baixo sensacional que culmina na pulsante Black Night ( single de 1970 ) para finalizar este ... To The Rising Sun In Tokyo com honra através de uma versão simplesmente grandiosa, com direito à uma sequencia de vários improvisos de cada um dos integrantes, que certamente deixou os japoneses de olhos arregalados.

    Assim como praticamente toda a constelação de álbuns ao vivo do Deep Purple, a qual sou suspeito para falar, pois, sou muito fã da banda, este ... To The Rising Sun In Tokyo mantém a chama e o clamor destes senhores em alta e é mais um espetacular lançamento da carreira de um quinteto, que ao se apresentar pelos palcos do planeta é exponencialmente melhor que no estúdio. Então, caro leitor(a)... creio que deverá incorporar mais um enriquecedor álbum em sua coleção.
Nota: 10,0.

Sites: http://www.deeppurple.com/
http://www.deep-purple.com e https://www.facebook.com/officialdeeppurple/.

Por Fernando R. R. Júnior
Julho/2016

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