Metallica - By Request
Abertura: Raven
Sábado, 22 de março de 2014
no Estádio do Morumbi em São Paulo/SP
   

    Depois de quatro longos anos, finalmente o Metallica aportou para uma única apresentação em São Paulo e mesmo sem estar divulgando um novo álbum ( o último de estúdio data de 2008 ) a popularidade do quarteto é tão grande, que eles lotaram facilmente o Estádio do Morumbi em um show que foi muito especial, pois, o set list foi escolhido pelos fãs através de uma votação.

    Desta vez não se deve reclamar que esta ou aquela não foi tocada, porque o Metallica proporcionou uma votação da forma mais democrática possível, ainda assim, posso dizer que o público poderia ter escolhido músicas diferentes do usual, mas enfim, como deixar de fora clássicos como "Master Of Puppets""Enter Sandman", "Seek & Destroy", "One" ou "Sad But True"?

    E o caráter interativo do Metallica foi confirmado para a escolha da última música, que seria inclusa no set list desta noite, e a 'disputa' estava entre "Ride The Lighting", "That Day Never Comes" e "Memory Remains", que só teve sua votação encerrada na hora do bis. Levando-se em conta que o público do Metallica se renova a cada passagem pelo país, difícil sair do que podemos considerar como tradicional dos shows da banda, mas, antes de aprofundar nestas questões, vamos falar do show de abertura.

Raven

    No passado, no já distante ano de 1983, a banda inglesa de Heavy Metal Raven convidou o Metallica ( que divulgava o histórico Kill'Em All ) para ser sua atração de abertura na turnê do álbum All For One, época quando a amizade entre os dois grupos foi criada. Agora mais de trinta anos depois, o Raven teve a honra de abrir para o Metallica. Os ingleses - cujas origens datam de 1974 - foram uma das muitas influências do Metallica e a atual formação é composta por Mark Gallagher ( guitarra ), John Gallagher ( vocais e baixo ) e Joe Hasselvander ( bateria ), que tiveram a responsabilidade de encarar um Morumbi ainda não tão lotado em sua totalidade. 

    Programado para começar às 20:00hs, o trio só foi subir no palco por volta das 20:45 e destilou seu Heavy Metal com Take Control do All For One, e mesmo com a grande empolgação dos ingleses, aquele velho problema, que temos com as bandas de abertura no Brasil aconteceu novamente: o som muito, mas muito baixo, falhas no microfone de John Gallagher, enfim, era para irritar os músicos.

    Entretanto, com muito profissionalismo eles fizeram longos solos de guitarra e John Gallagher foi até outro microfone para cantar os versos desta primeira música. Como se trata de uma importante banda da história do Metal e com uma vasta experiência de estrada, eles superaram esse problema inicial e souberam como empolgar aquela multidão de fãs do Metallica.

   Em seguida, executaram All For One e esta sonzeira título do cd de 1983 ganhou belos, longos e velozes solos de guitarra de Mark Gallagher com o trio demonstrando muita atitude no palco, se movimentando bem no pequeno espaço destinado à eles e enfim, mandando ver em um Heavy Metal oitentista deveras empolgante. Em alguns trechos, o vocalista deixa inteligentemente espaços para que nós gritemos com ele o título da canção e nos faz também participar com os 'hey...hey...hey'.

    Depois, John Gallagher arrisca um "Buenas Notches São Paulo" para os fãs, comenta da felicidade de estar no Brasil tocando para um público tão grande e então solta o 'Metalzão' da clássica Rock Until You Drop ( que intitula o primeiro cd de 1981 ), com solos pesados e cadenciados. O carismático vocalista faz uma pausa e pede para que nós soltemos a voz para berrar com força o nome da música, e aí alternam uma sequencia de solos com nossa participação. No término diz que nós somos os melhores e ganha muitas palmas dos fãs.

    Continuando com a intensidade que estavam propostos a nos mostrar, o Raven executou On And On do Stay Hard de 1985, e esta rápida canção provou a qualidade que eles possuem, tanto que recomendo ficar de olhos e ouvidos à esta banda inglesa.

    Em mais uma conversa com os fãs, John Gallagher agradeceu a oportunidade e Mark Gallagher com uma guitarra vermelha nas mãos emendou a Faster Than The Speed Of Light do cd Wiped Out ( de 1982 ), e seus riffs iniciais já ganharam palmas dos fãs, afinal, não tem como ficar parado diante de um Heavy Metal do melhor estilo que apreciamos ouvir, ou seja, clássico e para provar que gostamos vários 'ôôôôôôô...and...ooon' ecoaram no Morumbi por parte da galera.

    Para encerrar o curto show de aquecimento para o Metallica, o Raven incluiu o trecho inicial de War Pigs, causando um êxtase geral, afinal, relembrar do Black Sabbath, que passou recentemente por aqui, é para inflamar na certa, e terminou com a poderosa Sympton Of The Universe, tocada com muita precisão pelos ingleses.

    Nesta hora fui ao delírio e na minha mente passou o show que vi em outubro de 2013 ( leia resenha ) e afirmo com segurança: final perfeito para um show que teve vários problemas, que aumentou a vontade de ver o Metallica. Foram apenas quarenta minutos do Raven, mas está uma banda que merece maior atenção e que preciso assistir um set completo e só deles assim que for possível com um som melhor regulado.


Set List Raven

1 - Take Control
2 - All For One
3 - Rock Until You Drop
4 - On And On
5 - Faster Than The Speed Of Light
6 - War Pigs/Symptom Of The Universe

 

Metallica

    A única banda que tocou em todos os sete continentes e que anunciou seu retorno à São Paulo - durante a divulgação show na gélida Antártida - foi recebida por um público estimado em mais de 65.000 pessoas, que lotaram o Estádio do Morumbi. Entretanto, com relação ao horário de início programado, demorou por volta de 50 minutos, o que multiplicou a euforia e a ansiedade dos fãs que vibravam a cada música tocada nos P.A.s.

    Quando estes estavam tocando It´s Long Way To The Top ( If Wanna Rock'n' Roll ) do AC/DC, a deixa estava dada e instantes depois o vídeo da tour Metallica By Request, o específico do público brasileiro, que foram lidas pelos integrantes as mensagens dos fãs com os pedidos de músicas, de solos, efeitos no palco, enfim, uma pincelada nas escolhas dos fãs brasileiros, posso dizer que o show ia começar.

    Então, a Ecstasy Of Gold, criação de Ennio Morricone para o clássico filme Três Homens em Conflito com Clint Eastwood foi tocada e as cenas do filme exibidas nos telões, e a galera acompanhando nas palmas e nos "ôôôôôô...ôôôô", pronto.... um dos melhores shows de Metal do ano ia começar.

     E foi com a detonadora Battery do álbum Master Of Puppets, que James Hetfield nos vocais e guitarra, Kirk Hammett na guitarra, Lars Ulrich na bateria e Robert Trujillo no baixo foram ao palco. E este Thrash Metal atuou como faz desde sua gravação em 1986: contagiando e causando uma intensa agitação nas legiões de headbangers presentes no Morumbi.

    Ao contrário do Raven, o som estava altíssimo, muito bem equalizado e a garoa que começou a cair não incomodava ninguém, muito pelo contrário, tornou-se parte do cenário. Se a primeira já ateou fogo nos fãs para valer, a segunda então era para cair o queixo e bangear bastante, pois sacaram a avassaladora Master Of Puppets, que naturalmente foi cantada pela imensa maioria de fãs, e quando uma banda já coloca uma música dessas logo de cara é sinal que o set ia ser matador do começo ao fim.

    Além da irretocável voz de James Hetfield, ele e Kirk Hammett enviaram toda aquela linhagem de solos de guitarras que colocaram Master Of Puppets no 'Hall' das grandes composições do Metal e que, ao vivo soam melhores ainda, especialmente nos risos do vocalista.

Faltaram fogos, mas sobraram músicas explosivas

    É a garoa tornou-se um chuvisqueiro e atrapalhou a parte pirotécnica do show, mas quem se importou? Os fãs não, afinal, era Metallica no palco!!! Estes bradaram "olê...olê...olê...Metaaaalliicaaa", e o quarteto prosseguiu com seu list impecável com Welcome Home ( Sanitarium ), a terceira do show e do composta para o Master Of Puppets, com dedilhados feitos por James Hetfeild naquela linha cadenciada que tanto apreciamos e à maneira que ele ia cantando, notavam-se muitos acompanhando a letra. Na hora de seus poderosos riffs, percebi algumas rodas que estouraram próximo onde eu estava, mas não tantas quanto da última passagem da banda por São Paulo ( leia aqui ).

    Depois, James Hetfield berra um "Saaooo Paaullooo" e complementa dizendo que fazem quatro anos que não passa pela capital paulista ( nós sabemos, então, não demore tanto a voltar ) e a música de abertura do álbum Reload de 1997, a Fuel é tocada com todo a sua adrenalina e o desfile de clássicos continua com The Unforgiven ( do chamado Black Album de 1991 ), que em seus primeiros acordes dedilhados no violão recebeu aquela multidão nos "ôôôôôôô....ôôôôô", em uma excelente escolha dos fãs.

    E como era de se esperar, todos cantaram com o quarteto esta balada Heavy da carreira da banda, e no final, o carismático vocalista pronuncia "Unforgiven Saooo Paaaulloo", em uma clara referência ao sentimento que a "Metallica Família" passava para eles.

    Ele continua a conversar com os fãs e enfatiza que esta foi outra que nós escolhemos, além de questionar se já ouvimos e gostamos da nova música, a Lords Of Summer, uma longa composição de oito minutos, que começa mais cadenciada e prossegue com riffls cavalares, que mantém um misto pegada Thrash do Death Magnetic com a das gravações dos anos 80. Se o vindouro novo álbum caminhar na trilha desta Lords Of Summer será muito bom e destaco também a atuação de Kirk Hammett, que em vários momentos solou com uso de um 'slide' em seu dedo deixando a música mais bela.

    Após a nova, hora de retornar ao passado com a estrondosa Wherever I May Roam do Black Album, e aí meu caro leitor(a), acredito que não teve quem por todo o estádio que não agitou e cantou, pois esta música faz parte da história de muita gente. 

    No gigante palco do Metallica, que era muito semelhante ao utilizado na tour anterior por São Paulo, haviam umas quarenta pessoas de fãs clubes nos dois lados, que acompanharam o show de lá e antes da anunciar a próxima, James Hetfield chamou um deles ao palco, o Mário de Porto Alegre ( do MetClub, o fã clube oficial da banda ) e o questiona se este veio de carro, então deixa este ter o orgulho e a honra de anunciar a cadenciada Sad But True, outra do álbum de 1991, que flamejou o Morumbi pela sua considerável garra musical.

    Vale ressaltar o brilhante solo que Robert Trujillo realizou em seu baixo no final, que ligaram aos sensacionais dedilhados de Fade To Black, do Ride The Lightning de 1984, para um aumento na euforia de todos, especialmente quando Kirk Hammett solou sua guitarra com primor.

    Não cheguei a acompanhar a lista das mais votadas que criaram o set list desta noite, porém, qual foi a minha surpresa quando vi que a seguinte era simplesmente uma das minhas favoritas, a And Justice For All, título do álbum de 1988. Ao ouvir seus acordes, uma incontrolável alegria tomou conta e então, agitei sem parar, intensamente, gesto que foi repetido por todo o Morumbi por onde olhei, pela soberba versão que o Metallica nos entregou.

     E como fez bem ouvir um Heavy Metal deste naipe tocado por quem o criou e com uma vontade de mostrar seu poderio como eles fizeram nos anos 80. Acredito, que esta foi um dos ápices do show, pois o Metallica inteligentemente fez o show ser excelente em toda a sua duração, mas que durante And Justice For All tivemos um dos pontos mais impressionantes, tivemos.

Matador

    E então ouvimos a artilharia, foguetes e bombas introdutórias da música seguinte, a inexpugnável One ( do And Justice For All ), um dos clássicos máximos do Metallica, que foi tocado com toda a habilidade pelos quatro, daquelas para se colocar o Estádio abaixo. E ordem era exatamente essa: mais Metal dos 'eighties' na veia.... e a pesadaça For Whom The Bell Tolls do Ride The Lightning manteve o vigor do show, a vibração, enfim, o clima positivo e 'metálico'.

    Depois, os telões, ( a mando do vocalista ) nos exibe qual música, dentre as três está mais bem votada e ele avisa que a vencedora irá ser tocada, e faz um certo charme para que Memory Remains seja a ganhadora.

    Então, convida mais um fã para o palco, desta vez o escolhido foi Thiago, presidente do fã clube Brazilian Militia, que durante sua conversa com o James Hetfield deu uma boa inflamada na família Metallica e gritou o nome da seguinte, a Creeping Death do Ride The Lightning, que foi tocada com fúria pela banda e recebida em várias rodas pelos fãs perto de mim. Mas, incrível mesmo foram as enormes legiões berrando "Die...Die...Die..." e socando o ar na hora do refrão.

   Após essa sequencia de várias pedradas, James Hetfield falou "Say Hello to my friend Kirk" e este dedilha sua Gibson de forma belíssima, acompanhado por muitas palmas, e assim liga esses acordes a célebre balada Nothing Else Matters do Black Album, disparada uma das mais bonitas que eles compuseram nestes trinta anos de banda.

    E nem é preciso dizer que todo o público do Morumbi cantou com a banda verso por verso não é mesmo? No seu término, assim como já fizeram em apresentações anteriores, James Hetfield deixou sua guitarra na última nota do solo, com uma dosagem de distorção muito forte e a câmera foca bem em cima de sua palheta que exibia deu um lado Nothing Else Matters e ele vira para o outro onde estava escrito Enter Sandman.

    Bem, com a execução deste hino do quarteto foi perfeita e provocou reações insanas entre todos, pois não dava para ficar parado com os certeiros riffs da dupla Hetfield/Hammett em nossas almas. E desta forma destruidora a primeira parte do show é finalizada.

First Once

    Enquanto a galera fica no "olê...olê...olê...Metallica" os telões exibem o placar das músicas que estavam sendo votadas durante o show e estava com mais votos a The Day That Never Comes, porém, quando eles voltaram ao palco James Hetfield fica triste por Memory Remains estar "perdendo" e então a gata Carla de Cascavel/PR convidada por ele para anunciar Whiskey In The Jar ( do Garage Inc ), que pela primeira vez foi apresentada no Brasil e naturalmente este clássico do Rock´n´Roll criado pelo Thin Lizzy foi aplaudido e aclamado por todos.

    E algo que foi muito incrível durante a execução desta foi a hora em que colocaram microfones para aquela galera dos fãs clubes do palco para vocalizar com eles, ou seja, fizeram de um show em uma arena grande como o Morumbi se tornar ( para estes felizardos ) um show em um clube pequeno. O Metallica no quesito espetáculo é extraordinário.

    E mesmo a galera querendo Ride The Lightning a vencedora com 17.532 votos foi The Day That Never Comes, a única do álbum Death Magnetic de 2008 e disparada uma das melhores do cd, mas não melhor que a Ride The Lightning. Mas, sem problemas está valendo, pois The Day That Never Comes conta com seu potencial de contagiar todo mundo também, ainda mais pela categoria de seus longos solos de guitarras, afinal não foram poucos que sacudiram seus pescoços durante sua execução.

    Antes de encerrar, James Hetfield recorda sobre a importância do Raven para o Metallica, agradece o trio inglês com um sonoro "Thank You Raven" e complementa dizendo que tocaria a última da noite, e um fã, escolhido por Lars Ulrich deu as primeiras batidas na sua bateria para a demolidora Seek And Destroy ( do Kill'Em All ), clássico indefectível do Thrash Metal, que extasiou cada alma presente. E durante sua execução várias bolas pretas são lançadas para a plateia brincar enquanto cantava e 'bangeava' em uma interação fascinante.

    E demonstrando o apreço que possuem pela chamada Metallica Família, que literalmente ovacionou a banda, Lars Ulrich, Kirk Hammett, Robert Trujillo e James Hetfield se despedem do fãs, após mais de duas horas de espetáculo com uma vasta distribuição de palhetas e baquetas consideravelmente felizes pela recepção da gigante plateia.

    Não foi apenas um 'showzão' de uma veterana banda de Thrash Metal, foi disparado um dos melhores shows de Metal que a capital presenciou em 2014 e que a próxima 'reunião da Família Metallica de São Paulo' não demore mais quatro anos.

Texto: Fernando R. R. Júnior
Fotos: Marcelo Rossi T4F e Ronaldo Chavenco
Agradecimentos à Tatiana Ito e a equipe da T4F
 pela atenção e credenciamento
Abril/2014

Clique aqui e veja o álbum de fotos de Ronaldo Chavenco
para o Coredump www.coredump.com.br

Set List do Metallica

1 - Battery
2 - Master Of Puppets
3 - Welcome Home (Sanitarium)
4 - Fuel
5 - The Unforgiven
6 - Lords Of Summer
7 - Wherever I May Roam
8 - Sad But True
9 - Fade To Black
10 - And Justice For All
11 - One
12 - For Whom the Bell Tolls
13 - Creeping Death
14 - Nothing Else Matters
15 - Enter Sandman

Bis:
16 - Whiskey In The Jar
17 - The Day That Never Comes
18 - Seek & Destroy

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