Iron Maiden - Legacy Of The Beast World Tour
Abertura: The Raven Age
 Domingo, 06 de outubro de 2019
no Estádio do Morumbi em São Paulo/SP

Mais que um show de Heavy Metal, um admirável espetáculo teatral

    Quando foi iniciada a tour Legacy Of The Beast do Iron Maiden em maio de 2018 e ficamos sabendo de algumas das novidades fabulosas que fariam parte dela, a pergunta em nossas mentes era... quando teremos uma data no Brasil. E antes do final do ano foi anunciado que o Iron Maiden seria uma das atrações principais do Rock In Rio de 2019, já sabíamos que seria inevitável uma data por São Paulo/SP. Quando os rumores se transformaram em realidade, a ansiedade pelo show só aumentava e quando finalmente o domingo dia 06 de outubro chegou... uma verdadeira multidão de fãs tomou todas as dependências do Estádio do Morumbi, palco escolhido para receber o lendário sexteto inglês, que é o nome mais famoso da New Wave Of British Heavy Metal. Esta paixão dos headbangers brasileiros pelo Iron Maiden eu procurei retratar no especial que publiquei há quase um mês atrás ( confira aqui ).

    E desta vez o Iron Maiden trouxe o seu show com a maior produção de palco dentre todas as suas sempre impactantes apresentações no Brasil. Após emocionarem e chacoalhem o Rock In Rio em um dos melhores shows da história do festival segundo o jornal O Estado de São Paulo, o Iron Maiden veio para São Paulo e como se não fosse possível, fizeram uma apresentação com uma garra maior e ainda melhor comparando com a ocorrida na Cidade do Rock.

    Vale dizer que o nome Legacy Of The Beast não é um novo disco de estúdio e sim, um jogo de celular em que foram escolhidas a dedo músicas dos dezesseis clássicos dos álbuns de estúdio do Iron Maiden e alguns resgates que tornaram este show único para os fieis seguidores da banda. Para a abertura desta noite inesquecível em nossas vidas show tivemos o The Raven Age, banda inglesa que é pertencente ao filho de Steve Harris, o guitarrista George Harris, que contarei como foi o show nas linhas abaixo.

The Raven Age

    Completando dez anos de fundação, um EP e dois discos lançados, o The Raven Age é um quinteto de Heavy Metal que faz inclusão de elementos modernos  e melódicos se aproximando do que é conhecido como Metalcore. Eles retornaram ao Brasil após três anos, onde abriram os shows da Book Of Souls World Tour para o Iron Maiden ( relembre como foi na capital paulista neste link ) e com novos integrantes: Matt James ( vocais - substituindo Michael Burrough ) e Tony Maue ( guitarra - substituindo um dos fundadores,  Dan Wright ) ao lado de George Harris ( guitarra ), Matt Cox ( baixo ), Jat Patel ( bateria ). Além disso, o álbum Conspiracy foi lançado neste ano no dia 08 de março e eles aproveitaram esta nova sequencia de shows pelas Américas para divulgá-lo para a seleta plateia que comparece nos shows do Iron Maiden.

    Este segundo disco Conspiracy é bem melhor que o primeiro, o Darkness Will Rise de 2017, muito por conta da voz do vocalista Matt James, porém, ao vivo as coisas são diferentes. E não pense que o fato de George Harris ser filho de quem é confere facilidades ao quinteto, pois, mesmo voando juntos e tendo o pai presente em todos os shows, o The Raven Age subiu no palco com uma iluminação muito menor que a utilizada pelo Iron Maiden e sem ter suas imagens disponibilizadas nos telões do estádio ( que poderiam ser maiores ), apenas alguns pequenos banners com a capa do disco para decorarem o palco e as informações relativas ao álbum de estúdio como os links para sua audição nas plataformas digitais.

    E precisamente no horário marcado, às 18:40, com as luzes do palco apagadas ao som dos dedilhados da música instrumental Bloom Of The Poison Seed ao fundo, o The Raven Age se posicionou no palco e assim como no cd Conspiracy ela se ligou em Betrayal Of The Mind, sendo que o vocalista Matt James se movimentou de um lado para o outro demonstrando o vigor que estavam neste show. Inclusive, ele ganhou uma bandeira do Brasil, nos mostrou e a colocou ao fundo da bateria de Jat Patel e soltou durante a música um "Boa Noite São Paulo!!!!" antes dos solos melódicos da dupla George Harris e Tony Maue e encerrando-a com um "Thank You!!!". Em seguida exibiram Promised Land, do primeiro disco, o Darkness Will Rise que é mais cadenciada e dotada de muitos riffs encorpados que foram empolgaram a plateia, ao menos uma parte, que bradou os "hey... hey... hey...".

    O vocalista Matt James estava contente por mais uma abertura para o Iron Maiden e disse isso para nós antes de tocarem a Surrogate, que alia o peso dos guitarristas com as melodias de sua voz e também ótimas viradas do baterista Jat Patel seguida por The Day The World Stood Still, sendo ambas novo Conspiracy e nesta executaram ótimas linhas de dedilhados um tanto que Progressivas até que as guitarras de George Harris e Tony Maue tomam conta da música na mais interessante canção deste trabalho. Após uma breve fala com a plateia, Matt James anunciou que tocariam a balada The Face That Launched a Thousand Ships, que começa mais lenta no violão e depois ganha linhas longas de guitarras vocalizadas com muito feeling pelo vocalista.

    Depois de uma breve acalmada, eles soltam o peso contido em Fleur de Lis, outra do novo disco, que segue a mistura de sua linhagem encorpada com vocais melódicos, que foram todas sendo bem recebidas pelos fãs, que respeitaram o quinteto, mesmo sem ter tanto conhecimento da jovem banda. O vocalista Matt James sempre emendava no decorrer das músicas um "Make Some Noise Sao Paulo" pedindo nossa participação, que resultava em braços para o alto e no final palmas para a banda. E a canção que fecha o Conspiracy, a Grave Of The Fireflies trouxe seus dedilhados executados com muita dedicação por eles para depois as linhas mais robustas tomarem conta da música e os guitarristas mudarem suas posições procurando passar toda sua adrenalina ao cada vez mais lotado estádio, ao menos eles estavam transbordando, afinal, a nossa vez seria um pouco depois.

    Para terminar o seu set que durou pouco mais de 50 minutos, mais dedilhados antecedendo a força presente em Seventh Heaven, outra composição das novas do Conspiracy que manteve a qualidade do show do The Raven Age ao trazer ótimos riffs de guitarras e muitos "ôôôôôôôôôôô" que o vocalista extraiu dos fãs, aliás, na hora dos solos deixou um bom tanto somente para a plateia, sinal que o professor que tivemos no palco depois dele... está ensinando esses detalhes. E com a plateia ganha retribuindo com palmas, a pesada Angel In Disgrace do Darkness Will Rise encerrou o ótimo show do quinteto, que nos agradeceu entre mais aplausos e se reuniu para a foto com o público atrás deles segurando a bandeira do Brasil.

Set List do The Raven Age

1 - Bloom Of The Poison Seed
2 - Betrayal Of The Mind
3 - Promised Land
4 - Surrogate
5 - The Day The World Stood Still
6 - The Face That Launched a Thousand Ships
7 - Fleur de Lis
8 - Grave Of The Fireflies
9 - Seventh Heaven
10 - Angel In Disgrace

Iron Maiden

    A troca de palco do The Raven Age para o Iron Maiden foi bastante rápida, porém, mesmo assim, nós consultávamos o relógio para ver quanto tempo faltava ainda para o maior show do ano em São Paulo, e isso se repetiu até o momento em que o vídeo introdutório de divulgação do jogo Legacy Of The Beast foi exibido, aí já com as luzes apagadas com nossa pulsação no limite ao som de Transylvania, canção instrumental do primeiro álbum de 1980, que já contou com os "ôôôôôôôôôô" e os gritos de "Maiden... Maiden..." dos fãs no ritmo se ligando a Doctor Doctor, sucesso do U.F.O. que Steve Harris é fã desde os anos 70, que também contou com a nossa participação.

Luftschlacht um England

    E ainda não era o show propriamente dito, ainda teríamos a introdução com o famoso discurso do primeiro ministro Winstom Churchill após a Inglaterra ser atacada pelos alemães na II Guerra Mundial ao som dos motores dos caças de supremacia aérea Supermarine Spitfire ( vimos sua decolagem no telão ) e depois ao som de Aces High, os primeiros riffs, que trouxeram um avião no palco, isso mesmo, um Supermarine Spitfire em tamanho praticamente real 'voando' acima da banda enquanto que Bruce Dickinson com gorro e óculos de aviador, calça de couro e uma blusa corria por todos os lados do palco com uma eletricidade incomum, isso para quem não conhece a atuação do "Air Raid Siren" no palco, porque para nós que acompanhamos o Iron Maiden há décadas sabemos que ele é um mestre em ação.

   Já Steve Harris com seu Fender Precision Bass preto e branco solava as notas com a velocidade que esta explosiva canção necessita e o trio de guitarristas Adrian Smith, Dave Murray e Janick Gers tocavam suas guitarras produzindo aquela melodia que adoramos desde 1984, quando ouvimos esta música abrindo o álbum Powerslave tanto que nossa reação foi cantar com Bruce Dickinson cada verso e pular... pular bastante... a pista parecia um pulmão respirando. Vale acrescentar que este caça foi uma das aeronaves fundamentais para a vitória inglesa na Batalha da Inglaterra.

    Depois deste verdadeiro soco na cara, o clima beligerante prosseguiu aos gritos de "Maiden... Maiden..." para o maior resgate desta Legacy Of The Beast Tour - entre tiros, sons de aviões no ar, e nas precisas batidas de Nicko McBrain em seu grande kit com pratos Paiste - com a música que abre o álbum Piece Of Mind de 1983, a Where Eagles Dare, que nos mostrou Bruce Dickinson acima de Nicko McBrain com uma roupa de combatente na neve e o mais bacana desta música foi conferir Dave Murray solar sua Fender Stratocaster preta e branca seguido por Adrian Smith e pelo performático Janick Gers com seu incrível costume de solar com a perna esticada. A participação dos fãs nesta segunda música intensa e mostrando que não era só o Iron Maiden que estava esbanjando alegria.

    Novo backdrop e outro clássico com Two Minutes To Midnight do Powerslave, que também estava na ponta da língua dos milhares de fãs presentes, que novamente soltaram o refrão da garganta para o animado Bruce Dickinson, que está cantando como sempre e com voz perfeita, sem diminuir tom, sem perder a força, sem desperdiçar agudos, ele faz todos que são precisos ( sabia que ele enfrentou um câncer na língua? então, está curado e melhor do que nunca ). Na hora dos solos de guitarras bradamos muitos "hey... hey... hey..." enquanto pulávamos, socávamos o ar e sacudíamos os pescoços e em retribuição, o vocalista gritou "scream for me Morumbi.....!!!" para que berrássemos em completa felicidade.

Alfinetada, mas está correto...

    Aos gritos de "Olê.... Olê.... Olê.... Maiden... Maiden..." interrompidos por Bruce Dickinson, que teve as luzes direcionadas para ele, que nos disse: "Dois dias atrás fizemos um 'showzinho' no Rio de Janeiro. Eles disseram que aquele foi o melhor show que já viram no Rock In Rio", que causou algumas vaias, olha a rivalidade Rio-São Paulo no ar, porém, ele continuou: "Mas hoje será diferente. Porque essa noite estamos em 'fucking' São Paulo! E esta noite não será o melhor 'fucking' show que no Rock In Rio, mas, sim o melhor 'fucking' show no Brasil! É melhor 'fucking' vocês acreditarem em mim", concluindo então que a próxima música é sobre liberdade com a The Clansman, que automaticamente me lembrou quando a escutei com o Blaze Bayley no álbum Virtual XI em 1998 e que contou com Steve Harris fazendo os dedilhados iniciais e nós acompanhando cada um deles nos "ôôôôôôôôô".

   Bruce Dickinson todo de preto portando uma espada cantou seus versos acertando nós com sua voz e cada movimento dele com a espada não era somente brincadeira de palco, pois, o vocalista é um esgrimista profissional também. Quando os solos começaram, o sempre inquieto Bruce Dickinson andou pelo palco dando 'espadadas' em Janick Gers atrapalhando suas estripulias e nós gritamos cada um dos "Freedom" com o vocalista. A primeira sequencia de solos de The Clansman, que teve seu backdrop de William Wallace ( versão Eddie ) foi de Dave Murray, e cravo aqui como ele solou brilhantemente esta noite, depois Steve Harris no baixolão e no seu baixo e por último Janick Gers. E era impressionante o Iron Maiden no palco com todas as dezenas de milhares de pessoas cantando forte os "ôôôôôôôô", que comprovou aos ingleses o poder dos fãs de São Paulo do Iron Maiden. E sabe caro leitor(a) do Rock On Stage ver Bruce Dickinson empunhando a espada é formidável. 

    Após as batidas de Nicko McBrain em seus pratos e já com um backdrop da Batalha da Criméia ao fundo, Bruce Dickinson de preto e ainda com a espada nas mãos temos os riffs inconfundíveis de The Trooper, canção do Piece Of Mind, que foi recebida com "ôôôôôôôôôôôs" gigantescos dos fãs e quem apareceu também foi o Eddie, todo trajado com o uniforme vermelho, aquele utilizado pelos combatentes ingleses nesta batalha, que normalmente fazia parte do figurino do vocalista, e este além de cantar duelou com o grandalhão monstrengo para um delírio ainda maior dos fãs. Além disso, Bruce Dickinson agitou a bandeira inglesa e depois a brasileira durante a música alcançando mais gritos dos fãs para então finalizarem a parte de guerra do show do Iron Maiden.

 

Religião

    Durante um breve momento enquanto o plano de fundo era rapidamente trocado, finalmente, pudemos ver melhor o baterista Nicko McBrain, pois, ele estava coberto com um pano verde ( uma camuflagem de batalha ) e ao cair deste adereço... pudemos ver a decoração mais 'religiosa' de sua enorme bateria, assim como no plano de fundo principal em vitrais como se fossem de uma catedral, só que decorados com Eddie's de vários álbuns da donzela e posteriormente Bruce Dickinson ( vestido com uma grande capa preta ) cantando os lindos versos de Revelations, outra do Piece Of Mind, que contou com candelabros no palco com luzes semelhantes a velas resultando em palmas, 'heys', nossas vozes e muitos sorrisos o tempo todo, sendo que a dupla Dave Murray e Adrian Smith cuidou dos solos lindamente, e com direito ainda ao vocalista sempre convocar nossa participação.

    E o clima de orações se intensifica aos gritos de "Maiden... Maiden..." e "OIê... OIê... OIê... Maiden... Maiden..." quando a próxima música é exibida no estádio e devidamente recebida nas palmas, pois, a longa e única representante do A Matter Of Life And Death, o décimo quarto álbum de estúdio do Iron Maiden de 2006 foi a For The Greater Good Of God, que teve uma luz forte, toda a sua linhagem progressiva executada com toda perfeição pela banda aos seus dedilhados e seus solos de guitarras ( agora capitaneados mais por Adrian Smith e Janick Gers ), que nos mantiveram literalmente enfeitiçados e de olhos no palco. Aliás, durante esses solos, foram acompanhados com muitos "ôôôôôôôô", que impressionaram o vocalista, que por mais vezes que já tenha vindo no Brasil sabe como nós somos únicos no mundo ( esta visita marcou a décima segunda só com o Iron Maiden ).

   Depois da épica For The Greater Of Good God, o sexteto sem delongas dispara uma composição rápida e inflamável com a The Wicker Man, que abre o álbum Brave New World de 2000 ( o primeiro de estúdio após o retorno de Bruce Dickinson ao Iron Maiden ) e é uma canção que é impossível não pular junto com a banda, principalmente Steve Harris, que além de tocar seu baixo apontando para nós, nestas horas, ele pula como um garoto em seu primeiro show.

    Os solos principais ficaram por conta de Adrian Smith, sendo que Dave Murray e Janick Gers fizeram a base desta  rifflerama, sendo que cada um dos três brilharam em suas partes. O backdrop de The Wicker Man me lembrou da evolução feita pela banda no final do show do Rock In Rio de 2001, quando vi o Iron Maiden pela primeira vez com Bruce Dickinson. Uma curiosidade... sabe aquele costume dos guitarristas solarem próximos um do outro e neste caso de costas? Então Dave Murray e Janick Gers fizeram isso e o vocalista pegou os fios dos cabos de suas guitarras e utilizou para enrolar os dois, o que fez os três rirem bastante deixando evidente a alegria neste show na capital paulista.

    Se tivemos um certo ambiente de 'orações', ele teve o seu ápice com a longa Sign Of The Cross, canção de abertura do The X-Factor, que foi gravado com Blaze Bayley em 1995, mas que ao vivo na voz de Bruce Dickinson ficou literalmente imortalizada, e nesta noite em São Paulo, ele estava com uma voltagem descomunal para cantá-la, porém, não era apenas cantar, era uma atuação artística e cinematográfica, pois, assim que seus cânticos ecoaram pelo Morumbi, já começamos a aplaudir no ritmo e soltar os "ôôôôôôô" com o vocalista, que estava com uma cruz iluminada nas mãos e todo de preto e o palco com um plano de fundo sombrio ornamentado por uma iluminação vermelha, além de várias tochas na parte de cima e muitos solos dos três guitarristas, sendo que Dave Murray fez os mais esbeltos e enquanto isso, o vocalista andava de ponta a ponta do palco carregando a cruz e nos 'abençoando' com ela até cantar os versos finais.

Piromániacos!!!

    A expressão "colocou fogo na casa" você já ouviu correto? Para o Iron Maiden não basta apenas fazer isso com o som, eles precisam, ou melhor, Bruce Dickinson precisa de um lança chamas e dispara fogo das suas mãos enquanto canta a emocionante Flight Of The Icarus, canção do Piece Of Mind, que há 23 anos não estava nos sets da banda e o retorno aconteceu com todo esse brilhantismo, pois, além do que o vocalista fez tivemos um Ícaro gigante e articulado com suas asas abertas e atrás de um plano de fundo de nuvens. Quando tivemos os solos de guitarras de Flight Of Icarus, Bruce Dickinson também 'solou' seus lança chamas disparando frequente e se divertindo com eles tanto que no solo final, antes do Ícaro ser 'desinflado' tivemos fogo vindo do teto do palco, que fez este show do Iron Maiden ser mesmo memorável.

    E a canção que é sucesso desde que foi lançada em 1992 no álbum de mesmo nome e que nunca mais saiu dos sets do Iron Maiden, a Fear Of The Dark já foi reconhecida logo nos primeiros toques nos pratos de Nicko McBrain, recepcionada por muitos "ôôôôôôôôô" e cantada por todos verso por verso até a hora que se acelera, quando todos na pista pularam freneticamente só parando para olhar o vocalista, que agora portava uma máscara e uma cartola ( lembrando O Fantasma da Ópera ), além de segurar uma lanterna verde que apontava para nós enquanto andava na parte de cima do palco. Durante a Fear Of The Dark, os fãs ligaram seus celulares criando uma bela imagem por todo o estádio e como sempre faz... Bruce Dickinson deixou apenas nós cantarmos seu título cada vez mais forte antes da estrofe final da música até a sua condução ao seu emblemático término.

Infernais

    A escuridão durante Fear Of The Dark basicamente foi a transição para o que posso considerar como terceiro ato deste espetáculo sem igual, pois, para a seguinte tínhamos na agulha seus versos iniciais, que foram extraídos do Livro do Apocalypse ( 12:12 e 13:18 ), ou seja, estou falando de The Number Of The Beast do clássico álbum de mesmo nome de 1982. Nesta noite, o Iron Maiden a exibiu com muitas chamas sejam dos candelabros ou das tochas espalhadas pela parte superior do palco, o que fez Bruce Dickinson ficar na nossa frente para cantar sua letra em que Dave Murray sola bravamente suas notas.

    Se estava incandescente, o que aconteceu depois foi o clímax máximo do show com a canção que nomeia a banda e é titulo do primeiro álbum de 1980, que foi cantada a pleno pulmões por todos em que as chamas se intensificaram de uma tal maneira que só culminaria na presença da demoníaca cabeça do Eddie, sem dúvidas, a mais assustadora dentre todas que eles já tiveram nestes 40 anos de carreira. E além de ter seus olhos vermelhos que pareciam fitar cada um de nós ela se mexia e no meio de tudo isso a banda em uma atuação marcante com direito ao reluzente solo de baixo de Steve Harris no meio de Iron Maiden, que há tantos anos adoramos e que fizeram gerações de headbangers pelo mundo mergulhar no Heavy Metal.

     E que bom que dessa vez enquanto que Dave Murray e Adrian Smith solavam, Janick Gers girou sua guitarra várias vezes e a controlou sem jogá-la longe como aconteceu na execução de Iron Maiden em um show anterior desta atual tour. Este momento magnífico foi o final da primeira parte do show e mesmo sabendo que teríamos mais... sabíamos que o vocalista realmente tinha razão e que concordo com ele, para mim... um dos três melhores em solo brasileiro ( ao menos... dos oito que vi ).

Bis

Entre muitos "Olê... Olê... Olê... Maiden... Maiden..." até o retorno da banda parecia um grito de guerra de uma torcida de futebol, até que nas batidas nos pratos feitas por Nicko McBrain ( que passou a maior parte do show com um boné da Rocam - Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas do 2° Batalhão de Choque ) tivemos a The Evil That Man Do, que pertence ao Seventh Son Of A Seventh Son de 1987, que foi cantada por todos novamente passando seu estilo animado - de certa forma - acalmando a avassaladora sequencia de músicas incendiárias executadas anteriormente.

    E sem pausas já a ligaram a uma das que são mais marcantes da história do Metal com a Hallowed By Thy Name ( também do The Number Of The Beast que é uma das minhas favoritas ao lado da Powerslave ) e que o ator Bruce Dickinson com uma camisa branca e com uma forca por perto dava a impressão que ele repensava tudo que fez de errado na vida e pedia perdão por seus pecados, andando lentamente pela parte superior do palco até sentar-se e chegar em sua cela ( as barras de ferro utilizadas passavam mais o ambiente da música ).

    Os solos de Hallowed By Thy Name são contagiantes e ao vivo, em shows como este, são ainda mais deliciosos de se conferirem, pois tivemos Dave Murray e depois Janick Gers solando tranquilamente, enquanto que o vocalista rege a potência dos nossos "ôôôôôôô" e a cada rodada pede para que sejam mais fortes, enfim, é uma das mais puras definições sobre o que é um Heavy Metal.

    Na última música, após quase duas horas de show, o Iron Maiden exibiu mais uma do The Number Of The Beast com a Run To The Hills, anunciada por Bruce Dickinson assim: "galope seu cavalo e beba seu leite, cowboy!", cujos clássicos riffs foram acompanhados de muitas palmas e pelo coro de fãs ( que por todo o show participou com a banda ).

    Contudo, observamos também os belos solos de Adrian Smith com uma Flying V branca e de Dave Murray sempre com sua Gibson. As linhas festivas de Run To The Hills nos deixavam mais alegres a cada segundo e seu backdrop continha uma da imagens do jogo Legacy Of The Beast e esta harmonia seguiu até o momento em que Bruce Dickinson deu números finais ao show literalmente explodindo o palco, sim... ele apertou um detonador no melhor estilo do coiote do desenho Papa Léguas ( só faltou estar escrito ACME nele ) e saiu correndo para escapar das sucessivas explosões que causou até se encontrar com os demais membros da banda, que foram saudados pelo coro incansável de "Olê... Olê... Olê... Maiden... Maiden..." e concluir a célebre apresentação com a frase: "Enquanto vocês estiverem aqui, nós vamos voltar e tocar até morrermos em cima do palco" para pouco depois a música Always Look on The Bright Side Of Life do grupo inglês de humor Monty Pynthon ser tocada nos PA's marcando a despedida deste show da donzela de ferro.

    Exageros à parte, afinal, ninguém quer ver eles morrendo no palco, a certeza dos mais de 62.000 presentes no Estádio do Morumbi era que vimos sim o melhor show de 2019 e um dos melhores de nossas vidas, mas, se a voz do Iron Maiden cravou que foi o melhor da banda no país, quem sou eu para discordar dele? Enfim, que eles retornem mais vezes, porque ver o Iron Maiden é algo que todo headbanger deve fazer ao menos uma vez na vida. E obviamente, quando pisarem novamente em São Paulo não tenha dúvidas que estarei lá.

Texto: Fernando R. R. Júnior
Fotos: cortesia de Marcos César de Almeida - A Ilha do Metal ( www.ailhadometal.com e Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à Ana Beatriz Coelho, Camila Dias e a equipe da Move Concerts e Midiorama pelo credenciamento, atenção e principalmente pela oportunidade
Outubro/2019

Set List do Iron Maiden

1 - Transylvania
2 - Doctor Doctor
3 - Churchill's Speech
4 - Aces High
5 - Where Eagles Dare
6 - 2 Minutes To Midnight
7 - The Clansman
8 - The Trooper
9 - Revelations
10 - For The Greater Good Of God
11 - The Wicker Man
12 - Sign Of The Cross
13 - Flight Of Icarus
14 - Fear Of The Dark
15 - The Number Of The Beast
16 - Iron Maiden

Encore:
17 - The Evil That Men Do
18 - Hallowed Be Thy Name
19 - Run To The Hills
Always Look on The Bright Side Of Life

Voltar para Shows