Unisonic
Abertura: Gotthard
Sexta, dia 18 de maio de 2012 no HSBC Brasil em São Paulo/SP

    Desde que fez história no Helloween, o frontman Michael Kiske foi sempre considerado como um dos maiores vocalistas que já tivemos no Power Metal, porém sua trajetória na banda teve vida curta, durando apenas o tempo de gravar alguns dos melhores e mais referenciados álbuns do estilo, os famosos Keeper The Seven Keys I e II  ( outros dois álbuns contaram com seus vocais, mas não tiveram a mesma importância que estes dois ) e ao contrário do excelente guitarrista e parceiro no Helloween Kai Hansen, que construiu uma sólida carreira à frente do Gamma Ray, Michael Kiske, meio que sumiu do cenário do Heavy Metal, constando apenas os lançamentos de alguns álbuns solos e participações nas bandas Suprared e Place Vendome, que pouco acrescentaram a um músico desse gabarito.

    Mas, como o mundo dá voltas e muitas são positivas, o seu novo projeto intitulado Unisonic recebe o amigo Kai Hansen nas guitarras em 2011, exatamente após ambos tocarem juntos no Avantasia de Tobias Sammet ( inclusive a passagem no Brasil em 2010 - veja mais detalhes aqui - deu mesmo a entender que eles poderiam gravar juntos novamente ). E como acontece com toda a banda que consolidada e solidifica sua formação, o Unisonic nascia forte e após o primeiro EP Ignition ( leia resenha ) seguido pelo primeiro álbum autointitulado mostrava que a banda composta pelos dois ícones do Power Metal e também pelo renomado produtor Dennis Ward no baixo, Kosta Zafiriou na bateria e o ex-Gotthard Mandy Meyer na segunda guitarra, prometia e muito. Aliás, a presença de Mandy explica muito bem o porque do Gotthard como open-act do show do Unisonic e antes de comentar mais sobre os alemães, vamos aos detalhes de como foi o Gotthard.

Gotthard

    A banda suíça Gotthard surgiu em 1989, quando o vocalista Steve Lee e o guitarrista Leo Leoni confirmaram que o melhor nome para seu novo projeto seria o de uma grande montanha rochosa do seu país, assim eles gravaram vários álbuns com o melhor do Hard Rock e ficaram conhecidos no Brasil após realizarem um dos melhores shows do Live´N´Louder de 2005 ( confira aqui como foi ) até que uma tragédia abateu-se na banda: o carismático Steve Lee faleceu no inicio de outubro de 2010 após um caminhão desgovernado lançar uma moto no vocalista no estado de Nevada nos Estados Unidos.

    O fato fez o Gotthard quase parar suas atividades, mas, eles retomaram sua trajetória com o vocalista Nic Maeder, que tem a dura missão substituir o citado Steve Lee. E assim, o Gotthard voltou ao Brasil nesta única apresentação para divulgar seu mais recente lançamento, o álbum Firebirth, gravado pelos citados Leo Leoni e Nic Maeder, além de Marc Lynn no baixo, Freddy Schere na guitarra e Hena Habegger na bateria. É... como a música do Queen The Show Must Go On ( o show deve continuar )... o Gotthard encontrou forças e veio ao HSBC Brasil disposto a realizar um espetáculo digno tanto para a abertura do Unisonic quanto para as tradições do Hard Rock.

    E precisamente como um relógio de seu país de origem o quinteto veio ao palco no horário marcado para realizar um show muito bom, aberto com Dream On e a potente música colocou os fãs presentes ( sejam do Gotthard ou do Unisonic ) para vibrarem na energia que as guitarras de Leo Leoni e Freddy Schere produziam com seus riffs. Mesmo os vocais de Nic Maeder sendo mais graves que os de Steve Lee, a verdade é que a música colocou o HSBC para balançar mesmo.

    E enquanto eu estava no pit dos fotógrafos, a banda realizava um show mostrando o prazer que um Hard Rock bem tocado cria em seus fãs, e neste clima positivo, Top Of The World foi apresentada seguida da sonzeira presente em Starlight, essa uma composição nova foi muito bem recebida por todos os fãs, que compareceram em um grande número logo neste inicio de noite, e além de cantar Nic Maeder também pega na guitarra e toca muito bem, claro, que os solos cabem ao líder Leo Leoni e sua Gibson, mas registro os meus parabéns ao vocalista.

    Depois, o Gotthard toca Sister Moon e é acompanhado nas palmas de seus fãs, que apreciam bastante, então o vocalista fala quão fantástico é estar no Brasil e conduz o show nas mãos. Desta maneira o quinteto executa a mais lenta Master Of Illusion, mas, com uma pegada Hard Rock que recebe o acompanhamento nas palmas. Leo Leoni sola a cada música sua guitarra nos passando uma eletricidade única, que somente quem utiliza uma guitarra Gibson sabe passar e assim sentimos todo o feeling de Need To Believe, que fica ainda melhor com o prolongamento que o Gotthard impôs à música fazendo-a tornar-se o primeiro ponto alto do show.

    Sem parar e inflamando a plateia Nic Maeder mostra que também possui muito carisma ao cantar Give Me Real, outra do novo trabalho Firebirth. Depois o baixista Marc Lynn agradece a presença de todos enquanto o vocalista pega um violão para tocar outra nova, agora com Remember It´s Me e foi bacana ver o vocalista dizendo um "Tudo bem" em português e fazendo as últimas notas no violão sozinho.

    Depois, o vocalista pergunta se estamos bem, e mostra que não são apenas os fãs que sempre se relembrarão de Steve Lee, o Gotthard também, pois Nic Maeder não só reconhece sua importância, como dedica música seguinte para ele e canta One Life, One Soul praticamente à capela, com apenas o acompanhamento do piano e as milhares de vozes dos presentes, isso caracterizou um momento muito bonito, que se Steve Lee, lá de cima acompanhou, com certeza também se emocionou.

    Com o retorno de todos os membros da banda, com as guitarras devidamente plugadas e com direito à um "Are You Ready" dito pelo vocalista, o Gotthard executa a excelente Mountain Mama com seu ritmo pulsante que cria uma grande interação entre banda e plateia. E se não fosse suficiente o líder Leo Leoni usa e abusa da 'talk box' falando inclusive vários "Are You Ready" e outras palavras que não me lembro.

    Nic Maeder mostra que aprendeu o básico de português direitinho ao soltar um "Como Vocês Estão" na nossa língua e instiga a galera a cantarolar com ele Hush, cover de Billy Joe Royal regravada também pelo Deep Purple, música que não tem como ouvir e não sair dançando, ainda mais quando é tocada com um vocalista animado, que fez seus fãs cantarem com ele os "lalaallaaallaalaaa..." e  com a devida garra por uma banda como o Gotthard. Mais ao final, Leo Leoni aplica toda sua técnica na guitarra e podem falar o que for, mas a verdade é que é bom demais ouvir solos bem feitos dessa maneira que ele realizou em sua Gibson branca.

    Em seguida, os suíços fizeram todos pularem com a energia de Lift U Up, que exibe um repique vindo da bateria de Hena Habegger que é para balançar mesmo - e seus "ooooo" iniciais foram cantados por todos no andamento quente muito bem amplificado pelos eletrificados solos de Leo Leoni e Freddy Schere. Para encerrar o seu excelente show, o Gotthard explode para valer o HSBC Brasil com Anytime Anywhere e seus guitarristas solam com moral para que Nic Maeder cante com firmeza junto à pegada firme do baterista Hena Habegger e este realizou um solinho em sua bateria no final ( viu Mr. Portnoy!!! - solo de bateria não precisa ser longo para ser bom, então sole!!! ).

    Assim o quinteto se reúne no palco e despede de seus fãs e posso seguramente exclamar: que showzão!!! E o Gotthard provou que não veio apenas para ser uma banda de abertura, eles mostraram que podem no futuro também serem os headlinners da noite.

Set List Gotthard

1 - Dream On
2 - Top Of The World
3 - Starlight
4 - Sister Moon
5 - Master Of Illusion
6 - Need To Believe
7 - Give Me Real
8 - Remember It's Me
9 - One Life, One Soul
10 - Mountain Mama
11 - Right On
12 - Hush
13 - Lift U Up
14 - Anytime Anywhere

Unisonic

    A expectativa para ver o Unisonic era grande e ansiada por cada um dos presentes no HSBC Brasil, pois estaríamos diante de Michael Kiske em uma banda de Heavy Metal para um show completo, fato que não acontecia desde os seus tempos no Helloween ( e detalhe, ele nunca esteve no Brasil para uma situação assim ) , e finalmente quando as luzes foram apagadas por volta das 23:10, a melodia de Walkürenritt ( ou A Cavalgada das Valquírias de Richard Wagner ) trouxe todo o glamour do espetáculo que estava começando, pois, cada um dos membros toma seu posto e o mais aguardado de todos, o frontman Michael Kiske entra cantado a eletrizante e rápida Unisonic, que toma de assalto os corações de cada um dos presentes, que reagiram agitando por toda a casa intensamente e cantando a letra com ele.

    A alegria de ver Michael Kiske em seu primeiro show completo em solo brasileiro era imensa, contagiante e certamente emocionou o alemão, que mostrou que o tempo não passou para ele, pois sua voz continuava forte e poderosa como nos tempos de sua antiga e famosa banda. E neste início de show, o Unisonic não queria parar a energia que nos passavam e sem pausa seguiram com a tremulante Never Too Late, e não posso deixar de destacar as guitarras de Kai Hansen e Mandy Meyer, que em excelentes atuações que aumentaram nossa felicidade pela adrenalina que passaram.

    Então, antes da terceira música Michael Kiske nos contou que estava curioso em saber onde estavam os fãs que cercaram seu hotel na manhã do show, pois, segundo ele, estes fãs foram uma amostra do público brasileiro e queriam lógico, tirar fotos com ele, e perguntaram se ele não se importava em tirar fotos, etc, e aí ele foi enfático ao dizer que o público não o incomoda, que o público é de fato o 'chefe' da banda e eles só existem pela nossa causa. Muito gostoso ouvir isso de um ícone como ele. Nem é preciso dizer que ele foi aclamado por isso, não é?

    Depois, o Unisonic inicia uma das melhores músicas de seu primeiro cd com Renegade, com um andamento mais cadenciado que evidencia o baterista Kosta Zafiriou, cuja bateria estava com uma pegada bem forte e foi também um diferencial no show junto aos solos da dupla Hansen/Meyer, aliás, ambos não só solavam com precisão, pois Kai e o baixista Denis deram mais beleza ao show com seus backing vocals bem feitos. Apesar serem uma recém formada, o Unisonic é composto só de feras e aí é até fácil manter todos os fãs ligadinhos no show, o que acontece com King For A Day, e olha tem que se ter um garganta muito boa para cantar com a perfeição vista algumas notas desta música e de outras que rolaram no set.

    E outra coisa importante para que o show fique na memória é ter uma banda empolgada no palco, e o quinteto estava e muito, pois todos, seja Kai Hansen, Michael Kiske, Dennis Ward ou Mandy Meyer, se movimentavam bastante e o vocalista chegou a descer no "pit", pegou uma faixa com os dizeres em inglês Kai, throw me a pick” ( Kai, joga uma palheta ) e fez o guitarrista deixar esse fã brilhando de felicidade.

    Recebemos na sequencia I´ve Tried com seu ritmo cativante dotado de belas 'viajadas' nas guitarras, que ao vivo penetram fundo na alma e exibem um refrão daqueles para todos cantar juntos, e a galera no HSBC cantou 'feliz da vida'. Mas, foi com a rapidez do Power Metal de My Sanctuary com seus vibrantes solos, que os fãs se contentaram mesmo ( lógico que a música Unisonic foi uma catarse só, mas nesta olha... não dava para ficar parado ) e com direito até um "ôôôôôôô..ôôôô" e muitas palmas.

    E os alemães sabiam que seria um sacrilégio para os fãs se eles não tocassem algumas músicas do Helloween, e apenas para apimentar um pouco mais, Michael Kiske perguntou "se alguém queria ouvir algo das antigas" e afirmou que faziam 20 anos que não tocava e que pertenciam à uma banda chamada Helloween.

    Como já era de se imaginar a reação dos presentes foi um 'sim' e March Of Time ( do Keeper Of The Seven Keys II ) entrou como uma lança em cada um e levou sua harmonia Heavy Metal direta no coração, que foi melhor até que a última vez que vi o Helloween tocando essa música por aqui, pois Kai Hansen em sua Flycaster e Kiske solto com sua voz são muito melhores que Sascha Gerstner e Andi Deris ( me perdoem fanáticos seguidores dos abóboras, mas... ).

    E mantendo o clima tivemos uma 'palinha' de Follow The Sign ( do Keeper Of The Seven Keys I só nas guitarras de Hansen e Meyer ) e os fãs que até então só haviam gritado o nome de Michael Kiske, finalmente fizeram justiça e gritaram "Hansen... Hansen". Essa primeira lembrança me confirmou uma coisa: Kiske e Hansen no palco são mais Helloween que os atuais Helloween.

    E o Unisonic ligou o trecho de Follow The Sign a linda balada Over The Rainbow, que saiu apenas na versão japonesa do cd, e mesmo sem conhecer a totalidade da música, não tem como negar a emoção que a música passa, ainda mais nos solos melodiosos, novamente destacando Kai Hansen.

    Foi um bom relaxamento para em seguida eles voltarem a aumentar a potência com a viajante e cadenciada Star Rider, que seja no vozeirão de Michael Kiske, nos backings de Hansen/Ward ou no instrumental bem feito, a música cativa e muito. No final de Star Rider, todos os músicos saíram do palco deixando apenas Kai Hansen, para que este realizasse seu solo de guitarra e depois Mandy Meyer continua de onde ele parou com o uso de um slide abordo de sua Fender. Em seguida, Kai Hansen volta ao palco para duelar com Mandy Meyer, fato que podem falar o que quiserem, mas a verdade é que um solo assim dá moral.

    Souls Alive - uma das mais fortes do cd - mostra com seu peso Kai Hansen e Mandy Meyer nos fazendo sentir com suas guitarras toda a garra que uma música assim passa. Foi surpreendentemente ver Michael Kiske descer novamente do palco para ir de encontro com os fãs e quando subiu de volta comandou as palmas de todos.

    Aos incessantes gritos de "Unisonic... Unisonic..."  acompanhados nos toques do baterista Kosta Zafiriou levaram Michael Kiske a brincar com sua poderosa voz e tirar trechos de We Will Rock You do Queen, de uma balada 'à capela' que provocou risos gerais nos fãs e aí ele nos assusta ao dizer que foi a última da noite ( ainda bem que era uma piada ). E então eles tocam, segundo o vocalista, uma de suas favoritas: We´Rise, cuja versão ao vivo ficou melhor que sua contraparte no estúdio, com direito a todos os solos fortificados de Hansen/Meyer e uma grande participação dos fãs cantando com Michael Kiske. E o vocalista queria mesmo deixar o show ainda mais marcante, pois cantou um trecho de uma música do Frank Sinatra, além de Great Pretender do Elvis Presley.

    Antes da seguinte, o vocalista começou a rir de si mesmo e mandaram a pesada, alegre e melódica Never Change Me, que foi alongada para que os fãs pudessem cantar seu refrão repetidamente e mesmo sendo típico, Michael Kiske nos incita a cantar mais alto, enfim, é sempre sensacional. Quando o show é bom o tempo passa e não sentimos, e quando é muito bom então? Ai meu amigo(a) a primeira parte se encerra e você pensa: " mas... já...?", e foi exatamente isso que pensei.

    Os fãs não paravam de gritar: "Unisonic...Unisonic..." e após os poucos instantes que eles ficaram no backstage um clima de "Happy Happy Helloween..." invadiu o HSBC Brasil e Kai Hansen aumentou a intensidade com sua guitarra, que anunciou Future World, composta pelos dois no Keeper The Seven Keys I. E nesta hora caro leitor(a), não teve um só presente que não saiu cantando e agitando 'a milhão' com a banda, pois ver Kiske vocalizando esse hino com sua performance esmagadora com todos os seus riffs era uma experiência única na vida da grande maioria.

    O mais interessante é que o Unisonic prolongou a música como há muito tempo não via uma banda fazendo e incluiu um trechos de músicas que foram sucessos na voz de Elvis Presley, entre elas All Shook Up e It´s Now Or Never, mostrando um respeito muito grande aos anos 50. E não poderia faltar também aquela provocação vinda do palco para os fãs e estes gritassem após os tradicionais "One...two...three...four" o verso 'We All Live In Future World...' cada vez mais fortes juntos com Michael Kiske.

    Coligada a Future World a tivemos outra das melhores composições do Helloween, estou falando de I Want Out exibida em versão de muita categoria, que fez os fãs se divertirem no refrão ( acompanhando devidamente os "ôôôôôô....ôôôô" e os gritos de "I Want Out..." ) e receberem toda a magia dos solos de guitarras e do timbre único dos vocais de Michael Kiske.

    Sempre dizem que a primeira vez ninguém nunca esquece e tenho certeza que ninguém se esquecerá desta primeira apresentação do Unisonic em terras brasileiras, nem mesmo os músicos. Afinal, a comunicação entre banda e fãs se dá através dos palcos e quando temos a fórmula de banda boa + músicos lendários + um excelente disco o resultado é igual à um show memorável e inesquecível.

 

Texto e Fotos: Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à Heloísa Vidal, Adriano Coelho
e a  Free Pass Entretenimento pela atenção e credenciamento

Maio/2012

Clique aqui ou na foto ao lado esquerdo e confira a Galeria de fotos do Unisonic e do Gotthard no HSBC Brasil em São Paulo/SP

 

Set List Unisonic

1 - Walkürenritt
2 - Unisonic
3 - Never Too Late
4 - Renegade
5 - King For A Day
6 - I've Tried
7 - My Sanctuary
8 - March Of Time  ( Helloween )
9 - Follow The Sign ( Helloween  )
10 - Over The Rainbow
11 - Star Rider
12 - Guitar solos ( Kai Hansen & Mandy Meyer )
13 - Souls Alive
14 - We Rise
15 - Never Change Me
Encore:
16 - Future World ( Helloween )
17 - I Want Out ( Helloween )

Galeria de fotos do Unisonic e do Gotthard no HSBC Brasil em São Paulo/SP

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