AC/DC - Black Ice World Tour
Abertura: Nasi

Sexta, dia 27 de novembro de 2009 no Estádio do Morumbi, São Paulo/SP    

    A bem sucedida turnê promocional do excelente álbum Black Ice ( leia resenha ), que já está há mais de um ano na estrada, finalmente chegou 'na terrinha' na última sexta feira do mês de novembro e o local escolhido para o único show brasileiro foi o Estádio do Morumbi em São Paulo. Os números até aqui são impressionantes: 2 milhões de ingressos vendidos, palco com 78 metros de comprimento, 21 metros de profundidade e uma locomotiva de seis toneladas que realmente chama a atenção seja onde você esteve do estádio, além de um sistema de iluminação e som impecáveis - tudo isso para acomodar os cinco senhores australianos que contagiam multidões de fãs pelo mundo há mais de três décadas com um rock que está mais para o rock´n´roll pesado do que o nosso vigoroso e amado hard rock, mas sem esquecer das pitadas de heavy metal que eles utilizam. E quando semideuses do porte de Brian Johnson ( vocais ), os irmãos Malcolm Young e Angus Young ( guitarras ), Phil Rudd ( bateria ) e Cliff Williams ( baixo ) sobem no palco, até o nosso poderoso São Pedro faz a chuva parar e lá dos céus, ele literalmente acompanhou o espetáculo, pois em uma semana castigada pela chuva, somente alguém 'lá de cima' dotado de força realmente superior, para cessar as chuvas e deixar o tempo bom no horário do show. Mas antes de mergulhar nos detalhes do AC/DC, vou contar como foi o show de abertura da noite.

Nasi

    O ex-Ira! ficou responsável de entreter as legiões de fãs do AC/DC, e para aqueles que julgavam que ele talvez não fosse a melhor escolha abrir para um show desse porte, vale registrar que Nasi fez uma boa apresentação que garantiu muitos aplausos. Quem deu as caras com o Nasi foi o guitarrista ( e arroz de festa ) do Sepultura Andreas Kisser em uma participação muito especial. Nos trinta minutos do set, a dupla tocou Por Amor ( do Ira! ), covers como Should I Stay Or Should I Go? ( do The Clash) e I Wanna Be Your Dog ( do The Stooges), além de Até Quando Esperar ( sucesso do Plebe Rude ) e para aqueles que sempre gritam: " Toca Raul...", Nasi emendou duas do nosso rei do 'rock brazuca' com Mosca na Sopa e Sociedade Alternativa. Um bom show como disse no começo, mas, em outras oportunidades, quem deveria abrir um espetáculo desses, seria um Patrulha do Espaço ou um Made In Brazil, até mesmo as Velhas Virgens, que tem mais a identidade musical do AC/DC.

AC/DC

    Já era sabido por todos que o único show capaz de superar as grandes apresentações de: KISS, Twisted Sister, Heaven & Hell e Iron Maiden seria o AC/DC, e realmente foi o que aconteceu ( em tempo, se quiser saber mais desses shows é só clicar nos links acima ). Mas este fato não foi consumado pelos efeitos visuais trazidos na bagagem, eles ajudaram para a Black Ice Tour ser superior, é verdade, mas o grande destaque dos australianos foi a qualidade do rock´n´roll que foi apresentado nas duas horas praticamente ininterruptas de show.

    Começando apenas 5 minutos há mais do horário previsto de início ( 21:30 ) o telão ( de alta definição ) exibe um filme com os membros do AC/DC sendo conduzidos por lindas e levemente sacanas mulheres ( muito gostosas para falar a verdade ) em um trem desgovernado, pilotado por Angus Young. Então o telão se divide em dois e instantes depois, a gigante locomotiva ( dotada de seus próprios chifrinhos e que não parava de soltar fumaça e fogo ), e mais o AC/DC adentram o palco para que o único show no Brasil tivesse início. O mais novo hit da banda Rock´n´Roll Train do cd Black Ice garante a enorme vibração de todos logo de início ao ver a dupla: Brian Johnson ( que canta com a sua voz rouca e cheia de carisma e vestindo sua irrefutável boina, camisa sem manga e calça jeans ) e Angus Young trajado com a tradicional roupa de colegial ( que acabou de voltar da escola ) e sua Gibson SG que começam a desfilar todos aqueles riffs únicos que só o AC/DC sabe fazer. Não sei se foi uma homenagem, mas o guitarrista entrou portando terno e boné verdes, gravata listrada de verde e amarelo. Após a calorosa execução de Rock´n´Roll Train Brian Johnson faz a saudação de " E aí São Paulo.... " para a galera e completa: "Não falamos bem 'brasileiro', mas falamos rock n' roll"; e não era preciso falar, pois a linguagem rock´n´roll da banda é o motivo que adoramos esses australianos.

    A segunda da noite foi Hell Ain’t A Bad Place To Be  ( do Let There Be Rock de 1977 ) que já fez muitos de nós sair dançando, agitando os cabelos de forma igual ao guitarrista showman do AC/DC, aliás ele e o Brian não pararam quietos um segundo sequer do show. Angus já foi andando pela enorme passarela que chegava até a metade do estádio, aliás fica o registro: que vigor esses dois possuem, tem muitos aí que são bem mais novos e não tem 10% dessa atitude no palco. Em seguida tivemos um dos maiores clássicos da banda com Back In Black  ( título do multiplatinado álbum de 1980 ) com Angus dando outro sentido ao termo 'bangear', pois ele anda, agita sua cabeça e sola sem parar, enquanto Brian nos faz cantar juntos com ele resultando na total força e empolgação que nos era possível.

    Big Jack ( do novo Black Ice ) foi muito bem recebida por todos que cantam e se divertem com o AC/DC, seja em músicas recentes ou clássicas, a verdade é que o seu rock´n´roll envolvente aumenta a nossa euforia cada vez mais. Dirty Deeds Done Dirt Cheap ( título do álbum de 1976 ) foi responsável por extrair ainda mais felicidade dos fãs mais antigos e nesta, posso afirmar que o Morumbi começou a tremer de verdade, pois para onde se olhava, via-se todo mundo pulando junto com o quinteto. Dois que também merecem serem destacados são Malcolm Young e Cliff Willians que fazem os backing vocals com perfeição, não só nesta mas em todo o set da banda, e é quase um crime deixar de acompanhá-los a todo instante.

    Praticamente a cada música que solava sua guitarra Angus Young não esquece de uma das suas marcas registradas nos shows: o 'duckwalk' - dança criada por Chuck Berry, que deve sentir-se orgulhoso em ver seu legado sendo perpetuado em uma banda tão grande quanto o AC/DC. Em seguida, temos a primeira surpresa do set com o resgate de Shot Down In Flames ( do Highway To Hell de 1979 ) e seu ritmo rock´n´roll sedutor que causou boas vibrações em todos sem exceção. A poderosa Thunderstruck ( do The Razor´s Edge de 1990 ) provoca uma intensa participação da galera que aclama os seus solos iniciais e fazem os 'ooooo....ooooo....thunder....' regidos por Brian até que é chegada a hora de sua voz energizar o Morumbi em meio ao 'forte ataque' do sistema de iluminação do show em nossas almas. Black Ice pode ser considerada outra grata surpresa do set com seus riffs mais sujos que fizeram a contrapartida com os vocais roucos de Brian Johnson. O clima hard/blues que foi criado em Black Ice mostra que o AC/DC, enquanto existir, irá sempre nos brindar com composições de primeira e que revigoram os nossos corações.

    "Esta música é sobre uma vagabunda... ", anuncia Brian Johnson e então eles tocam a altamente 'bluesada' The Jack ( do T.N.T. de 1975 ) com Angus solando bravamente sua guitarra e enquanto Brian cantava,  algumas mulheres são focadas no telão e uma delas levanta sua blusa e exibe seu sutiã para aumentar a libido dos homens no estádio. A perfeita interação público-banda-show acontece quando Angus Young realiza seu 'tradicional strip tease' e tira peça por peça de sua roupa de colegial e fica só de bermuda,  e em seguida exibe sua 'ceroula', com a parte de trás mostrando o logotipo da banda. Indiscutivelmente um dos melhores momentos do show, tanto que Brian anunciou  que Angus é “o diabo nos dedos e o blues na alma” e eu completo aqui: que nos enfeitiça e atiça nossa libido pelo rock´n´roll.

    O grande sino com o logo da banda já dava a deixa da próxima música, e Hells Bells ( do Black In Black ) com seus acordes pesados, levaram Brian Johnson - e seu invejável pique cheio de energia - a pendurar-se na corda do sino e balançar-se com ela enquanto a banda produzia mais este clássico do Black In Black. E como a multidão de fãs gritou de de forma única os versos desta música - realmente muito emocionante, tanto para este que vos escreve, como com certeza para o AC/DC. A seguinte foi Shoot To Thrill, outro 'rockão' deste fabuloso álbum de 1980, que é acompanhado por palmas do estádio inteiro no ritmo da música. Com desenho animado de um avião de guerra bombardeando guitarras e depois de um tanque de guerra com os cinco membros da banda dentro dele sendo exibidos no telão, tivemos War Machine, mais uma das ótimas músicas novas tocadas neste show que nos ganham facilmente pela forte pegada rock que ela possui. 

        Ok, o show começou excelente, a cada música ficou melhor ainda, mas foi a partir de Dog Eat Dog ( do Let There Be Rock - 1977 ) que a banda emenda uma sequencia matadora e sacia 'pra valer' a nossa sede de 13 anos sem um show deles no Brasil, pois a partir daí, o AC/DC elevou seu show à categoria de majestoso. Não tinha como ficar parado ouvindo Dog Eat Dog com seus riffs maravilhosos e a interpretação quente de Brian Johnson, tínhamos de pular e cantar muito além de aplaudir a banda; ahh!!! e detalhe: tudo ao mesmo tempo. Para provar esse raciocínio das linhas anteriores, a próxima foi You Shook All Night Long ( também do Black In Black ) e o seu andamento cravado no rock´n´roll chacoalhou todo o Morumbi - que cantou em uníssono esta que é uma das mais adoráveis músicas que eles já compuseram em toda a carreira.

    E sem descanso chega a vez de T.N.T. com Angus Young fazendo chifrinhos com as mãos e puxando os "Oi.. Oi.. Oi..."  e este 'simples' fato faz todo mundo cantar o seu início numa 'comunhão coletiva' gerando um grandioso e altíssimo  coro para acompanhar Brian, e o resultado não poderia ser outro senão um euforia única. Se isso não bastasse, os efeitos de fogo produzidos nos trilhos e também pela locomotiva, colocaram T.N.T. à um nível ainda mais superior. Ao avisar que eles haviam trazido uma velha namorada no show, Brian Johnson deixa claro que a próxima era Whole Lotta Rosie ( também do Let There Be Rock ) e uma grande 'Rosie' inflável ( e afirmo, creio que seja a maior boneca inflável do mundo, bem sensual com sutiã, luvas e cinta-liga vermelhas ) se agiganta acima da locomotiva e se esfrega nela, com toda a conotação sexual que a música possui que nos contagia e faz apreciar ainda mais este clássico.

    Sem nos deixar respirar, o impecável batera Phill Rudd já dispara os toques inicias de Let There Be Rock que eletriza de vez o show, e ver Brian Johnson cantando este clássico insuperável que narra as origens do rock´n´roll é quase indescritível, tanto que para mim foi o melhor momento do show. E vale lembrar que nesta "o santo", "o capeta", seja lá quem for, desce mesmo em Angus Young e apodera-se dele, pois o cara sola sua Gibson SG interminavelmente com muito feeling, sai correndo de um lado para outro, além de se jogar no chão, se debater como se estivesse tendo um ataque epilético. O incrível é como ele consegue fazer tudo isso sem parar de solar. Em muitas vezes ele sola com uma mão só, nos conduz ao delírio total e solicitando nossa participação com gritos a cada parada nos solos. Essa maravilha que só acontece em shows de bandas da magnitude do AC/DC durou quase 20 minutos, mas como as grandes obras da história, nem deu para perceber a passagem do tempo, e detalhe, todos os solos foram precisos e maravilhosos.

 

    São em horas como esta sente-se a competência do AC/DC como banda, pois mesmo ficando mais discretos ao fundo do palco, o baixista Cliff Willians, o guitarrista responsável pela harmonia nas melodias Malcolm Young  e o baterista Phill Rudd fazem juntos um set perfeito para que Angus possa nos encantar com suas estripulias durante o show. O ponto máximo é quando o incendiário guitarrista vai ao ponto extremo da longa passarela e lá é levantado em uma plataforma de dez metros de altura com direito a chuvas de papéis picados e muita fumaça para glorificar a supremacia dos solos de um dos 10 maiores guitarristas de todos os tempos em atuação. Aliás, valeu Angus pela aula de como deve ser tocada uma guitarra!!!

       Já era hora do bis ( uma pena ), e pergunto: num show excepcional como esse, alguém aí notou que já tínhamos passado quase duas horas de set? Quem percebeu gritou "olê, olê, olê, olê, AC/DC...", eu confesso que não percebi que já estava quase no final, dado a alegria que tomou conta do meu ser e vindo de um alçapão com muita fumaça, Angus com chifrinhos gurdados na testa ( detalhe: nas poucas vezes que me virei para trás, a multidão de fãs desde o início do show também ficou com seus chifrinhos parecendo enfeites de Natal ), volta ao palco solando sua guitarra e trazendo os riffs iniciais de mais um clássico. Tem dúvidas de que música seria tocada leitor(a)? Se tem eu respondo: a calorosa Highway To Hell ( título do cd de 1979 ) que nos levou ao puro êxtase.

    Vi três dos doze canhões sendo posicionados praticamente acima de onde eu estava e já sabia que um dos maiores e mais importantes hinos de toda a história do rock´n´roll iria fechar a noite, estou falando da saudação que o AC/DC presta para os fãs: For Those About To Rock, We Sallute You ( do álbum homônimo de 1981 ), e a sensação quando Brian Johnson grita " Fire...." é de estar em um navio pirata disparando seus ensurdecedores canhões, porém, neste caso, os canhões representam uma homenagem ao diferenciado e seleto grupo de pessoas que somos nós, os headbangers. Os estrondosos estouros de cada canhão ficarão na memória por muito...muito tempo de tão fortes que foram. Quando a banda termina a singular execução de For Those About To Rock, We Sallute You, que beirou à perfeição suprema, temos além da grande ovação dos fãs, uma salva completa de todos os canhões juntos. Inesquecível!!! E então, quando Angus, Brian, Cliff, Malcolm e Phill deixam definitivamente o palco, uma intensa queima de  fogos de artifício encerram o mega-show.

    Mesmo estando completamente feliz por ser um dos 70.000 fãs ( segundo números oficiais, pois dentro do estádio com a multidão por todos os lados, a impressão é que haviam muito mais legionários do rock ) que assistiram a Black Ice Tour no Brasil, declaro que fiquei chateado pelo show ter acabado ( afinal, todos nós sempre queremos mais ) e já fico aqui na torcida que a futura quarta passagem do AC/DC no país ( este única apresentação marcou a terceira vez ) não demore mais 13 longos anos. Que o retorno desta que realmente é uma das melhores bandas de rock de todos os tempos seja o mais breve possível.

Por Fernando R. R. Júnior
Agradecimento
s à Regis Motisuki e equipe da T4F - www.t4f.com.br
Fotos: Marcelo Rossi
Dezembro/2009

Set List:

Rock ‘n’ Roll Train
Hell Ain’t a Bad Place to Be
Back in Black
Big Jack
Dirty Deeds Done Dirt Cheap
Shot Down in Flames
Thunderstruck
Black Ice
The Jack
Hells Bells
Shoot to Thrill
War Machine
Dog Eat Dog
You Shook Me All Night Long
T.N.T.
Whole Lotta Rosie
Let There Be Rock

Bis:
Highway to Hell
For Those About to Rock (We Salute You)

 Galeria de Fotos do AC/DC

Descrição:
Número de imagens: de

 

 Voltar para Shows