Megadeth
Domingo, 04 de maio de 2014
no Espaço das Américas em São Paulo/SP
   

    Foram apenas sete meses da última passagem do Megadeth por São Paulo na abertura para o Black Sabbath ( confira resenha ) e conforme anunciado anteriormente, seria uma tour comemorativa pelos 20 anos do clássico álbum Youthanasia, assim como eles fizeram em 2010 ( comemorando o Rust In Piece - veja resenha ) e em 2012 ( quando comemoraram o Countdown To Extinction - confira aqui como foi ), entretanto, o líder Dave Mustaine explicou o álbum só fará 20 anos em outubro e ainda não chegou a hora de realizar uma turnê executando ele na integra, conforme fizeram anteriormente com os outros dois, mas como ele preza muito os fãs sul-americanos o set foi modificado com a inclusão mais músicas do citado trabalho.

    E estes dois motivos poderiam até desanimar os fãs se a banda em questão não fosse o Megadeth, pois o Espaço das Américas foi tomado por uma multidão de mais de 6.500 headbangers sedentos por (re)ver a banda pela décima terceira vez no Brasil e como não poderia de acontecer... foram expostos a um excelente espetáculo, que será detalhado nas linhas abaixo.

    Programado para começar as 20:00hs, é muito provável que o início tenha sido atrasado propositalmente para que todas as legiões de headbangers vindos de várias partes do estado e do país pudessem se acomodar no Espaço das Américas.

    E então às 20:30, quando nos alto falantes da casa ouvíamos Long Live Rock Roll, clássico inesquecível vocalizado pela lenda Ronnie James Dio nos seus tempos de Rainbow, eis que as luzes da casa são apagadas e logo após os avisos de segurança a agressiva Prince Of Darkness começa a ecoar pela casa enquanto no telão vemos uma "espécie de fábrica" montando o logotipo do Megadeth, e assim Dave Mustaine ( vocais, guitarra ) e David Ellefson ( baixo ), Chris Broderick ( guitarra ) e Shawn Drover ( bateria ), mais uma vez estão prontos para compartilhar com todos seu Heavy Metal frenético.

    E disparam logo de cara a intensa Hangar 18, que causou uma imensa participação do público que saiu cantando os "ôôôôôô" durante os solos de guitarras iniciais e prosseguiram depois gritando os versos com Dave Mustaine, que entrou no palco com a primeira de muitas de suas guitarras Flying V decorada com o tema do álbum Rust In Peace. Impressionante logo neste início foi o peso que eles estavam aplicando, literalmente daqueles que pode-se dizer que serve para se separar meninos dos homens.

    Apenas sorrindo e sem falar nada ouvimos os acordes da próxima que foi a matadora Reckoning Day do futuro aniversariante Youthanasia e a tocaram com moral, com ímpeto, poderia até acrescentar com raiva, com David Ellefson também atuando na percussão junto a Shawn Drover incluindo mais peso, enfim, como uma música assim deve ser exibida por quem sabe o que está fazendo.

    Neste princípio, achei que o som não estava no ponto, mas creio que antes da terceira música, isso foi corrigido e ficou impecável até o final do espetáculo. E sem falar com os fãs, eles dispararam Wake Up Dead ( do Peace Sells ... But Who's Buying de 1986 ), com excelentes solos de guitarras de Chris Broderick e Dave Mustaine, que multiplicaram a euforia dos fãs que vibravam ainda mais pela técnica e energia que estavam presenciando, pois além de cantar com a banda, muitos faziam os tradicionais "hey...hey...hey".

    Com apenas um "good evening São Paulo" dito por Dave Mustaine, recebemos os solos da cadenciada In My Darkest Hour, gravada no So Far, So Good... So What em 1988, repleta de peso e garra pelo quarteto que está cada vez melhor seja no estúdio ou ao vivo. E por onde se olhava viam-se sorrisos nos rostos da plateia, afinal, estávamos assistindo o Megadeth com uma garra quase indescritível.

    E não pararam de nos enviar pedradas cada vez mais fortes, e detalhe, praticamente sem parar para respirar, pois o show prosseguiu com outra do So Far, So Good... So What, a novidade do repertório Set The World Afire, um Thrashão aniquilador que veio para massacrar com os ouvidos dos fãs e literalmente deixar claro quem está mandando no palco e - se deixarem - no Metal. Outro ponto que colaborou para a grandiosidade do espetáculo foi a impecável iluminação que interagia com os músicos no palco e também os telões que exibiam imagens e trechos dos clipes das composições.

    E por falar nisso, foi só nesta hora que eles deram um pequeno descanso, pois, o telão exibiu um trecho do filme Silver Linings Playbook e o personagem fala o nome da banda, pronto, estava dada a deixa para o retorno deles ao palco com a detonadora versão de Sweating Bullets  ( do cd Countdown To Extinction de 1992 ) exibida nesta noite e além de estar cantando com muito feeling a cada música, Dave Mustaine, David Ellefson e Chris Broderick se movimentaram pelo palco aumentando a eletricidade do show. E não posso esquecer de citar também o peso que Shawn Drover aplicou na sua bateria.

    Finalmente, ele conversou com os fãs indo além de um novo "Good Evening" dizendo: "É muito bom tocar aqui novamente”, além de enfatizar que nós todos somos uma grande família ( e está correto, somos a família Heavy Metal ), fato que ganhou milhares de aplausos ao complementar “Somos a banda que de Metal que mais veio ao Brasil, e isso é porque nós amamos vocês”. É... além da técnica, Dave Mustaine mostra seu lado simpático e também durante o discurso falou sobre a 13ª vez no país, um "fucking number", segundo ele.

  

    Em seguida, pergunta se estamos prontos e após o forte "Yeahhhh" de resposta tocam She-Wolf do Cryptic Writtings ( de 1997 ), que sempre é tocada por aqui e em todas as vezes faz a galera berrar sem parar "feliz da vida" na hora dos solos vários "ôôôôôô" no ritmo das guitarras.

    E a destruição prossegue com a cadenciada Dawn Patrol do Rust In Piece ( este de 1990 ), com muitas palmas, "hey...hey...hey" e fumaça. No final desta e antes do início da seguinte, Dave Ellefson que fez um curto, mas brilhante solo de baixo, que ligou a outra deste disco, a incendiária Poison Was The Cure, que colocou o Espaço das Américas para pular a cada solo e a cada verso, em suma, esta é uma que ao vivo fica ainda mais implacável. É Dave Ellefson teve momentos de baixa em sua carreira, mas depois que voltou ao Megadeth teve esse momento exclusivo, afinal, além do grande baixista que é.. fundou o Megadeth.

    Enquanto os fãs gritavam "Olê... Olê... Olê... Muuustaaaaine... Muuustaaaaine" este comenta que há quase 20 anos ele gravou um álbum chamado Youthanasia, e começa a tocar este clássico do Metal Pesado, que teve seus vocais de certa forma divididos com os fãs, que deixou o líder ainda mais sorridente. É... não foi executado na integra, mas somente a excelente exibição da faixa título já marcou e muito cada um de nós.

 

 

     Em uma curta pausa para que eles tomassem uma água, o telão exibiu um trecho do filme Wayne´s World ( Quanto Mais Idiota Melhor ), trecho este em que o Garth está do lado de uma mulher estonteante ( Kim Bassinger ) e esta coloca uma Bossa Nova conhecida ainda mais por nós  brasileiros no aparelho de som e ele pergunta se não tem um Megadeth para rolar. Com a deixa dada, Shawn Drover e Dave Ellefson fizeram o potente ritmo para que Chris Broderick e Dave Mustaine pudessem destruir tudo com a Trust ( do Cryptic Writtings ) e nesta, os fãs agitaram significativamente.

    Após ganhar uma bandeira brasileira, Dave Mustaine faz uma "dancinha" durante mais uma sessão de "Olê... Olê... Olê... Muuustaaaaine... Muuustaaaaine". Ele agradece, comenta sobre o show anterior na Argentina e provoca ainda mais alegria ao dizer que iria tocar uma especialmente para o Brasil com a sensacional Tornado Of Souls ( mais uma do Rust In Piece ), cujos riffs de Chris Broderick e os vocais impiedosos de Dave Mustaine nos trouxeram uma magia animal.

    Os dedilhados da seguinte já a entregam qual é... e por ser um grande sucesso da carreira do Megadeth, creio que ninguém ficou parado durante sua execução, tanto que o vocalista falou "You Know That?" e todos cantaram seus versos regidos pelo frontman, em um momento que foi deveras de belo, ahhh.. se você não adivinhou qual música foi, estou falando da excelente A Tout Le Monde, outra do aclamado Youthanasia. São poucas vezes que a interação banda-público aconteceu desta forma.

   

    E em meio a tantos clássicos, praticamente não sobra espaço para músicas do novo cd, o ótimo Super Collider de 2013 e somente a rápida Kingmaker foi escolhida para esta noite, mas não foi por isso que a adrenalina do show diminuiu, muito pelo contrário, manteve-se em alta e comprovou uma afirmação que sempre converso com os amigos: o Megadeth se especializou em gravar ótimos álbuns na sequencia, ao contrário de algumas bandas teoricamente consagradas.

    E depois, hora de outra do Youthanasia, agora a pesada The Killing Road, que foi muito bem recebida e deixou o "gostinho de quero mais", leia-se uma futura execução do álbum na integra, ainda mais pela forma com muita entrega que o Megadeth realizou nesta música.

    Antes da prosseguir, hora de uma breve pausa com os telões exibindo um trecho do filme Talk Radio de Oliver Stone, para instantes depois, o Megadeth literalmente soltar um míssil balístico dentro de cada um de nós com a esmagadora Peace Sells, que teve até um "e aí São Paulo" dito por Dave Ellefson antes de dar o rumo com seu baixo da canção. Foi impossível de se ficar parado durante sua execução e como já está se tornando uma tradição nos shows do Megadeth... é nesta hora que Vic Rattlehead - o mascote presente na capa de todos os cd´s - adentrou ao palco e enalteceu ainda mais a potência do show.

    Parecia que esta encerraria a primeira parte do show, mas não, ainda tinha mais uma e era simplesmente a Symphony Of Destruction ( outra do Countdown To Extinction ), que teve em seu início e refrão os gritos de "Me-ga-de-th....Me-ga-de-th" no ritmo da música e naturalmente foi cantada com muita fúria por cada um de nós juntos a Dave Mustaine, e este, junto ao excelente Chris Broderick nos enviaram solos magníficos e inesquecíveis.

    Dave Mustaine nos agradece com um enorme "Thank You So Much São Paulo" e no tempo que antecedia a volta para o bis, aquela multidão ovacionou tanto o vocalista quanto a banda, afinal, este show pode e deve ser incluso na lista dos melhores do ano.

    O vocalista ficou emocionado com o sempre exaltado "calor do povo brasileiro", ergue uma bandeira de um dos fã-clubes do Megadeth e fez uma piada com os fãs, dizendo que eles estavam cansados e que era hora de ir embora. Bem, não sem mais uma música, não sem o histórico rolo compressor do Rust In Piece, a Holy Wars... The Punishment Due, uma das melhores composições exibida em forma de gala por uma banda que está mais afiada a cada dia que passa.

    E inteligentemente, durante seu prolongamento até natural, ele apresenta a banda. Após uma vasta distribuição de palhetas, agradecimentos e também das baquetas pelos músicos, chegamos ao final e tenho certeza que, assim como nós, eles certamente sentiram a grandeza do show enquanto eram tocados nos P.A´s as músicas "Silent Scorn", "My Way ( versão de Sid Vicious )" e "Shadow Of Deth".

     São poucas vezes que uma banda se dedica tanto no palco e o que foi melhor ainda, com o som muito bem regulado ( exceção de seus primeiros momentos, que os vocais estavam muito altos ), iluminação "classe A" e telões por todos os lados do Espaço das Américas facilitando a visão de quem estava mais longe.

   Enquanto que nomes como Metallica e Iron Maiden, mesmo com seus memoráveis espetáculos que fizeram em suas últimas passagens no Brasil, parecem, de certa forma, se distanciarem do título de "a banda de Heavy Metal" deste início de século 21, o Megadeth se mantém criativo com um disco de estúdio a cada dois anos em média e shows ao vivo que são cada vez melhores, seja relembrando um dos seus álbuns clássicos ou realizando um 'best of' da carreira, e detalhe, nesta noite no Espaço das Américas eles fizeram praticamente as três coisas juntas em um show só, então, que o Megadeth assuma definitivamente o trono de "Rei do Heavy Metal" e volte ao Brasil mais vezes, aliás, você caro leitor(a) tem dúvidas que eles estarão por aqui em 2015?

 

Texto: Fernando R. R. Júnior
Fotos: Marcos César de Almeida e Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à Costábile Salzano Jr. e a equipe da Rádio e TV Corsário, especialmente ao Júlio Viseu e a Milena Gonzalez
 pela atenção e credenciamento
Maio/2014

Set List do Megadeth:

1 - Prince Of Darkness ( Intro )
2 - Hangar 18
3 - Reckoning Day
4 - Wake Up Dead
5 - In My Darkest Hour
6 - Set The World Afire
7 - Sweating Bullets
8 - She-Wolf
9 - Dawn Patrol
10 - Poison Was The Cure
11 - Youthanasia
12 - Trust
13 - Tornado Of Souls
14 - A Tout Le Monde
15 - Kingmaker
16 - The Killing Road
17 - Peace Sells
18 - Symphony Of Destruction
Encore:
19 - Holy Wars... The Punishment Due
Fundo:
20 - Silent Scorn
21 - My Way (Sid Vicious song)
22 - Shadow Of Deth

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