Uriah Heep, Mark Farner e Golpe de Estado
 na Virada Cultural de São Paulo/SP

Sábado, 17 de maio de 2014
Avenida São João - Centro de São Paulo/SP

    A décima edição da Virada Cultural, assim como nas anteriores, praticamente para a cidade de São Paulo, com atrações culturais e gratuitas que cobrem quase toda a cidade, onde todo ano temos vários relatos de roubos, violência, falta de segurança e tudo o mais, mas, basicamente como admirador da Cultura e acho que o poder público pode muito bem administrar bem o dinheiro dos impostos e fazer com que a população tenha alguns eventos gratuitos possa se divertir.

    Para esta edição tínhamos algumas atrações não interessantes, mas do nosso ponto de vista, quase que obrigatórias, afinal, tivemos neste ano um tributo ao Hélcio Aguirra, que deveria mencionar que seria um show do Golpe de Estado e convidados, a lenda Mark Farner ( ex-vocal do Grand Funk Railroad ) e um dos criadores do Heavy Metal, o Uriah Heep, e tanto o Mark Farner quanto o Uriah Heep foram entrevistados pelo Rock On Stage e vocês poderão conferir a nossa entrevista em nossas páginas.

    Cheguei na Avenida São João perto do horário do show do Golpe de Estado, e reparei que muitos realmente estavam ali pela banda e tudo que o grande Hélcio Aguirra representa para o Rock Nacional e seu legado, pois, sabemos que não é pouco e esta foi uma homenagem ímpar ao músico e riff-man brasileiro.

Golpe de Estado 

    Uma homenagem a Hélcio Aguirra, esse foi o título dado ao show na Virada Cultural do Golpe de Estado e seus membros remanescentes, a lenda das quatro cordas Nelson Brito, o excelente vocal Dino Linardi e o batera Roby Pontes, que ainda estão no meio da divulgação do cd Direto do Fronte, que teve como participação especial o guitarrista e amigo da banda Tadeu Dias.

    Com os atrasos e 'enrolação' de sempre, já que quem fez o som, mandou muito mal neste ano, mas, as bandas nada tem a ver com isso e o Golpe de Estado entra no palco para tocar Nem Polícia, Nem Bandido, clássico do terceiro e homônimo álbum da banda e logo após surge no palco outra lenda do Rock Nacional, o empresário Luiz Carlos Calanca, que já teve seu nome como um dos palcos da Virada Cultural de dois anos atrás.

    Luiz Carlos Calanca coloca a tradicionalíssima guitarra Flying V de Hélcio Aguirra na frente do palco onde com certeza ele estava, se pudesse sentar no palco contemplar seus amigos de bandas e seus fãs que lotavam a Avenida São João neste show em sua homenagem, e a mesma ficou ali a frente do palco, não solitária, mas celebrando o Rock Nacional, que o músico certamente ajudou a desenvolver.

    Underground do debut e EP lançado pela Baratos Afins veio depois, algumas falhas no som ocorreram, mas convenhamos, é um evento gratuito e a equipe de som pela correria ou pressão sempre erra, pelo menos foi assim em todas viradas culturais que presenciei e com alguns convidados - que citarei no final - vieram as músicas Não é Hora e Caso Sério também do álbum Nem Polícia Nem Bandido.

   Rockstar, single do Direto do Fronte foi a seguinte e como não confessar para vocês caros leitores(as) que - por ser grande fã do Golpe de Estado - meus olhos marejaram em função de ver a guitarra lá no palco e a banda executando a canção com a maestria de sempre, mas sem seu herói maior. Nelson Brito chama ao palco o baixista Xande do Baranga e garante que o músico pode tocar melhor que ele a música Forçando a Barra, clássico e título do segundo álbum e último lançado pela Baratos Afins. Mais uma deste mesmo álbum veio depois com a hoje clássica Onde Há Fumaça Há Fogo.

    Outra lenda das seis cordas também foi convidada ao palco, o excelente guitarrista de Blues André Christóvam e assim, a banda tocou Moondog e Olhos de Guerra, com versões mais 'blueseiras' devido a característica da banda.   

    Todo Mundo Tem Um Lado Bicho, teve tipo que ser adiantada, pois a produção já queria  que a banda saísse e o convidado e ex-vocal do Golpe de Estado Rogério Fernandes, que junto a  com Dino Linardi soltaram um 'caminhão de verdades' na produção, aproveitaram e tocaram rapidamente também Libertação Feminina trazendo ao palco Jane Lopes, a mulher de Hélcio Aguirra, que estava muito emocionada, o próprio Calanca, além de todos convidados, Daniel Kid Ribeiro, Xando Zupo, Rogério Fernandes, Xande, Soneca, João Luiz Braghetta e André Christóvam.

    Fechando a mais que justa homenagem, a banda diz que continuará na estrada e isso foi uma boa notícia, pois era uma dúvida se isso realmente iria acontecer e o amigo Tadeu Dias, que tocou o show inteiro como convidado será o responsável de reproduzir os famosos riffs criados pelo incomparável Hélcio Aguirra e assumirá a missão de criar os novos na continuação do legado que só o Golpe de Estado consegue fazer pelos seus fãs no Brasil.

Set List do Golpe de Estado

1 - Nem Polícia, Nem Bandido
2 - Underground
3 - Não É Hora
4 - Caso Sério
5 - Rockstar
6 - Forçando a Barra
7 - Onde Há Fumaça Há Fogo
8 - Moondog
9 - Olhos de Guerra
10 - Todo Mundo Tem Um Lado Bicho
11 - Libertação Feminina

Uriah Heep

    Chegava hora de ver uma das minhas bandas de cabeceira, desde quando vi eles ao vivo na extinta TV Manchete, eu pensava: "um dia tenho que ver eles ao vivo", e depois de vários anos sem voltar ao Brasil ou na America Latina, finalmente os ingleses desembarcaram para uma serie de shows no país, que começou com esse da Virada Cultural.

    A banda inglesa que está na ativa de 1969 é formada pelo simpático guitarrista e líder Mick BoxRussel Gilbrook na bateria, Davey Rimmer no baixo, Phil Lanzon nos teclados e Bernie Shaw nos vocais e assim que foram ao palco, o quinteto foi recebida calorosamente pelo público e bastante aplaudida.

    De cara tivemos Against The Odds do Sea Of Lights de 1995 e Overload do Wake The Sleeper de 2008, que inflamaram gerações de fãs da banda e então Bernie Shaw vem ao microfone e fala: "Eu estou na maior festa de rua do mundo, incrível ver todos vocês...", afinal, o público estimado era de mais ou menos 50.000 ( somando os otimistas e pessimistas e dividindo por 2 ). Quando tocaram o clássico histórico Sunrise com os pedidos de palmas na introdução da música, a reação dos presentes foi incandescente e a balada praticamente progressiva do maravilhoso álbum The Magician's Birthday de 1972 enfeitiçou a todos.

    Problemas de som claro que teve, onde estava a guitarra e a bateria se mostravam super altas, deixando a banda bem mais pesado que o usual e os teclados, instrumento lindo e importantíssimo na banda bem baixo. Claro que o guitarrista Mick Box, brincou tocando todo o tempo como é clássico em todo seus shows, Bernie Shaw, um excelente frontman, que se encaixou muito bem na banda ganhou muitas atenções, mas todos os músicos são destaques, pois sabem aparecer, se destacar e levar o entretenimento ao mais alto nível.

    Stealin' do Sweet Freedom de 1973 teve durante sua introdução de teclados realizada com categoria por Phil Lanzon e Bernie Shaw pede para fazer barulho, o famoso "make some noise São Paulo" e digamos, esse foi um dos pontos mais altos da Virada Cultural com uma versão sensacional do clássico setentista cantado naturalmente pelos milhares de presentes. O vocalista depois lembrou que o Uriah Heep lançou um álbum desde a última passagem aqui ( relembre como foi no show de São Paulo neste link ), Into The Wild  de 2011 e dele gostaríamos de tocar I'm ready.

    Do disco Sonic Origami, de 1998, veio a  música que abre o disco, a Between Two Worlds  com o hardão característico da banda e na sequência veio uma das baladas mais viajantes do composições do Rock, que faz parte de qualquer trilha sonora que se faça desta época com a maravilhosa July Morning, sempre poderosa, e imprescindível em qualquer show do Uriah Heep.

     Mick Box, brinca com a plateia e lembra que a próxima faz parte de um disco "de alguns anos atrás" do primeiro disco do Uriah Heep, o ...Very 'Eavy ...Very 'Umble de 1970 e esta seria a surpresa do set... e assim fomos brindados com o vislumbre de Gypsy.

    O que dizer das duas seguintes? Pois simplesmente foram a eletrizante Look At Yourself ( título do álbum de 1971, que inclusive teve direito a uma pausa para que cantassem o "Happy Birthday" ao baterista Russell Gilbrook ) e a fantasmagórica Lady in Black ( do Salisbury também de 1971 ), dois clássicos absolutos que fizeram a alegria da galera e terminou a apresentação conforme o previsto, afinal, tínhamos um cronograma de 24 horas de shows, mas verdade seja dita, pelo gosto da maioria daquela multidão, a ideia seria que o Uriah Heep tocasse por três horas seguidas, e dentre todas as atrações apenas umas três ou quatro estariam no nosso gosto.

  O fotografo que fez as fotos para o Rock On Stage, chega perto para comentarmos algo, e uma senhora de 71 anos, fala para a gente: "pede para o Uriah Heep voltar e tocar Easy Living...". E depois descobrimos que ela gosta realmente de Rock através de seu sobrinho e que tinha ido inclusive ao Rock in Rio para ver o Metallica, claro que aplaudimos a senhora depois dessa aula de postura e amor a música.

    O pedido desta senhora, que mesmo sem saber o nome dedicamos aqui esta música ( por nossa conta ) a ela foi atendido e o Uriah Heep voltou ao palco para executar o bis com a Easy Livin´ do inigualável Demons And Wizards de 1972, que praticamente ensandeceu os fãs que responderam aplaudindo enormemente a banda. Showzão que ficará marcado na história da Virada Cultural.

Setlist:

1 - Against the Odds
2 - Overload
3 - Sunrise
4 - Stealin'
5 - I'm Ready
6 - Between Two Worlds
7 - July Morning
8 - Gypsy
9 - Look at Yourself
10 - Lady in Black

Encore:
11 - Easy Livin'

Mark Farner 

    Chegava a hora de rever um dos shows mais alucinantes que eu havia assistido na vida em sua primeira apresentação no Brasil ( confira aqui ). E após a coletiva de imprensa, era chegada de rever esse senhor, que por muitos anos foi a voz do Grand Funk Railroad e certamente, uma das mais marcantes no Hard Rock influenciando gerações de músicos.

     A banda que o acompanha foi a mesma do show de 2012 formada porLawrence Buckner no baixo, Hubert ( The H-Bomb ) Crawford na bateria e Karl Propst nos teclados e óbvio... Mark Farner na guitarra, que entra no palco conecta o cabo de sua guitarra e começa de cara com Are You Ready do álbum On Time de 1969 e depois disso teríamos as músicas do álbum Caught In The Act, discão ao vivo de 1975, quase que na íntegra.

     A presença de palco dele impressiona, ele não é nenhum adolescente em inicio de carreira, muito pelo contrário, mas o "sangue no zoio" dele e sua vibração no palco com milhares de pessoas olhando para ele, que é carisma puro hipnotiza a todos, assim, alguns clássicos vieram na sequencia com a Rock & Roll Soul, a explosiva Footstompin´Music e a cheia de adrenalina We´re An American Band, todas presentes no registro Caught In The Act, e não há quem consiga ficar inerte ao som deste clássico do Hard Rock, já 'coverizado' por uma infinidade de grupos.

    Embora na posição que eu estava, em frente a caixa de som, o mesmo não estava naquela qualidade que esperamos, mas acredito que no palco estava bem pior, pois várias vezes, Mike Farner se dirigiu até a mesa de som para reclamar sobre o som.

       Shinin´On cuja consagrada versão ao vivo vocês imaginam de qual álbum era, veio na sequencia e depois  foi a vez de Paranoid do primeiro álbum chamado Grand Funk, e Mark Farner mencionava o quanto era bom estar de volta ao Brasil e em um evento como a Virada Cultural. Mesmo com os constantes problemas de som, embora ele estivesse se importando muito, não parecia, pois claramente Mark Farner é músico por vocação, enfim, a sua alegria de estar tocando e cantando ao microfone transcende tudo.

    Desta maneira, Into The Sun do álbum On Time também de 1969 exibiu seus riffs potentes para que então a Sin´s A Good Man´s Brother do All The Girls In The World Beware!!! de 1974 fosse tocada em uma reluzente versão e não havia ninguém insensível a apresentação, pois era indiscutível, e certamente - todos concordavam - Mark Farner realizou a melhor apresentação da Virada Cultural, independente dos problemas com o som que músico teve.

    Bad Time, outro dos grandes clássicos criados pelo guitarrista foi tocado antes da apoteótica The Loco-Motion, que embora seja um cover de Little Eva, muitos dos que estavam lá achavam que a música na verdade seria um Dance dos anos 80 e não o megahit do disco Shinin' On, que chegou ao primeiro lugar das paradas em 1974 em tempos que o Led Zeppelin e o Pink Floyd deixavam pouco espaço para as bandas conseguirem tal feito. Para finalizar a primeira parte do show tivemos outra magnífica canção com a Some Kind Of Wonderful do All The Girls In The World Beware!!!.

    Pensei, faltam tantas outras ainda, pois gostaria de ouvir músicas como "Heartbreaker", "Mr. Limousine Driver" ou tantas mais, e pairava em minha cabeça ( e na dos milhares de fãs ) a dúvida: será que teremos um bis? E claro que tivemos, primeiro com um solo destruidor do baterista Hubert ( The H-Bomb ) Crawford bem característico do se fazia nos anos 70 e para terminar o I´m Your Captain ( Closer To Home ) que foi cantada por todos.

    A Virada Cultural nos trás muitas alegrias e também algo para reflexão, como e porque gastar tanto se temos graves problemas de saúde, que com esse dinheiro poderíamos ajudar à vários hospitais, ou entreter o público que também está com dificuldades financeiras passa a cada dia ter menos opções e a Virada Cultural é um evento barato de se frequentar, pois temos grandes shows gratuitos para a população.

    Espero que a organização faça melhor e que continuamos a ter sempre o evento, pois Cultura nunca é demais. Muitos "haters" de rede social que descem a lenha em tudo, menos na própria pessoa ou ego e se acham acima do bem e do mal falaram demais, porém, garanto que assim como eu, a maioria se divertiu muito, mesmo com os problemas de som e esse é o intuito do evento, a diversão e alegria das pessoas. Peça a esses infelizes, que na próxima não precisam se deslocarem para a Virada Cultural, como sempre dizemos vai quem quer, e quem quer se diverte e muito.

Texto: Marcos César de Almeida
Fotos: Bruno Miguel e Leandro Almeida
 a quem registramos nossos agradecimentos
Agosto/2014

 

 

Set List do Mark Farner

1 - Are You Ready
2 - Rock & Roll Soul
3 - Footstompin'Music
4 - We"re An American Band
5 - Shinin' On
6 - Paranoid
7 - Into the Sun
8 - Sins A Good Man's Brother
9 - Bad Time
10 - The Loco-Motion
11 - Some Kind Of Wonderful
Encore:
12 - Drum Solo
13 - I"m Your Captain ( Closer To Home )

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