Paul McCartney - Got Back Tour
Estádio Allianz Parque em São Paulo/SP
Terça, 15 de Outubro de 2024

Quem poderia esperar que em menos de 10 meses o lendário ex-Beatle Paul McCartney estaria de volta na América do Sul? E no Brasil?
É... o Paul tá On!!! E continue nos emocionando com shows dessa magnitude!!!

    Creio que nenhum dos centenas de milhares de espectadores que estiveram no ano passado nas várias datas nas cidades de Brasília/DF, Belo Horizonte/MG, São Paulo/SP, Curitiba/PR e Rio de Janeiro/RJ imaginariam um retorno dele tão rápido no Brasil. E na matéria do segundo show que assisti em São Paulo/SP e o terceiro daquela perna da turnê na capital paulista ( confira aqui ) eu até escrevi: "que a próxima não demore".

    Todavia, não pensei que este meu desejo, quase um delírio, se tornasse realidade tão rapidamente. E que bom que se tornou... Paul McCartney voltou ao Brasil ( e na América do Sul ) para uma nova sequencia de shows ( aqui mais curta é verdade com apenas duas datas em São Paulo/SP nos dias 15 e 16 e uma em Florianópolis/SC no dia 19 ) durante o mês de outubro de 2024 da segunda parte da sua Got Back Tour.

    Ver um show do Paul McCartney é sempre uma experiência memorável, porém, esta passagem que marcou a décima primeira vez do músico pelo Brasil teve um 'algo a mais' ( como se precisasse ) incrível, único e que poderemos descrever com orgulho para todos: a inclusão de Now and Then, a última música gravada pelos Beatles e lançada no dia 2 de novembro de 2023 exibida ao vivo pela primeira vez em seus shows.

    Aliás, este retorno da Got Back Tour foi responsável pela sétima vez dele em São Paulo/SP, a quinta no Allianz Parque em 10 anos ( à saber: Out There! em 2014 - leia matéria, One On One em 2017, Freshen Up em 2019 e Got Back em 2023 e neste ano ) e o meu quarto show em que tive o privilégio de assistir e contar para vocês como foi nestas linhas.

Ao exímio mestre com carinho

    Curiosamente ou uma feliz coincidência, o primeiro show de Paul McCartney no Brasil neste ano foi no dia dos professores, uma terça 15 de outubro em que eu e todos os outros 47.000 fãs presentes puderam acompanhar um especialista em atividade feliz como um garoto que vai para o seu primeiro dia na escola ( detalhe... este aqui tem só 82 anos!!! ) nos concedendo uma aula do mais brilhante Rock'n'Roll de todos os tempos.

    Aproximadamente às 19:30, o DJ Chris Holmes foi ao palco e executou várias músicas da carreira solo de Paul McCartney e dos Beatles para aquecer a multidão que chegava e lotava todos os espaços disponíveis no estádio. Isso durou cerca de 30 minutos e foram executadas músicas como Para Lennon e McCartney homenageando o ilustre fã presente Milton Nascimento e a versão de In My Life feita pela Rita Lee registrando assim a importância da cantora para o Rock Brasileiro.

    Às 20hs, o longo vídeo introdutório do show foi transmitido com o gigante prédio ( quase interminável ) com imagens tanto de toda a carreira de Paul McCartney... desde a infância, nos tempos do Quarrymen, dos Beatles, dos Wings, como artista solo, além de muitas imagens com nomes como Brian Epstein, George Martin, Phill Collins, Pete Best, John Lennon, George Harrison, Ringo Starr, Linda Eastman, Dave Grohl, Bruce Springsteen, entre tantos outros.   

    Além disso tivemos também imagens de capas dos discos dos Beatles, dos Wings e dos solos de Paul McCartney ( que é legal olhar e lembrar quais temos e quais ouvimos ultimamente ) e novamente, ele confirmou o seu posicionamento com relação a invasão russa na Ucrânia, pois, tivemos uma imagem dele segurando a bandeira do país invadido.

    Este vídeo prosseguiu por praticamente 30 minutos até que chegamos ao topo do prédio com o baixo Hofner voando pelo espaço ao som de músicas como I'm Wanna Be Your Man dos Beatles, Oh! Darling dos Beatles, Coming Up e Mrs. Vanderbilt da carreira solo de Paul McCartney entre várias outras até culminar em The End dos Bealtes.

Boaaa noiteee Paauuullll!!!!

    Desta forma por volta das 20:30hs, Paul McCartney com seu blazer preto, com destaque em azul escuro e sua barba grisalha por fazer entrou no palco sorrindo e acenando discretamente para os fãs junto a Paul "Wix" Wickens ( teclados, acordeom, gaita, violão, percussão e direção musical ), Brian Ray ( baixo, guitarra, violão e backing vocals ), Rusty Anderson ( guitarra, violão e backing vocals ) e o animado Abe Laboriel Jr ( bateria, percussão e backing vocals ) iniciaram o show com a elétrica A Hard Day's Night, que intitula o terceiro disco dos Beatles de 1964 e que foi cantada por todos os presentes com fortes vozes, sendo que ficamos emocionados por estarem (re)vendo o músico e sua banda totalmente afiada.

    Sem tempo para poder pensar, eles continuaram com uma do Wings, o festivo Rock'n'Roll Junior's Farm, que foi obviamente cantado por muitos e este single que saiu em 1974 contou com Brian Ray e Rusty Anderson exibindo ótimas linhas em suas guitarras. Bastante aplaudido, o sempre muito simpático e cheio de vitalidade Paul McCartney nos disse em português: "E aí São Pauloooo... Boa noite Brasil..." em português e completou: "É bom estar de volta aqui..." e nós vibramos consideravelmente saudando-o.

    Ainda no Wings, mas agora no álbum Venus and Mars de 1975, ele escolheu a Letting Go com sua pegada envolvente e que trouxe a primeira participação do trio de metais Hot City Horns, que conta com Paul Burton no trombone, Kenji Fenton no saxofone e Mike Davis trompete.

    Outra vez eles não estavam no palco e sim no meio da galera - no lado esquerdo do estádio - e deu para ver e sentir suas atuações empolgantes. Tivemos também em Letting Go um curto solo de Rusty Anderson em sua guitarra e toda a riqueza que os metais trazem em algumas canções, que faço questão de ressaltar aqui, pois, por um momento ficaram somente os três e nós nas palmas com Paul McCartney comandando a harmonia.

E o Pai continua on!!!

    Todo gentil, Paul McCartney disse: "Esta noite vou tentar falar um pouquinho de português...", e  colocou o estádio para dançar com Drive My Car do álbum Rubber Soul de 1965 e enquanto eles davam um show de interpretação, no telão tínhamos imagens de lindos carros de várias épocas e modelos sejam esportivos, de corrida ou de passeio.

    Com um sonoro "Thank You", ele prosseguiu o show ainda com seu baixo Hofner para cantar a envolvente Got To Get You Into My Life, gravada no sétimo disco dos Beatles, o Revolver de 1966, e a voz de Paul McCartney continua perfeitamente forte e nós todos só podíamos cantar com ele seus versos e, especialmente, o seu refrão. Nos telões desenhos animados retratando a beatlemania.

    Outro "Thank You..." pronunciado por ele precedeu a frase em que fiz uma pequena analogia no começo desta matéria e que levou muitos aos risos ao ver ele dizer ( obviamente sabendo o que significa ): "O pai tá on!!!" para então executar a Come On To Me do Egypt Station de 2018, que como muitas das canções solo de Paul McCartney é contagiante, fácil de memorizar sua letra e provoca vontade de dançar ( o que muitos fizeram ).

    Entre muitos lasers azuis saindo do palco para todos os lados do estádio, Come On To Me proporcionou uma nova participação do trio Hot City Horns e um prolongamento que garantiu novos sorrisos no rosto de Paul McCartney e aquela interação fascinante entre a banda e plateia.

    Antes de seguirem Paul McCartney tirou o blazer provocando muitos assovios, fez alguns gestos que classifico como algo próximo à uma dança e então pegou uma guitarra Gibson Les Paul de pintura  psicodélica, Brian Ray assumiu o baixo e com esta mudança de posições escolheram do esplêndido álbum Band On The Run de 1973 dos Wings, a canção Let Me Roll It, que estava na ponta da língua do público, pois, participamos intensamente e recebemos em troca um solo de Paul "Wix" Wickens em seus teclados ( que há 35 anos está na banda ), a magia de Paul McCartney ao cantar seus versos e um mergulho até Foxy Lady de Jimi Hendrix com tanto a estrela principal da noite quanto Rusty Anderson solando muito suas guitarras. Caso alguém não soubesse que Foxy Lady é de Jimi Hendrix, Paul McCartney enfatizou este detalhe e disse que viu o músico americano em Londres nos anos 60.

    Não foi só a guitarra psicodélica que tivemos no show, pois, a positivíssima Getting Better do aclamadíssimo Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band de 1967 incluiu um início falso, como se eles tivessem errado e aí a psicodelia tomou conta do Allianz Parque com os visuais do estilo expostos nos telões ( imagens de uma terra desolada que o verde começa a brotar no andamento da música ), e isso, sem mencionar o clima que esta música deposita no ar e toda a atuação impecável da banda.

    O multi instrumentista Paul McCartney foi até ao grande piano de cauda Yamaha montado ao lado do baterista Abe Laboriel Jr para cantar de lá a Let 'Em In do disco Wings At The Speed Of Sound de 1976, canção que possui um estilo melancólico, metais do trio Hot City Horns com direito à um solo de trombone de Paul Burton e a Rusty Anderson utilizar uma Gibson SG preta, além de assovios e repiques na bateria lembrando bandas marciais que diversas delas apareciam no telão principal.

Romântico

    "Eu escrevi esta música para a minha amada esposa Nancy, ela está aqui hoje!!!" e faz um coração com as mãos. Desta forma simples e apaixonada, Paul McCartney ainda no piano tocou a balada My Valentine ( do álbum Kisses Of The Bottom de 2012 ) e dedicou a sua esposa Nancy Shevell, sendo que nos telões víamos imagens de seu videoclipe.

    Depois foi a vez de outra daquelas que chacoalham o estádio e estão entre as melhores dos Wings com a Nineteen Hundred and Eighty-Five do já citado e clássico Band On The Run e ver Paul McCartney no piano cantando e tocando com toda a sua desenvoltura e precisão é algo único, que pude repetir novamente nesta terça feira em meio à muitos lasers, que foram tão singulares quanto a música e se espalharam pelo Allianz Parque. Outro ponto foram os solos certeiros de Rusty Anderson em sua guitarra.

    Outro grande sucesso solo de Paul McCartney que impacta fortemente foi a Maybe I'm Amazed, que inclusive foi o primeiro hit pós Beatles e registrada no álbum McCartney de 1970 com os telões mostrando imagens do início da década de 70 e do filho dele com a saudosa Linda Eastman passando uma sensação de família mesmo. E que outra performance irretocável nesta música seja em sua parte instrumental ou nos seus vocais, que mostraram a alegria de Paul McCartney ao cantar seus versos, que resultaram em muitas palmas.

Intimista

    Enquanto ele desceu do piano, foi para o centro do palco, pegou um violão e testou a nossa animação saudando o lado esquerdo, direito e no centro. Com o resultado aprovado, fomos questionados se queríamos voltar aos bons tempos e assim recebemos o saboroso Country Rock'n'Roll presente em I've Just Seen a Face ( do Help! dos Beatles de 1965 ) e vociferamos seu refrão com ele.

    Bradando um "Thank You..." e um "da hora!!!", ele informou que voltaria mais ainda no tempo, para a um pequeno lugar no norte da  Inglaterra e em Liverpool, quando quatro garotos fizeram um gravação e com todos os outros membros banda próximos ele disse: "A primeira canção que os Beatles gravaram...".

    E o cenário ao fundo modificou-se e vimos uma casa antiga atrás deles, já emitindo a sensação de que não era mais um estádio com milhares de pessoas, e sim uma casa na fazenda com eles tocando para poucos amigos e amigas de forma simplista.

    Neste momento apresentaram o Rock'n'Roll leve contido em In Spite Of All The Danger ( do The Quarrymen ) nos violões, onde foi o real começo de tudo e sua exibição aconteceu em forma de gala. Muito bacana que os fãs continuaram os "ôôôôôôôôô" repetidamente até que eles fizeram um pequeno prolongamento da música. É bem verdade que muitos continuaram nos "ôôôôôôôôô" projetando uma nova extensão na canção, que infelizmente não aconteceu.

    Todavia, Paul McCartney disse que tocaria a primeira canção gravada pelos quatro garotos ( Beatles ) com George Martin no Abbey Road Studios e ao perceber que se tratava de Love Me Do ( do Please, Please Me de 1963 ) reagimos em forma de um coro que só posso classificar como impressionante. Na versão original como John Lennon estava na gaita, Paul McCartney teve que cantar seus versos ( por sugestão do produtor George Martin e ele relata que na época ficou em nervoso por ter que cantar essa parte sozinho ), porém, em seus shows não tem problemas, ele canta tranquilamente e o fiel escudeiro Paul "Wix" Wickens comanda com muito capricho a gaita.

    Reparando no casarão deu para perceber que a lua estava incidindo nele e a imagem ficando mais clara demonstrando o passar do tempo, com a noite transformando-se no alvorecer e logo após ouvirmos a questão proferida pela estrela máxima da noite: "Everebody gonna dancing tonight?", ficou denunciado qual música seria tocada e Dance Tonight do álbum solo Memory Almost Full de 2007 foi a selecionada com Paul McCartney no mandolim e o engraçado baterista Abe Aboriel Jr. fez 'dancinhas' que certamente fazem sucesso no Tik-Tok e também garantiram muitos sorrisos, pois, ele dançou a música Macarena, e cá entre nós, olhando seu estilo... o cara leva jeito e se divertiu muito e nós também, graças as suas impagáveis caretas.

    Sozinho no palco, Paul McCartney tocou a lindíssima Blackbird do White Album dos Beatles e à maneira que dedilhava seu violão, a plataforma elevou-se até chegou ao seu topo e vímos o 'pássaro preto' voando tal como sua letra, e desta forma, ele imortalizou este momento em que todos cantaram com ele e ligaram as luzes de seus celulares conferindo uma aura maravilhosa no show.

    "Esta música é para o meu querido mano... John..." falou Paul McCartney lá do alto e assim apresentou a balada muito sentimental Here Today gravada no Tug Of War de 1982 e que foi tocada com uma iluminação belíssima em deu para sentir a sua voz emocionada nesta homenagem à inigualável John Lennon, que faria 84 anos no dia 9 de outubro, poucos dias antes das datas no Brasil.

História em movimento

    Relativamente sem avisar tivemos o momento mais emblemático desta noite com a execução ao vivo da última música dos Beatles lançada há menos de um ano, que é pura nostalgia beatlemaniáca e que foi exibida ao vivo pela primeira vez no Brasil e se ao ver as suas imagens no telões ( diferentes do videoclipe ) já passou um filme em minha cabeça sobre tudo que ouvi dos Beatles desde há muitos anos, imagine na cabeça de Paul McCartney que viveu cada momento com a banda.

    E Paul McCartney foi para um órgão psicodélico no centro do palco e aliado com os músicos de sua banda, eles produziram um ambiente sem igual e que cantamos cada verso de Now and Then com ele com uma euforia volumosa, pois, sabíamos que presenciamos a história. Rusty Anderson fez solos usando um slide em sua guitarra e meus amigos que solos de teclados combinados tivemos conferindo um ar viajante.

    Ainda neste órgão psicodélico, Paul McCartney tocou a New ( que empresta seu título ao décimo sexto disco de estúdio de 2013 ) e além da sua melodia cativante tivemos o trio de metais, a voz suave de Paul McCartney, ritmo Rock'n'Roll e um show de luzes inspirado nas cores do disco, em suma, simplesmente fantástico e admirável. Ele olhou para a galera com um olhar meio que 'pagando pau' para nós mesmo aos 82 anos de vida ainda ficando impressionado com o público.

    Entretanto, a verdade é que nós estávamos enfeitiçados com sua atuação e dizendo apenas "Saoo Pauuulooo" tocou a Lady Madonna, single de 1968 dos Beatles que é uma delícia de se ouvir e serviu para homenagear às mulheres ressaltando sua importância seja em qual tarefa que elas proponham-se fazer.

Inflamando de vez

    Na sequencia do show, Paul McCartney pegou o velho baixo Hofner sacou Jet, uma das minhas favoritas de sua carreira fora dos Beatles e este sucesso do Wings gravado no álbum Band On The Run desfrutou do uso perspicaz do trio de metais, dos vocais, dos teclados de Paul "Wix" Wickens, dos riffs e além disso, uma intensa participação dos fãs cantando com ele e berrando seu título.

    Brincando com a voz, Paul McCartney nos fez soltar uns "Oooh Yeah... Oohh Yeah...Yeah..." e uns gritos até mais fortes antes de levar o ritmo circense e psicodélico de Being For The Benefit Of Mr. Kite! do Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band para o Allianz Parque, inclusive, isso ficou devidamente marcado com as imagens multicoloridas e em estilo de 1967 estampadas nos telões e nos lasers.

    Após trocar o Hofner por um ukelele, Paul McCartney falou o nome do instrumento e complementou em inglês: "Este foi dado para mim pelo George", e na nossa língua: "Esta canção é dedicada ao meu parça George...", desta maneira simpática e divertida, ele cantou Something ( gravada no Abbey Road em 1969 pelos Beatles ) uma das melhores e mais bonitas composições de George Harrison nos Bealtes, que cantamos emocionados sua letra vendo as imagens de Paul McCartney e George Harrison nos telões e sentimos os seus esbeltos solos de guitarra feitos por Rusty Anderson.

    Feita a substituição do ukulele por um violão, Paul McCartney terminou a Something e durante os aplausos do fãs disse: "Thank You Sao Paulo... Thank George for one beatiful song". Para a festiva Ob-La-Di, Ob-La-Da do White Album, o baixo Hofner foi recrutado novamente e esta música colocou a galera para cantar, dançar, pular e aplaudir no ritmo da música ante aos metais do The Hot City Horns e os risos de Abe Aboniel Jr..

    Logo em seguida tivemos a majestosa Band On The Run do Wings ( que intitula o álbum ) e que é a minha predileta composição de Paul McCartney fora dos Beatles, pois, se trata de uma música primorosa... onde voz, melodia, instrumentos, enfim... tudo funcionou perfeitamente sincronizado, e aí meu caro leitor(a) do Rock On Stage, o êxtase foi garantido e todos aqueles milhares de fãs no estádio sentiram uma energia sui generis, que cresceu mais e mais a cada uma das canções exibidas nesta reta final da primeira parte do show.

    Paul McCartney elevou ainda mais esse sentimento maravilhoso com Get Back ( do Let It Be de 1970 ), que também foi cantada em uníssono e foram exibidas imagens do documentário Get Back ( versão do cineasta Peter Jackson - O Senhor dos Anéis ).

    E Get Back é um Rock'n'Roll imbatível que mesmo passados mais de 50 anos de seu lançamento, a canção ainda mexe muito com quem a ouve, de forma que relembro aqui: se você foi um afortunado que viu ela diante de seu criador em ação... sabe porque agitamos tanto quanto nossos corpos permitiram. Paul McCartney ergue o Hofner, ameaça jogá-lo, mas, não iria desfazer-se de uma joia dessas assim, era só uma brincadeira tanto que com os dedos ele fez o gesto de não.

    Com um rápido "Thank You...!!!" em agradecimento aos fãs, ele regressou ao piano de cauda para de lá enviar a clássica e comovente balada Let It Be, título do disco Let It Be, onde as luzes dos celulares foram ligadas produzindo um efeito muito gracioso por todo o estádio, um coro gigantesco e creio que até lagrimas em muitos.

     Após uma imagem do Palácio de Westminster ( que explode inteiro no decorrer da canção ), local onde fica o Parlamento de Londres, Paul McCartney no piano iniciou a Live and Let Die, música que gravou nos Wings para o filme 007: Live and Let Die, basicamente... a melhor canção de abertura dentre todos os filmes do famoso agente secreto inglês James Bond.

    Tal qual no ano passado, a sua execução foi sensacional e repleta de todos os efeitos pirotécnicos utilizados pela banda, pois, tivemos explosões, fogos de artifício, muitos lasers, fumaça, labaredas de fogo ( que deu para sentir o seu calor ) tudo no andamento da música em outra interpretação fabulosa de Paul McCartney e sua banda.

Manos e minas

    Muito aplaudido, Paul McCartney desceu do piano de cauda e foi até  o órgão psicodélico para tocar uma das mais conhecidas canções dos Beatles em todos os tempos e que possui com incontáveis versões: Hey Jude, single lançado em 26 de agosto de 1968, que foi acompanhada por todos e teve milhares de lanternas de celulares outra vez ligadas resultando em algo lindo de se ver ( quando você se permitia olhar para trás ).

    Em Hey Jude não foi suficiente apenas cantar sua letra... tínhamos que gritar o mais alto possível seu refrão ( aquela parte do "Na, na-na-na-na-na-na-na-na, Hey, Jude..." ) em uma catarse coletiva que só um ícone como Paul McCartney é capaz proporcionar ao executar esta sua composição dos tempos dos Beatles.

    Além deixar somente nós repetindo os versos sem a banda... foi muito bacana quando ele disse: "Só os manos..." para que somente os homens cantassem e depois complementou: "Ok... só as minas...." para que tivéssemos a vez das mulheres, que sinceramente superaram nós homens... parabéns garotas. E por fim, Paul McCartney falou: "Toda a galera....", e obedecemos no momento em que a felicidade tomou de todos para valer de forma que não queríamos que este estado de contentamento acabasse.

    E aí você pensa na diferença que a música faz para melhor... pois, se briga por tanta coisa no mundo, existem tantas guerras por motivos idiotas e um show do Paul McCartney como o desta noite... mais de 47.000 pessoas vivendo em paz e harmonia com ex-Beatle pelas quase três horas do tempo total do show. Enfim, divagações à parte, bastante aplaudidos, eles se despediram e saíram do palco finalizando assim com excelência a primeira parte do show.

Novamente um bis notável

    Antes de começarem o bis, que foi todo dedicado aos Beatles, eles voltaram segurando bandeiras do Brasil - Paul McCartney, da Inglaterra - Paul "Wix" Wickens e da comunidade LGBT+ - Brian Ray - agradecendo a recepção de todos na plateia.

    Na hora que estavam em seus postos, Paul McCartney indagou "One more?" e com a Gibson Les Paul psicodélica dedilhou as notas da formosa I've Got a Feeling ( do Let It Be ) cantando com a determinação de sempre a primeira parte e depois realizou o dueto virtual com John Lennon, cujas imagens nos telões foram extraídas do show no telhado do prédio da Apple em que ele olha atentamente para o amigo e certamente ficou também sensibilizado ao lembrar de tudo que eles passaram juntos nos anos 60. E I've Got a Feeling contou com um prolongamento puramente Rock'n'Roll feito por ele e pela banda de forma que fica explicado porque shows assim ficam eternizados em nossas mentes.

    Paul McCartney falou "Thank You... Thank John..." e um fã gritou: "I'm Love You Paul...." e o atento cavalheiro respondeu: "I'm Love You Too...", em seguida perguntou: "Does anyone have a birthday today?", que foi a deixa para elevar a adrenalina depois do momento tocante da anterior com Birthday, canção que te joga para cima e faz pular sem parar.

    Bacana que nos shows do ano passado ele tocou nesta hora as músicas I Saw Her Standing There e Day Tripper de forma que tivemos uma variação no set list, mas, cá entre nós, se ele incluísse as duas também novamente e na sequencia... tenha certeza que ninguém reclamaria.

Extraordinário

     Podia ficar melhor? Claro que sim estamos falando de Paul McCartney e ele disparou a Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band ( Reprise ) relembrando do melhor álbum dos Beatles na minha opinião ( o Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band ) e ligou em Helter Skelter ( do White Album ) com seus solos e ritmo explosivos, que podemos considerar como o primeiro Heavy Metal da história e impressionantemente... Paul McCartney depois de quase três horas de show cantou uma das músicas mais difíceis no final do set com a voz cheia de potência nos fazendo refletir: como ele mantém sua voz tão poderosa do começo ao final do show?

    Bem... vimos um Heavy Metal dos Beatles antes do termo ter sido inventado para definir o estilo com direito à uma sessão de improvisos em que Rusty Anderson brilhou nos solos de guitarras, além de outro show de lasers e luzes.

     Com uma pausa suficiente apenas para Paul McCartney ir até o piano de cauda e de lá brincar dizendo: "É hora de ir embora..." para que nós exclamássemos: "Nãooooooooo..." e ele: "Ok..." para assim apresentar cada um da equipe técnica ( segundo ele: "The best crew on the planet" ), dos músicos da sua banda  e também do trio The Hot City Horns, que receberam nossos aplausos e ele ainda enfatizou que o mais importante somos nós, o que rendeu um "Thank You Paul..." de nossa parte.

    Iniciando a melancólica e épica trinca que encerra o álbum Abbey Road tivemos Golden Slumbers com Paul McCartney no piano de cauda enquanto que você saboreia em sua mente o prazer que é estar em um show dele e canta extremamente feliz cada verso da música que se conecta a Carry That Weight com os solos magníficos de guitarra e toques bateria feitos por Rusty Anderson e Abe Aboniel Jr., respectivamente.

    Vale dizer que seus breves prolongamentos serviram para que Paul McCartney fosse até a frente do palco para cantar os versos "Love You" em meio à muitos solos de guitarras ( elemento essencial do Rock ) e a The End, cujo verso final deveria ser um mantra para todos nós em nosso dia a dia: "E no fim, o amor que você dá é igual ao amor que você recebe". E isso aconteceu com o telão principal exibindo uma imagem psicodélica com um coração colorido com um verde amarelo no centro.

Até Breve Paul...

    E Paul McCartney sempre nos deu amor ao longo de 8 décadas. Sim... ele está atividade desde 1958, ou seja, décadas de 50, 60, 70, 80, 90, 2000, 2010, 2020 tivemos e temos Paul McCartney com o Quarrymen, com os Beatles, com os Wings e como artista solo nos encantando com seus shows, discos, vídeos e principalmente... suas músicas.

    Ao se despedir, Paul McCartney afirmou: "Thank You Sao Paulo... Thank You Brazil... Até a próxima!!!" em um ótimo português. Longa vida Paul McCartney... e aguardamos seu retorno para 2025, pois, se no ano passado ficou uma interrogação no ar se ele poderia parar... agora temos a certeza que voltará enquanto puder para um novo show. Muito obrigado professor Paul McCartney por cada uma de suas 40 apresentações no Brasil ( incluindo as três deste ano )  onde explanou profundamente o seu grande amor pelo Brasil.

    Após a despedida, uma chuva de papéis picados caiu da frente do palco e ao som de No More Lonely Nights fomos embora do Allianz Parque absolutamente satisfeitos e tenho que terminar esta matéria com um novo agradecimento para todos da atenciosa, gentil e educada equipe da Fleishman Hillard, da Bonus Track e da 30E por esta oportunidade ímpar em minha vida em cobrir três shows de Paul McCartney em menos de um ano.

Texto: Fernando R. R. Júnior
Fotos: Marcos Hermes e Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos para a equipe da Fleishman Hillard, da Bonus Track e da 30E
pela oportunidade, atenção e credenciamento
Outubro/2024

Set List de Paul McCartney

1 - A Hard Day's Night
2 - Junior's Farm
3 - Letting Go
4 - Drive My Car
5 - Got to Get You Into My Life
6 - Come On to Me
7 - Let Me Roll It
8 - Getting Better
9 - Let 'Em In
10 - My Valentine
11 - Nineteen Hundred and Eighty-Five
12 - Maybe I'm Amazed
13 - I've Just Seen a Face
14 - In Spite of All the Danger
15 - Love Me Do
16 - Dance Tonight
17 - Blackbird
18 - Here Today
19 - Now and Then

20 - New
21 - Lady Madonna
22 - Jet
23 - Being for the Benefit of Mr. Kite!
24 - Something
25 - Ob-La-Di, Ob-La-Da
26 - Band on the Run
27 - Get Back
28 - Let It Be
29 - Live and Let Die
30 - Hey Jude

Encore:
31 - I've Got a Feeling
32 - Birthday
33 - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band ( Reprise )
34 - Helter Skelter
35 - Golden Slumbers
36 - Carry That Weight
37 - The End

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