Black Sabbath - The End Tour
Abertura: Rival Souls e Doctor Pheabes
Estádio do Morumbi em São Paulo/SP,
domingo, 04 de dezembro de 2016

Júbilo e Nostalgia

    The End, ou O Fim foi o título que o Black Sabbath escolheu para a sua derradeira última turnê mundial, que tem levado multidões por onde passa, pois, todos queremos assistir pela última ( e em muitos casos... pela primeira ) vez esta verdadeira a instituição que pertence ao Hall dos criadores Heavy Metal. Tudo começou no final da década de 60, precisamente em 1966, tempo que o jovem guitarrista Anthony "Tony" Iommi e o baterista Willian "Bill" Ward ficaram sabendo que um certo vocalista conhecido como John "Ozzy" Osbourne estava querendo montar uma nova banda, sendo que este carregou consigo dois guitarristas, Terence "Geezer" Butler e Jimmy Phillips.

    Porém, Geezer Butler foi para o baixo e Jimmy Phillips saiu da banda e firmou-se o line-up mais clássico e histórico do Black Sabbath, que neste começo tocava Blues chamava-se Earth, entretanto, por conta da existência de uma outra banda com este nome, escolheram o que os tornaram lendários no mundo. A primeira fase e a de maior sucesso comercial do Black Sabbath durou entre 1970 a 1978 ( com mais de 70 milhões de cópias vendidas ), quando Ozzy saiu da banda e foi substituído pelo inigualável e saudoso Ronnie James Dio, cuja fase nos disponibilizou verdadeiros petardos do Heavy Metal, que também obtiveram um grande sucesso comercial, praticamente comparando-se ao tempos da Fase Ozzy.

    Durante os anos 80 e 90, Tony Iommi segurou o Black Sabbath nas mãos e a banda sofreu um sem número de formações, entre elas com excelentes vocalistas como Glenn Hughes, Tony Martin, Ian Gillan, Ray Gillen; baixistas como Bob Daisley e Neil Murray; bateristas memoráveis como são os casos de nomes como Cozy Powell, Bobby Rondinelli, Eric Singer e Vinny Appice, que gravaram ótimos álbuns. Nas outras encarnações do Black Sabbath, os discos que foram lançados ao lado destes talentosos músicos não se tornarem um sucesso de vendas. Talvez, por conta deste "fantasma" que se transformou Ozzy Osbourne para o Black Sabbath, pois, um retorno com ele sempre foi possível de se acontecer e algumas breves reuniões aconteceram aqui ou ali, resultaram em álbuns ao vivo, alguns shows, mas, nunca uma turnê mundial.

 

    Em 2011, o que parecia improvável e para muitos impossível aconteceu: Ozzy Osbourne, Geezer Butler, Tony Iommi e Bill Ward voltariam a tocar juntos em uma turnê mundial e mais que isso... gravariam um novo álbum de estúdio com composições inéditas. Era a magia de volta, entretanto, por discussões acerca de contrato, Bill Ward não prosseguiu no projeto ( segundo ele por conta de questões financeiras e para os demais por problemas relacionados com a saúde do baterista ). Desta forma, o Black Sabbath disponibilizou o álbum 13 em 2013, realizou uma inacreditável e espetacular turnê mundial ( que no Brasil o Rock On Stage acompanhou os concorridos shows realizados em São Paulo/SP - confira aqui, Rio de Janeiro/RJ - saiba mais neste link e Belo Horizonte/MG - relembre aqui ).

    Agora em 2016, não queremos acreditar que será realmente o fim do Black Sabbath, e por pouco que os últimos shows aconteceram no Brasil, pois, alguns foram marcados para a Inglaterra e o derradeiro em Birmingham em 2017 ( sendo até justo, pois lá é a cidade natal deles e onde tudo começou ) quando será anunciado o final das atividades, muito por conta da saúde de Tony Iommi, que luta contra um câncer no sistema linfático e não aguenta mais longas turnês. Entretanto, ele não descarta a possibilidade de gravar mais um disco no estúdio e quem sabe um show em algumas ocasiões raras. Antes de comentar das atrações de abertura fica o registro que não temos fotos do show do Black Sabbath e do Rival Sons por conta da produção dos ingleses não terem permitido que os shows fossem fotografados.

Doctor Pheabes

    Quando chegou a hora do Doctor Pheabes, banda formada por Fernando "Magrão" Parrillo na guitarra, Eduardo "Dr. Pheabes" Parrillo nos vocais, Fábio "Cuca" Ressio no baixo e Paulo "Raul" Ressio na bateria, o dia ainda estava claro e o tempo bom, fato que de certa forma deu uma esperança que não teríamos uma noite chuvosa, ledo engano, ainda mais para o último show do Black Sabbath no país, que comentarei mais detalhadamente depois. Pois bem, os paulistanos, começaram o show com o seu Rock´n´Roll baseado nas composições próprias do álbum Seventy Dogs ( confira resenha ).

 

    Neste show de abertura para o Black Sabbath, eles incluíram três backing vocals, que conferiram um ambiente mais setentista em sua apresentação e a primeira música da noite foi a Carpe Diem com o som muito bem regulado, sendo que podíamos ouvir tudo corretamente e além de se movimentarem pelo palco, as três garotas que fizeram os backings mostraram seus bons vocais envolvendo a plateia. O vocalista Eduardo "Dr. Pheabes" Parrillo mostrou-se muito contente soltou um "Boa Noite São Paulo" e a Where Do You Come From? ficou mais Rock´n´Roll, sendo que ele dividiu os vocais com elas enquanto que Fernando "Magrão" Parrillo realizava longos solos em sua guitarra, que se ligaram na Godzilla.

    Antes de tocarem a próxima, o vocalista avisa que quer dedicá-la ao Chapecoense, aos familiares e a todos que estão sofrendo com a tragédia, assim, a balada In My Mind foi tocada com muita emoção por eles. E quando uma das três backing vocals pegavam o microfone e ganhavam um destaque maior, na minha mente, elas lembravam muito quando Mick Jagger divide os vocais com uma de suas vocalistas, além de andarem pelo palco ajudando a esta música possuir uma roupagem mais Soul, onde mais uma vez, o guitarrista Fernando "Magrão" Parrillo chama atenção em seus solos. Com um estilo mais 'sujo' o Hardão nervoso de Roaring, continuou o set do Doctor Pheabes, que ficou mais pulsante com a presença das meninas, que jogaram camisetas para o público. Além dessa, eles executaram também a Walking Alone.

    Consideravelmente contente, o vocalista avisa que vão tocar a última música e que é um grande prazer tocar nós, e assim, Suzy se mostrou mais conhecida pela plateia, que participou do refrão ( nos trechos com os "ôôôôôôô" ) e recebeu muitas palmas. Foram pouco mais de 25 minutos, mas, o Doctor Pheabes mostra a cada show um evolução maior e que está conquistando mais fãs. E inclusive, a banda tem contatos fortes, pois, já estiveram no Lollapallooza e abriram vários outros shows importantes.

Set List do Doctor Pheabes

1 - Carpe Diem
2 - Where Do You Come From?
3 - Godzilla
4 - In My Mind
5 - Roaring
6 - Walking Alone
7 - Suzy

Rival Sons

    Acredito que o motivo do Rival Sons ter sido escalado para ser a banda de abertura oficial de todos os shows da The End Tour tenha sido por conta que Ozzy Osbourne enxergou o potencial que o quarteto norte-americano de Long Beach Califórnia tenha ao vivo com suas empolgantes composições, que refletem aquele Hard Rock setentista, ácido, viajante e embalado nos solos de guitarra. E vou além, provavelmente, isso possa ter acontecido durante o Monsters Of Rock de 2015 no Brasil, quando eles foram uma das bandas do primeiro dia do festival, onde Ozzy Osbourne foi o Headliner ( relembre aqui ). Seja por este motivo ou quaisquer outros, a verdade é que em pouco mais de um ano nós todos poderíamos (re)ver uma das melhores e mais promissoras bandas surgidas nestes últimos tempos e que está em divulgação de seu quinto álbum de estúdio, o Hollow Bones, que foi lançado este ano.

    Assim como em 2015 e já uma marca do Rival Sons, Jay Buchanan nos vocais, Scott Holiday na guitarra, Mike Miley na bateria, David Beste no baixo e o convidado Todd Ögren-Brooks nos teclados entraram no palco ao som da "Música do Assovio", aquela que pertence ao clássico filme de Western The Good, The Evil and The Ugly e criada pelo soberbo Ennio Morricone, que obviamente já impactou aos presentes, que conhecem e aguardavam pela entrada da banda no palco. Sem pestanejar, o guitarrista Scott Holiday dispara seus solos cheios de voltagem da contagiante Electric Man do excelente disco Great Western Valkyrie de 2014, que já alcançou muitas palmas e até algumas tentativas de cantar seus versos com o carismático Jay Buchanan, que atinge agudos fortes e estava todo de preto neste princípio de noite.

     Depois com um solo de guitarra altamente elétrico, o Rival Sons faz a plateia pular com Secret, outra do álbum Great Western Valkyrie, que é uma estonteante composição, onde reparamos também uma forte presença dos teclados na linha do Hammond tocados pelo convidado Todd Ögren-Brooks e um clima festivo, que concede o espaço para improvisos e traz a magia, que este tipo de Hard Rock puro criado por quem sabe o que está fazendo provoca. E a reação da galera foi a melhor possível, pois, esta música mostra influências de nomes como um Black Country Communion e é totalmente inquieta e de uma forma explosiva. Jay Buchanan todo contente diz um "Muito Obrigado" em português e conclui: "Nós somos o Rival Sons e é um prazer tocar para vocês" para mostrarem um misto de Hard Rock e Soul em Pressure And Time, título do segundo álbum de estúdio lançado em 2011. Além de toda a parte instrumental exuberante, que também contou com um solo de guitarra sensacional e afirmo: o mais marcante nesta música é a forma que os demais participam fazendo os backing vocals para que o vocalista possa flutuar no palco ao cantar seus versos.

    Bastante aplaudidos, o Rival Sons tem seu nome gritado pelos fãs e o vocalista nos diz: "Deixem-me lhes dizer por um momento sobre a oportunidade de abrir os shows do Black Sabbath, que estão realizando sua última turnê!!!" e realmente, a emoção que eles devem sentir toda noite ao abrirem os shows de um nome como o Black Sabbath deve ser gigantesca, mas, abrir a última turnê de todas, esses caras podem dizer que foram ao Olimpo!!! Bem... na sequencia do show tocaram a Open My Eyes do Great Western Valkyrie, cujas admiráveis melodias parecem que foram extraídas do Led Zeppelin e infectaram cada célula de quem ainda não conhecia a banda americana, onde aliás não posso deixar de mencionar a atuação do baterista Mike Miley, que realizou ótimas viradas no seu kit. E como não poderia deixar que acontecer... o seu solo de guitarra feito por Scott Holiday é dotado daquele 'feeling' único que somente os grandes nomes dos 70 pareciam possuir e aí fica uma constatação: o Rock´n´Roll não vai morrer e o Rival Sons merece um dia se apresentar no Brasil com um show só seu.

 

    Jay Buchanan vai ao microfone e dedica a canção para um amigo, que infelizmente não entendi seu nome, e desta forma, a melodiosa balada Fade Out do novo Hollow Bones trouxe linhas mais de Blues mais fortes inclusas nesta nova composição, que é possuidora de solos viajantes, onde nossa atenção se direcionou toda para o guitarrista Scott Holiday vestido todo de verde, pois, sentimos que neste momento como é depositada a alma de cada um deles na alquimia musical que fizeram. Aos gritos de Rival Sons, quase incessantes, o vocalista mostra que o Blues faz parte e muito das estruturas da banda ao executar a Torture, que foi registrada no Rival Sons EP de 2011 e rapidamente ganhou palmas dos fãs, que participaram felizes, afinal, não tem como ficar parado diante dessa dose enorme de adrenalina musical, com direito a solos curtos de cada integrante em uma harmonia perfeita e do jeito que um bom Rock´n´Roll deve ser. O vocalista inflama ainda mais quando grita "São Paulo can you hear me?" neste ritmo, que foi alongado tal qual como o Deep Purple adorava realizar, com aquele momento onde ouvimos só os "ôôôôôô" e as palmas dos fãs - ou seja, eles estavam com a plateia nas mãos - até os demais terminarem a canção, enfim, foi uma sonzeira.

 

    Com um singelo "Muito Obrigado", ele nos agradece e apresenta cada um dos membros da banda, inclusive o pessoal da técnica, o empresário, enfim todos, que foram muito aplaudidos pela contente plateia, para que então a última do set do Rival Sons, a Keep On Swinging do disco Head Down de 2012 chegasse para nos deliciar com suas linhas Blues/Rock repletas de energia e sentimento, que ao seu término levou a plateia novamente gritar o nome da banda quase obstinadamente, enquanto eles se despediam de nós. Mais uma vez, o Rival Sons realizou um show fascinante, lotado de vitalidade e que deixou claro que eles podem segurar o bastão quando os nomes clássicos Heavy Rock começarem a se aposentar como é o caso da atração principal desta noite.

Set List do Rival Sons

1 - Intro: The Good, The Bad and The Ugly
2 - Electric Man
3 - Secret
4 - Pressure and Time
5 - Open My Eyes
6 - Fade Out
7 - Torture
8 - Keep On Swinging

Black Sabbath

    Às 20:35 começa o tão aguardado espetáculo com o sempre ansioso vocalista gritando "olê... olê... olê...", sendo que, logo em seguida assistimos ao vídeo introdutório da turnê de The End, que mostrou uma criatura do inferno nascendo de um ovo fervente, e logo após, ela aniquila com uma cidade e do fogo que toma os telões... vemos o nome Black Sabbath aparecer bem grande causando aquela explosão na plateia, que nesta hora não se continha mais e gritava sem parar "Sabbath... Sabbath", para que então se revelassem para nós os titãs Ozzy Osbourne nos vocais se posicionando no centro do palco todo de preto como manda o figurino do Príncipe das Trevas; Tony Iommi na guitarra com sua lendária Gibson SG no lado direito do palco e todo de preto, com sua jaqueta, seus crucifixos e óculos escuros; Geezer Butler no baixo, também de preto com alguns detalhes em vermelho e Tommy Clufetos na bateria, sem camisa, com uma faixa no cabelo, uma longa barba.

Paradoxo

    Desta maneira recuamos ao ano de 1970, época que o primeiro álbum do Black Sabbath foi lançado em uma sexta feira 13 em fevereiro, que logo após Ozzy Osbourne nos saudar com um singelo "How are doing" ouvimos ao som de uma tempestade com trovões e sinos nos alto falantes a tétrica Black Sabbath com aqueles os solos 'pesadaços' e sinistros, que os sacerdotes do Metal nos expõem com todo o seu clima fúnebre, com as risadas macabras de Ozzy Osbourne, enfim, para muitos o primeiro Doom Metal da história, que renderam toda aquela multidão estática acompanhando com olhares fixos no palco em uma contradição, pois, tínhamos um sentimento que era um misto de felicidade extrema e uma certa nostalgia por saber que seria a última vez. Mas, esquecemos disso por conta da interação que a banda demonstrou com o público, especialmente quando vemos o seminal Tony Iommi solando sua guitarra de forma matadora e ensinando porque eles foram os verdadeiros criadores do Heavy Metal.

     Tony Iommi se movimenta pouco em sua parte do palco, assim como Geezer Butler, enquanto que Ozzy Osbourne apenas mexe o corpo, os braços, dá uns pulos e termina a sombria canção com um tradicional "God Blessed You All" e aos gritos de "Sabbath... Sabbath" ouvimos o "madman" falar outra de suas icônicas frases, como a "I Can Fucking Hear You" para entusiasmar aos fãs para que outro clássico histórico eclodisse pelo Estádio do Morumbi, a Fairies Wear Boots ( do Paranoid de 1970 ) com a conexão entre baixo, bateria e teclados nos remetendo aos anos 70 como um feitiço com a sempre desafiadora voz de Ozzy Osbourne ( não estou considerando a potência atual, mas, o que ela representa nesta música ). Nós, além de ficarmos um tanto que hipnotizados ao ver o Black Sabbath em 'execução de gala' podíamos apenas aplaudir e alternar nos "hey... hey... hey..." em uma purificação coletiva, quando o momento da música nos possibilitava para isso, afinal, estávamos diante dos - simplesmente - maiorais da história do Heavy Metal. Os telões, que na primeira música exibiam imagens do quarteto se desfazendo em chamas, basicamente já cravando a ideia de último show mesmo, agora transitava por imagens psicodélicas nos encantando.

 

Despenca a chuva

    Ozzy Osbourne sorri e pergunta se estamos nos divertindo em outra sessão de gritos incessantes de "Sabbath... Sabbath" para anunciar a emblemática e mais acelerada After Forever ( do Master Of Reality de 1971 ), que para mim, o seu destaque foi o peso que o exímio Geezer Butler aplicou em seu baixo, com frontman Ozzy Osbourne batendo palmas e exibindo o seu imenso carisma ao cantar seus versos. Claro, que Tony Iommi também ganha atenção em seus brilhantes solos de guitarra. E uma convidada que não poderia deixar faltar nesta apresentação era a chuva, pois, você tem como pensar caro leitor(a) no último show do Black Sabbath sem um clima de final do mundo? Pois, é o tempo fechou, ficou tão funesto quanto as letras das músicas dos ingleses e a chuva caiu forte e aumentou durante a apresentação, só dando uma trégua bem depois do show, mas ninguém se importou, alguns vestiram suas capas e outros tomaram a chuva. Tony Iommi teve seu nome berrado pelos fãs, mas, Ozzy Osbourne pede para que lembrássemos do baixista e obviamente que atendemos.

 

Sinergia em ambas as partes

    O vocalista anuncia Into The Void e entoa o verso I´m Singing In The Rain - tema do filme de sucesso de Gene Kelly - para depois os toques opacos de Geezer Butler no baixo nos conduzissem até a canção do Master Of Reality, que despertou muitos "hey... hey... hey..." no ritmo proposto, que em sua virada mostrou a luminosidade que esta versátil música dispõe, que nos convoca para 'banguear' e socar o ar em sua execução. E lembra do sentimento de felicidade que comentei anteriormente? Então, nesta ficou ainda maior, pela sublime e aplicada versão que o Black Sabbath mandou para nossa memória neste memorável e inesquecível domingo.

    Ozzy Osbourne avisa: "dos bons tempos... Snowblind" e a galera canta os "ôôô... ôôô... ôôô..." em seu andamento com o vocalista pronunciando entre um verso e outro a frase "Let me see your hands..." em meio aqueles toques melodiosos, porém, de fortes solos de guitarra, motivo que tornaram esta composição do Vol. 4 de 1972, uma das mais queridas por várias gerações de fãs presentes. E o coro que se formou por todos os lados em meio a forte chuva com mãos para cima atendendo ao pedido de Ozzy Osbourne é algo para que eles... nos vendo lá de cima do palco também guardem boas lembranças de São Paulo. E certamente guardaram, pois, Ozzy Osbourne e Tony Iommi sorriam simultaneamente. Entretanto, quando Snowblind acelera... muitos pulam e batem palmas exaltando seu contentamento com o momento, que termina em solos ímpares de Tony Iommi.

 

Apresentações calorosas

    Ozzy Osbourne chama o tecladista Adam Wakeman ( filho do célebre Rick Wakeman, que nos anos 70 tocou em alguns álbuns do Black Sabbath sob o pseudônimo de Spock Wall ) para receber os aplausos da plateia e continua apresentando a banda, sendo o seguinte o baixista Geezer Butler, depois o baterista Tommy Clufetos e por fim, o guitarrista Tony Iommi, o mais ovacionado de todos, ainda mais com o frontman repetindo seu nome por várias vezes ( até por conta dele ter sido o fio condutor que sempre manteve o Black Sabbath na ativa desde sua fundação, entre suas várias formações, que renderam muitas outras músicas louváveis ao Metal ).

    E ao som das sirenes de ataque aéreo entre luzes vermelhas e azuis no palco tivemos o hino War Pigs, que até hoje se mantém atual - afinal, a humanidade está uma 'beleza' não é mesmo? são guerras em várias partes do planeta - que levaram todos acompanharem nas palmas e procuramos cantar cada verso com Ozzy Osbourne e posso afirmar... esta canção do álbum Paranoid foi para colocar o Estádio do Morumbi abaixo pelo frissom causado, com os "ôôôôôôô" da plateia cada vez mais robustos e com Tommy Clufetos procurando encarar o espírito de Bill Ward, pois, tocou com uma inabalável precisão, assim como o celebre Toni Iommi com solos cada vez mais demolidores. Nos telões foram exibidas imagens dos fãs de São Paulo cantando e muitas explosões de guerras, mas te pergunto: será que tem como quantificar a emoção destes fãs que se viram nos telões?

 

    Em um show do Black Sabbath tem horas que fico na dúvida se quem se diverte mais somos nós ou Ozzy Osbourne, pois, o insano Príncipe das Trevas sorri o tempo todo, corre um pouquinho pelo palco ( que para ele é igual a uma maratona ) e o repertório de clássicos deste último show prosseguiu com Behind The Wall Of Sleep do primeiro álbum do Black Sabbath, onde eles nos avisavam que o seu Rock Pesado iria trilhar caminhos diferentes aos que o Led Zeppelin e o Deep Purple estavam seguindo. Com o Black Sabbath seria ênfase total na guitarra e no peso, aliado a improvisos e letras sombrias, que neste momento do show contou com apenas Tommy Clufetos em alguns toques em sua bateria, palmas e Ozzy Osbourne pedindo para que nossos gritos fossem mais fortes até que Geezer Butler enviasse seu Bassically, a aquela introdução magistral presente em N.I.B. colocou novamente quase sete dezenas de milhares de fãs dos ingleses para cantar seus versos com o vocalista.

 

    Este fabuloso Heavy Metal de seu prestigiado primeiro álbum, que contém uma melodia contagiante e riffs espetaculares se tornaram um momento incrível do show, que foram devidamente alongados e se ligaram na instrumental Rat Salad do Paranoid, que deixaram Ozzy Osbourne descansar um pouco, afinal, além dos 68 anos de idade, ele abusou de tudo em sua vida. E logo após os primeiros toques de baixo e guitarra foi chegada a vez de constatar toda a vasta capacidade do baterista Tommy Clufetos em um longo solo, que em tese não deixa de ser uma homenagem ao baterista original do Black Sabbath, o perito Bill Ward.

Homens de Ferro

    E Tommy Clufetos realizou um solo que durou quase dez minutos e soube fazer o pessoal vibrar significativamente, para que além do vocalista, os outros dois 'garotos' das cordas da banda pudessem respirar um pouco para continuarem o show. Essa locomotiva sonora chamada Tommy Clufetos terminou seu estrondoso solo assim quando os nobres Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler voltaram, este último com aqueles acordes opacos de baixo e os muitos "hey... hey... hey" da explosiva Iron Man, que recebemos em plena alegria todos os seus esplêndidos solos de guitarra, sendo que na hora que a canção do álbum Paranoid se acelera soltamos os "ôôôôôôôôô" de nossa garganta e aproveitamos para ficar boquiabertos com o peso aplicado e a garra três senhores do Black Sabbath. Aliás, o fogo praticamente consumia os músicos nos telões, seria mais uma dica do fim? Creio que sim...

 

    Ozzy Osbourne pergunta se estamos todos nos divertindo e gritamos um "Yeaaaahhh" e tocam a única que não pertence a nenhum dos quatro primeiros discos do Black Sabbath, onde foi centrado o set list da noite e desta turnê, a Dirty Women do Technical Ecstasy de 1976, o penúltimo disco da primeira fase com Ozzy Osbourne. E esta música, que pode ser considerada como a melhor deste álbum teve sua reluzente exibição no Estádio do Morumbi, com direito a Tony Iommi executar seus contaminantes solos de guitarra, aqueles que agridem as cordas mesmo e provam porque até um simples Rock´n´Roll nas suas mãos se tornam um Heavy Metal do maior quilate. E o bacana foi que no final Ozzy Osbourne balança seus braços para que nós fizéssemos o mesmo quando a melodia da música fica mais suave. Uma pena que os álbuns Sabbath, Bloody Sabbath de 1973 e Sabotage de 1975 não tiveram nenhuma de suas canções inclusas no set list, pois, em especial o Sabotage é disparado o mais pesado da Fase Ozzy.

Final Heavy Metal

    Muitos ficaram ovacionando Tony Iommi e Ozzy Osbourne, sendo que este avisa que tocarão apenas mais uma música, instantes depois, os lindos dedilhados feitos pelo guitarrista baseados na música Embryo nos levaram quase a derrubar o Estádio do Morumbi ao som de uma das melhores composições da carreira do Black Sabbath com a Children Of The Grave do Master of Reality, onde sentir o ataque das notas deste baluarte do Heavy Metal é um prazer quase incomensurável e indescritível. Esta é para mim uma das músicas que definiram o que é o estilo.

 

    Eles nos agradecem e nem chegam a ir para o backstage aos gritos de "One more song..." e "Sabbath... Sabbath..." com Ozzy Osbourne regendo a bagunça com os "Olê... Olê...Olê... Sabbath... Sabbath...". Desta forma, com um enorme sorriso no rosto reparamos Tony Iommi realizando um pequeno improviso que caminha até a arrebatadora Paranoid, que assim como a maioria foi cantada por todos e contou com uma infinidade de aplausos, pulos, enfim, um grande júbilo, porém, aquela sensação que tive no início do show também ficou maior, pois, sabíamos que o fim chegara.

     Nós continuamos a algazarra com os "Olê... Olê...Olê... Sabbath... Sabbath..." para emocionar ainda mais os três músicos, naquela vã esperança que uma canção extra pudesse ser inclusa nesta noite em São Paulo, mas, eles juntam-se no centro do palco para nos agradecer e os telões era exibido as palavras The End ao som da Zeitgeist ( do álbum 13 ) como música de fundo.

The End... of Begining ???

    Em suma, posso afirmar seguramente que cada um dos 68.000 presentes no Estádio do Morumbi neste primeiro domingo de dezembro de 2016 testemunharam a última apresentação do Black Sabbath em solo brasileiro, testemunharam um dos shows mais extraordinários já realizados no Brasil e certamente, um dos que sentiremos mais saudades, porém, poderemos contar com orgulho para filhos, netos, amigos, familiares... enfim, todas as gerações futuras: "sim, eu vi e estive presente em um dos últimos shows do Black Sabbath com Ozzy Osbourne, Geezer Butler e a usina de solos de guitarra chamado Tony Iommi".

    Entretanto, por conta do que Tony Iommi deixou em algumas entrelinhas ao dizer que ainda deseja gravar um novo disco, enfim, o futuro está aberto e algumas surpresas podem acontecer. Caso ocorram, nós aqui no Brasil vamos querer conhecer cada uma das suas músicas, clipes, e caso contrário... vamos guardar as deliciosas sensações que tivemos neste deslumbrante último show.

Texto: Fernando R. R. Júnior
Fotos: Silmara Ciuffa ( Doctor Pheabes ) e
Ross Halfin Photography ( Black Sabbath )
Agradecimentos à Fábio Lopes de Oliveira e a equipe da T4F
pela atenção e credenciamento
Dezembro/2016

Set List do Black Sabbath

1 - Black Sabbath
2 - Fairies Wear Boots
3 - After Forever
4 - Into The Void
5 - Snowblind
6 - War Pigs
7 - Behind The Wall Of Sleep
8 - Bassically/N.I.B. 
9 - Rat Salad/Drum Solo
10 - Iron Man
11 - Dirty Women
12 - Embryo/Children Of The Grave

Encore:
13 - Paranoid
14 - Outro: Zeitgeist

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