Joe Satriani - Surfing The Shockwave Tour  
Espaço das Américas em São Paulo/SP,
quarta, 07 de dezembro de 2016

    30 anos de carreira. Mais de 10 milhões de discos vendidos. 16 álbuns de estúdio em carreira solo, entre eles, dois chegaram a disco de platina e outros quatro a disco de ouro, com 15 indicações ao Grammy. Professor de grandes nomes da guitarra como Steve Vai, Alex Skolnick e Kirk Hammett.

    Conhecido pela absurda técnica com as cordas, seu primeiro contato com a música foi como baterista. Um músico versátil ao ponto de abordar Rock Instrumental, Blues, Progressivo, Pop, Jazz Fusion e Hard Rock em uma mesma apresentação, porém, ele mesmo não usa nenhum desses termos para denominar seu estilo de tocar. Se você é guitarrista, já sabe de quem estou falando. Se ainda não sabe, muito prazer, esse é Joe Satriani.

    Mas não iremos contar sobre a carreira dele. O foco hoje é falar sobre a recente aparição do músico em solo brasileiro. A turnê intitulada Surfing To Shockwave teve início em setembro de 2015 pela Europa e Estados Unidos chegando ao Brasil com três shows, sendo o primeiro em São Paulo/SP e seguindo para Curitiba/PR e Porto Alegre/RS. O Rock On Stage esteve no Espaço das Américas na última quarta feira 07 de dezembro e conferiu de perto essa primeira noite da tour, assim como na última visita dele na capital paulista ( relembre neste link ).

    Como a configuração da casa foi feita com cadeiras numeradas ( configuração de teatro como dizemos ) não havia aquela famosa aglomeração de fãs em longas filas para adentrar o local. Tudo muito civilizado, o público conversando no bar posicionado próximo as entradas das fileiras dos assentos, aguardando o início do espetáculo que estava por vir, vários fãs se posicionando em frente ao palco para fotografarem os instrumentos, embora não tenha sido um mega palco daqueles lotado de amplificadores, milhões de pedais ou uma bateria ridiculamente grande. Apenas o necessário, o set que cada um usa para fazer música, sem ostentações exageradas. Aquele clima de euforia pré-show característico no ar.

    Quando todos começaram a ir em direção aos seus lugares, as luzes começaram a diminuir, mostrando que a hora tão esperada estava próxima. No telão, um vídeo com aquelas imagens abstratas, bem à la Satriani fazem a introdução do show.

    O baixista Bryan Beller atravessa o palco correndo, seguido pelo tecladista Mike Keneally e ao fundo, pelo baterista ( e cover do Animal dos Muppetts ) Marco Minnemann. Em seguida, eis que surge o Sr. Joe Satriani com seus óculos escuros e sua maneira simples e absolutamente simpática de ser, caminhando calmamente no palco. Ok, luzes apagadas, gritos dos fãs ansiosos, alguns acordes rápidos para "aquecer" os dedos na guitarra, bateria marcando no prato. É hora do show.   

    Abrindo com a canção título do último álbum de 2015, a Shockwave Supernova arrepia até os cabelos do compositor ( se ele tivesse algum hehehe ). Um conceito absolutamente fácil de envolver o público, porém, com técnica aplicada com a maestria que apenas Joe Satriani tem. Logo na primeira música foi possível notar que todos os músicos da banda a executaram em uma harmonia absoluta, todos os instrumentos nítidos, afinação impecável, cada um colocando seu melhor e ao mesmo tempo, o que é tão raro de ver em shows atualmente, pois, alguns sempre se sobressaem mais que outros. Pouco mais de três minutos de duração. Iniciada a noite em grande estilo.

    Flying In A Blue Dream - canção título do álbum de 1989 - emocionou a todos, que permaneciam sentados e vidrados no palco. Cada acorde preenchendo o ambiente, relembrando esse clássico antigo, que chegou a ser eleito como uma das melhores músicas de Rock Instrumental de todos os tempos. Em Ice 9 ( do Surfing With The Alien  de 1987 ) a plateia já começa a se animar e levantar para curtir essa música regada a velocidade e peso.

    Riffs bem executados, 'Legatos velozes' ( Legato é a técnica usada para ligar uma frase a outra, usando os dedos da mão que fica no braço da guitarra, usando a mão que segura a palheta o mínimo possível, fazendo com que o som seja limpo e preciso ) aquela levada perfeita que entra na veia, bateria bem acentuada e claro, aquela segurada na alavanca da guitarra, que faz com que ela dê aquele 'gritinho' que a gente adora ( técnica de harmônicos na alavanca ) seguida da famosa expressão 'boquiaberta' de Joe Satriani.

    Antes da música Crystal Planet ( composição que intitula o álbum de 1998  ) iniciar, Joe Satriani fez uma breve apresentação dos músicos de sua banda. Agora com uma de suas guitarras ( desenhada por ele ), sacou um belo riff de peso na introdução, que teve um formoso acompanhamento do tecladista Mike Keneally e do baterista Marco Minnemann, que girava suas baquetas entre os dedos enquanto fazia suas viradas ( malabarismo em show ao vivo não é para qualquer um ), finalizando com algumas notas tocadas com a boca na guitarra ( isso deve doer um pouco, mas nem assim ele desafina, assustador!!! ).

    Após os aplausos, chegou o momento que particularmente, eu esperei para ver ao vivo... On Peregrine Wings, a primeira canção a ser divulgada antes do lançamento oficial do álbum novo. Ouvir uma canção no Youtube ou ate mesmo ver um vídeo é uma coisa, ver o mestre executar a criação ( e praticamente mastigar uma guitarra ao vivo ) é outra bem diferente. Essa música foi a coisa mais fantástica do show todo, sinceramente. Uma fusão perfeita entre os poderosos Bends com Vibrato de Joe Satriani, um toque um tanto egípcio e, me perdoem a franqueza mas, essa música soa absurdamente como um Baião ( sim, música brasileira!!! ) no quesito bateria e um tanto nas primeiras linhas da guitarra.

    Coincidência ou não ( vai saber se ele não andou pesquisando e valorizando outras vertentes, que as vezes nem mesmo o povo do país de onde se origina o som, dá valor por ser feio falar de algo que não seja Rock né... ) só sei que fiquei curiosa para ver como seria a execução disso tudo, junto e ao vivo, pois, é meio impossível imaginar que dá para harmonizar tanta coisa ao vivo. E eles não erram! Cheguei a pensar que fosse 'playback' de tão primorosa. No fim dela, já estava com os olhos cheios de lágrimas.

    Na próxima, Friends do The Extremist de 1992, Joe Satriani novamente faz uma breve pausa para falar com o público, agradecer a todos que acompanharam sua carreira até hoje e dedicar essa música ao fãs que ali estavam, chamados nesse momento de amigos. Um tom sentimental nas imagens no telão ao fundo, embora não haja letra é impossível não cantarolar cada nota. Linda e curtinha, porém, aplaudida de pé.

     Mais uma troca de guitarra ( ele pode né... ) e na sequencia vem If I Could Fly do Is There Love In Space? de 2004 e Mike Keneally veio para a frente do palco com sua guitarra para acompanhar Joe Satriani, um pequeno momento de 'fritação' digamos. A próxima foi descrita pelo próprio Joe Satriani como "a história de um inseto e um animal que se apaixonaram e não importava o que os outros dissessem, eles permaneceram apaixonados". Joe Satriani e seus delírios ( risos ). Essa é a Butterfly And Zebra do novo álbum Shockwave Supernova.

    Na sequencia vem Cataclysmic, também do álbum novo, mais Bends, linhas do baixista Bryan Beller bastante evidentes e garantindo todo o peso dessa levada maravilhosa. Marco Minnemann sabe o que faz, senti pena da pele da caixa, porque o rapaz é bruto. Summer Song do The Extremist, quando falamos o nome de Joe Satriani é essa a música que vêm a mente na hora, sem dúvidas. Mais uma que é impossível não cantarolar cada nota.

    Desculpem, se nessa não trago detalhes técnicos, mas eu ( e a platéia ) estávamos ocupados pulando. Impossível não fazer isso olhando para expressão de Joe Satriani olhando para cima, com a boca aberta parecendo cantar também cada nota tocada. Se você as vezes tem dúvida do que de verdade é o Rock, escute essa o mais alto que puder e não haverá mais dúvidas. No telão ao fundo imagens do vídeo da música na época em que foi feito. Energia pura!!!

    Emendada a essa música, veio minha segunda parte favorita do show ( baterista escrevendo sobre baterista, só podia gostar mesmo né? ), o Drum Solo. Eu citei acima Marco Minnemann sendo o cover do Animal dos Muppets. Não tem como não notar a abertura desse sujeito no 'hi hat' ( ou chimbal ) pisando duro e erguendo bem o joelho, enquanto suas baquetas voavam nos pratos. Em meio a improvisos agregando técnica de maneira sutil, ele faz parecer fácil alternar mãos e pés com velocidade. Alguns 'flams', alguns 'stick tricks', dois 'hi hats' ( um em cada pé ) deram lugar ao pedal duplo, mostrando toda a habilidade insana do baterista. Eis que ele se levanta e começa a castigar alguns pratos.

    De repente, o extensor de um dos pratos soltou e Marco Minnemann calmamente, segurou em uma das mãos enquanto seguia tocando com a outra. Ao jogar o prato no chão, eis que surge Joe Satriani correndo para pegá-lo e posicionar em frente ao baterista, que ainda fez uma pequena improvisação antes do guitarrista se retirar levando o extensor embora.

    Joe Satriani também faz papel de 'roadie' quando precisa 'hehehe'. Brincadeiras à parte, ao final do solo, o baterista se levantou novamente, agradecendo a plateia por interagirem com suas loucuras. Exemplo de carisma e simpatia. Em seguida, Crazy Joey do cd Shockwave Supernova, que de "crazy" essa não tem nada, pois, é animada e cheia de energia, levantou ainda mais os ânimos.

    Luminous Flesh Giants criação presente no álbum autointitulado de 1995 foi precedida de um breve solo de teclados de Mike Keneally e pouco depois teve baixo firme e presente na introdução, guitarra com presença do pedal Flanger bem característico ( o do Eddie Van Halen, por isso, quem ouviu os primeiros acordes já sentiu esse detalhe na hora ), curta e grossa no sentido de não ter firulas.

    Novamente, a emoção invade o público, pois, eles iniciaram a Always With Me, Always With You ( do Surfing With The Alien ), que foi seguida pelo coro de vozes, acompanhando cada frase da guitarra de Joe Satriani, que parecia satisfeito pela emoção provocada... linda. A próxima foi um pequeno "duelo" entre guitarrista e platéia, pois, a cada riff, Joe Satriani recebia novamente o coro de vozes devolvendo as mesmas notas, como se fosse possível cantar as frases da guitarra.

    Mãos para cima, é hora de cada um se procurar no telão, enfim, uma interação absoluta entre músico e fãs na Crowd Chant do Super Colossal de 2006. Na sequencia, Satch Boogie gravada no Surfing With The Alien, que mostra Joe Satriani abusando do 'two hands' ( usando as duas mãos no braço na guitarra, apenas os dedos, sem palheta ).

    Ok, fim do show, os músicos acenam e saem do palco. Todos se levantando. Após uns 5 minutos da platéia gritando e pedindo pelo bis, a banda retorna ao palco para as duas canções finais, sendo que a primeira foi a Big Bad Moon do Flying In A Blue Dream, que é super animada e com letra! Sim, agora podemos cantar realmente junto com o Joe Satriani. Além da guitarra, eis que ele saca sua gaita e leva o público ao delírio. Enfim, foi enérgica e vibrante.

    E a última, o hino que representa esse verdadeiro 'alien' da guitarra, a Surfing With The Alien, que intitula o cd e já passava das onze da noite quando o Surfista Prateado tomou conta do telão, animando o fechamento desse espetáculo. Essa música dispensa comentários, velocidade e 'Bends' precisos, pois, em nenhuma das vezes em que ele meteu um 'Bend', ele errou e sempre foram seguidos das famosas caras e bocas do mestre. E assim, encerramos a noite. Ah, antes de acabar, vale citar que logo depois da Always With Me, Always With You houve um pequeno um solo do baixista Bryan Beller seguido por um  'medley' de AC/DC, Jimi Hendrix, Deep Purple e outras famosas, porém, de maneira breve, mas levando os fãs à loucura, claro.

    Considerações finais: o show do ano! Black Sabbath que me desculpe ( pois, era o show mais esperado do ano - confira como foi neste link ), mas, o 'careca' deu uma aula com um show de pouco mais de duas horas de duração, só uma música com letra, poucos amplificadores no palco, técnica absurdamente apurada, nenhuma atravessada durante as músicas e presença de palco absoluta. 60 anos de idade, porém, com um vigor que eu com meus 30 anos não tenho.

    Nenhum erro, simples assim. Banda completamente entrosada, embora o baixista Stu Hamm seja o cara que mais ressaltou as linhas do baixo ao lado de Joe Satriani, entretanto, o baixista atual Bryan Beller é de longe um dos melhores para captar a essência do trabalho solo de Joe Satriani. O duo teclado e guitarra brilhantemente comandados por Mike Keneally e a destreza do baterista Marco Minnemann, foram um show à parte.

     O local do evento não esteve no modo "casa lotada", pois, infelizmente ainda existe aquele "saudosismo" dos fãs de apenas irem aos shows grandes, com bandas renomadas, muitas vezes se decepcionando pela falta de vigor como nos velhos tempos.

    Lamento muito por quem pensou assim e não esteve presente nessa noite de quarta-feira. Estamos falando do grande nome da guitarra. De um cara mundialmente conhecido e reconhecido ( quem não conhece o Satch? ), que mostra que tem um cérebro invejável no sentido criativo, um espírito de quem realmente toca com o coração e a habilidade que qualquer mortal gostaria de ter ao chegar na idade dele. Esse último álbum, o Shockwave Supernova, que está sendo divulgado nessa tour recente, mostra quem apenas ele entende o conceito de criação de suas músicas.

    São aparentemente fáceis de serem tocadas ( notem que eu disse... aparentemente ), mas, são facilmente absorvidas, com o coração. Um show de arrancar lágrimas e algumas 'bangueadas'. Um misto de novo e o antigo. Ele esconde a técnica por trás do carisma, fazendo com que qualquer um de nós se sinta realmente próximo à ele. 30 anos de carreira. Uma experiência que só quem sentiu a vibração de cada acorde ao vivo pode entender.

    Deixo aqui meu mais profundo agradecimento à Denise Catto ( Catto Comunicação/Produção ) e a Mercury Concerts pela responsabilidade, profissionalismo e credenciamento. E o maior agradecimento ao Joe Satriani, por ter sido mais que um ídolo nessa noite. Um ser de outro mundo que fez com que nos sentíssemos parte daquilo tudo. Parte de uma história, muito longe do fim.

Texto: Carol Manzatti
Fotos: Marcelo Brammer e Carol Manzatti 
Agradecimentos à Denise Catto Joia da Catto Comunição e à Mercury Concerts pela atenção e credenciamento
Dezembro/2016

Set List do Joe Satriani

1 - Shockwave Supernova
2 - Flying In A Blue Dream
3 - Ice 9
4 - Crystal Planet
5 - On Peregrine Wings
6 - Friends
7 - If I Could Fly
8 - Butterfly And Zebra
9 - Cataclysmic
10 - Summer Song
11 - Drum Solo
12 - Crazy Joey
13 - Keyboard Solo
14 - Luminous Flesh Giants
15 - Always With Me, Always With You
16 - Bass Solo + Rock Medley (Deep Purple, AC/DC, Jimi Hendrix)
(Bryan Beller)
17 - Crowd Chant
18 - Satch Boogie

Encore:
19 - Big Bad Moon
20 - Surfing With The Alien

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