Glenn Hughes
Domingo, 16 de agosto de 2015
no Carioca Club em São Paulo/SP
 

    Conforme o prometido no ano passado, quando disse que em 2014 estaria apenas no Brasil para assistir aos jogos da Copa do Mundo ( em especial, os da seleção inglesa ) e shows seriam só no ano seguinte, o inglês Glenn Hughes, mundialmente conhecido como "A Voz do Rock" e retornou para uma turnê brasileira após cinco anos de sua última passagem, que aconteceu em 2010 e agora para se apresentar em cidades como Belo Horizonte/MG, Curitiba/PR, Porto Alegre/RS, Rio de Janeiro/RJ e São Paulo/SP, sendo esta última acompanhada pelo Rock On Stage.

    Neste novo giro pelo mundo Glenn Hughes estava acompanhado do exímio guitarrista Doug Aldrich ( atual Revolution Saints, ex-Dio e Whitesnake ) e o baterista sueco Pontus Engborg ( Eric Martin, Joe Lynn Turner, Graham Bonnet ) com um repertório que foi uma mescla dos seus 45 anos de carreira. Quem chega às 19h horas na porta do Carioca Club se surpreende com o tamanho da fila, com pessoas de variados estilos e idades, todos ansiosos por ver mais uma vez esse veterano em terras brasileiras, tocar por aqui.

    Exatamente às 20h30 começa a introdução The Ride Of The Valkyres do compositor Richard Wagner ( essa música é parte da ópera A Valquíria de 1856 ) e a casa está lotada para receber o Glenn Hughes, o grande baixista que já esteve em bandas históricas como o Trapeze, Deep Purple, Phenomena, Black Sabbath e mais recentemente no supergrupo Black Country Communion e no California Breed, além de trabalhar com grandes músicos em projetos paralelos, mantém uma bela carreira solo desde 1977 até hoje e já tocou no Brasil pelo menos sete vezes ( nos anos de 1994, 1998, 1999, 2001, 2007, 2009 e 2010, sendo estes dois últimos anos com cobertura do Rock On Stage, confira a matéria de 2009 clicando aqui e de 2010 neste link ).

     Nesta noite, ele já começa na pressão com a furiosa Stormbringer ( do Deep Purple, do álbum com o mesmo nome lançado em 1974 ). Glenn Hughes se sente em casa e brincando com o baixo, com todas as câmeras da casa apontadas para ele, nos saúda com um: "Boa noite São Paulo!".

    A segunda é do seu décimo álbum solo lançado em 2008, o Soul Mover e fomos expostos a Orion, que possui um groove irresistível, é incrível! Ele continua dançando com o seu baixo como se não estivesse há menos de uma semana para completar 63 anos!!!

    Já nos primeiros riffs de Doug Aldrich ( Revolution Saints, ex-Whitesnake, DIO ) o pessoal acompanha nas palmas, é a vez da dançante Way Back To The Bone da banda Trapeze ( do clássico You Are The Music… We’re Just The Band de 1972 ) que fez a galera pular e cantar... e afirmo com segurança: Ele canta muito! E sabe que canta muito! No intervalo ele diz: "vocês têm que saber que eu senti muita saudade, que eu amo muito vocês!"

    Sail Away do icônico álbum Burn ( de 1973 ) do Deep Purple é uma das que eu mais gosto da noite, apesar de não ser tão dançante e agitada como as outras. Ela dá uma esfriada na maioria do povo, mas, para a minha alegria, sempre tem aqueles que não param de dançar um minuto. Animado, Glenn Hughes começa a falar: "Vocês sabem que eu amo vocês! É sempre um prazer tocar no Brasil, mesmo nesta longa turnê, bom é hora de voltar para o Funk!"

    Mas, a cena mais inusitada da noite acontece na sensual Touch My Life ( outra do Trapeze, gravada no álbum Medusa de 1970 ), que traz de volta toda empolgação do pessoal, porém, durante o refrão: "The feeling's inside, To touch my life, The feeling's inside, Oh to touch my life"... Glenn Hughes está tão envolvido com a música, que quando o Doug Aldrich se aproxima, ele abraça o guitarrista e dá tapinha em seus ombros, enquanto canta o refrão, e isso, obviamente resulta em muitas palmas acompanhando a música até o seu final.

    Para a bela One Last Soul, Glenn Hughes relembra os companheiros Jason Bonham, Derek Sherinian e Joe Bonamassa do supergrupo Black Country Communion, que mesmo com a curta duração - a banda começa em 2009 e termina em 2013 - lançou três emblemáticos e espetaculares álbuns.

     Doug Aldrich fica sozinho no palco, tocando uma bela introdução para mais uma música do álbum Burn do Deep Purple, agora é a vez da sensacional Mistreated incendiar o Carioca Club, tanto que até rola um desentendimento na plateia, Glenn Hughes atento, dá uma dura nos brigões: "Ei! Sem brigas no meu show! Aqui só tem amor no meu show, essa música é muito especial para mim!" E eu me pergunto: Quem não iria obedecer ao senhorzinho mais enérgico do palco?

    Em segundos, ele volta para continuar com a envolvente música gravada por ele no Deep Purple. Todos cantamos junto o refrão ou agitamos no hey, mas, eu aprendo que não basta curtir o show, tem que levantar o vinil do Glenn Hughes e encobrir a vista dos amiguinhos.

    O cover Good To Be Bad do Whitesnake ( do álbum Good To Be Bad de 2008, confira resenha ) é festejado por muitos amigos presentes, muitos animados, muitos dançavam como dava, pois, a casa está lotada. No meio da música, um amoroso Glenn Hughes dá um beijinho na testa do guitarrista e conta que por mais que seja um Rocker, nasceu com um Funk na alma, então estará com o Funk até o resto de seus dias e contrariando toda a lógica... dá uma reboladinha melhor que muito jovenzinho por aí.

    Emenda a Can't Stop The Flood ( do disco Building the Machine de 2001 ) sendo sexy sem ser vulgar ele vira de costas para nós e dá uma reboladinha marota ao som da música, showman sempre dá um jeito de envolver a plateia, seja pedindo palmas ou brincando conosco.

    Ele dá uma pausa e sai do palco, deixando Doug Aldrich e o baterista Pontus Engborg improvisando no palco, aliás, os dois são muito entrosados e fazem uma Jam sensacional, logo, Doug Aldrich também deixa o palco e fica apenas o sueco Pontus Engborg e um solo de bateria que mostra toda versatilidade deste músico.

    A volta ao palco se dá com outra música de outra banda de vida curta do Glenn Hughes, a California Breed ( formada em 2013, com o fim da banda anterior, a Black Country Communion, com ele, Andrew Watt e Jason Bonham, que só tem apenas um álbum de estúdio, o California Breed e termina em 2015 ). A música Sweet Tea esfria um pouco a maioria, acredito mais por ser desconhecida, pois, o seu ritmo é muito bom e mais Pop.

    Para a próxima música, Glenn Hughes comenta rapidamente sobre a fase ruim que teve com as drogas antigamente, até brinca que ainda bem que não passou pela América do Sul nessa fase arrancando várias risadas do público e então do cd Addiction de 1996, ele toca justamente a canção título, a Addiction, que é a mais densa e pesada pelo padrão das músicas dessa noite, e mesmo a postura de Glenn Hughes é mais concentrada nessa música, fiquei bem feliz ao ver como um músico pode ser tão versátil ao longo de sua carreira musical. Entretanto, como nem todos estavam na mesma vibe de apreciação que eu, aproveitavam para conversar e atualizar aquela fotinha nova do show no Facebook.   

    No intervalo, Glenn Hughes observa as pessoas e vai apontando: "oi eu lembro de você, vira para outro lado e diz, é eu lembro de você também!". Entretanto, aponta para um no meio da multidão e diz: "é você eu não lembro... A próxima música gravamos um clip no deserto, junto de Dave Navarro e Chad Smith!", após ele dizer isso, começam os riffs de Soul Mover ( canção título do álbum de 2005 ), que acordam a galera do celular, que canta junto e dança, pois, essa noite temos pessoas dos mais variados tipos e idades, no refrão, ele para de tocar para nos escutar cantando: "I am Soul Mover!".

   Com a luz da plateia acesa, ele nos agradece por virmos, e promete: "We will be back next year!", que mais uma vez o Carioca Club explode em muitas palmas. Doug Aldrich toca a guitarra nas costas e neste momento reparei também nos pulinhos de Glenn Hughes, tudo para finalizar essa grande música e por fim ele avisa: "Obrigado! Vocês são ótimos e nós voltaremos em breve! No ano que vem! Obrigado, Deus abençoe... amo todos vocês!"

    Uma palavra para definir esse baixista: FOFO! No encore termos agora três vinis levantados e juntos para muitos não verem o que acontece no palco. Sem demoras, os músicos voltam ao palco e a Black Country ( do primeiro cd do Black Country Communion de 2010 ) começa a ser tocada com os músicos renovados e a plateia responde cantando ainda mais alto, ele vem até próximo de nós, Doug Aldrich também, os dois músicos interagindo e sorrindo o tempo inteiro. Uma música fantástica, onde o alcance de voz de Glenn Hughes é mostrado mais uma vez.

    Porém, é na fantástica Burn ( título de seu primeiro registro no Deep Purple ) que o Carioca Club pega fogo! Essa chega para fazer pular até o mais tranquilo dos fãs, enquanto Glenn Hughes faz caras e bocas interpretando os agudos da música, Doug Aldrich entre um riff e outro joga uma palheta para os fãs, amigos se abraçam, desconhecidos sorriem entre si e eu.... bem.... eu pulo sempre! Glenn Hughes pede: "Sing for me São Paulo!" e aí temos todos nas palmas ou no hey durante o refrão.

    Ao final, Glenn Hughes não encontra palavras para descrever como foi incrível essa noite. Agradece mais vezes e nos pergunta: "eu volto se vocês quiserem.... Vocês querem que eu volte?" Após muitos gritos de sim como resposta ele prossegue: "Pessoal vocês são lindos espero que cheguem bem em casa! Bons sonhos!". Os músicos se juntam e vem até a frente nos cumprimentar e se despedem bem a contragosto as 22h25.

    Quando comentei com os meus amigos que iria ao show do Glenn Hughes as reações foram das mais variadas, desde você irá assistir o melhor vocalista de todos, até quem disse que ele se valia da bela voz para sobrecarregar as músicas de agudos, agora ao final do show a impressão que fica é de um músico e vocalista apaixonado pela música que interpreta, apaixonado pelo palco e pelas pessoas, dono de uma incrível história de superação para contar e fiel ao seu estilo próprio de compor, bem resumindo entrei no show curiosa e sai fã de carteirinha!

Texto: Érika Alves de Almeida
Fotos: Cortesia de Ronaldo Chavenco do Coredump
e de Costábile Salzano Jr.
Agradecimentos a Costábile Salzano Jr. e a Overload
 pela atenção e credenciamento
Setembro/2015

 

Setlist do Glenn Hughes
1 - Stormbringer
2 - Orion
3 - Way Back To The Bone
4 - Sail Away
5 - Touch My Life
6 - One Last Soul
7 - Mistreated
8 - Good To Be Bad
9 - Can't Stop The Flood
10 - Sweet Tea 
11 - Addiction
12 - Soul Mover
Encore:
13 - Black Country
14 - Burn

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