Peter Murphy - Lion South American Tour 2014
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Wayne Hussey
Sábado, 13 de setembro de 2014
no Carioca Club em São Paulo/SP

    O Bauhaus e o Sisters Of Mercy foram dois dos grandes nomes do Rock Gótico dos anos 80, sendo que a primeira teve sua origem em 1978 na Inglaterra, enquanto que a segunda originou-se em 1980, também na Inglaterra. E atualmente, Peter Murphy excursiona em carreira solo e Wayne Hussey alterna shows com o The Mission com outros solo.

    Assim, neste belo sábado, tivemos a reunião de vários corações góticos no Carioca Club para apreciar duas grandes estrelas do movimento: Wayne Hussey, que fez um show acústico e Peter Murphy, que trouxe a turnê Lion South American Tour 2014 de divulgação de seu último álbum. Ambos tocaram músicas de vários momentos de suas carreiras, entre trabalhos solos e de suas bandas antigas. 

    Chego ao Carioca Club às 18h30, muita gente na fila do lado de fora e dentro da casa temos o Dj Tonyy Moreira discotecando ao lado do telão, passando o jogo do Fluminense e Palmeiras, então quem não assiste ao jogo, dança ou conversa com os amigos. Fico encantada com a quantidade de pessoas de tribos diferentes por aqui, temos senhoras, jovens, bigodes, látex, xadrez, gente com cara de professor de história, moicanos e muito mais.

Wayne Hussey

    O The Mission é uma banda de Rock Gótico dos idos de 1986, formado na Inglaterra e de membros que saíram da banda Sisters Of Mercy, que já vieram muitas vezes ao Brasil ( 1988, 1999, 2002 e 2012, além do show em agosto desde ano, confira matéria ). E provavelmente veremos o vocalista Wayne Hussey em seu show acústico ou como frontman do The Mission mais vezes por aqui, já que ele vive em São Paulo e é casado com a brasileira Cinthya Hussey

    Wayne Hussey sobe ao palco umas 18h50, com um tipo banjo de mil cordas. Cantamos todos juntos a The Killing Moon ( cover da banda Echo And The Bunnymen do álbum Ocean Rain de 1984 ), ele com seus óculos escuros e Ipad no pedestal do microfone, canta e toca para nós e nós cantamos com ele. A casa está quase cheia, mas sem ninguém me espremer aqui na frente. Ao fim, palmas e ele agradece em bom português com um "obrigado!". Ainda traz mais clássicos como: Like A Child Again do The Mission, All Along The Watchtower do Bob Dylan e Amelia do The Mission.

    E entre goles de vinho, gritos e dancinhas, Wayne Hussey assume o violão para tocar mais uma do The Mission com Black Mountain Mist, a canção solo  Whither On The Vine do cd Songs Of Candlelight & Razorblades de 2014 e a clássica Stay With Me, mais uma composição do The Mission para alegria dos fãs mais antigos.

    E o show ferve mesmo com a linda Severina do primeiro álbum de 1986, o God's Own Medicine, essa acorda a galera, pois, é lindo ver todos cantando assim, só não falo que no refrão encobrimos a voz de Wayne Hussey porque isso seria um crime. Durante o refrão "And she's dancing, with a dream in her heart", ele canta sussurrando "Severina, Severina..." todo seduzente. O camarote está cheio e a pista enche cada vez mais.

     Wayne Hussey fala "é muito bom estar de volta! Chears... I mean Saúde!". Nesse momento noto que o pit dos fotógrafos parece maior do que antes e me pergunto se aumentaram o pit por causa do último show do The Mission, que a menina subiu no palco e abraçou Wayne Hussey. 

   Outra que arranca suspiros do povo é a Wasteland ( também do God's Own Medicine ), que foi tocada em um medley com a Like A Hurricane. Nestes dois sucessos do The Mission, ele mostra toda sua potência vocal, vai Wayne... Voltamos a cantar junto, e também com mais danças e no refrão ele para de cantar, para nos escutar e não fazemos feio. Não tinha adornos no palco, apenas guitarras, pedestais e violões, mas usam todas as luzes da casa, poucas câmeras ao ar, a maioria cantar e alguns, mais absortos só observam. 

    Na parada, ele fala "é hora de um saúde moment", vai e dá um gole, alguém grita um nome de música e Wayne Hussey fanfarrão grita: "Não!". E arranca risos da pista e continua: "Não sei se vocês sabem ou se importam, temos um álbum novo, deixe eu perguntar qual de vocês tem o novo cd..." e meia dúzia levantam a mão... Ele completa: "é foi o que eu pensei!".

    E começa a viciante Swan Song ( do recente The Brightest Light de 2013 ), mesmo quem não canta... dança, essa é minha favorita do último álbum, ele mostra que é um ótimo músico na hora dos dedilhados dessa música, ele tenta vir para frente, mas tropeça no cabo da guitarra e quase derruba todas elas, porém, consegue jogar o vinho para nós, que pegamos e saímos distribuindo para todos tomarem um gole. Jogar palheta é para fracos o negócio é jogar garrafa de vinho! Ele sai e as cortinas se fecham, não teve o clássico "Wayne, Wayne!" ou o "One More Song", voltam as músicas ambiente e o pessoal vai dançando, bebendo ou apenas conversa sobre o show, que encerrou por às 19h40.

Set List do Wayne Hussey

1 - Killing Moon
2 - Like A Child Again
3 - All Along The Watchtower
4 - Amelia
5 - Black Mountain
6 - Mist Wither
7 - On The Vine
8 - Stay With Me
9 - Severina
10 - Wasteland / Like A Hurricane 
11 - Swan Song

Peter Murphy

    Mais conhecido como vocalista do Bauhaus ( banda de Post Punk, também da Inglaterra, formado em 1979 e parada atualmente ), Peter Murphy possui uma sólida carreira solo e hoje nos traz a Lion South American Tour 2014, que está celebrando o lançamento do seu décimo álbum solo. Ele já veio ao Brasil em 2009 ( confira resenha ) e 2013 ( relembre aqui ), também era para ter tocado em julho deste ano, mas por problemas de agenda mudaram a data para hoje. 

    Às 20h05, ainda com as cortinas fechadas e cheio de fumaças lá dentro ( salvem os músicos ) escutamos umas baquetadas na caixa da bateria e logo todos ficam alertas, pois, as cortinas são abertas com a intro de Hang Up, que também abre o cd Lion, lançado em junho deste ano, infelizmente a voz de Peter Murphy está muito baixa e a galera chia muito, alguns gritos de protesto se confundem com os de alegria por ver o músico, ele ainda faz gestos para o pessoal da mesa arrumar o som, e continuaram durante a execução de Low Room ( do disco Holy Smoke de 1992 ).

    A coisa toda só melhorar mais na terceira do set, a Low Tar Stars ( Lion ) e os músicos são bem peculiares, o guitarrista Andrew Hinds vem todo trabalhado no estilo, poses, calça legging e moicano, o baixista Emilio Di Zefallo é bem mais tímido, mas quando dança faz biquinho enquanto toca, o baterista Nick Lucero é mega sorridente e Peter Murphy, que me lembra o Ney Matogrosso ( se o Ney fosse muito, mas muito discreto ). Bem voltando ao show em si, a galera ama essa música, mas agita de leve, ele fala obrigado, em português. 

    Durante as músicas Memory Go ( do Ninth, cd de 2010 ), Peace To Each ( também do Ninth ) e Deep Ocean Vast Sea ( do Deep de 1990 ), o povo não canta tanto, mas sempre prestam muita atenção ou simplesmente dançam. O mezanino parece mais animado que a pista em alguns momentos, subo e vejo que lá o som está melhor de se ouvir.

    Mas, quando do nada Emilio Di Zefallo saca um violino para a bela Gaslit do EP The Secret Bees Of Ninth de 2011, todos se derretem, cantam e gingam. Volta e meia Peter Murphy ainda faz alguns sinais para a mesa de som, e depois, ele apresenta os músicos e o pessoal aplaude cada nome citado pelo vocalista. Durante as novas Eliza e Holy Clown ( ambas do novo Lion ) o pessoal sossega novamente, mas a Eliza é a minha favorita do álbum Lion, tem um quê de Pop antigo e com um refrão que não sai da cabeça ( essa música é sobre a guia espiritual Eliza Mada Dalian ).

    Mas o momento que todos esperavam chegou. E eles começam a tocar as músicas da época do Bauhaus com Silent Hedges ( do álbum The Sky's Gone Out de 1982 ) e She's In Parties ( do Burning From The Inside de 1983 ) e aí, o pessoal pega fogo, pula, grita, canta junto e claro se emociona muito. Durante a Silent Hedges Peter Murphy saca uma escaleta para tocar ( é um instrumento que parece uma gaita misturada com um teclado, nunca tinha visto ao vivo ) e com isso, muitos pegam suas câmeras para registrar cada segundo de Peter Murphy dando um show de escaleta. Em outro momento, ele fica ao lado de Nick Lucero e desce o braço na percussão.

  

    Os músicos não andam muito pelo palco e tampouco vem para a ponta, mas ainda assim, estão sempre dançando ( fazendo passos de freestep como o Andrew Hinds, ou apenas 'swingando' como Emilio Di Zefallo ). Peter Murphy está cada vez mais solto e distribuindo mais sorrisos, mesmo os caras mais durões de braços cruzados mexem um pé ao ritmo de Bauhaus.

    Ao final, o vocalista nos aplaude e nós retribuímos ovacionando, ele sai primeiro do palco, enquanto os outros músicos ficam para jogar palhetas e se despedirem, o baterista Nick Lucero, vem até pertinho, aponta para alguém e joga a baqueta, mas ela não passa pelos grandões, que fazem um bloqueio como se estivem em um jogo de vôlei. A primeira parte do show termina com a Velocity Bird e a The Prince & Old Lady Shade, ambas do Ninth.

    Nem 10 minutos se passam conosco gritando "Peter, Peter!" e eles voltam com Andrew Hinds filmando a nossa reação com a tão esperada Cuts You Up, do álbum Deep de 1990, que fez todos nós cantarmos juntos: "You know the way, It throws about, It takes you in...And spits you out!". Os músicos estão bem empolgados também, muitos sorrisos no palco, quando acende a luz da plateia, vejo todos cantando na pista ou no mezanino unidos no coro 'oooh!'. Na parte final, Andrew Hinds assume um violão e fazendo charme toca a Lion ( título do novo cd ),  que fez nós cantarmos juntos também. Tudo bem que esta não chegou a empolgar tanto quanto as mais antigas, mas temos muita gente que conhece e gosta desta música. 

 

    Uneven & Brittle ( do Ninth de 2010 ) vem para fechar o set e acordar de vez o Carioca Club, pois, os músicos aproveitam para fazer caras e bocas, o pessoal pula, grita e dança ( tem alguns que apenas emendaram uma dança na outra durante todo o show ). Enquanto os músicos tocam o final da música, Peter Murphy nos agradece, bate palmas para nós, aponta para os músicos e deixa o palco sem mais. Ao som de nossas palmas, os demais músicos nos agradecem, cumprimentam, jogam palhetas, beijos e Nick Lucero joga todo seu estoque de baquetas para essa turnê... Ok exagero, mas que eram muitas... isso era. E às 21h30, o show acabou.

     Não sei se é por estilo, mas achei o show do Peter Murphy muito mais 'engessado' que do Wayne Hussey ( e olha que o Wayne não tinha como ficar andando pra lá e pra cá, já que estava rodeado de instrumentos ), mesmo com muitas pessoas na saída pedindo mais clássicos e com o som bastante prejudicado no início, os fãs se divertiram, dançaram e sorriram, não apenas os mais velhos, já que temos uma mistura de públicos ímpar essa noite, mostrando que mesmo com problemas ao vivo e com os amigos é sempre melhor.

Texto: Érika Alves de Almeida
Fotos: André Banyai ( 8x8 Live ) e Costábile Salzano Jr.
Agradecimentos à Costábile Salzano Jr. e a
8x8 Live pela atenção e credenciamento

Setembro/2014

Set List do Peter Murphy

1 - Hang Up
2 - Low Room
3 - Low Tar Stars
4 - Memory Go
5 - Peace to Each
6 - Deep Ocean Vast Sea
7 - Gaslit
8 - Eliza
9 - Holy Clown
10 - Silent Hedges
11 - She's In Parties
12 - Velocity Bird
13 - The Prince & Old Lady Shade

Encore:
14 - Cuts You Up
15 - Lion
16 - Uneven & Brittle

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