Bon Jovi - The Circle World Tour
Quarta, dia 06 de Outubro de 2010 no Estádio do Morumbi
em São Paulo/SP

    Praticamente desde novembro de 2009 que se sabia que o Bon Jovi traria a turnê do álbum The Circle ao Brasil, e finalmente, após 15 anos de espera por um novo show dos americanos de New Jersey no Brasil encerrou-se em junho de 2010 quando os shows foram confirmados. Dias após o começo das vendas dos ingressos ( com preços bem salgados ) vários setores se esgotaram rapidamente, no dia do show o público estimado foi de 68.000 pessoas. Aliás, falando em números, os do Bon Jovi nestes mais de 20 anos de sucesso interruptos são bastante impressionantes: 130 milhões de discos vendidos, 2600 shows em mais de 60 países para mais de 34 milhões de fãs e suas turnês sempre estão entre as mais lucrativas do mundo.

 

Fresno

    O Fresno, banda formada por Lucas Silveira ( vocais, guitarra e teclado ), Gustavo Mantovani ( guitarra e backing vocals ), Rodrigo Tavares ( baixo ) e Rodrigo Ruschell, teve a missão de abrir o show do Bon Jovi e antes de comentar como foi o show dos gaúchos, devo afirmar que uma banda que não pertence ao eixo do hard rock, não foi uma boa escolha para a abertura dos americanos. Eram aproximadamente 19:45 quando o quarteto adentrou o palco todo de preto, tentando exibir uma atitude para fugir do estigma de "emocore" que o conjunto possui, porém, mesmo nitidamente mais pesados, eles são vaiados o tempo todo e não conseguiram empolgar os milhares fãs do Bon Jovi presentes. Eles tocaram entre outras, uma música chamada A Minha Estória Não Acaba Aqui - ainda bem - pois quem sabe no futuro eles consigam melhorar e até agradem um pouco mais.

Bon Jovi

    A expectativa dos fãs do Bon Jovi aumentou em proporções iguais ou maiores que o tamanho do Estádio do Morumbi a cada momento que antecedia a entrada da banda no palco, muito mais fãs chegavam e notava-se que teríamos a casa tão cheia quanto o show do AC/DC no final do ano passado ( leia resenha ). Instantes antes das 21:15 as luzes são apagadas e aí muitas garotas começaram a chorar de alegria, a sofrer um grande aumento em seu delírio pela emoção de rever o ídolo da adolescência novamente.

    Na abertura o gigante telão exibiu imagens do The Circle e o enorme círculo de luz que projetou palavras como "esperança", "amor", "paz", "diversão", e em seguida os músicos apareceram andando no telão e depois nos seus postos para que um dos maiores espetáculos do ano iniciasse. Jon Bon Jovi nos vocais, Richie Sambora na guitarra, David Bryan nos teclados e Tico Torres na bateria subiram no palco com a plateia ganha, que correspondeu plenamente com milhares de gritos histéricos e eufóricos. Além do quarteto principal, os músicos de apoio Hugh MacDonald ( baixo substituto do integrante original Alec John Such ) e o Bobby Bandiera ( guitarra ), completam a formação do Bon Jovi ao vivo.

    O set list seria longo e passaria por toda a carreira da banda priorizando os grandes clássicos e foi bom Blood On Blood do álbum New Jersey que o show começou. Bon Jovi com uma blusa de couro e violão ( visual típico hard rocker ) cantou com um feeling que emocionou para valer os presentes, enquanto Richie Sambora provava porque é considerado um guitar hero, e eu sabia que teríamos muito do que costumo chamar de "guitarra americana" ( aquela que o jeito de solar é mais rock´n´roll e possui grandes influências de blues ), aliás, as vestimentas de Richie no palco lembram muito do lendário bluesman Steve Ray Vaughan ( um figurino bastante diferente do estilo poser dos anos 80 ). A reação dos milhares de presentes foi uma explosão de felicidade e todos cantaram, pularam e se extasiaram com o animado vocalista. Era a certeza de um show inesquecível.

Muito rock´n´roll e blues

    A segunda foi We Weren´t Born To Follow do novo cd The Circle e a energia estava tão grande que não se via ninguém parado. Esta nova música tem um andamento rock que agradou muito os fãs, mas foi com You Give Love A Bad Name ( do Slippery When Wet de 1996 ) que a banda incendiou os corações de todos, seja com os efeitos no telão, a competente iluminação, o carisma de Jon Bon Jovi - que mostrava muita felicidade - ou os solos excelentes de Richie Sambora. Quando o estádio inteiro acompanhou nas palmas e cantou o refrão, tenha certeza leitores, os americanos devem ter adorado.

    Eles disseram estão tocando as músicas que os fãs querem ouvir e antes de Born To Be My Baby o vocalista disse: “Vocês estão comigo esta noite São Paulo? Mostrem-me o seu melhor”. E o hit do álbum New Jersey fez a maioria dos fãs por todo o estádio, segundo conversas com algumas amigas, chorarem bastante de felicidade e muitos ficarem sem piscar nos competentes riffs de guitarra de Richie Sambora ( e me incluo entre eles ).

    Depois deste começo perfeito chega a hora da primeira balada da noite: Lost Highway e esta canção que intitula o penúltimo álbum de estúdio do conjunto foi um momento para respirar, mas não para diminuir a emoção, pois seu ritmo country/rock empolga ainda mais com os solos que Richie Sambora realizou. Em seguida mais uma do novo trabalho com Superman Tonight, nesta Jon colocou uma camiseta do herói das HQ´s Superman e cantou com muito peso na cortesia do batera Tico Torres, e outro destaque em evidência foi para os teclados de David, que deixaram um ar setentista, ou seja, atuações excelentes dos dois músicos. In These Arms do disco Keep The Faith 1992 ) criou uma vibração positiva a cada verso cantado pelo vocalista e deixaram a festa ainda maior.

    E Captain Crash & The Beauty Queen From Mars do cd Crush ( de 2000 ) Jon novamente pega o violão, produz um andamento mais rock´n´roll suave muito gostoso de se ouvir. E ele afirmou: "São Paulo, é muito bom voltar aqui. Faz muito tempo que não tocamos no Brasil. Vendo essa recepção de vocês, não faço ideia do porquê. Nós deveríamos fazer shows aqui todos os anos”  ( e eu complemento: se isso acontecesse, quem sabe aí os preços seriam menores...) e completou em português: “Obrigado São Paulo” e então anuncia mais uma do The Circle com When We Are Were Beautiful e o vocalista mantém o violão para cantar como se estivesse louvando ou agradecendo aos céus. Richie utilizou uma Gibson Les Paul para realizar os solos notáveis e fez também os backing da canção, cujo clip mostra o tempo girando ao contrário ( que bom seria se isso acontecesse ao final do show e assistíssemos tudo só mais uma vez!!! ), a galera reagiu aplaudindo e cantarolando o refrão, ficou um momento suntuoso.

    O passeio pelos grandes sucessos da carreira do Bon Jovi continuou com Runaway, primeiro grande sucesso do Bon Jovi do álbum de 1984, prenunciada pelos teclados rápidos de David Bryan e nesta o vocalista usou uma Fender Stratocaster e quintuplicou a energia do show, pois os gritos das fãs ( sim, das mulheres presentes e tinham muitas ) eram tão fortes que pareciam que iriam encobrir o vocalista, mas além de não encobrir, a iluminação e o telão que trouxeram imagens que somadas à música que estávamos curtindo que tornou este momento ainda mais enfeitiçante. Richie Sambora mais uma vez solou bravamente e mostrou porque é um dos melhores guitarristas do mundo em atividade, mas 'teve a ajuda' de Jon que também fez um curto solo.

    O baixista de apoio Hugh MacDonald mostra sua habilidade com toques muito interessantes em We Goint It Going On, seu punch criou uma batida contagiante acompanhada pelos efeitos no telão e nas luzes coloridas eletrizam os fãs. O clip exibiu gente famosa como Martin Luther King, Barack Obama, John Lennon e outros. Mas esta canção nova guardava uma surpresa que é extremamente aceita ao vivo: Richie Sambora solando com muita precisão sua talking box. Bon canta o refrão mais algumas vezes após o final da música somente ele e a plateia, que provou que conhecia muito bem a letra. E aproveitando deste acessório musical, Richie nos brinda com outro hit que balança as estruturas do Morumbi: It´s My Life ( do álbum Crush ) cantada com muito carisma por Jon e devidamente eletrificada de forma correta, e Richie realizou um solo na talking box meu amigo(a) que foi um deleite à parte e muito marcante.

    Bad Medicine um hard rock do disco New Jersey fez todo mundo pular e ver Jon, David e Richie cantando juntos o refrão, e como isso nos dava mais forças para agitar ainda mais, no telão siluetas de enfermeiras sexy e uma luz vermelha maravilhosa: um clima de puro hard rock. Esta música foi alongada, com longos e precisos solos de Richie Sambora e quando o vocalista apresenta o guitarrista Bobby Bandiera eles emendam algumas surpresas com trechos de Pretty Woman ( do Roy Orbirson ) e Shout ( Isley Brothers ) no meio do refrão de Bad Medicine, aí meus amigos ninguém se conteve, a adrenalina tomou conta de todos. Isso foi a essência do hard rock - diversão e festa!!!. Para os repórteres que acharam na coletiva ( confira aqui )que eles são uma banda velha, faço questão que eles tenham ficado aqui e visto a excelente sensação que é o rock´n´roll do Bon Jovi.

    Mais uma do clássico New Jersey: Lay Your Hands On Me, e Jon saiu do palco para um descanso e deixa Richie Sambora ( atenção!!! quem não conhece isso é normal no rock e não um sintoma de idade ) para cantar essa música em um clima cheio de espiritualidade que fez todo mundo se confraternizar de tanta contentação, inclusive ao assumir o microfone ele disse brincando: "Sei que hoje não é domingo, mas vou levar todos vocês para a igreja", e todos acompanharam o músico iluminados pela imagem de vitral que apareceu no telão, foi um momento praticamente gospel que me fez sentir muita paz, só quebrada pela intensidade dos solos 'bluesados' ( com uma Fender Stratocaster ) e da voz rouca do guitarrista, e todos seguiram com eles nas palmas. No retorno de Jon Bon Jovi a 'baladaça' Always ( do cd Crossroad de 1994 ) 'cravou a faca' nos corações mais românticos, seu longo solo de guitarra ( feito com uma Gibson Les Paul ) atravessaram as almas dos mais harders, e como as mulheres cantaram com o Jon felizes da vida.

    A seguinte não é da banda Bon Jovi e sim da carreira solo do vocalista, mas a beleza de Blaze Of Glory que foi da trilha do filme Young Guns II ( aqui conhecido como Jovem Demais Para Morrer II ) está incorporada ao set list da banda e não poderia ser deixada de fora da apresentação, pois seu estilo 'bluesado' eletrizante extraído no slide de Richie aumenta ainda mais a magia que a banda nos passou.  Particularmente adorei este momento e mais uma vez um imenso coro acompanhou o vocalista ( que tirou melodias lindas de seu violão ) de forma grandiosa. E o Bon Jovi não deixava a força do show diminuir por instante nenhum, pois mesmo nas baladas como I'll Be There For You ( outra do New Jersey ) exibiu muito feeling seja nos vocais ou no violão enquanto Richie realizou solos e backing que fizeram todos cantarem com eles.

    Richie Sambora sabe quando 'roubar a cena' no palco mesmo tendo ao lado um frontman do gabarito de Jon, pois para a próxima música ele tocou com uma Gibson Double Neck introduzindo a animada Have A Nice Day ( do disco homônimo de 2005 ) e a roupagem rock´n´roll, especialmente nos solos de guitarras, que eles deram à canção causou uma calorosa salva de palmas ( aí entra o que eu falo da "guitarra americana" ).

 

    Os repiques da bateria de Tico Torres e o carisma de Jon que comandou a galera deram a tônica de I'll Sleep When I'm Dead do Keep The Faith e mantiveram o grande entusiasmo, e neste momento eles foram uma banda de rock´n´roll mesmo das antigas com David Bryan brilhando nos simples, mas sempre belos, solos de piano. Depois, o telão exibiu engrenagens funcionando e a cativante Work For The Working Man exibiu para todos o mergulho no rock´n´roll realizado neste último álbum de estúdio dos americanos, e diga-se de passagem, o cd agradou os presentes que motivados pelo frontman gritaram o refrão com muita garra.

    Mais uma passagem no álbum Have A Nice Day com Who Says You Can't Go Home e seus acordes no violão trouxeram uma harmonia positiva ao estádio com Jon e Richie cantando lado a lado. Encerrando a primeira parte do show, com chocalhos na mão, Jon trouxe a faixa título do álbum de 1993: Keep The Faith e fez o telão pegar fogo; calma, eram apenas vídeos de fogos a cada vez que Jon gritava a palavra 'Faith' na música e isso somado ao punch energético causou uma interação plateia/banda na grandiosidade que o Bon Jovi possui. Esse clima de celebração abriu o espaço para solos fervorosos de Richie, Tico e David, que finalizaram a primeira parte do show de forma magnífica. Jon Bon Jovi agradece ao público e com as luzes apagadas eles todos saem do palco; não parecia, mas, tinham-se passado quase duas horas de apresentação e o êxtase que sentíamos não deixou ninguém cansado e todos queriam mais rock.

Primeiro Bis ou Segunda Parte?

    Poderia até ser um pequeno bis se a banda não tivesse ficado empolgada com o calor recebido pelos milhares de fãs, mas como o público de São Paulo é diferenciado dos demais, eles sentiram que deveriam realizar um longo bis para conseguir ainda mais brilhantismo para esta perfeita noite de hard rock e foi com a linda These Days - título do disco de 1995 - que eles voltaram ao palco com ainda mais empolgação, e nesta a multidão acompanhou em coro o vocalista, que agora trajava uma camiseta vermelha. No final Jon avisou que no dia seguinte Tico Torres estaria comemorando mais um aniversário, e ele ganhou o maior "parabéns a você" da vida com um coral de mais 68.000 vozes, com certeza, ele adorou o presente dado pelos brasileiros.

    Nesta segunda parte, o quarteto queria deixar mesmo a apresentação na memória de todos e para Wanted Dead Or Alive Jon e Richie a executaram nos violões, mas os fãs entraram cantando antes mesmo do vocalista em um momento da mais pura emoção. O esplendor dessa canção do álbum New Jersey ficou maior, pois Richie utilizou um lindo violão de dois braços em seu início e depois eletrificou ao máximo com sua guitarra.

    No final os dois guerreiros ( Jon e Richie ) se entreolharam com muita alegria trouxeram os acordes de Someday I'll be Saturday Night ( presente no álbum Crossroad ) e foi majestoso ouvir todos cantando com os músicos, mas Jon estava muito empolgado e queria mais, ele repetiu o refrão mais vezes e o alongou, junto com a banda, para multiplicar o potencial químico banda/plateia que serviu para glorificar sua passagem por São Paulo ainda mais. Livin' On A Prayer começou praticamente à capela só com Bon e a galera, e ele declarou: “Vocês não conseguem esperar, não é?”, e assim o clássico do álbum Slippery When Wet corou o show do Bon Jovi na capital paulista. Afinal, ouvir o estádio inteiro berrando a uma só voz os versos da música e ver Richie Sambora mais uma vez na 'talking box' são experiências que ficarão vivas em nossas mentes por toda a eternidade.

3 horas de rock!!!

    Nos agradecimentos finais, Jon, provavelmente deve ter ficado muito emocionado e parou observando a gigante alegria de seus fãs, que eram só aplausos, assovios, gritos por todos os lados e a banda realizou uma 'conferência' no palco para mais um bis. E aí volto na parte da entrevista, quando Jon falou que se a galera empolgar mesmo, eles tocam por três horas - foi o que aconteceu - alguns minutos depois, o vocalista pegou o microfone e anunciou que tocariam mais uma música. E depois de uma quatro sucessos implacáveis que chacoalharam o Morumbi, eles finalizaram com a balada Bed Of Roses, hit do cd Keep The Faith com seus longos solos de guitarra ( dá-lhe Richie!!! )  e com uma interpretação 'pra lá' de sensacional de Jon Bon Jovi, pois ele cantou com o coração mesmo.

    Longa vida ao Bon Jovi, ao hard rock e apenas um detalhe: que eles não demorem mais 15 anos para o retorno ao Brasil, pois necessitamos de rever bandas que mostram esse nível de competência ao vivo e nos alegram tanto. Foi tão bom que ninguém disse que faltou essa ou aquela música, todos ficaram satisfeitos com o mega-show impecável que presenciaram.

Por Fernando R. R. Júnior
Fotos: Marcelo Rossi - Time For Fun e Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à Carolina Lopes, Juliana Siqueira, Ricardo Zonta e à toda equipe da Time For Fun
Outubro/2010

Set List:

1 - Blood On Blood
2 - We Weren't Born To Follow
3 - You Give Love A Bad Name
4 - Born To Be My Baby
5 - Lost Highway
6 - Superman Tonight
7 - In These Arms
8 - Captain Crash & The Beauty Queen From Mars
9 - When We Are Were Beautiful
10 - Runaway
11 - We Got It Going On
12 - It's My Life
13 - Bad Medicine
14 - Lay Your Hands On Me
15 - Always
16 - Blaze Of Glory
17 - I'll Be There For You
18 - Have A Nice Day
19 - I'll Sleep When I'm Dead
20 - Work For The Working Man
21 - Who Says You Can't Go Home
22 - Keep The Faith

Bis 1
23 - These Days
24 - Wanted Dead Or Alive
25 - Someday I'll Be Saturday Night
26 - Livin' On A Prayer

Bis 2
27 - Bed Of Roses

 

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