Picture e Grim Reaper
Abertura: Centúrias
Sábado, 10 de maio de 2014
no Manifesto Rock Bar em São Paulo/SP
   

    Considero um privilégio assistir numa mesma noite duas bandas que constam entre os ícones da New Wave Of British Heavy Metal, que fizeram uma longa turnê pelo Brasil com muitas datas e inclusive este seria o segundo show que o Rock On Stage iria acompanhar ( pois na noite anterior, o show no Bar da Montanha em Limeira/SP também fez parte de nossa cobertura - confira mais detalhes aqui ). E tanto o Grim Reaper quanto o Picture foram deveras importantes na consolidação do movimento e deixaram um legado na história com muitos importantes hit´s, que até hoje são hinos para quem curte o estilo. 

    E em São Paulo, as duas bandas vieram acompanhadas dos veteranos paulistas do Centúrias, que levaram para ao Manifesto Rock Bar vários headbangers apaixonados de várias idades e lugares. Saímos da baixada em um ônibus lotado de “coroas”, rindo, conversando e bebendo, nem vi o tempo passar, logo chegamos ao Manifesto Rock Bar lá pelas 17h30. A casa abre as 18h com as pessoas chegando aos poucos e fazendo volume no 'merchan' das bandas, pelo menos uns 30min para conseguir uma camiseta na entrada.

Centúrias

    Às 18h50 vemos alguns dos músicos pioneiros do Heavy Metal no Brasil do Centúrias, banda formada em 1980, que nos brindou com históricos clássicos da nossa música pesada e que depois de várias formações, dois álbuns e uma pausa de 24 anos, voltaram com força total para o cenário nacional, com vários shows e um futuro álbum em 2014! Desta forma Ricardo Ravache no baixo, Júlio Príncipe na bateria, Roger Vilaplana na guitarra e Nilton "Cachorrão" Zanelli começam a regular o som no palco, enquanto as pessoas vão chegando para o show e também mais e mais perto do palco.

    Dez minutos depois, Nilton "Cachorrão" Zanelli começa a Guerra e Paz ( do LP Ninja lançado pela Baratos Afins em 1988 ) e a galera agita, o Manifesto Rock Bar é pequeno, então com poucas pessoas a frente do palco, a casa já está lotada, uma boa parte canta junto, também com esse trampo de batera do Júlio Príncipe fica fácil curtir a música. A próxima é 'fodida' Senhores da Razão ( do Ninja ) e mostrou que eles possuem um público cativo, e muito empolgado, o baixista Ricardo Ravache canta junto com a galera e pude perceber também que no palco havia uma bandeira escrito Centúrias ao fundo.

    Cachorrão avisa: "A próxima é do Single Rompendo o Silêncio ( de 2013 ) e é a Sobreviver", enquanto isso, no telão passa algum show de outra banda. No refrão ouvimos: "A máquina, sua força enfraquecerá... Eu vou sobreviver!"  e isso não desgruda do cérebro e as pessoas aplaudem e gritam muito, Cachorrão anda bastante pelo palco e no refrão ele pede: "eu quero ouvir! Força!".

 A galera responde cantando enquanto Roger Vilaplana faz caras e bocas para a gente e recebe muitos bangues na frente do palco, junto com alguns pulos aqui e ali. Cidade Perdida ( também do Ninja ) vem em seguida, no mezanino a galera curte mais tranquila, a minha volta também a galera que banguea sempre está mais de boa. Roger Vilaplana se apoia nas costas do baixista Ricardo Ravache e de seus longos cabelos durante a música e os dois cantarolam o solinho. Cachorrão vem conferir de perto os solos do Ricardo Ravache e do Roger Vilaplana em suas firulas mil, muito bacana, muito Heavy Metal.

    Com um singelo "Obrigado" ( entre as muitas palmas dos fãs ), Cachorrão fala do show da semana passada, complementa dizendo que só poderão tocar mais duas músicas e pela primeira vez, vejo o pessoal fazendo 'muxoxo' porque a banda de abertura vai acabar. Duas Rodas, presente na primeira coletânea de Heavy Metal do Brasil, a histórica S.P. Metal, que foi lançada pela pioneira Baratos Afins de Luiz Carlos Calanca em 1984, também presente no primeiro álbum do Centúrias, o Última Noite de 1986 ( relançado em 2001 ), e essa música veio para fazer a alegria dos fãs da banda, galera nos 'hey...hey' até no mezanino. Na próxima, a intro de Portas Negras ( que apareceu no S.P. Metal e no  Última Noite ) o povo canta junto ou bangueia e os três músicos ( provavelmente, o Júlio Príncipe canta também, mas de onde estou nem a ponta das baquetas eu consigo ver ) cantam, e assim chegaram ao final o show. Cachorrão então apresenta os músicos e eles se juntam para nos apresentar o vocalista, mas por mera formalidade, pois, a grande maioria do público conhece bem esses caras.

    Ele ainda agradece a todos pelo apoio e para alegria geral, logo começam o hino: Metal Comando... e agora a porra ficou séria, a pista vai enchendo, todos cantam junto no refrão: "Metal comando!". Cachorrão continua empolgado e andando para lá e para cá, mesmo nesse palco pequeno, Roger Vilaplana continua firme nas caretas, enquanto Ricardo Ravache é o mais comportado de todos, mas, não deixa de interagir com a galera da frente e em retribuição, todos bangueam muito por aqui! Cachorrão agradece a todos que vieram, e o povo grita "Centúrias, Centúrias!". A casa ainda não está lotada, mas os que já estão aqui tem toda a atenção voltada para a banda, ele levanta uma placa de proibido com a palavra posers. Ricardo Ravache, o polêmico, oferece o set list para as pessoas, e fala: "bom aí vocês podem conferir as músicas que não tocamos, porque que foram cortadas, já que os gringos têm que acordar cedo!". Eles saem com a galera gritando ainda mais inflamada "Centúrias, Centúrias!" e o show acaba infelizmente às 19h45.

Setlist do Centúrias

1 - Guerra e Paz
2 - Senhores da Razão
3 - Sobreviver
4 - Cidade Perdida
5 - Duas Rodas
6 - Portas Negras
7 - Metal Comando

Intervalo

    No intervalo entre as bandas, vou olhar no celular as fotos que tirei desta noite e acredito que o meu celular é o único que possui a função "estragar fotos"... Bom... já que não dá para tirar foto, passeio pela casa enquanto espero. O Manifesto Rock Bar está bem diferente da última vez que vi, o banheiro ( parte extremamente importante numa casa de show, para mim ) está lindo, decorado com metade de uma guitarra de verdade servindo como maçaneta. O palco está mais bonito, novas luzes e letreiros nas paredes.

    Quando eu vejo a palavra N.W.O.B.H.M., primeiramente penso que daria uma ótima tattoo no antebraço, mas na verdade o New Wave Of British Heavy Metal é o movimento que trouxe um novo fôlego ( e bandas maravilhosas ), numa época em que o Metal estava em baixa na mídia, ( rezando para algo parecido acontecer novamente ) resumidamente, foi durante esta nova onda que tivemos bandas maravilhosas como Iron Maiden, Saxon, Raven e muitos outros, entre elas, o Grim Reaper e o Picture.

Grim Reaper

    Voltando para a resenha da noite, a banda inglesa Grim Reaper data de 1979, mas, em 1988 pararam suas atividades em meio à três grandes álbuns e opiniões divergentes entre os músicos. Em 2006, Steve Grimmett junta sua banda solo ( Ian Nash na guitarra, Chaz Grimaldi no baixo e Mark Rumble na bateria ) para tocar clássicos do Grim Reaper em turnês pelo mundo.

    E essa não é a primeira vez de Steve Grimmett no Brasil, pois, ele já aportou por aqui com seu trabalho solo The Steve Grimmett Band em 2009 ( leia resenha ), tocando músicas do Grim Reaper no Metal Attack Fest em 2010 e com o projeto The Santiy Days em 2012.

    Me atento para os gritos da galera às 19h45: "Grim Reaper, Grim Reaper", que ecoaram logo após o término do show do Centúrias! E pouco tempo depois, a pista é tomada ao som de Rock You To Hell ( do terceiro álbum dos caras: o Rock You To Hell de 1987 ) com algumas microfonias aqui e ali, essa é pesada na medida certa, todos acompanhamos nas palmas.

    A próxima é a Night Of The Vampire ( também do Rock You To Hell ), nesse e momento consigo um autógrafo do Ricardo Ravachi no meu caderninho e também uma palheta personalizada, sou old school e sim pedi autográfo mesmo! Quem mais ia falar no palco que os gringos querem dormir cedo? Ok... Ter um celular que tira péssimas fotos, não teve nada a ver com isso... Os músicos se movimentam bem pelo palco, muitas câmeras são vistas ao ar, nós completamos o refrão: "Night of the vampire, he's only looking for your life!" e então vemos muitas palmas ao fim da música.

    Eu acabei espremida no final da pista, a casa está bem mais cheia agora e se aqui atrás a galera canta com vontade desse jeito... Imagina lá no meio! A cadenciada Lust For Freedom ( outra do Rock You To Hell ) vem para esquentar as coisas, os mais fãs, gritam essa música do início ao fim.

    Com um solinho da hora executado por Ian Nash, a microfonia vai e vem durante a música, as pessoas não param de gritar "Grim Reaper, Grim Reaper" sempre que acaba uma música. Com seu refrão que cola no cérebro, a Wrath Of The Ripper ( do See You In Hell de 1983 ) é mais uma para ser gritada pelo público, Ian Nash e Chaz Grimaldi tocam sincronizados sua guitarra e baixo ( respectivamente ) e também estão juntos nas caras e bocas.

    Steve Grimmett nos pergunta: "Are you having a good time?". E quando você pensa que não pode ficar melhor, Fear No Evil ( título do disco Fear No Evil de 1985 ) vem para provar o contrário, nessa a voz do povo cobre a de Steve Grimmett no forte refrão, os enquanto músicos vão ficando cada vez mais empolgados conosco, é fantástico quando a banda e plateia estão conectados desse jeito, tanto que vejo à minha volta todos com sorrisos no rosto... É... mas levantar um tablet de sabe-se lá quantas polegadas para tirar foto, só mostra que ninguém pensa nas baixinhas de trás!

    Liar ( outra do See You in Hell ) foi a seguinte e a voz do vocal soa meio baixa aqui atrás, porém, tivemos muitas palmas ao fim e de um fã mais entusiasmado repete palavrões até a exaustão. Steve Grimmett anuncia: "The next song: Rock Me Til I Die" ( mais uma do álbum Rock You To Hell ) e essa é simplesmente fudida!

    Infelizmente, soltou o cabo do microfone e perdemos as primeiras palavras cantadas por Steve Grimmett e quando arrumam o cabo, a voz dele parece mais baixa que antes. E só do meio da música em diante que a voz aumenta, mas junto vem a microfonia, porém, mesmo assim, os fãs inabaláveis continuaram cantando como se não houvesse amanhã. Final Scream ( outra do Fear No Evil ) teve outro solinho nervoso de Ian Nash, com caras e bocas do baixista Chaz Grimaldi. Todos os músicos estão bem relaxados e a vontade, mesmo em um palco tão pequeno. Uns amigos do meu lado, cantam todas as músicas do início ao fim.

    Os músicos nos aplaudem, Steve Grimmett fala sobre o melhor vocalista de todos, o lendário Dio e para homenageá-lo eles tocam a Don't Talk To Strangers ( do álbum de estreia da banda Dio, o Holy Diver de 1983 ) e não tem jeito, nessa o pessoal se emociona, se arrepia, grita e canta junto... quando do nada aparece um pedestal para o microfone do Steve Grimmett ( será que é para limitar os movimentos e diminuir a microfonia? ). O baixista Chaz Grimaldi é o cara que sente a música, enquanto Steve Grimmett aponta para as pessoas do mezanino ( aposto que elas devem estar cantando conosco, pois da onde estou não consigo vê-los ). Ele para tudo, só para nos ouvir, coloca a mão no coração e fala: "God blessed you" e apontando para cima completa: "essa é pra você!" ( em uma clara referência ao mestre Dio ).

     Nesse momento uma lagriminha teima nos meus olhos. E o vocalista nos pede palmas e nós obedecemos e depois ele aproveita para apresentar os músicos, enquanto nós vibramos a cada nome. Já Chaz Grimaldi assume o microfone para apresentar o "The lord of darkness" e Steve Grimmett faz uma reverência para nós, eles continuam tocando o refrão enquanto Steve Grimmett para de cantar para nos ouvir e logo abandona o pedestal de vez, e em seguida agradece a nossa vinda hoje.  

    Muitas palmas e gritos "Grim Reaper, Grim Reaper" de fãs eufóricos e satisfeitos enquanto que alguns também arriscam os nomes de várias músicas, enquanto o Mark Rumble arruma os pratos da bateria, Steve Grimmett fanfarrão, brinca: "Sempre tem um baterista para atrapalhar o show! What the problem my child?", que resultaram em muitos risos dos fãs.

     Agora sim, tudo arrumado e vamos de Waysted Love ( do Rock You To Hell ) e a microfonia volta, junto com os pulinhos do Ian Nash! Os músicos bangueiam e também cantam a música, o clima entre eles é de muita camaradagem. As câmeras são bem raras aqui para trás. Muitas palmas ao final, Steve Grimmett diz que a próxima é a última música e também pede para recepcionar o Picture com nossos gritos mais altos. "São Paulo... See You In Hell!" ( título do álbum See You In Hell ), assim ele anunciou a última e a pista vem abaixo no apaixonante refrão. No fundo pude observar a volta dos gritos com nome da banda com um palavrão e tudo mais.

    Steve Grimmett aponta para nós o microfone durante o refrão, a minha volta sempre rola um PQP, emocionado acredito... e a cada momento que passa fica mais apertado por aqui. Muitos punhos ao ar e mais alguns pulos lá na frente.Mark Rumble se levanta de sua bateria e nos acompanha só com o bumbo, nós nas palmas continuamos cantando "See You In Hell...", bem... simplesmente sensacional!

    Steve Grimmett feliz da vida nos diz: "Obrigado são Paulo! Logo nos veremos novamente!", que resultaram em muitas palmas, além de palhetas e baquetas para nós, no meio da galera, um cara solta: "Já posso ir embora!", com um sorriso de orelha a orelha. O show do Grim Reaper acaba às 20h45 nos telões mais shows de outras bandas. E as 21h começam a testar os instrumentos no palco para o Picture.

Set List do Grim Reaper

1 - Rock You To Hell
2 - Night Of The Vampire
3 - Lust For Freedom
4 - Wrath Of The Ripper
5 - Fear No Evil
6 - Liar
7 - Rock Me Til I Die
8 - Final Scream
9 - Don't Talk To Strangers (Dio cover)
10 - Waysted Love
11 - See You In Hell

Picture

    O Picture é outra banda ícone do N.W.O.B.H.M. ( mesmo sendo holandeses ao invés de ingleses ) e foi formada em 1979, também teve o mesmo problema com gravadoras, empresários e de troca de integrantes, mas, durante todos esses anos sempre algum membro da banda continuava tentando colocar a banda na ativa novamente, seja com shows ou novos álbuns. A formação original consegue se reunir apenas em 2007, no ano posterior eles lançam um novo álbum e colocam o pé na estrada para novas turnês pelo mundo. Como fãs de N.W.O.B.H.M. no Brasil não faltam e como é essa é a primeira vez deles no Brasil... vocês conseguem imaginar a ansiedade enorme que estava no ar!

    Depois de passear mais pela casa, me arranjo ao lado do palco, mas, ainda com bastante gente a minha frente. Logo às 21h05, em meio aos gritos da galera sobem o guitarrista Andre Wullems e o vocalista Pete Lovell, o palco continua sem adereços, e começa um 'tan tan' na bateria, Pete Lovell vem com um quepe ( faz tempo que não vejo alguém usando isso ), um visual todo trabalhado no couro e tachinhas nos coletes, e já alucinam o povo com Griffons Guard The Gold ( do clássico Eternal Dark de 1983 ) e nessa primeira música, bangues violentos do guitarrista Mike Ferguson. O baixista Rinus Vreugdenhil vai até próximo ao guitarrista Andre Wullems e eles tocam juntos no refrão de Griffons Guard The Gold, enquanto acompanhamos nos "hey...hey" e nesse momento uma garota menor do que eu, consegue uma ajuda para ver o palco melhor e pude notar muitos gritos e pulos ao meu redor.  

      Pete Lovell avisa: "Vamos tocar algo do álbum Diamond Dreamer" ( discão de 1982 ) e pergunta como está a nossa noite para finalmente concluir: "Essa é a Message From Hell!". Pete Lovell, já sem quepe, vem até cada ponta do palco cantando o refrão conosco: "I had a message from hell", não tem como não ficar uma semana cantando essa música direto. O povo participa com muitos bangues e ele aproveita alguns momentos para cumprimentar a galera e incentivar: "Let me hear you!" e muitos punhos ao ar são vistos no Manifesto Rock Bar.

   No intervalo entre as músicas Pete Lovell até fala algo, mais com essa gritaria toda, não consigo entender o que ele diz. Agora vamos de Diamond Dreamer ( a que intitula o disco Diamond Dreamer ) e a sua intro é feita com nossos gritos. O calor só aumenta aqui atrás e o espaço diminuiu ainda mais, porém, os músicos estão curtindo muito e o guitarrista Mike Ferguson, o mais novo desta formação do Picture é só caras e bocas, se junta a Andre Wullems e tocam os riffs na mesma 'dancinha'.

    Nós na plateia acompanhamos agitando com os 'heys..' de Rinus Vreugdenhil ( ok leia isso em voz alta, ficou engraçado ) para que muitas... mas muitas palmas mesmo ao final de cada música sejam ouvidas, além de também de muitos gritos de "Picture, Picture!". Pete Lovell pede um "horns up!", que atendemos sem demora até onde minha vista alcança, também não há mais câmeras perto de mim, o que mostra que todos estão concentrados demais nos músicos para perder qualquer minuto.

    Só os primeiros riffs do hit Eternal Dark ( título do disco Eternal Dark de 1983 ) já matam alguns do coração... Pete Lovell levanta os braços e pede palmas, o povo pula, bangueia e canta, tudo ao mesmo tempo! Durante o refrão, o vocalista para e nos escuta enquanto gritamos: "Your eyes will see - eternal daaarkkk!". Os sorrisos no palco são muitos, só não maiores que os daqui de baixo e Pete Lovell instiga no refrão ao gritar: "Eternal!" E nos completamos "Daaaaark", várias vezes até ele ficar satisfeito e terminar a música.

    E dá lhe mais "horns up!" dos fãs do Manifesto Rock Bar e ele avisa que vem mais uma do Diamond Dreamer, e assim, a divertida The Hangmen foi tocada e a galera não canta... Eles tiram do âmago! Mais para frente do palco tem um pouco de empurra-empurra. O baixista Rinus Vreugdenhil fanfarrão vai no microfone do guitarrista Mike Ferguson fazer o backing vocal sem avisar, a cara de WTF de Mike Ferguson é impagável. É uma noite de celebração aos anos 80!

   Pete Lovell agradece: "Muito obrigado! É bom ver todos vocês aqui hoje", entrega uma garrafa de água para alguém na plateia e avisa que a próxima é a You're All Alone ( outra do Diamond Dreamer ), os sorrisos não saem um minuto do rosto dos fãs, Pete Lovell para compensar tanto tempo sem pisar em solo brasileiro sempre vêm cumprimentar mais e mais pessoas. Sem tempo para respirar, eles emendam a Heavy Metal Ears ( título do cd Heavy Metal Ears de 1981 ) e na parte da música "We're gonna' give our people heavy metal ears", já imagino como seria bom se isso acontecesse com meus vizinhos! Devaneios à parte, a galera fica cada vez mais animada, o guitarrista Andre Wullems vem até a ponta para solar bem perto de nós.

 

    O pessoal se empolga e coloca os punhos ao ar, seja com cerveja, câmera, ou o que tiver a mão para acompanhar a música e o vocalista Pete Lovell avisa que a próxima é para todos os 'old school' da casa, e então a Lady Lightning ( também do Diamond Dreamer de 1982 ) foi tocada com primor e se Pete Lovell pula, a banda pula e nós também! Gente que riffs são esses? Que música é essa? Já classifico como a minha favorita da noite sem dúvidas. A entrosada dupla de guitarristas Mike Ferguson e Andre Wullems cantam com a gente, enquanto Rinus Vreugdenhil está bem concentrado com o baixo, agora ( e tem cordas tocando sincronizado - baixo e guitarra juntos ). Pete Lovell aproveita alguns momentos da música para falar de cada companheiros e comenta dos anos que cada um tem de músico. Os fãs mais animados gritam nomes de músicas, palavrões e vários "uhull".

    Para a Unemployed ( do Heavy Metal Ears ), Rinus Vreugdenhil faz um charme gingando no ritmo dos riffs, o solo dessa música é lindo, mas a microfonia não! E ela volta nesse minuto, aproveitamos essa música para sacar as câmeras e registrar esse incrível show, mas quando Pete Lovell volta a cantar, baixamos as câmeras e cantamos junto com ele. Rinus Vreugdenhil, cansado de ser sexy, senta no palco para tocar ( falei que era um fanfarrão! então... ) todos os músicos nos cumprimentam, Pete Lovell diz: "muito obrigado, vocês querem algo mais escuro? Algo como... The Blade!". Nesta composição do Eternal Dark ele pede os nossos "hey...hey" e Mike Ferguson e Rinus Vreugdenhil atuam sincronizados no ritmo mais cadenciado dessa música. Pete Lovell vem até as pontas e para cantar bem próximo da gente, com os guitarristas mais sorridentes de todos, como não se apaixonar por esses músicos?

 A pista dá uma acalmada nos pulos, mas sempre cantando, Pete Lovell fala um pouco e o seu microfone está um pouco esquisito, tanto que sua voz dele lembra a de um robô nesse momento e então... começa a cantar a matadora Battle For The Universe ( também do Eternal Dark ) de uma forma tão gratificante que a gente nem sente.

    Amigos se abraçam quando anunciam a música e bangueiam juntos, punhos ao ar não faltam quando cantamos, e ao final continuamos arriscando nomes de músicas, mas o vocalista avisa: "vamos para mais uma, mas antes gostaria de agradecer aos organizadores deste show" e sem mais delongas já emendam Into The Underworld ( mais uma do Eternal Dark, disco que motivou esta tour ao completar trinta anos de seu lançamento ). Agora é a vez do guitarrista Mike Ferguson vir mais perto e tocar para nós esses arranjos maravilhosos, com pulos e tudo, sendo que agora os amigos pulam. Ele canta a música toda conosco, pega na nossa mão e pede punhos ao ar.

   

    Andre Wullems quase entrega a guitarra na nossa mão e Pete Lovell grita: "yeaw! São Paulo! Thank you! I love you!..." enlouquecendo a galera. Então, os músicos se juntam e nos cumprimentam, depois vem para a ponta do palco, posar para foto e entregar palhetas em mãos.   

    Mas, a coisa fica séria com a Make You Burn ( também do Eternal Dark ), que implementa o caos no Manifesto! Pete Lovell até coloca seu quepe de volta para comandar melhor essa horda. Mas reparo que, galante, ele manda beijos, para as pessoas do mezanino. Além disso, ele levanta o braço devagar para acompanhar esse solo, que teve Mike Ferguson descendo da escadinha do palco animado enquanto Andre Wullems e Pete Lovell vão juntos para tirarem fotos da pista. Neste momento, sobe ao palco uma garota que consegue abraçar Rinus Vreugdenhil rapidinho! E Pete Lovell pergunta se o baixista não quer descer... Isso é recalque Pete!
 

    Ele pergunta: "Vamos! Que tal mais uma?". E nós respondemos com um: "Olê, Olê, Olê, Picture, Picture!". E prossegue: "Parece que temos tempo para mais uma, é está quente... e eu estou velho e vou fazer o meu melhor". Desta forma, eles tocam a Bombers ( do primeiro cd, o Picture de 1980 ) e obviamente, pulamos e agitamos, mas teve um cara em especial que sobe ao palco e se joga no público, que o leva até quase o meio da pista... que é bem pequena... - é ele não foi muito longe! E a Bombers foi gritada a plenos pulmões por todos e pude ver que cima do palco é uma festa. No final, da música Mike Ferguson perde o medo e deixa a galera pegar na sua guitarra também e dá-lhe mais palhetas, mais fotos com a gente, cumprimentos e sorrisos, já o outro guitarrista, Andre Wullems quer dizer algo e pega o microfone - mas ele está desligado - e Rinus Vreugdenhil continua incansável, faz pose para fotos e segue autografando o que a galera entrega para ele, só depois ele deixa o palco. E o show infelizmente acaba às 22h.

    Essa foi sem sombra de dúvidas uma noite histórica para os fãs de N.W.O.B.H.M. As bandas Picture e Grim Reaper juntas numa mesma noite fizeram muita gente voltar no tempo em uma época onde o acesso às novas bandas era difícil, mas uma época onde se reuniam os amigos para ouvir gravações de fita cassete ou o vinil entre conversas, risadas e air guitar.

    Hoje temos todo o mundo na ponta dos dedos e já não mais sabemos uma letra de cor, o nome do álbum. Isso não é algo ruim, mas é sempre bem-vinda uma noite como esta, para unir os antigos amigos e cantar novamente músicas que marcaram épocas em nossas vidas.

Textos: Erika Alves de Almeida
Fotos: cortesia de Ricardo Ferreira e Aline Narducci
Agradecimentos à Sílvio Rocha da Open The Road Productions pela atenção e credenciamento
Agosto/2014

Setlist do Picture

1 - Griffons Guard The Gold
2 - Message From Hell
3 - Diamond Dreamer
4 - Eternal Dark
5 - The Hangmen
6 - You're All Alone
7 - Heavy Metal Ears
8 - Lady Lightning
9 - Unemployed
10 - The Blade
11 - Battle For The Universe
12 - Into The Underworld
13 - Make You Burn
14 - Bombers

Voltar para Shows